Análise IEDI
Crescimento industrial mais robusto e mais difundido
Após dois meses de baixo desempenho, a produção da indústria brasileira voltou a se expandir em set/24: +1,1% ante ago/24, já descontados os efeitos sazonais. Assim, o setor segue ganhando tração em 2024, muito embora a nova etapa de elevação da Selic, também inaugurada em set/24, possa vir a colocar em risco esta boa trajetória.
No acumulado do 3º trim/24, a alta chegou a +3,9% na comparação com igual período do ano anterior. Este foi o melhor resultado trimestral desde o abr-jun/21 (+22,7%), quando bases de comparação muito deprimidas, devido ao choque da pandemia de Covid-19 em 2020, produziam avanços expressivos.
Além do ganho de robustez, a distribuição do crescimento também progrediu. No 1º trim/24, 64% dos ramos industriais registraram ampliação da produção em comparação com o mesmo período do ano passado, parcela que subiu para 76% no 2º trim/24 e então para 80% no 3º trim/24.
Além disso, 16 dos 25 ramos acompanhados pelo IBGE se saíram melhor em jul-set/24 do que em abr-jun/24, notadamente metalurgia, que deixou de cair (de -1,7% para +4,6%), mas também produtos de metal (de +3,8% para +10%), borracha e plástico (de +4,5% para +8,1%), químicos (de +1,8% para +5,8%) e veículos (de +9,5% para +19,3%), entre outros.
Todos os macrossetores industriais cresceram no 3º trim/24, como mostram as variações interanuais a seguir, uma realidade bastante diferente daquela do 3º trim/23, quando somente um deles avançava, dois se contraíam e um apresentava estagnação.
• Indústria geral: +2,0% no 1º trim/24; +3,3% no 2º trim/24 e +3,9% no 3º trim/24;
• Bens de capital: -1,6%; +12,0% e +11,9%, respectivamente;
• Bens intermediários: +2,9%; +1,2% e +3,0%;
• Bens de consumo duráveis: +0,9%; +7,8% e +16,4%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: +1,3%; +5,7% e +2,7%, respectivamente.
Os macrossetores, produtores de bens duráveis, sejam eles para investimento ou para consumo, são os destaques positivos tanto no último trimestre em tela como no acumulado do ano até set/24. Trata-se da parcela da indústria com mercados dinamizados pela queda dos juros entre ago/23 e mai/24 e que, por esta razão, tende a ser prejudicada pela nova fase de elevação da Selic pelo Banco Central.
Cabe observar, contudo, que alguns fatores podem mitigar os efeitos negativos iniciais desta reversão da política monetária. Para bens de capital, é o caso do programa de depreciação superacelerada, recentemente regulamentado pelo governo, e também da disponibilidade de linhas de financiamento do BNDES a custos mais competitivos, como aquelas para inovação e digitalização das empresas. Para bens de consumo, destaca-se o vigor do mercado de trabalho, como mostraram os dados da Pnad/IBGE de ontem.
A expansão mais forte no 3º trim/24 a coube a bens de consumo duráveis (+16,4% ante o 3º trim/23), cuja produção foi puxada pela substancial melhora do desempenho da indústria automobilística (de -1,4% em abr-jun/24 para +13,2% em jul-set/24) e pelas altas taxas de crescimento registradas por eletrodomésticos (+24,1%).
A produção de bens de capital, que havia ficado no vermelho entre o 3º trim/22 e o 1º trim/24, passou a crescer a taxas de dois dígitos e de modo bem resiliente: +12% em abr-jun/24 e +11,9% em jul-set/24. Alavancam este desempenho bens de capital de uso misto (+23%) e para transporte (+27%), mas vale notar que bens de capital para a própria indústria (+10%) não crescia tanto desde o 2º trim/21 (+51,3%).
Bens intermediários, por sua vez, deram continuidade à sua trajetória de aceleração, registrando +3% no 3º trim/24, com ajuda da produção de intermediários de veículos (+18,1%) e defensivos agrícolas (+17,7%), além de siderurgia (+7,7%) e insumos para a construção civil (+7,8%). Muito disso atenuou o efeito da perda de ritmo de bens de consumo semi e não duráveis (+2,7%), em boa medida devido à produção de alimento (-0,7%).
Segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de setembro de 2024 divulgados hoje pelo IBGE, a produção da indústria nacional registrou crescimento de 1,1% frente ao mês de agosto na série livre de influência sazonal. No acumulado em doze meses foi observado incremento de 2,6% e no acumulado houve expansão de 3,1%. Em comparação com o mesmo mês do ano passado (setembro de 2023), aferiu-se variação positiva de 3,4%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior (agosto/2024), o segmento de bens de consumo duráveis diminuiu 2,7%. As outras quatro categorias analisadas apresentaram as seguintes variações: bens de capital (4,2%), bens intermediários (1,2%), bens semiduráveis e não duráveis (0,6%) e bens de consumo (0,3%).
No resultado observado na comparação com o mesmo mês do ano anterior (setembro/2023), as categorias apresentaram variação positiva, na seguinte ordem: bens de capital (13,6%), bens duráveis (10,4%), bens de consumo (3,6%), bens semiduráveis e não duráveis (2,6%) e bens intermediários (2,5%).
O resultado para o acumulado no ano registrou crescimento na produção de todas as categorias: bens duráveis (8,6%), bens de capital (7,5%), bens de consumo (4,0%), bens semiduráveis e não duráveis (3,3%) e bens intermediários (2,4%).
No índice acumulado em 12 meses, todos os segmentos assinalaram resultados positivos: bens duráveis (5,3%), bens de consumo (3,4%), bens semiduráveis e não duráveis (3,1%)e bens intermediários (2,4%) e bens de capital (1,7%).
Setores. Na comparação de setembro de 2024 com o mesmo mês do ano passado (setembro/2023), houve variação negativa no nível de produção em cinco dos 25 ramos pesquisados. Algumas variações negativas importantes foram percebidas nos seguintes setores: impressão e reprodução de gravações (-12,0%), celulose, papel e produtos de papel (-1,2%), produtos alimentícios (-0,8%) e fabricação de bebidas (-0,2%). Por sua vez, as maiores variações positivas ficaram por conta dos seguintes setores: produtos de fumo (29,9%), veículos automotores, reboques e carrocerias (19,5%), equipamentos de informáticas, produtos eletrônicos e ópticos (17,9%), móveis (16,2%) e máquinas e materiais elétricos (14,8%).
Na comparação do acumulado no ano de 2024, 21 dos 25 setores cresceram, sendo as maiores variações positivas: equipamentos de transporte (11,9%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (11,5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (11,1%), veículos automotores, reboques e carrocerias (10,0%) e móveis (9,9%). Já impressão e reprodução de gravações (-4,5%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-4,5%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-2,7%), produtos do fumo (-1,4%) e produtos diversos (-0,9%) apresentaram as maiores quedas.
Na comparação do acumulado nos últimos 12 meses, a produção industrial apresentou variação negativa em cinco dos 25 ramos analisados, com destaque para produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-9,0%), Impressão e reprodução de gravações (-5,3%), produtos diversos (-2,8%), instalação de máquinas e equipamentos (-2,5%) e fabricação de máquinas e equipamentos (-2,2%). Já fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (9,7%), produtos de madeira (9,6%), fabricação de móveis (7,7%), fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (6,2%) e fabricação de produtos de borracha e de material de plástico (4,6%) apresentaram os maiores incrementos.