Análise IEDI
Excepcionalidades de 2018
Entre janeiro e novembro de 2018, o saldo da balança comercial atingiu um superávit de US$ 51,7 bilhões, dos quais US$ 4 bilhões foram conseguidos apenas no mês de novembro, quando as exportações somaram US$ 20,9 bilhões e as importações, US$ 16,9 bilhões. Deste modo, o ano caminha para um saldo positivo de balança bastante robusto, mas inferior ao de 2017. No acumulado até novembro, o superávit registra queda de 17%.
Isso decorre de um comportamento para o qual o IEDI vem chamando atenção desde o final do ano passado, isto é, de um avanço maior das importações vis-à-vis as exportações. Na soma dos onze meses de que temos notícias, nossos embarques subiram 9,9% enquanto as importações cresceram mais do que o dobro disso: 21,8%.
Além deste fator, que decorre em grande medida de um maior dinamismo da economia brasileira, o comércio exterior de 2018 também tem sido marcado por aspectos excepcionais que impactaram tanto as importações como as exportações, em especial de bens manufaturados.
O principal fator excepcional vem do setor de petróleo e gás, decorrente sobretudo das mudanças nas regras do Repetro, afetando a contabilidade de plataformas para extração. Para se ter ideia da importância deste fator, quase 20% do valor exportado de manufaturas em novembro de 2018 deveu-se a estas plataformas.
No acumulado de jan-nov/18, caso as plataformas fossem desconsideradas, a alta de 8,9% das exportações de manufaturados cairia para apenas 2,3%. Como os semimanufaturados acumulam retração de 1,2% no ano, o avanço exportador de 2018 seria resultante principalmente o desempenho de produtos básicos, que registram alta de 19%, como mostram as variações interanuais a seguir.
• Exportação total: +25,4% em nov/18 e +9,9% em jan-nov/18
• Exportação de produtos básicos: +40,1% e +19%, respectivamente
• Exportação de semimanufaturados: +4,5% e -1,8%;
• Exportação de manufaturados: +25% e +8,9%, respectivamente.
Do lado das importações, o novo Repetro se reflete em uma elevação expressiva de bens de capital, que chegou a nada menos do que +170,2% em novembro e a 84,2% no acumulado dos onze meses de 2018. Ainda que haja uma parcela desses bens importada por outras razões, esse ritmo de expansão em nada converge com a recuperação muito gradual do investimento no país.
O segundo fator excepcional a afetar o comercio exterior de 2018 está associado à crise da economia Argentina, um dos mercados mais importantes para nossas exportações de manufaturados, notadamente para a indústria automobilística. Em novembro, os embarques totais para este país vizinho retraíram 40%, contribuindo para piora do desempenho acumulado em 2018 que até novembro registra variação de -11,2%.
Em boa medida, este comportamento condicionou o encolhimento do total de nossas vendas externas de veículos, justamente um dos setores da indústria que mais tinham expandido suas exportações em 2017. Automóveis de passeio e veículos de carga acumulam perda de 18,9% em jan-nov/18 frente ao mesmo período do ano anterior.
Conforme os dados divulgados pelo MDIC, no mês de novembro de 2018 a balança comercial brasileira aferiu superávit de US$ 4,062 bilhões, crescimento de 21,0% ao valor alcançado no mesmo período do ano anterior, de US$ 3,541 bilhões.
As exportações registraram valor de US$ 20,922 bilhões, representando variação positiva de 25,4% em relação a novembro de 2017, tomando por base as médias diárias, que considera o número de dias úteis no mês. As importações totalizaram US$ 16,860 bilhões, o que significou uma expansão de 28,3% na mesma base de comparação, considerando os dias úteis do mês.
Para o mês de novembro de 2018, as médias diárias das exportações e importações registradas foram de US$ 1,046 bilhões e US$ 843 milhões, respectivamente.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$ 9,815 bilhões no período, expansão de 40,1% em comparação a novembro de 2017. Os produtos industrializados alcançaram US$ 11,099, aumento de 19,4% quando comparado a novembro de 2017, os manufaturados aferiram US$ 8,466 bilhões, representando por sua vez expansão de 25,0% na mesma base de comparação e os semimanufaturados somaram US$ 2,633 bilhões, variação positiva de 4,5% ainda quando comparado a novembro de 2017.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com igual mês de 2017 registrou-se incremento em três dos quatro segmentos analisados: produtos básicos (40,1%), produtos manufaturados (25,0%) e produtos semimanufaturados (4,5%). Por outro lado, houve retração no segmento de operações especiais (-97,8%).
Destaques exportações. No grupo dos básicos, aumentaram as vendas principalmente de soja em grão (+145,8%, para US$ 2,0 bilhões), petróleo em bruto (+103,6%, para US$ 1,8 bilhão), algodão em bruto (+36,6%, para US$ 344 milhões), milho em grão (+32,5%, para US$ 712 milhões), minério de ferro (+22,4%, para US$ 1,9 bilhão), farelo de soja (+22,2%, para US$ 458 milhões), café em grão (+16,5%, para US$ 515 milhões) e carne bovina (+6,0%, para US$ 522 milhões).
No grupo dos manufaturados, quando comparado com novembro de 2017, cresceram as vendas principalmente de plataforma para extração de petróleo (de zero para US$ 1,6 bilhão), gasolina (de US$ 5 milhões para US$ 178 milhões), óleos combustíveis (+793,5%, para US$ 302 milhões), partes de motores/turbinas para aeronave (+142,3%, para US$ 150 milhões), tubos de ferro fundido (+36,4%, para US$ 128 milhões), motores para veículos e partes (+16,1%, para US$ 173 milhões), papel e cartão (+11,7%, para US$ 98 milhões), pneumáticos (+10,6%, para US$ 115 milhões), máquinas para terraplanagem (+6,6%, para US$ 235 milhões), motores/geradores elétricos (+6,0%, para US$ 128 milhões) e tratores (+0,05%, para US$ 124 milhões).
No grupo dos semimanufaturados, quando comparado com novembro de 2017, cresceram as vendas principalmente de ferro ligas (+57,9%, para US$ 320 milhões), zinco em bruto (+37,0%, para US$ 23 milhões), madeira serrada (+25,6%, para US$ 79 milhões), semimanufaturados de ferro/aço (+25,0%, para US$ 453 milhões), celulose (+17,7%, para US$ 649 milhões) e ouro em forma semimanufaturada (+11,4%, para US$ 194 milhões).
Ao analisar os mercados compradores cresceram as vendas para a União Europeia (+66,6%, por conta de plataforma para extração de petróleo, petróleo em bruto, óleos combustíveis, minério de cobre, milho em grão, gasolina, tubos flexíveis de ferro/aço, café em grão, partes de motores/turbinas para aeronaves, açúcar em bruto), Ásia (+49,6%, sendo que a China cresceu 89,5%, para US$ 5,8 bilhões, por conta de soja em grão, petróleo em bruto, celulose, minério de ferro, algodão em bruto, ferro-ligas, açúcar em bruto, café em grão, carne bovina e suína, óleos combustíveis), Oceania (+22,9%, por conta de óleos combustíveis, tratores, veículos de carga, motores/geradores elétricos, máquinas para terraplanagem), África (+14,2%, em decorrência de tubos de ferro fundido, milho em grão, ônibus, óleos combustíveis, carne bovina, minério de ferro, aparelhos para pulverizar líquidos, caldeiras), Estados Unidos (+9,3%, por conta de gasolina, semimanufaturados de ferro/aço, óleos combustíveis, máquinas para terraplanagem, petróleo em bruto, partes de motores/turbinas para aeronaves, minério de ferro, açúcar em bruto, tubos de borracha, hidrocarbonetos, polímeros plásticos) e América Central e Caribe (+4,2%, por conta de soja em grão, óleos combustíveis, semimanufaturados de ferro/aço, cobre em barras, pisos e revestimentos cerâmicos, laminados planos). Por outro lado, diminuíram as vendas para a Mercosul (-29,1%, sendo que a Argentina decresceu 40,0%, por conta de automóveis de passageiros, veículos de carga, tratores, máquinas para terraplanagem, máquinas para uso agrícola, autopeças, polímeros plásticos, chassis c/motor, motores para veículos e partes, pneumáticos, bombas e compressores, ônibus) e Oriente Médio (-5,8%, principalmente por carne de frango e bovina, açúcar, óxidos/hidróxidos de alumínio, chassis c/motor, coque de petróleo, munições de caça/esporte, farelo de soja).
Importações por categoria de uso. Dos US$ 16,860 bilhões importados em novembro, US$ 9,062 bilhões foram de bens intermediários, US$ 2,092 bilhões de bens de consumo, US$ 1,807 bilhão foram de combustíveis e lubrificantes e US$ 3,885 bilhões de bens de capital.
Na comparação frente ao mesmo período de 2017, considerando a média diária, houve expansão em dois dos quatro segmentos analisados das importações: bens de capital (132,3%) e bens intermediários (132,3%). Por outro lado, os segmentos que apresentaram retrações foram: combustíveis e lubrificantes (-12,4%) e bens de consumo (-4,0%).
Destaques importações. Com relação ao grupo dos combustíveis e lubrificantes a expansão ocorreu principalmente pelo aumento das compras de propanos liquefeitos, querosene de aviação, gás natural, fuel-oil, querosenes, gasolinas-exceto para aviação.
No segmento bens intermediários, cresceram as aquisições de cloreto de potássio, naftas para petroquímica, ureia, tubos flexíveis de ferro/aço, inseticidas, adubos e fertilizantes.
No segmento de bens de capital, aumentaram as compras, principalmente, de plataforma para extração de petróleo, veículos de carga, dumpers para transporte de mercadorias.
No grupo dos bens de consumo, os principais retrocessos foram observados nas importações de automóveis de passageiros, fungicidas, celulares, produtos imunológicos, frações de sangue, medicamentos.
Por fim, observando as importações por mercados fornecedores, na comparação novembro 2018/2017, aumentaram as compras originárias dos principais mercados, a saber: África (+108,1%, por conta de naftas, ureia, petróleo em bruto, adubos e fertilizantes, alumínio em bruto), Mercosul (+32,8%, sendo que da Argentina cresceu 12,0%, por conta de veículos de carga, polímeros plásticos, leite/creme de leite, energia elétrica, ônibus, álcoois acíclicos, malte não torrado, milho em grão, naftas), Estados Unidos (+29,2%, por conta de gás propano, óleos combustíveis, adubos e fertilizantes, hidrocarbonetos, petróleo em bruto, veículos de carga, etanol, inseticidas, carvão, partes de motores/turbinas para aeronaves, polímeros plásticos, máquinas para uso agrícola), Oceania (+25,4%, por conta de carvão, sementes de produtos hortícolas, inseticidas, medicamentos), América Central e Caribe (+12,8%, por conta de medicamentos, álcoois acíclicos, obras de plástico, artigos de prótese), Ásia (+5,6%, sendo que a China cresceu 8,6%, por conta de motores/geradores elétricos, compostos organo-inorgânicos, sulfato de amônio, correntes de ferro fundido, laminados planos, barras de alumínio, circuitos integrados, máquinas para moldar borracha, adubos e fertilizantes, instrumentos médicos, inseticidas) e União Europeia (+3,0%, por conta de gás natural, compostos heterocíclicos, gasolina, querosene, grafita artificial, cloreto de potássio, naftas, elementos químicos radioativos, partes/peças para aeronaves, máquinas para moldar borracha, máquinas para processamento de dados). Por outro lado, diminuíram as compras originárias do Oriente Médio (-23,2%, por conta de petróleo em bruto, óleos combustíveis, adubos e fertilizantes, chumbo em bruto, tereftalato de polietileno).