Análise IEDI
PIB 2023: mais setor externo, menos investimento
O PIB brasileiro em 2023 cresceu +2,9%, segundo os dados divulgados hoje pelo IBGE, apoiado no dinamismo registrado no primeiro semestre. Ficou, assim, bem acima do que estava sendo previsto na entrada do ano passado, que, de acordo com as expectativas de mercado coletadas pelo Boletim Focus do Banco Central em jan/23, seria algo como +0,8%.
Tivemos, então, resultados praticamente iguais para o PIB em 2023 e em 2022, mas sua composição foi bem diferente. No ano passado crescemos mais apoiados na demanda externa, que se canalizou para produtos agropecuários e da indústria extrativa, e menos na demanda interna, sobretudo, com menos investimentos, o que prejudicou a indústria.
Em 2023, da alta de +2,9% do PIB total, a demanda externa foi responsável por +2,0 pontos percentuais (p.p.), enquanto a demanda interna respondeu por apenas +0,9 p.p. Em 2022, da expansão de +3,0%, o setor externo contribuiu com +0,9 p.p. e a demanda interna com +2,1 p.p..
A principal alavanca do dinamismo em 2023 veio das exportações do setor primário. Do lado da oferta, o PIB da agropecuária registrou alta de +15,1%, graças à supersafra de grãos na entrada do ano, e o da indústria extrativa, de +8,7%, o que neste último caso contribuiu muito para que a indústria total mantivesse um dinamismo positivo em 2023 (+1,6%). Estes resultados estão vinculados ao avanço de +9,1% de nossas exportações, isto é, 60% mais intenso do que em 2022 (+5,7%).
O setor externo também contribuiu mais em 2023 porque importamos menos, como mostram as variações interanuais a seguir. Importamos menos produtos intermediários, como químicos, derivados de petróleo e metálicos, mas também máquinas e equipamentos. É um comportamento que se deve à frágil evolução industrial e à forte retração do investimento em 2023.
• PIB total: +3,0% em 2022 e +2,9% em 2023
• Consumo das Famílias: +4,1% e +3,1%, respectivamente;
• Consumo do Governo: +2,1% e +1,7%;
• Formação Bruta de Capital Fixo: +1,1% e -3,0%;
• Exportações: +5,7% e +9,1%;
• Importação: +1,0% e -1,2%, respectivamente.
O quadro de elevadas taxas de juros de 2023, em que a Selic se manteve em seu máximo de 13,75% a.a. ao longo de metade do ano, sendo reduzida lentamente a partir de agosto, desestimulou as decisões de investir e enfraqueceu os mercados de bens duráveis, mais dependentes das condições de crédito. Incertezas em relação à reforma tributária também podem ter adiado investimentos.
Com isso, a formação bruta de capital fixo foi o componente do PIB que pior se saiu em 2023: caiu -3,0%, puxada por máquinas e equipamentos, cuja retração chegou a -9,4%, segundo o IBGE. Isso, por sua vez, freou o desempenho da indústria de transformação, que, do lado da oferta, foi o setor que mais recuou no ano passado: -1,3%, com uma amenização apenas parcial no 4º trim/23, já que seguiu no vermelho (-0,5% ante o 4º trim/22). Como discutiu a Carta IEDI n. 1248, a parcela da indústria com declínio mais intenso no ano passado foi justamente a produção de bens de capital.
Na indústria, outro ramo também prejudicado pelos juros elevados e retração dos investimentos foi a construção, cujo PIB acumulou variação de -0,5% em 2023. Assim, a indústria total, ainda que com resultado agregado equivalente em 2022 (+1,5%) e 2023 (+1,6%), cresceu no ano passado com mais extrativa e menos indústria de transformação e construção.
A segunda alavanca do dinamismo em 2023, que compreende o binômio consumo das famílias (+3,1%) e serviços (+2,4%), perdeu força ao longo do ano e isso também está, em alguma medida, associado ao quadro de juros e crédito, ao mitigar a contribuição positiva da expansão do emprego e o aumento do rendimento real das famílias. Cabe lembrar que o comprometimento da renda com o serviço de dívidas ficou em quase 30% no ano passado.
O consumo das famílias começou 2023 registrando +3,9% no 1º trimestre e o encerrou com crescimento de +2,3% no 4º trimestre, na comparação interanual. Na margem, isto é, na comparação do 4º trim/23 com o 3º trim/23, já descontados os efeitos sazonais, o que dá uma medida mais de curto prazo, chegou a cair -0,2%.
Nos serviços, cujo PIB total passou de +3,3% para +1,9% do 1º ao 4º trim/23, o comércio foi um dos principais freios, regredindo de uma alta de +1,6% na entrada do ano para uma queda de -0,1% no último trimestre. Na série com ajuste sazonal, ante o trimestre anterior, registrou -0,8% em out-dez/23. Outros segmentos de serviços mais associados ao dinamismo geral da economia e que também pisaram forte no freio foram transportes, armazenagem e correios e serviços de informação e comunicação.
Para 2024, espera-se que o repasse da queda da taxa básica de juros (Selic) às taxas de empréstimos ganhe força, ajudando a destravar o investimento e dinamizando a indústria de transformação.
Ações de política econômica também podem contribuir para isso, a exemplo da implementação do PAC, do aperfeiçoamento do Programa Desenrola, do reajuste do salário mínimo e, numa perspectiva mais de longo prazo, a regulamentação da reforma tributária e a concretização da Nova Indústria Brasil, que podem fortalecer a confiança de investidores e empresários.
Segundo dados divulgados hoje pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou R$ 2.831,3 bilhões a preços correntes no quarto trimestre de 2023, apresentando estabilidade (0,0%) na comparação com o trimestre imediatamente anterior na série livre de influências sazonais.
Com relação ao quarto trimestre de 2023, houve variação positiva de 2,1%. No acumulado nos últimos quatro trimestres frente a igual período do ano anterior houve acréscimo de 2,9%.
Ótica da oferta. Frente ao trimestre imediatamente anterior (terceiro trimestre de 2023), a partir de dados dessazonalizados, houve queda de -5,3% no setor agropecuário, além de aumento de 1,3% no setor da indústria e de 0,3% no setor de serviços.
Para os subsetores da indústria, na mesma base de comparação, as variações positivas foram nas categorias: indústrias extrativas (4,7%), eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (4,2%) e setor da construção (2,8%). O setor da indústria de transformação apresentou variação negativa (-0,2%) no período.
Nos subsetores de serviços, ainda sobre o trimestre anterior e com ajuste sazonal, houve variação positiva em: atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,7%), outros serviços (0,1%), atividades imobiliárias (1,2%) e administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,1%). O setor de transporte, armazenagem e correio (- 0,6%), comércio (-0,8%) e serviços de informação (-0,1%) apresentaram variação negativa nessa base de comparação.
No comparativo com o mesmo trimestre do ano anterior (quarto trimestre 2022), segundo dados dessazonalizados, o setor agropecuário apresentou estabilidade (0,0%), enquanto o setor da indústria apresentou avanço de 2,9% e o setor de serviços cresceu 1,9%.
Para os subsetores da indústria, na mesma comparação, foi registrado variação positiva nas indústrias extrativas (10,8%), eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (0,9%), construção civil (0,9%) e indústrias de transformação (2,9%).
Nos subsetores de serviços, a maioria dos subsetores apresentou variação positiva: atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (5,6%), atividades imobiliárias e de aluguel (2,7%), outros serviços (2,4%) e administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (1,7%). As atividades de informação e comunicação (-0,3%) e comércio (-0,1) apresentaram variação negativa nessa base de comparação.
No acumulado nos últimos quatro trimestres (em relação ao mesmo período do ano anterior), o setor agropecuário apresentou expansão de 15,1%, observou-se aumento no setor da indústria (1,6%) e crescimento no setor de serviços (2,4%).
Ótica da demanda. Sob a ótica da demanda, frente ao trimestre imediatamente anterior (3º trimestre de 2023), para dados com ajuste sazonal, houve expansão nas seguintes categorias: consumo do governo (0,9%), a formação bruta de capital fixo (0,9%), a importação de bens e serviços (0,9%) e as exportações de bens e serviços (0,1%). A categoria de consumo das famílias (-0,2%), por sua vez, apresentou variação negativa.
Na comparação com o quarto trimestre de 2022 (mesmo trimestre do ano anterior), perceberam-se acréscimos em três categorias: exportações de bens e serviços (7,3%), consumo do governo (3,0%) e consumo das famílias (2,3%). As categorias de formação bruta de capital fixo (-4,4%) e de importações de bens e serviços (-0,9%) registraram queda.
Por fim, na comparação da taxa acumulada nos quatro últimos trimestres (em relação ao mesmo período do ano anterior), três categorias apresentaram variação positiva: exportações de bens e serviços (9,1%), consumo das famílias (3,1%) e consumo do governo (2,9%). As categorias de formação bruta de capital fixo (-3,0%) e de importações de bens e serviços (-1,2%) apresentaram retração.