Análise IEDI
Retrocessos na lucratividade industrial
Ao longo dos primeiros meses de 2018, o crescimento da economia brasileira, que já não era efusivo, foi perdendo força. As expectativas para a alta do PIB no ano foram reduzidas pela metade, de 3% para 1,4%, segundo a pesquisa Focus. Este menor dinamismo teve efeitos adversos importantes sobre a rentabilidade das empresas não financeiras no primeiro semestre, como analisa a Carta IEDI, a ser divulgada hoje, a partir dos dados contábeis de 322 empresas não financeiras de capital aberto.
A inconsistência da recuperação econômica, contudo, não foi o único fator a restringir a melhora das condições patrimoniais das empresas. Outros fatores de peso consistiram na aguda perturbação dos negócios derivada da paralisação dos caminheiros, no final de maio, e na elevada incerteza do cenário político, com a proximidade das eleições. Todos estes fatores contribuíram para a deterioração da confiança no meio empresarial, que até hoje não conseguiu se restabelecer integralmente. Não bastassem esses percalços, houve desvalorização do Real, inflando as dívidas denominadas em moeda estrangeira e encarecendo insumos importados.
Neste contexto, a situação financeira das empresas voltou se deteriorar, sobretudo em função do desempenho do segundo trimestre de 2018. Houve alta do endividamento bancário, maior comprometimento dos lucros operacionais com as despesas financeiras e redução das margens líquidas de lucro. Essas tendências se manifestaram de forma mais contundente no agregado da indústria (exceto a Petrobras e a Vale), como resumem bem os indicadores a seguir.
• A margem líquida de lucro da indústria (exceto Petrobras e Vale) recuou de 2,9% no primeiro semestre de 2017 para 1,7% em igual período de 2018. Na origem desta involução está o prejuízo (margem líquida negativa) de 2% registrado em abril-junho/2018.
• A margem operacional dessas empresas industriais conseguiu se recompor, passando de 8,7% para 10,1% do primeiro semestre de 2017 para o primeiro semestre de 2018. O avanço poderia ter sido melhor, não tivesse sido o declínio da margem em abril-junho/2018 (8,7%).
• A cobertura das despesas financeiras, aferida a partir do indicador EBITDA/Desp. Financeira, voltou a ficar abaixo de 1 na primeira metade de 2018: 0,96, devido ao retrocesso no segundo trimestre do ano (0,61).
• O endividamento das empresas industriais aumentou 6% na comparação dos primeiros semestres de 2017 (R$ 341,8 bilhões) e 2018 (R$ 362 bilhões), mas houve melhora do perfil, com redução das dívidas de curto prazo (-15%).
• A piora quanto ao endividamento veio de sua relação com o capital próprio, que subiu de 84% para 88%, persistindo na trajetória de alta dos últimos anos. Vale ressaltar que o grau de endividamento oneroso líquido no 1º semestre de 2015 era de 68% do capital próprio das empresas industriais (exceto Petrobras e Vale).
• O indicador CAPEX/depreciação iniciou trajetória de recuperação a partir do segundo trimestre de 2017, mas evoluiu pouco até meados de 2018. Apesar de certa recuperação, os investimentos das empresas industriais analisadas alcançaram, no segundo trimestre, um ritmo de crescimento equivalente a 40% daquele verificado no primeiro trimestre de 2015.