Análise IEDI
A indústria no centro do progresso, segundo o FMI
Diversos países em desenvolvimento apresentam dificuldades em promover um ritmo acelerado de crescimento da renda suficiente para alcançar as nações mais ricas do planeta, decorrente dos obstáculos que enfrentam seus processos de transformação estrutural.
Tradicionalmente, a literatura econômica advoga que o potencial de desenvolvimento econômico é grande para as economias que diversificam seus setores produtivos e avançam nos processos de industrialização, geradores de maiores ganhos de produtividade e tecnologia. Este foi o caminho trilhado pelos países hoje considerados desenvolvidos.
Nas últimas décadas, contudo, o que se observa é uma crescente desindustrialização, isto é, um declínio do peso da indústria na estrutura econômica, não apenas em economias avançadas como também nas economias em desenvolvimento, tal como o Brasil. Para este segundo grupo, a desindustrialização foi prematura, já que seus países passaram a perder capacidade industrial antes de atingirem um nível de renda per capita mais elevado, comprometendo sua capacidade de aprimorar constantemente seu grau de sofisticação tecnológica.
A Carta IEDI a ser divulgada hoje discute as condições do avanço do desenvolvimento em meio à desindustrialização, tendo por base o trabalho do FMI recentemente divulgado, sob o título “Rethinking development policy: deindustrialization, servicification and structural transformation”, de autoria de Manoj Atolia, Prakash Loungani, Milton Marquis e Chris Papageorgiou. Os principais argumentos e conclusões dos pesquisadores do FMI serão sintetizados a seguir.
O estudo procura lançar novas luzes sobre os caminhos do desenvolvimento econômico, avaliando experiências de países a partir do papel desempenhado por fundamentos privados e públicos no processo de mudança estrutural. A desindustrialização e a “servitização”, entendidas, respectivamente, como a perda de participação da indústria e a crescente participação dos serviços, tanto no emprego como no valor adicionado de diversas economias, compõem o contexto recente de profundos desafios ao desenvolvimento.
Salienta-se que, embora certos fundamentos privados, como capital físico, tecnologia, capacitação e inovação, sejam necessários para induzir o crescimento, muitas vezes não são suficientes para iniciar o processo, particularmente na ausência de fundamentos públicos, tais como infraestrutura e instituições. Disso decorre, segundo os pesquisadores do FMI, o papel fundamental das políticas públicas no processo de mudança estrutural da economia.
O estudo analisa o processo recente de desenvolvimento das economias a partir de três grupamentos de países: aqueles mais bem sucedidos no movimento de catching up, como os Tigres Asiáticos ( Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura, Hong Kong); países de renda média, a exemplo do Brasil, México, China, entre outros; e os países de renda baixa, tais como os da África Subsaariana.
Conclui que, à luz das experiências mundiais e da realidade atual de globalização e desindustrialização, colocam-se grandes dificuldades aos países em perseguir o tradicional caminho de mudança estrutural que perpassa a agricultura, a indústria e os serviços conforme se elevam os níveis de renda.
Segundo os autores, a alternativa de desenvolvimento por meio de serviços de alta produtividade, embora possa gerar forte crescimento econômico, carece de evidências sobre seu potencial de contribuir para a absorção em larga escala da mão de obra por setores mais avançados da economia e, assim, para a difusão dos ganhos de renda, tal como ocorre no caso dos setores industriais.
Na ausência de forças favoráveis provenientes da produção industrial e/ou de um histórico comprovado de desenvolvimento decorrente dos setores de serviços, os processos de desenvolvimento econômico e de mudança estrutural devem depender, principalmente, do apoio de políticas públicas adequadas para a geração de incentivos fortes, dinâmicos e autossustentáveis que fortaleçam os fundamentos privados de tecnologia, capacitação e inovação.
Segundo os pesquisadores do FMI, embora as prescrições de política sejam específicas às circunstâncias de cada país, o enfrentamento de alguns desafios deve ser priorizado pelas políticas públicas, dentre os quais podem ser destacados:
• Infraestrutura inadequada;
• Benefícios marginais decrescentes dos investimentos em capital físico;
• Esgotamento da mão de obra barata e dos ganhos de imitação de produtos e processos;
• Capital humano insuficiente para competir em inovação com países de renda elevada;
• Má alocação de talentos, com grande parte do capital humano subutilizado na produção de bens em setores de baixa produtividade e baixo crescimento na economia;
• Falta de acesso a financiamento de investimentos mais arriscados em tecnologias inovadoras;
• Desigualdade de renda inibidora da incorporação de capital humano, dado o acesso limitado de famílias de baixa renda às oportunidades educacionais.
Por fim, como o desenvolvimento consiste em um processo longo e complexo, é fundamental que as formulações de política tenham em conta uma perspectiva estratégica e de longo prazo.