Análise IEDI
Em fase de baixo crescimento
Mantido o desempenho recente, corre-se o risco de a segunda metade de 2018 ser um semestre perdido para a indústria. Por três meses seguidos, entre julho e setembro, houve contração da produção física e, agora, o IBGE constata uma virtual estagnação no mês de outubro: +0,2% frente a setembro livre de efeitos sazonais.
Assim, cada vez mais os dados vão indicando que o setor industrial pode estar migrando de uma etapa de recuperação para uma fase de baixíssimo crescimento. Devido aos inúmeros efeitos encadeadores que a indústria guarda entre seus próprios setores e com o restante das atividades econômicas, sua perda de dinamismo impõe restrições ao avanço do PIB que não vai muito além de 1%.
Frente ao mesmo período do ano anterior, o resultado da indústria geral foi +1,1%, a menor taxa positiva desta comparação em 2018, e isso a despeito de out/18 contar com um dia útil a mais do out/17. Serve como atenuante, porém, o fato de que a maioria dos segmentos ter conseguido ficar no azul (17 dos 26 acompanhados pelos IBGE), sendo que alguns deles, geralmente exportadores ou com grandes perdas a serem compensadas, vêm se saindo melhor, como papel e celulose, produtos de metal, máquinas e equipamentos e veículos.
Para o setor como um todo, o desempenho acumulado entre julho e outubro já dá um indício da potencial desaceleração do semestre: +1,2% contra +2,2% na primeita metade de 2018. Dado que o ritmo de crescimento no segundo semestre de 2017 chegou a 4,1%, pode-se dizer que a indústria vem perdendo quase metade de seu dinamismo a cada seis meses. Isso não é pouco e aponta para um quadro mais de prostração do que de recuperação industrial.
As variações interanuais abaixo mostram que esse comportamento não vale tanto para bens de capital e bens de consumo durável, justamente os setores que mais sofreram ao longo da crise e que, por isso, apresentam bases de comparação muito baixas. Daí seu dinamismo mais forte, embora não escapem de certa desaceleração.
• Indústria geral: +4,1% no 2º Sem/17; +2,2% no 1º Sem/18 e +1,2% em Jul-Out/18
• Bens de capital: +9,9%; +9,4% e +7,7%, respectivamente
• Bens intermediários: +2,9%; +1,1% e +0,5%
• Bens de consumo duráveis: +16,2%; +14,1% e +7,0%
• Bens de consumo semi e não duráveis: +2,7%; +0,3% e -0,2%, respectivamente.
Bens de capital é macrossetor que melhor vem conseguindo manter seu ritmo de crescimento desde o ano passado, influenciado por projetos de investimento de menor monta, geralmente voltados para a preservação da competitividade das empresas, que por longo período tinham ficado engavetados devido ao ambiente de crise. A melhora do quadro do financiamento corporativo em 2018 também concorreu para isso.
Vale observar, contudo, que a produção de bens de capital ainda está longe de ser o que era antes da crise, com o nível recente encontrando-se 31% abaixo do pico atingido em set/13. Além disso, também parece ter sido abortada a reação da produção de bens de capital para a própria indústria (-0,2% no 1º sem/18 e -0,7% em Jul-Out/18), o que não traz bons sinais para o investimento realizado pelo setor.
Assim, a tomar o resultado acumulado em jul-out/18 2018, bens de consumo duráveis perderam a liderança do crescimento, ao registrar alta de 7%. Permanecem com um nível razoável de dinamismo, muito calcado no retorno do crédito às famílias, mas também em seu desempenho exportador, apesar da crise da Argentina que afeta os embarques da indústria automobilística. Na origem da expressiva perda de ritmo em relação ao 1º sem/18 (+14,1%), está o retorno ao vermelho da produção de eletrodomésticos e de móveis.
A rota de desaceleração fica mais evidente para o macrossetor de bens de consumo semi e não duráveis, cuja evolução depende mais das condições de emprego e renda da população. Como se sabe, o desemprego no país continua em patamares elevados e o rendimento real cresce menos em 2018 do que cresceu em 2017, devido à forte redução da inflação naquele ano. A retração obtida em jul-out/18, de -0,2%, foi ensejado sobretudo por vestuário, calçados, bebidas e alimentos, cujas exportações também têm encolhido.
Bens intermediários, por sua vez, por constituírem o núcleo central do sistema industrial, reflete a perda geral de dinamismo dos demais macrossetores, registrando variação de apenas +0,5% e jul-out/18, um ritmo que é nada menos do que 1/6 daquele da segunda metade de 2017. As quedas mais fortes vêm de intermediários para setores alimentícios e têxteis, mas também perderam muito ritmo aqueles para indústria automobilística.
Segundo a Pesquisa Industrial Mensal do mês de outubro divulgados hoje pelo IBGE, a produção industrial nacional aferiu expansão de 0,2% frente ao mês de setembro de 2018 para dados livres de influência sazonal, primeira taxa positiva após três meses de queda. Em comparação com outubro de 2017, registrou-se acréscimo de 1,1%. Já para o acumulado do ano de 2018, o setor industrial aferiu aumento de 1,8% e para o acumulado de doze meses o crescimento registrado foi de 2,3%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, para dados sem influência sazonal, dos cinco segmentos analisados três apresentaram expansão: de bens duráveis (4,4%), bens de capital (1,5%) e bens de consumo (0,2%). Por outro lado, os demais segmentos apresentaram retrações: bens intermediários (-0,3%) e bens semiduráveis e não duráveis (-0,2%).
O resultado observado na comparação com o mês de outubro de 2017 aponta variação positiva para quatro dos cinco segmentos: bens de capital (10,7%), bens de consumo duráveis (6,8%), bens de consumo (1,6%) e bens semiduráveis e não duráveis (0,2%). Para o segmento de bens intermediários houve queda de -0,3. Para o índice acumulado do ano, registrou-se expansão em todos os segmentos: bens de consumo duráveis (11,0%), bens de capital (8,7%), bens de consumo (2,3%), bens intermediários (0,8%) e bens semiduráveis e não duráveis (0,0%).
Setores. Frente a outubro de 2017, houve expansão no nível de produção em 17 dos 26 ramos pesquisados. Os maiores crescimentos estiveram nos seguintes segmentos: veículos automotores, reboques e carrocerias (12,1%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (8,8%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (8,3%), impressão e reprodução de gravações (8,2%), celulose, papel e produtos de papel (7,8%), produtos diversos (7,4%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (6,5%), couro, artigos de viagem e calçados (5,3%) e produtos de fumo (4,2%). De outro lado, os seguintes segmentos apresentaram retrações: produtos alimentícios (-8,4%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-6,5%), bebidas (-4,0%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-3,7%), móveis (-3,5%), produtos de madeira (-2,9%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-2,2%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-2,1%) e produtos têxteis (-0,7%).
Por fim, na comparação do acumulado do ano de 2018 frente a igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou crescimento em 19 dos 26 ramos analisados, sendo os mais expressivos: veículos automotores, reboques e carrocerias (15,8%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (6,2%), celulose, papel e produtos de papel (6,0%), metalurgia (5,2%), máquinas e equipamentos (4,5%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (4,4%), produtos de madeira (3,7%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (3,0%), produtos de borracha e de material plástico (2,3%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustível (1,5%), sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal (1,4%) e móveis (1,0%). Os segmentos que registraram as maiores variações negativas foram: produtos alimentícios (-4,5%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-3,7%), produtos de fumo (-3,4%), preparação de couros, artigos de viagem e calçados (-3,4%), produtos têxteis (-1,6%), impressão e reprodução de gravações (-0,9%) e outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-0,4%).