Análise IEDI
Dinamismo rarefeito
O desempenho do comércio varejista vem rateando nos últimos meses. Em outubro de 2018, o as vendas voltaram a ficar no vermelho, segundo os dados publicados hoje pelo IBGE. O declínio, em termos reais frente a setembro, já descontados os efeitos sazonais, foi de -0,4% em seu conceito restrito e de -0,2% em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de automóveis, autopeças e material de construção.
O resultado é desfavorável menos pela magnitude das quedas e mais pelo fato de serem reincidentes. Na segunda metade do ano, dos quatro meses com dados oficiais já divulgados, apenas um (agosto) foi positivo na série com ajuste. O saldo dos dez meses de 2018 não é muito melhor: seis retrações nesta comparação.
Ao seguir esta toada, bem como tem ocorrido na indústria, o varejo vem apresentando um enfraquecimento de seu desempenho ao longo do ano. No acumulado de julho-outubro, frente a igual período do ano anterior, há crescimento, mas de apenas +1,3% (+4,6% no conceito ampliado), isto é, metade da vitalidade da primeira metade de 2018 e 1/3 daquele da segunda metade de 2017, como mostram as variações interanuais abaixo. Com isso, as vendas de final de ano tendem a ser mais tímidas em 2018 do que em 2017.
• Varejo Restrito: +4,2% no 2º sem/17; +2,9% no 1º sem/18 e +1,3% em jul-out/18
• Varejo Ampliado: +7,6%; +5,8% e +4,6%, respectivamente;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: +3,6%; +5,3% e +2,4%;
• Móveis e eletrodomésticos: +13,1%; +0,6% e -3,5%;
• Tecidos, vestuário e calçados: +9,2%; -3,6% e -0,3%;
• Material de construção: +13,5%; +4,9% e +3,3%
• Veículos, motos e autopeças: +9,9%; +16,4% e +15,9%, respectivamente.
A desaceleração em relação aos resultados obtidos no final do ano passado, ou mesmo no início do presente ano, resulta de um processo bastante difundido entre os diferentes segmentos do varejo. O que pode estar indicando uma perda de fôlego mais geral do consumo, atingindo tanto os gastos que têm como base a renda corrente da população como aqueles dependentes do crédito.
As taxas de crescimento encolheram mais claramente em 6 dos 10 ramos identificados pelo IBGE. Os maiores revezes foram registrados por móveis e eletrodomésticos, que saíram de +13,1% no 2º sem/17 para -3,5% em jul-out/18, e por tecidos, vestuário e calçados, de +9,2% para -0,3%, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior. Material de construção não ficou atrás, mas se manteve no azul: a expansão de +13,5% retrocedeu para +3,3% na mesma comparação.
Dois segmentos não só permaneceram no negativo como agravaram sua situação. É o caso de combustíveis (-5,2% em jul-out/18) e livros, jornais, revistas e papelaria (-16,1%), segmento que além da crise conjuntural também passa por transformações estruturais derivadas da digitalização do mercado editorial.
Veículos, motos e autopeças; artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, cosméticos e perfumaria; e outros artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem as lojas de departamento, apresentam um quadro mais favorável de manutenção do aumento das vendas. Não aceleram, mas ao menos não perdem dinamismo. São estes ramos que têm conseguido segurar o desempenho total do varejo em 2018, cujo resultado acumulado até outubro (+2,2%) é o mesmo daquele de 2017 como um todo (+2,1%).
Isso porque é exceção quem conseguiu ganhar robustez ao longo do corrente ano. Apenas equipamentos de escritório, informática e comunicação estão vivendo dias melhores em 2018, deixando para trás as quedas acumuladas no 2º sem/17 (-3,8%) e no 1º sem/18 (-0,4%) para voltar a crescer em jul-out/18 (+1,1%).
A partir dos dados de outubro de 2018 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional, na série com ajuste sazonal, apresentou retração de 0,4% frente ao mês anterior. Em comparação a outubro de 2017 registou-se elevação de 1,9%. Para o acumulado dos últimos doze meses, o resultado foi expansão de 2,7% e para o acumulado do ano registrou-se crescimento de 2,2%.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou-se retração de 0,2% em relação a setembro de 2018, a partir de dados livres de influências sazonais. Com relação ao desempenho frente ao mesmo mês de 2017, houve incremento de 6,2%. Para o acumulado dos últimos 12 meses aferiu-se crescimento de 5,7% e no acumulado do ano aferiu-se expansão 5,3%.
A partir de dados dessazonalizados, dois dos oito setores registraram acréscimos em comparação ao mês imediatamente anterior: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,9%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,7%). Por outro lado, os demais seguimentos apresentaram decréscimos: livros, jornais, revistas e papelaria (-7,4%), móveis e eletrodomésticos (-2,5%), tecido, vestuário e calçados (-2,0%), combustíveis e lubrificantes (-1,2%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-0,8%). Para o comércio varejista ampliado, houve retração de 0,2%, embora veículos, motos, partes e peças tenha crescido 0,1% e material de construção 1,3%.
Em relação ao mês de outubro de 2017, registraram-se expansões em cinco das oito atividades que compõem o varejo: outros artigos de uso pessoal e doméstico (7,8%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (6,8%), tecidos, vestuário e calçados (4,1%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (3,2%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (2,2%). Os demais setores apresentaram retrações: livros, jornais, revistas e papelaria (-23,1%), combustíveis e lubrificantes (-5,7%) e móveis e eletrodomésticos (-1,8%). Para o comércio varejista ampliado, registrou-se incremento de 6,2%, com crescimento de 20,1% em veículos e motos, partes e peças, e de 6,6% em material de construção.
Para a análise referente ao acumulado do ano (janeiro a outubro de 2018), aferiram-se resultados positivos em quatro das oito atividades que compõem o varejo: outros artigos de uso pessoal e doméstico (7,3%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (5,5%) e hipermercados, supermercados, produtos, alimentícios, bebidas e fumo (4,1%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (0,1%). Em relação aos outros segmentos analisados, foram registrados decréscimos em: livros, jornais, revistas e papelaria (-11,2%), combustíveis e lubrificantes (-5,7%), tecidos, vestuário e calçados (-2,3%) e móveis e eletrodoméstico (-1,1%). Em relação ao comércio varejista ampliado, verificou-se incremento de 5,2%, em função do crescimento de veículos, motos, partes e peças (15,7%) e material de construção (3,9%).
Para a análise do acumulado de 12 meses, registrou-se expansões em quatro dos oito segmentos: outros artigos de uso pessoal e doméstico (6,4%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (5,9%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (4,4%) e móveis e eletrodomésticos (1,4%). Os demais setores observaram decréscimos: livros, jornais, revistas e papelaria (-10,3%), combustíveis e lubrificantes (-5,6%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-2,6%) e tecidos, vestuário e calçados (-0,1%). Para o comércio varejista ampliado, houve expansão de 5,7%, sendo que veículos, motos, partes e peças apresentou crescimento de 14,7% e material de construção 5,4%.
Por fim, comparando outubro de 2017 com outubro de 2018, 24 das 27 unidades federativas apresentaram expansão do volume de comércio, sendo as maiores variações na ordem decrescente: Santa Catarina (9,4%), Acre (9,2), Espírito Santo (9,0%), Rondônia (7,6%), Pará (7,4%), Rio Grande do Norte (5,8%), Maranhão (5,6%), Roraima (5,6%), Mato Grosso do Sul (5,4%), Rio Grande do Sul (5,4%), Paraná (3,9%), Amazonas (3,2%), Mato Grosso (3,3%) e Tocantins (3,2%). Por fim, para os demais estados registraram retrações: Distrito Federal (-6,7%), Piauí (-4,1%) e Espírito Santo (-0,2%).