Análise IEDI
Um ano de resiliência
Diferentemente da indústria, o comércio varejista conseguiu manter seu nível de atividade em 2018, chegando até mesmo avançar um pouco mais se considerarmos as vendas de veículos, autopeças e material de construção, isto é, em seu conceito ampliado. Isso, contudo, a despeito de dezembro ter sido um mês de fraco desempenho. Por isso, pode-se dizer que 2018 foi um ano de resiliência para o setor.
Como vem ocorrendo nos últimos anos, vimos se repetir em 2018 o padrão de deslocamento de uma fração das vendas reais de dezembro para novembro, devido às promoções neste mês. Assim, o resultado na série com ajuste sazonal foi o pior do ano: -2,2% frente ao mês anterior, anulando uma parte do avanço de +3,1% de novembro (-1,7% e +1,3% no conceito ampliado, respectivamente).
Os resultados vis-à-vis a dezembro de 2017 também mostram o baixo dinamismo do último mês de 2018: apenas +0,6% no conceito restrito e +1,8% no conceito ampliado. Neste último caso, a variação obtida foi a mais baixa do ano passado todo. Com isso, se houve alguma recomposição do crescimento das vendas no último trimestre de 2018, depois do descarrilhamento ocorrido com a greve dos caminhoneiros, isso se deve muito às promoções de novembro.
Como mostram as variações interanuais abaixo, o 4º trim/18 apontou alta de +2,2%, isto é, bem superior ao ritmo dos dois trimestres anteriores, mas, ainda assim, aquém dos 4% que as vendas reais vinham registrando entre meados de 2017 e os primeiros meses de 2018. No varejo ampliado, ocorre este mesmo comportamento, embora a recomposição do 4º trim/18 tenha sido muito pequena.
• Varejo restrito: +4,3% no 1º trim/18; +1,6% no 2º trim/18; +1,1% no 3º trim/18 e +2,2% no 4º trim/18;
• Varejo ampliado: +6,9%; +4,7%; +4,0% e +4,4%, respectivamente
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: +6,7%; +4,0%; +2,4% e +2,2%;
• Tecidos, vestuário e calçados: -1,6%; -5,3%; -1,7% e +1,6%;
• Móveis e eletrodomésticos: +1,7%; -0,6%; -4,1%; -1,9%;
• Equip. e material de escritório, informática e comunicação: +1,1%; -1,9%; +0,3% e +0,8%;
• Veículos e autopeças: +17,9%; +15,1%; +14,5% e +13,4%;
• Material de construção: +3,7%; +6,1%; +2,2% e +2,5%, respectivamente.
Com um começo de ano mais aquecido e um final fraco, porém positivo, 2018 acumulou crescimento de +2,3% nas vendas reais, em linha com a alta de +2,1% de 2017. Em seu conceito ampliado, avançou +5,0% no ano passado frente a +4,0% no ano anterior.
O aspecto que diferencia estes dois anos de recuperação é a trajetória ao longo do tempo: em 2017 o varejo estava claramente em aceleração, em 2018 houve um processo de acomodação. Este movimento foi acompanhado por uma mudança dos segmentos na liderança da reativação das vendas.
Dos 10 ramos acompanhados pelo IBGE, 4 ficaram no vermelho em 2018, isto é, 1 a mais do que em 2017. Dois deles são reincidentes. É o caso das vendas de combustíveis e lubrificantes, que caem desde 2015, devido à elevação dos preços neste segmento. Em 2018, houve retração de -5%, mas a queda ficou mais amena no 4º trim. (-2,7%). O outro caso é o de livros, jornais, revistas e papelaria, que em função da digitalização de parte de seus produtos, acumula 5 anos de queda (-14,7% em 2018).
Aqueles que perderam a liderança do crescimento compreendem segmentos que se favoreceram bastante da liberação dos recursos do FGTS em 2017, como tecidos, vestuário e calçados (+7,6% em 2017 e -1,6% em 2018) e móveis e eletrodomésticos (+9,5% e -1,3%, respectivamente). Como este fator não esteve presente em 2018, perderam dinamismo. Em menor medida, encaixam-se neste mesmo padrão as vendas de material de construção (+9,2% e +3,5%), que puderam contar a continuidade da melhora das condições de crédito às famílias.
A progressiva normalização do crédito está igualmente na origem do avanço nas vendas de veículos e autopeças, que passaram a liderar a expansão do varejo em 2018: +15,1% contra apenas +2,7% em 2017. E também pode ter influenciado a aceleração do segmento de outros artigos de uso pessoal e doméstico – que inclui as lojas de departamento e que, não raramente, realiza vendas a crédito – bem como das vendas de equipamentos de informática e comunicação, que pararam de cair e ficaram estáveis em 2018.
Os demais ramos do varejo que reforçaram seu desempenho incluem aqueles mais dependentes da massa de rendimentos reais da população (+2%), que em 2018 foi favorecida pelo aumento da ocupação e pela baixa inflação. Assim, supermercados, alimentos, bebidas e fumo avançou +3,8 contra +1,5% em 2017 e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, +5,9% contra +2,5% em 2017. Neste último caso, reajuste menor no preço de medicamentos também foi um fator positivo.
A partir dos dados de dezembro de 2018 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional, na série com ajuste sazonal, registrou retração de 2,2% frente a novembro. Em comparação com dezembro de 2017 houve elevação de 0,6%. Para o acumulado no ano registrou-se expansão de 2,3%.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou-se decréscimo de 1,7% em relação a novembro de 2018, a partir de dados livres de influências sazonais. Com relação ao desempenho comparado ao mesmo mês de 2017, houve crescimento de 1,8%. Para o acumulado no ano aferiu-se incremento de 5,0%.
A partir de dados dessazonalizados, três dos oito setores registraram incrementos em comparação ao mês imediatamente anterior: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,4%), combustíveis e lubrificantes (1,4%) e livros, jornais, revistas e papelaria (5,7%). Os demais seguimentos apresentaram decréscimos: outros artigos de uso pessoal e doméstico (-13,1%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-5,5%), móveis e eletrodomésticos (-5,1%), tecidos, vestuário e calçados (-3,7%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,3%). Para o comércio varejista ampliado, houve decréscimo de 1,7%, com veículos, motos, partes e peças tendo registrado retração de 2,0% e material de construção, -0,4%.
Em relação ao mês de dezembro de 2017, registraram-se crescimento em três das oito atividades que compõem o varejo: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (7,2%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (2,2%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,5%). Os demais setores apresentaram retrações: livros, jornais, revistas e papelaria (-24,6%), móveis e eletrodomésticos (-5,3%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-3,3%) e tecidos, vestuário e calçados (-1,6%). Para a atividade de combustíveis e lubrificantes houve estabilidade (0,0%). Para o comércio varejista ampliado, registrou-se incremento de 1,8%, com crescimento de 7,8% em veículos e motos, partes e peças, e retração de 0,6% em material de construção.
Para a análise referente ao acumulado do ano (janeiro a dezembro de 2018), assim como para o acumulado em 12 meses, aferiram-se expansões em quatro das oito atividades que compõem o varejo: outros artigos de uso pessoal e doméstico (7,6%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (5,9%), hipermercados, supermercados, produtos, alimentícios, bebidas e fumo (3,8%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (0,1%). Nos demais segmentos analisados foram registradas variações negativas: livros, jornais, revistas e papelaria (-14,7%), combustíveis e lubrificantes (-5,0%), tecidos, vestuário e calçados (-1,6%) e móveis e eletrodoméstico (-1,3%). Em relação ao comércio varejista ampliado, verificou-se crescimento de 5,0%, em função da expansão de veículos, motos, partes e peças (15,1%) e material de construção (3,5%).
Por fim, comparando dezembro de 2017 com dezembro de 2018, 19 das 27 unidades federativas apresentaram expansão do volume de comércio: Rondônia (8,0%), Roraima (7,7%), Espírito Santo (7,5%), Santa Catarina (6,6%), Mato Grosso (5,8%), Pará (5,2%), Goiás (4,9%), Sergipe (4,6%), Tocantins (4,4%), Rio Grande do Sul (4,2%), Mato Grosso do Sul (3,8%), Amazonas (3,4%), Maranhão (2,6%), Pernambuco (2,4%), Rio Grande do Norte (2,1%), São Paulo (1,8%), Paraná (1,5%) e Paraíba (1,5%) e Rio de Janeiro (0,7%). Os demais estados apresentaram queda: Amapá (-5,3%), Minas Gerais (-2,6%), Distrito Federal (-2,2%), Bahia (-1,9%), Piauí (-1,1%), Acre (-0,6%), Alagoas (-0,2%) e Ceará (-0,2%).