Análise IEDI
A meio caminho da recuperação
As condições de financiamento da economia vêm se normalizando de modo muito gradual, e em 2018 demos um novo passo nesta direção. Foi a primeira vez, depois de quatro anos consecutivos de retração, que o crédito às empresas voltou a fluir. Isso se somou à continuidade do processo de expansão dos empréstimos às famílias, iniciado em 2017.
No acumulado de janeiro a dezembro de 2018, as concessões totais de crédito já corrigidas pela inflação, segundo o IPCA, cresceram 11,6% ante igual período do ano anterior. Os financiamentos corporativos saíram na frente, alavancados por uma base de comparação muito baixa, e registraram alta de 13,1%. As operações junto a pessoas físicas aumentaram 10,4%, o que representa uma aceleração em relação ao desempenho de 2017 (+8,6%).
O retorno do crédito ao sistema econômico é um elemento fundamental para dar robustez à recuperação do PIB, pois favorece a renegociação de dívidas antigas e a realização de projetos de consumo e investimento, que podem voltar a ser planejados dada a melhora recente da confiança dos agentes. O que se conseguiu até o presente momento, contudo, foi apenas interromper a trajetória cadente da relação crédito/PIB, que atingiu 53,7% em dez/15, mas terminou 2017 em 47,2% e 2018 em 47,5%.
Em parte, este progresso das concessões refletiu certa moderação das taxas de juros cobradas em algumas modalidades de empréstimos, ainda que sua média geral continue elevada. Ao longo de 2018, os juros nominais médios praticados no mercado de crédito brasileiro declinou de 25,6% a.a. para 23,3% a.a., sob influencia das operações livres, cuja taxa saiu de 40,3% a.a. para 35,6% a.a.
Como é sabido, os níveis de juros no Brasil fogem à regra em qualquer comparação internacional, mas quando passam por episódios de exacerbação, como o dos últimos anos, reduzem o universo de tomadores potenciais e bloqueiam decisões econômicas importantes. A redução que temos visto desde 2017 está longe de ser suficiente, mas não deixa de ter impacto positivo.
Embora alguns obstáculos venham se tornado menores, há outros que permanecem onde estavam. É o caso, por exemplo, das operações oficiais de crédito às empresas, que representam o único segmento a continuar se contraindo. Em jan-dez/18, essas concessões reais ficaram -6,4% menores do que em igual período do ano anterior.
Com isso, em três anos, entre 2015 e 2018, o estoque desses empréstimos oficiais às empresas encolheu 25% em termos reais. Se somarmos a ele as operações com condições livremente pactuadas entre credores e tomadores, o saldo total de crédito corporativo ficou 13% menor neste período, com alguns setores sofrendo perdas mais agudas do que outros, como mostram as variações reais abaixo.
• Estoque total crédito às empresas: -13% em dez18/dez15 e +2,2% em dez18/dez17;
• Estoque total de crédito às empresas da Indústria: -21% e -3,8%, respectivamente;
• Estoque total de crédito às empresas da Agropecuária: -0,4% e +12,9%;
• Estoque total de crédito às empresas de Serviços: -5,4% e +5,3%, respectivamente.
Foi a indústria que passou pela maior asfixia creditícia. O saldo total de empréstimos, isto é, sejam eles oficiais ou livremente pactuados, foi reduzido em 21% entre 2015 e 2018, sendo que o ano passado tampouco foi capaz de registrar uma inversão de sinal. Segundo os dados do Banco Central, dentre os segmentos em situação mais dramática estão química e farmacêutica; automobilística; petróleo, gás e álcool; e construção.
No caso de serviços, houve queda de 5,4% do estoque de financiamento entre 2015 e 2018, mas já há uma reação em processo. As empresas do comércio, que compõem o setor de serviços nas estatísticas do BC, registraram queda de 12% do saldo de crédito neste triênio e aumento de 6,6% em 2018 frente a 2017.
Já a agropecuária é quem sofreu menos com a contração do crédito nos períodos aqui considerados: apenas -0,4% entre 2015 e 2018, com direito a uma reação de +12,9% entre 2017 e 2018.
Os dados de crédito apresentados hoje pelo Banco Central registraram que o saldo das operações alcançou R$ 3,3 trilhões em dezembro de 2018, incremento de 1,8% no mês. O saldo de crédito a pessoas físicas cresceu em 1,1%, na comparação do mês com o mês anterior (R$1,8 trilhão), e na carteira de pessoas jurídicas houve incremento de 2,7%, alcançando R$1,5 trilhão. Frente a dezembro de 2017, o saldo total de crédito apresentou expansão de 5,5%.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$ 1,762 bilhões, aumento de 2,8% em relação ao mês anterior e expansão de 11,2% quando comparado com dezembro de 2017. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas alcançou R$ 947,5 bilhões, aferindo acréscimo de 1,2% em relação ao mês imediatamente anterior e expansão de 11,3% quando comparado com o mês de dezembro de 2017. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se R$ 815,3 bilhões, aumento de 4,7% em relação ao mês anterior e incremento de 11,2% na comparação com o mesmo período de 2017.
O estoque de crédito com recursos direcionados aferiu valor de R$ 1,497 bilhões para dezembro, em termos nominais, indicando um decréscimo de 0,6% frente ao mesmo mês do ano anterior e expansão de 0,7% quando comparado ao mês imediatamente anterior. O saldo referente as pessoas físicas registrado foi de R$ 843,5 bilhões, crescimento de 5,7% quando comparado ao mês de dezembro de 2017. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 653,9 bilhões, queda de 7,7%.
Para o mês de dezembro de 2018, foram concedidos R$ 359,6 bilhões em novas operações de crédito, expansão de 11,1% frente ao montante de R$ 323,7 bilhões observado em dezembro de 2017. Deste volume, R$ 322,5 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 37,1 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparados aos mesmos meses do ano anterior, acréscimo de 10,7% para recursos livres e incremento de 14,5% para recursos direcionados.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 129,1 bilhões), cartão de crédito (R$ 103,6 bilhões), crédito não rotativo (R$ 40,8 bilhões), cheque especial (R$ 29,7 bilhões) e crédito pessoal (R$ 24,6 bilhões). Para as pessoas jurídicas, as principais modalidades foram desconto de duplicatas (R$ 37,5 bilhões), conta garantida (R$ 17,4 bilhões), cheque especial (R$ 16,8 bilhões) e capital de giro (R$ 18,1 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$ 7,9 bilhões), crédito rural (R$ 6,6 bilhões), BNDES (R$ 1,1 bilhão) e microcrédito (R$ 1,1 bilhão). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades foram BNDES (R$ 12,7 bilhões), crédito rural (R$ 4,1 bilhões) e financiamentos imobiliários (R$ 1,2 bilhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$ 751,1 bilhões, o que significa um crescimento nominal de 5,0% frente a dezembro de 2017, com as maiores expansões registradas em serviços financeiros (19,3%), serviços de informação e comunicação (12,5%), transporte (6,8%) e comércio (6,3%). Para o setor da indústria aferiu-se o valor de R$ 657,9 bilhões, retração de 4,1% frente ao mesmo mês do ano anterior. Por fim, o setor agropecuário registrou crédito de R$ 24,3 bilhões, crescimento de 12,6% em termos nominais quando comparado ao mês de dezembro de 2017.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$ 1,6 trilhões, alcançando 51,1% do volume de crédito; as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$ 1,0 trilhão, representando 34,1%; e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$ 484,9 bilhões, correspondendo por sua vez a 14,9% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das contratações de dezembro alcançou 23,3% a.a., após reduções de 1,3 p.p. no mês e de 2,3 p.p. no ano. Na carteira livre, a taxa alcançou 35,6% (-2,3 p.p. no mês e -4,7 p.p. no ano), com queda mensal acentuada por fatores sazonais. No ano, destaque-se a redução da taxa livre nas modalidades de pessoas físicas (cartão rotativo não regular: -97,4 p.p.; cheque especial: -10,4 p.p.; cartão parcelado: -10,3 p.p.; e não consignado: -6 p.p.). O spread bancário referente às contratações totais do mês reduziu-se 1,2 p.p. (-1,9 p.p. no ano), atingindo 17 p.p.