Análise IEDI
Quadro de recessão
Que a recuperação industrial vem perdendo ímpeto ao longo de 2018 não é novidade, como temos destacado em nossas análises dos últimos meses. Porém, os dados do terceiro trimestre deste ano mostram algo ainda mais grave, pois um novo quadro de recessão voltou a se desenhar para o setor. A indústria não só criou menos emprego no período como também registrou três meses de perda sucessiva de produção, com um grave aprofundamento no mês de setembro.
Depois de recuar -0,2% em julho e -0,7% em agosto, os dados divulgados hoje pelo IBGE mostraram uma queda de -1,8% em setembro, já descontados os efeitos sazonais. Assim, o nível de produção em set/18 encontra-se 3% abaixo daquele de jun/18 e 3,6% inferior ao de dez/17. Além disso, os sinais de piora também foram sentidos por todos os macrossetores industriais e pela maioria dos seus ramos: 16 dos 26 acompanhados pelo IBGE ficaram no vermelho em setembro.
A indicação de que a indústria enfrenta uma conjuntura cada vez mais complicada também se expressa na comparação interanual. O acumulado de janeiro a setembro de 2018 (+1,9%) já aponta um ano mais fraco do que 2017 (+2,5%). Em outras palavras, mal a indústria saiu da crise e já parece caminhar de volta para ela. O percurso que vem sendo trilhado fica evidente trimestre após trimestre, como mostram as variações interanuais abaixo:
• Indústria geral: +5,0% no 4º trim/17; +2,8% no 1º trim/18; +1,7% no 2º trim/18 e +1,2% no 3º trim/18;
• Bens de capital: +11,5%; +11,2%; +7,8% e +6,8%, respectivamente;
• Bens intermediários: +4,2%; +1,7%; +0,6% e +0,7%;
• Bens de consumo duráveis: +17,8%; +17,0%; +11,3% e +7,1%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: +2,7%; 0%; +0,6% e -0,2%, respectivamente.
Com bases de comparação ajudando cada vez menos, desaceleração das exportações de manufaturados e sem uma reativação sustentada dos mercados domésticos, a recuperação industrial vem minguando, o que também atinge praticamente todos os seus macrossetores.
O desempenho de bens de capital caiu praticamente pela metade do último trimestre de 2017 (+11,5%) ao 3º trim/18, quando cresceu 6,8% frente ao mesmo período do ano anterior. Cabe lembrar que este é o macrossetor que mais longe se encontra do seu último pico de produção, atingindo em setembro de 2013: -32,5%. Isto é, hoje a produção de bens de capital está 1/3 menor do que era cinco anos atrás.
Um dos principais condicionantes deste retrocesso em 2018 têm sido os bens de capital para a própria indústria, que depois de ensaiarem uma recuperação, voltaram ao negativo tanto no segundo trimestre (-2,7% ante 2º trim/17) como no terceiro trimestre (-0,5%). Este é um mau indício para o investimento industrial. A produção de bens de capital de uso misto também teve forte deterioração, passando de +26,6% no 4º trim/17 para apenas +1,2% no 3º trim/18.
Bens de consumo duráveis, por sua vez, continuam liderando o crescimento, mas perderam 10 pontos percentuais de dinamismo do final de 2017 (+17,8%) para o 3º trim/18 (+7,1%), sob influência de eletrodomésticos e móveis, que retornaram à faixa negativa (-7% e -5,1%, respectivamente). Automóveis ainda crescem a dois dígitos, mas também sofreram desaceleração.
A perda de oxigênio é ainda mais grave para bens de consumo semi e não duráveis, pois voltaram a ficar no vermelho (-0,2%) em julho-setembro de 2018, puxados pela produção de alimentos (-8,2% ante 3º trim/17), mas também pela produção de calçados e de vestuário, que registraram resultados negativos em todos os três trimestres do ano.
A única exceção ao quadro geral vem de bens intermediários, que conseguiram manter seu ritmo de crescimento. Porém, isso em nada funciona como alento, dado que este macrossetor permaneceu muito próximo da estabilidade nos dois últimos trimestres (+0,6% e +0,7%) e muito longe do dinamismo registrado no final do ano passado (+4,2%). Como bens intermediários formam o núcleo duro do sistema industrial, seu baixo crescimento é outro sintoma de que a situação não está bem para o setor como um todo.
A Pesquisa Industrial Mensal do mês de setembro, divulgada hoje pelo IBGE, indica que a produção da indústria nacional decresceu 1,8% frente ao mês de agosto de 2018, segundo dados livres de influência sazonal, a terceira taxa negativa consecutiva nessa base de comparação.
Frente a setembro de 2017, registrou-se retração de 2,0%. Já para o acumulado do ano de 2018, o setor industrial aferiu crescimento de 1,9% e para o acumulado em doze meses o incremento foi de 2,7%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, para dados sem influência sazonal, todos os segmentos apresentaram retrações: bens duráveis (-5,5%), bens de consumo (-1,5%), bens de capital (-1,3%), bens intermediários (-1,0%) e bens semiduráveis e não duráveis (-0,7%).
O resultado observado na comparação com o mês de setembro de 2017 aponta expansão em apenas um dos cinco segmentos: bens de capital (3,9%). Nos demais segmentos foram registradas retrações: bens de consumo duráveis (-4,5%), bens intermediários (-2,6%), bens de consumo (-2,0%) e bens semiduráveis e não duráveis (-1,4%). Para o índice acumulado no ano, aferiu-se expansão em todos os segmentos: bens de consumo duráveis (11,6%), bens de capital (8,5%), bens de consumo (2,4%), bens intermediários (1,0%) e bens semiduráveis e não duráveis (0,1%).
Setores. Na comparação com setembro de 2017, houve aumento no nível de produção em 12 dos 26 ramos pesquisados. Os maiores crescimentos estiveram nos seguintes segmentos: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (22,8%), metalurgia (9,0%), impressão e reprodução de gravações (8,3%), celulose, papel e produtos de papel (6,8%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (4,1%), veículos automotores, reboques e carrocerias (3,7%), couro, artigos de viagem e calçados (2,6%) e outros produtos químicos (2,1%). De outro lado, os seguintes segmentos apresentaram as quedas mais expressivas: bebidas (-12,2%), produtos alimentícios (-11,8%), imóveis (-9,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-8,3%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-8,3%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-4,5%) e máquinas e equipamentos (-3,6%).
Por fim, na comparação do acumulado do ano de 2018 frente a igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou crescimento em 15 dos 26 ramos analisados, sendo os mais elevados: veículos automotores, reboques e carrocerias (16,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (8,0%), celulose, papel e produtos de papel (5,8%), metalurgia (5,5%), máquinas e equipamentos (4,5%), produtos de madeira (4,5%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (4,5%), produtos de borracha e de material plástico (2,4%), produtos de metal (2,0%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustível (1,9%) e móveis (1,6%). Já as quedas mais expressivas foram observadas nos seguintes seguimentos: couro, artigos de viagem e calçados (-4,3%), fumo (-3,9%), produtos alimentícios (-3,9%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-3,7%), impressão e reprodução de gravações (-2,2%), produtos têxteis (-1,7%) e produtos diversos (-1,3%).