Análise IEDI
Mais juros, menos dinamismo em bens de capital
O primeiro trimestre de 2025 terminou com a indústria voltando a crescer, após cinco meses consecutivos de resultados adversos. Já descontados os efeitos sazonais, a alta foi de +1,2% na passagem de fev/25 para mar/25. Foi o melhor desempenho desde jun/24 (+4,3%) e levou o nível de produção de volta ao patamar de set/24.
Além da base de comparação fraca, o setor petrolífero também contribuiu para este avanço do total da indústria, com o pré-sal registrando recorde mensal em mar/25, segundo a ANP, o que impulsionou o resultado dos ramos extrativo (+2,8%, com ajuste) e de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+3,4%).
Mas em mar/25 o sinal positivo foi muito além disso e marcou o desempenho de 64% dos ramos industriais e 3 dos 4 macrossetores, com destaque para bens de consumo duráveis (+3,8%) e bens de consumo semi e não duráveis (+2,4%). Bens intermediários ficaram perto da estabilidade (+0,35) e bens de capital, prejudicados pela alta dos juros, foram o único macrossetor no vermelho (-0,9%).
Tomado o trimestre como um todo, em comparação com o ano passado, o resultado favorável de mar/25 não conseguiu evitar um aprofundamento da desaceleração que já se ensaiava no final de 2024. As variações interanuais a seguir mostram que este movimento foi mais intenso em bens de capital e intermediários.
• Indústria geral: +3,9% no 3º trim/24; +3,1% no 4º trim/24 e +1,9% no 1º trim/25;
• Bens de capital: +11,9%; +14,1% e +5,2%, respectivamente;
• Bens intermediários: 3,0%; +2,8% e +1,3%;
• Bens de consumo duráveis: +16,4%; +17,2% e +11,6%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: +2,7%; -0,2% e +0,6%, respectivamente.
Para a indústria como um todo, o ritmo de crescimento acima de 3% registrado na maioria dos trimestres de 2024 recuou para +1,9% em jan-mar/25. É praticamente o mesmo resultado da entrada do ano passado, mas naquele momento a produção começava a ganhar velocidade.
Bens de capital, após um longo período no negativo, entre meados de 2022 e início de 2024, vinha ampliando produção a taxas de dois dígitos, chegando a +14,2% no 4º trim/24. Este ritmo caiu para +5,2% em jan-mar/25, com a desaceleração de bens de capital para transporte, indústria, energia e, principalmente, de bens de capital de uso misto, que ficaram virtualmente estagnados.
É um sinal do peso da elevação das taxas de juros no país e também das incertezas crescentes no período, em especial, devido aos efeitos das mudanças no comércio mundial promovidas pelo protecionismo dos EUA. Isso reforça o quadro de perda de fôlego do investimento neste início de ano.
A produção de bens de consumo duráveis, também sensível ao nível dos juros, teve desaceleração mais acentuada naqueles itens que demandam um comprometimento maior do orçamento das famílias ou mais endividamento. São os casos de automóveis (de +14,1% no 4º trim/24 para +8,7% no 1º trim/25) e eletrodomésticos da linha branca (de +20% para +5,1%). O segmento de móveis também deixou de crescer a taxas de dois dígitos.
Apesar disso, os bens de consumo duráveis seguem sendo o macrossetor que mais cresce, com uma desaceleração moderada do 4º trim/24 (+17,25) para o 1º trim/25 (+11,6%).
Já nos bens intermediários, o resultado caiu pela metade do final de 2024 (+2,8% em out-dez) para o início de 2025 (+1,3% em jan-mar), em boa medida devido ao ramo automobilístico (de +19,7% para +9,6%). Outros fatores foram a perda de dinamismo de insumos para a construção civil, siderurgia e embalagens e o declínio da produção de celulose e de insumos derivados de petróleo.
Por fim, o único macrossetor a melhorar de situação em relação ao último trimestre do ano passado, mas sem retomar o vigor prevalecente na maior parte de 2024, foi o de bens de consumo semi e não duráveis, que registrou +0,6% em jan-mar/25 ante -0,2% em out-dez/24. A melhora veio da produção de combustíveis, mas também se apoiou na relativa resiliência do abate de suínos e aves e do setor farmacêutico.