Análise IEDI
A liderança exportadora dos manufaturados
Uma das características da crise pela qual o Brasil passou nos últimos anos foi a ausência de estrangulamento externo, tão frequente na história do país. Pelo contrário, nossas contas externas, em especial a balança comercial, registraram superávits recordes. Muito disso se deveu à expressiva redução do déficit de manufaturados, puxada pelo declínio das importações desses bens em função da recessão da economia.
Em 2017, o superávit comercial foi ainda mais robusto, graças a uma conjunção de fatores toda especial: supersafra agrícola, maior dinamismo do comércio internacional, patamares favoráveis de preços de commodities, excepcional desempenho exportador de alguns ramos industriais, notadamente da indústria automobilística, e uma reação ainda contida das importações devido ao crescimento muito moderado da economia.
Como o IEDI já observou em outras oportunidades, esse quadro não deve se manter em 2018 e os dados do primeiro trimestre do ano já sugerem mudança. O divisor de águas será o comportamento das importações. Este é um aspecto bem conhecido da economia brasileira: quando há crescimento, nossas importações costumam correr na frente do PIB. Assim, se a recuperação ganhar vigor em 2018, como se espera, as compras externas do país devem se acelerar, ultrapassando o resultado das exportações.
Este é o comportamento que se verificou em janeiro-março de 2018 quando comparado com o mesmo período do ano anterior. As importações cresceram 15,8% (para US$ 40,4 bilhões) enquanto as exportações aumentaram 11,3% (para US$ 54,3 bilhões). Com isso, o saldo da balança acumulou superávit de US$ 13,9 bilhões, valor 3,1% inferior ao alcançado em igual período de 2017.
Cabe enfatizar que, mesmo tendo sido ultrapassado pelas importações, o valor de nossos embarques continua mostrando um bom ritmo de crescimento. E isso, importante dizer, devido sobretudo ao desempenho das exportações de produtos manufaturados, como mostram as variações interanuais das médias por dia útil abaixo.
• Exportações totais: +17,9% no 3º trim/17; +17,6% no 4º trim/17 e +11,6% no 1º trim/18;
• Exportações de manufaturados: +13,4%; +4,9% e +24,5%;
• Exportações de semimanufaturados: +7,8%; +12,3% e +6,0%;
• Exportações de básicos: +26,4%; +34,8% e +3,5%, respectivamente.
É verdade que o resultado de manufaturados está muito influenciado pela exportação meramente contábil de uma plataforma de petróleo no valor de US$ 1,5 bilhão, mas permanece expressivo mesmo isolando este fator: +16,1% frente a jan-mar/2017, segundo a média por dia útil. A liderança exportadora no início de 2018 cabe, assim, ao setor industrial.
As exportações de manufaturados em alta é um elemento importante para a recuperação da economia como um todo graças a uma característica muito própria da indústria, qual seja, o elevado número de relações intra e intersetoriais que a produção manufatureira é capaz de estabelecer. Quanto mais as exportações ajudarem a indústria crescer, maior a condição de esse impulso positivo se propagar para o sistema econômico como um todo.
Ainda que mais modestamente, as exportações de semimanufaturados também aumentaram frente ao mesmo período do ano anterior (+6,0%), puxadas principalmente por celulose (+56,6%), ferro-ligas (+19,2%) e madeira serrada (+19,7%). Os produtos básicos, por sua vez, avançaram menos (+3,5%), com importante contribuição de petróleo em bruto (+6,7%), farelo de soja (+18,1%) e carne bovina (+24,4%). O resultado de básicos teria sido melhor não fosse o declínio de 14,8% em minério de ferro, um dos principais produtos exportados pelo país.
Do lado das importações, dois aspectos merecem ser destacados por trazerem sinais favoráveis a respeito da recuperação da economia. O primeiro é a rápida reação das importações de bens de capital desde o final do ano passado: de -1,0% no 3º trim/17 para +14,7% no 4º trim/17 e +18,2% agora no primeiro trimestre de 2018, segundo as médias por dia útil. Como se sabe, este é um dado positivo porque sinaliza para um expressivo crescimento do investimento na economia.
O segundo aspecto de destaque é a trajetória das importações de bens intermediários, que guarda uma relação mais estreita com o dinamismo geral da economia, notadamente da indústria. Em jan-mar/18, houve alta de 9,8% frente a igual período do ano anterior. Contudo, seu componente de maior peso, isto é, os intermediários industriais elaborados, avançou ainda mais, chegando a 14,0%, um ritmo de crescimento próximo daquele das importações totais.
Conforme os dados divulgados pelo MDIC para o mês de março de 2018, a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 6,281 bilhões, valor 12,0% inferior ao alcançado em igual período de 2017, de US$ 7,136 bilhões.
As exportações alcançaram a cifra de US$ 20,089 bilhões, representando um crescimento de 9,6% em relação a março do ano passado tomando por base as médias diárias, que considera o número de dias úteis no mês.
As importações somaram US$ 13,089 bilhões, o que significou um incremento de 16,9% na mesma base de comparação, considerando os dias úteis do mês.
No mês de março de 2018, as médias diárias das exportações e importações foram de US$ 957 milhões e US$ 658 milhões, respectivamente.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$ 9,906 bilhões no período, queda de 1,1% frente a março de 2017, tomando por base as médias diárias. Os produtos industrializados somaram US$ 9,682, manufaturados somaram US$ 7,157 bilhões e os semimanufaturados somaram US$ 2,531 bilhões, variações de 0,8%, 6,6% e -1,8%, respectivamente, quando comparado com o mesmo mês do ano anterior.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com igual mês de 2017 houve aumento de 20,1% para produtos de operações especiais, 16,8% para semimanufaturados, 10,4% para produtos industrializados, 8,4% para manufaturados e 8,4% para produtos básicos.
Destaques exportações. No grupo dos básicos, quando comparado com março de 2017, cresceram principalmente as vendas de milho em grão (+168,5%, para US$ 105 milhões), fumo em folhas (+127,2%, para US$ 150 milhões), petróleo em bruto (+41,7%, para US$ 1,7 bilhão), carne bovina (+31,3%, para US$ 482 milhões), farelo de soja (+27,9%, para US$ 507 milhões), minério de cobre (+22,6%, para US$ 190 milhões), soja em grão (+6,4%, para US$ 3,4 bilhões) e carne de frango (+2,9%, para US$ 535 milhões).
No grupo dos manufaturados, quando comparado com março de 2017, cresceram as vendas principalmente de óleos combustíveis (+149,7%, para US$ 382 milhões), suco de laranja não congelado (+120,2%, para US$ 121 milhões), tubos de ferro fundido (+99,4%, para US$ 118 milhões), tratores (+68,0%, para US$ 151 milhões), máquinas p/terraplanagem (+51,1%, para US$ 224 milhões), aviões (+39,3%, para US$ 331 milhões), motores e geradores elétricos (+33,8%, para US$ 117 milhões), veículos de carga (+28,9%, para US$ 309 milhões), motores p/veículos e partes (+27,8%, para US$ 180 milhões), autopeças (+25,7%, para US$ 212 milhões), óxidos/hidróxidos de alumínio (+7,1%, para US$ 222 milhões) e laminados planos (+6,1%, para US$ 184 milhões).
No grupo dos semimanufaturados, quando comparado com março de 2017, aumentaram as vendas principalmente de zinco em bruto (+95,5%, para US$ 32 milhões), celulose (+92,1%, para US$ 765 milhões), ferro ligas (+48,3%, para US$ 269 milhões), madeira serrada (+24,2%, para US$ 62 milhões) e óleo de soja em bruto (+13,3%, para US$ 79 milhões).
Analisando pelos mercados compradores, ampliaram-se as vendas para os seguintes destinos: Oceania (+50,3%, por conta de minério de ferro, máquinas p/terraplanagem, suco de laranja congelado, madeira compensada, castanha do Pará, motocicletas), América Central e Caribe (+40,4%, por conta de aviões, óleos combustíveis, arroz em grão, minério de ferro, petróleo em bruto, farelo de soja, máquinas p/terraplanagem, celulose, semimanufaturados de ferro/aço, carne de frango), Mercosul (+20,6%, sendo que a Argentina cresceu 21,9%, por conta de veículos de carga, óleos combustíveis, óxidos/hidróxidos de alumínio, autopeças, minério de ferro, soja em grão, motores e turbinas p/aviação, tratores, motocicletas, fios elétricos, cobre em barras) e União Europeia (+17,2%, por conta de celulose, soja em grão, óleos combustíveis, aviões, suco de laranja não congelado, tubos de ferro fundido, fumo em folhas, motores e turbinas p/aviação, silício, minério de cobre, madeira compensada, estanho em bruto).
Importações por categoria de uso. Dos US$ 13,809 bilhões importados em março, US$ 8,290 bilhões foram de bens intermediários, US$ 2,154 bilhões de bens de consumo, US$ 1,795 bilhões de combustíveis e lubrificantes e US$ 1,562 bilhão foram referentes ao grupo de bens de capital.
Na comparação frente ao mesmo período de 2017, considerando a média diária, houve incremento das importações em todos os segmentos, puxado por combustíveis e lubrificantes (46,5%), bens de capital (20,5%), seguido por bens de consumo (16,4%) e bens intermediários (12,2%).
Destaques importações. Para o grupo dos combustíveis e lubrificantes, o crescimento ocorreu principalmente pelo aumento de petróleo em bruto, óleo diesel, propanos liquefeitos, gás natural, carvão, óleos lubrificantes, coques e fuel-oil.
Com relação a bens de capital, o aumento ocorreu principalmente para aviões, veículos de carga, máquinas de sondagem rotativas, máquinas para forjar metais, centros de usinagem, colheitadeiras de algodão, máquinas para empacotar, equipamentos terminais ou repetidores, máquinas para trabalhar borracha, máquinas para panificação, instrumentos ópticos.
No segmento bens de consumo, os principais aumentos foram observados nas importações de automóveis de passageiros, azeite de oliva, água de colônia, veículos equipados para propulsão, medicamentos, vinhos de uvas.
No segmento de bens intermediários cresceram as aquisições de partes para aparelhos de radiodifusão, circuitos integrados pigmento rutilo, hidróxido de sódio, partes de turbinas a gás, cacau em bruto, caixas de marchas, metanol.
Finalmente, observando as importações por mercados fornecedores, na comparação março 2018/2017, aumentaram as compras originárias dos mercados: Oriente Médio (+93,4%, por conta de petróleo em bruto, óleos combustíveis, alumínio em desperdícios, polímeros plásticos, máquinas p/impressão), Ásia (+28,7%, sendo que a China cresceu 34,8%, por conta de partes de aparelhos transmissores/receptores, compostos heterocíclicos, dispositivos semicondutores, partes e acessórios de maquinas automáticas, máquinas p/terraplanagem, laminados planos, obras de alumínio, fios de fibras têxteis, aparelhos de ar condicionado), Estados Unidos (+18,1%, por conta de aviões, óleos combustíveis, gás propano, gasolina, tubos de ferro fundido, soda caustica, petróleo em bruto, máquinas para forjar metais, autopeças, óleos lubrificantes, automóveis de passageiros, máquinas para uso agrícola, máquinas para elevação de carga, compostos orgânicos/inorgânicos) e América Central e Caribe (+12,1%, por conta de álcoois acíclicos, gás natural, medicamentos, artigos de prótese, alumínio em desperdícios, amônia).