Análise IEDI
O significado de 2018 para a balança comercial brasileira
Segundo os dados da balança comercial brasileira, divulgados hoje pelo Mdic, as exportações no mês de setembro de 2018 totalizaram US$ 19,1 bilhões e as importações, US$ 14,1 bilhões, de modo a produzir um superávit da ordem de US$ 5 bilhões. Assim, com ¾ do ano já conhecidos, é possível identificar o padrão do comércio exterior de 2018, mesmo que exista um conjunto de fatores excepcionais que afete o dinamismo tanto exportador como importador neste ano.
Tomado o desempenho acumulado de janeiro a setembro, 2018 será o ano de reversão de tendência do saldo comercial. Depois de quatro anos seguidos de melhora, período em que, como resultado da recessão da economia e da desvalorização do Real, a balança saiu de um déficit de US$ 1,8 bilhão em jan-set/13 para um superávit de US$ 53,3 bilhões em jan-set/17, o saldo deve fechar o corrente ano em patamar inferior àquele obtido em 2017, como já indica o acumulado até setembro: superávit de US$ 42,6 bilhões. Isso representa um declínio de 20% frente ao ano passado.
Este comportamento do saldo reflete uma mudança de velocidade de importações e exportações. Em 2018 até setembro, o avanço das nossas vendas externas foi ultrapassado pelo aumento das nossas compras externas: +10,3% contra +20,4%, respectivamente, segundo as médias por dias úteis. Parte disso se deve à paralisação dos caminhoneiros em maio, que prejudicou mais as exportações, que chegaram a cair 0,6% no 2º trim/18, enquanto os desembarques permaneceram no positivo, em +12,8%, como mostram as variações interanuais pela média diária a seguir.
• Exportações: +12,2% no 1º trim/18; -0,6% no 2º trim/18 e +13,0% no 3º trim/18;
• Importações: +22,0%; +12,8% e +28,6%, respectivamente;
• Superávit da balança comercial: -12,5%; -22,4% e -23,5%, respectivamente.
No 3º trim/18, as exportações recobraram seu dinamismo (+13%), mas ainda assim cresceram a um ritmo inferior àquele de 2017 (+18,5%), sugerindo que sua desaceleração não se restringe aos efeitos negativos dos eventos de maio. E isso se deu apenas porque as vendas de produtos básicos, em boa medida sob efeito do preço de petróleo, conseguiram avançar 28,6% em jul-set/18 frente a igual período do ano anterior. Em contrapartida, as exportações de semimanufaturados tiveram sua queda aprofundada de -4,9% no 2º trim/18 para -10,2% no 3º trim/18.
As exportações de manufaturados, por sua vez, registraram alta de 7,4% em jul-set e de 8,8% no acumulado dos nove meses de 2018. Este desempenho, contudo, é muito inferior se excluirmos duas plataformas de petróleo, no valor de US$ 2,8 bilhões, apenas contabilmente exportadas. Sem elas, as vendas externas de manufaturados aumentaram mero 1,8% no 3º trimestre e a metade do resultado acumulado do ano: só +4,1%. Ou seja, a perda de fôlego das exportações de manufaturas é patente e mais acentuada do que parece à primeira vista.
Há ainda outro fator bastante negativo para a performance exportadora de manufaturados, que atinge em cheio um dos principais destaques do comércio exterior brasileiro desde o ano passado. Trata-se da crise econômica na Argentina, um dos principais destinos de nossas exportações de bens industriais, sobretudo da cadeia automobilística. No acumulado do ano, nossas vendas por dia útil para este país já apontam retração de -2,9%, atingindo em setembro uma queda muito mais intensa: -31,8% frente a set/17. Como reflexo, as exportações totais do Brasil de automóveis registraram declínio de -13,8% no ano e de -29,7% só em setembro.
Do lado das importações, enquanto bens intermediários mantêm, em 2018, um ritmo consistente com aquele de 2017 (+12,3% em jan-set/18 frente a +11,1% em 2017 como um todo), importante aceleração tem se verificado na compra externa de produtos de consumo, cuja alta saiu de +8% em 2017 para 14,6% em jan-set/18, e mais ainda de bens de capital.
O forte avanço de 82,2% da importação de bens de capital no acumulado dos nove meses de 2018, que só no 3º trim/18 chegou a +125,5%, não aponta para uma melhora generalizada do investimento no país, mas reflete a importação de plataformas de exploração de petróleo muito concentrada nos últimos meses.
Conforme os dados divulgados pelo MDIC, no mês de setembro de 2018 a balança comercial brasileira apresentou superávit de US$ 4,971 bilhões, decréscimo de 3,9% frente ao valor alcançado no mesmo período do ano anterior, US$ 5,171 bilhões.
As exportações atingiram a valor de US$ 19,087 bilhões, representando expansão de 7,7% em relação a setembro de 2017, tomando por base as médias diárias, que considera o número de dias úteis no mês. As importações totalizaram US$ 14,116 bilhões, o que significou uma expansão de 10,2% na mesma base de comparação, considerando os dias úteis do mês.
Para o mês de setembro de 2018, as médias diárias das exportações e importações aferidas foram de US$ 1.005 bilhões e US$ 743 milhões, respectivamente.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$ 9,821 bilhões no período, expansão de 15,0% em comparação a setembro de 2017. Os produtos industrializados alcançaram US$ 9,095, retração de 7,0% quando comparado a setembro de 2017, os manufaturados somaram US$ 6,275 bilhões, representando por sua vez retração de 8,9%, e os semimanufaturados somaram US$ 2,820 bilhões, decréscimo de 2,2%, sempre na mesma base de comparação.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com igual mês de 2017 registrou-se expansão em dois dos quatro segmentos analisados, sendo eles: produtos básicos (21,1%) e produtos semimanufaturados (2,9%). Por outro lado, houve retração nos segmentos de operações especiais (-48,0%) e produtos manufaturados (-4,1%).
Destaques exportações. No grupo dos básicos, quando comparado com setembro de 2017, aumentaram as vendas principalmente de petróleo em bruto (+102,8%, para US$ 2,4 bilhões), farelo de soja (+37,5%, para US$ 508 milhões), carne bovina (+33,1%, para US$ 595 milhões), soja em grão (+19,7%, para US$ 1,8 bilhão), café em grão (+17,7%, para US$ 402 milhões) e minério de ferro (+15,4%, para US$ 1,8 bilhão).
No grupo dos manufaturados, ainda na comparação com setembro do ano passado, retrocederam as vendas principalmente de açúcar refinado (-51,1%, para US$ 105 milhões), veículos de carga (-35,2%, para US$ 140 milhões), automóveis de passageiros (-29,7%, para US$ 302 milhões), suco de laranja não congelado (-25,9%, para US$ 86 milhões), motores/geradores elétricos (-21,7%, para US$ 91 milhões), aviões (-21,3%, para US$ 198 milhões), tratores (-21,3%, para US$ 113 milhões), óxidos/hidróxidos de alumínio (-3,6%, para US$ 209 milhões) e máquinas para terraplanagem (-2,4%, para US$ 181 milhões). Por outro lado, cresceram as exportações de óleos combustíveis (+294,7%, para US$ 213 milhões), partes de motores/turbinas para aviação (+233,3%, para US$ 192 milhões), tubos flexíveis de ferro/aço (+205,3%, para US$ 129 milhões), motores para veículos e partes (+31,1%, para US$ 189 milhões), polímeros plásticos (+21,6%, para US$ 153 milhões), etanol (+17,4%, para US$ 84 milhões), pneumáticos (+12,9%, para US$ 103 milhões), papel e cartão (+11,2%, para US$ 89 milhões) e autopeças (+1,2%, para US$ 184 milhões).
No grupo dos semimanufaturados, quando comparado com setembro de 2017, cresceram as vendas principalmente de óleo de soja em bruto (+644,9%, para US$ 56 milhões), semimanufaturados de ferro/aço (+97,8%, para US$ 509 milhões), celulose (+28,0%, para US$ 681 milhões), madeira serrada (+26,6%, para US$ 74 milhões), ferro ligas (+5,2%, para US$ 253 milhões) e ouro em forma semimanufaturada (+2,4%, para US$ 166 milhões).
Ao analisar os mercados compradores cresceram as vendas para a Oceania (+49,5%, por conta de óleos combustíveis, máquinas para terraplanagem, fumo em folhas), Estados Unidos (+24,1%, por conta de semimanufaturados de ferro/aço, partes de motores e turbinas p/aviação, óxidos/hidróxidos de alumínio, ferro-ligas, juntas e gaxetas de borracha, rolamentos e engrenagens, celulose, etanol, partes e peças de aviões, pneumáticos, alumínio em barras, preparações de carne bovina, ouro em forma semimanufaturada, polímeros plásticos, motores e turbinas p/aviação), Ásia (+17,2%, sendo que a China cresceu 52,0%, para US$ 5,2 bilhões, por conta de petróleo em bruto, soja em grão, minério de ferro, carne bovina, açúcar em bruto, celulose, carne suína, ferro-ligas, minério de cobre, óleo de soja em bruto, óleos combustíveis, motores e turbinas p/aviação, polímeros plásticos, compostos de funções nitrogenadas, máquinas p/forjar metais) e União Europeia (+5,0%, por conta de petróleo em bruto, tubos flexíveis de ferro/aço, óleos combustíveis, partes de motores e turbinas p/aviação, tubos de ferro fundido, motores e turbinas p/aviação, farelo de soja, plataforma p/extração de petróleo, carne de frango, café em grão, silício gasolina, polímeros plásticos, partes e peças de aeronaves).
Por outro lado, diminuíram as vendas para a Mercosul (-17,4%, sendo que a Argentina decresceu 31,8%, por conta de automóveis e autopeças, veículos de carga, tratores, máquinas p/terraplanagem, laminados planos, máquinas p/uso agrícola, semimanufaturados de ferro/aço, óxidos/hidróxidos de alumínio, motores p/veículos e partes, ônibus, chassis c/motor, calçados, polímeros plásticos, pneumáticos, aparelhos p/interrupção de energia, bombas/compressores), Oriente Médio (-14,7%, principalmente por açúcar em bruto, munições de caça/esporte, motores e turbinas p/aviação, açúcar refinado, carne de frango, óxidos/hidróxidos de alumínio, carne bovina, chassis c/motor, pedras preciosas, ouro em forma semimanufaturada, óleos combustíveis, soja em grão), América Central e Caribe (-5,1%, por conta de farelo de soja, papéis de camada múltipla, celulose, milho em grão, óleo de soja refinado, ônibus) e África (-3,7%, em decorrência de açúcar, carne de frango, minério de ferro, café em grão, alumínio em barras, carne bovina, tubos de ferro fundido, arroz em grão, máquinas p/terraplanagem, etanol, motores/geradores elétricos).
Importações por categoria de uso. Dos US$ 14,116 bilhões importados em setembro, US$ 8,896 bilhões foram de bens intermediários, US$ 2,008 bilhões de bens de consumo, US$ 1,578 bilhões de bens de capital e US$ 1,556 bilhão foram referentes ao grupo de combustíveis e lubrificantes.
Na comparação frente ao mesmo período de 2017, considerando a média diária, houve crescimento em todos os segmentos das importações, puxado por combustíveis e lubrificantes (24,7%), bens intermediários (10,0%), bens de capital (5,9%) e bens de consumo (1,1%).
Destaques importações. Com relação ao grupo dos combustíveis e lubrificantes, o crescimento ocorreu principalmente pelo aumento das compras de petróleo em bruto, gás natural, querosene para aviação, óleos lubrificantes e gás natural.
No segmento bens intermediários, cresceram as aquisições de tubos flexíveis de ferro/aço, cloreto de potássio, ureia, desperdícios de ferro/aço, partes para aeronaves, trigos e misturas de trigo.
No segmento de bens de capital, aumentaram as compras, principalmente, de veículos de carga, dumpers para transporte de mercadorias, helicópteros, aviões, máquinas mecânicas, aparelhos para telefonia, ecógrafos e máquinas para confeitaria.
No grupo dos bens de consumo, os principais aumentos foram observados nas importações de automóveis, medicamentos, frações de sangue, produtos imunológicos, azeite de oliva, aparelho celular e artigos para fraturas.
Por fim, observando as importações por mercados fornecedores, na comparação setembro 2018/2017, aumentaram as compras originárias dos principais mercados, a saber: América Central e Caribe (+290,7%, por conta de gás natural, instrumentos médicos, medicamentos, álcoois acíclicos, alumínio em desperdício, borracha natural), África (+90,0%, por conta de petróleo em bruto, ureia, adubos e fertilizantes, gás natural, carvão, fosfato de cálcio, alumínio em desperdício, ácido fosfórico, paládio em bruto, alumínio em bruto), Oriente Médio (+39,9%, por conta de adubos e fertilizantes, ureia, semimanufaturados de ferro/aço, polímeros plásticos, inseticidas, óleos combustíveis, enxofre, cloreto de potássio, ligas de alumínio), Mercosul (+39,8%, sendo que da Argentina cresceu 19,0%, por conta de veículos de carga, trigo em grão, automóveis de passageiros, óleo de soja em bruto, alumínio em bruto, milho em grão, malte não torrado, aceleradores catalíticas) e Estados Unidos (+35,1%, por conta de petróleo em bruto, gás natural, querosene de aviação, óleos lubrificantes, adubos e fertilizantes, gasolina, veículos de carga, inseticidas, compostos organo-inorgânicos, polímeros plásticos, soda cáustica, instrumentos de medida, instrumentos médicos, motores/geradores elétricos, automóveis de passageiros, partes de motores e turbinas p/aeronaves).
Por outro lado, diminuíram as compras originárias da Oceania (-17,7%, por conta de carvão, correia de transmissão, aparelhos p/interrupção de energia, alumínio em bruto, ligas de alumínio), União Europeia (-5,5%, por conta de óleos combustíveis, gasolina, medicamentos, inseticidas, aviões, compostos heterocíclicos, laminadores de metais, aquecedores/secadores, caldeiras de vapor, autopeças, hormônios naturais, adubos e fertilizantes, motores p/veículos e partes, motores e turbinas p/aviação, coques/semicoques, automóveis de passageiros) e Ásia (-3,4%, sendo que a China decresceu 5,4%, por conta de adubos e fertilizantes, partes de aparelhos transmissores/receptores, compostos organo-inorgânicos, tecidos de fibras têxteis, circuitos impressos, fios de fibras têxteis, partes de máquinas automáticas, tecidos de malha, aparelhos eletromecânicos de uso doméstico, bombas e compressores, coques/semicoques, ácidos carboxílicos, laminados planos, pneumáticos).