Análise IEDI
Emprego industrial em marcha à ré
Se o desempenho do início de 2019 se mantiver ao longo do ano, conviveremos com níveis elevados de desemprego por mais tempo do que gostaríamos. No trimestre móvel findo em janeiro último, o número de pessoas sem trabalho não cedeu e a ocupação variou apenas +0,9% frente ao mesmo período do ano anterior. Este foi o pior resultado desde meados de 2017 quando a ocupação voltou a crescer.
Para se ter uma ideia mais clara do quão forte pisamos no freio, o contingente de ocupados tinha aumentado 1,8 milhão de pessoas entre o trimestre móvel findo em jan/17 e o de jan/18, número este que retrocedeu para menos da metade: 845 mil pessoas ocupadas a mais entre o trimestre móvel de jan/18 e o de jan/19.
Deste modo, não surpreende que o declínio da taxa de desocupação tenha sido bastante modesto, passando de 12,2% para 12,0% entre jan/18 e jan/19. Atualmente, ainda são 12,6 milhões de pessoas em busca de um trabalho no país.
Ao lado destes, há ainda a presença em alta de ocupados que trabalham menos do que poderiam e menos do que gostariam: 6,8 milhões de pessoas com insuficiência de horas trabalhadas (+7,3% ante o trimestre findo em jan/18). Os desalentados, isto é, os que pararam de buscar emprego devido ao repetido insucesso, somam, por sua vez, 4,7 milhões de pessoas (+6,7%). Estes grupos, cada vez maiores, mostram a fraqueza do atual quadro do emprego no país.
Na entrada de 2019, a ocupação não avançou mais porque alguns setores registraram redução de vagas, como mostram abaixo as variações interanuais em milhares de pessoas. O emprego industrial é quem tem andado mais rapidamente em marcha à ré, um movimento condicionado pela expressiva desaceleração da produção do setor. Cabe lembrar que a indústria terminou 2018 novamente em recessão, ao cair -1,1% em out-dez.
• Ocupação total: +1,8 milhão de pessoas no trim. findo em jan/18 e +845 mil no trim. findo em jan/19;
• Ocupados na indústria: +558 mil e -200 mil, respectivamente;
• Ocupados na construção: -280 mil e -42 mil;
• Ocupados na agropecuária: -350 mil e -72 mil;
• Ocupados no comércio: +186 mil e -104 mil;
• Ocupados em alojamento e alimentação: +317 mil e +241 mil;
• Ocupados em info., comun., atividades financeiras, imob. e profissionais: +351 mil e +229 mil, respectivamente.
Na entrada de 2018, a recuperação do emprego industrial, quando foram criados 558 mil postos adicionais, chegou a representar 30% do aumento da ocupação total no trimestre findo em jan/18 em relação a um ano antes. Agora, nos últimos três trimestres móveis a indústria não só não contribui, como jogou contra a melhora do emprego.
O encolhimento do número de ocupados do setor industrial, ademais, tem ficado cada vez mais expressivo: -131 mil em set-nov/18; -141 mil em out-dez/18 e, então, -200 mil em nov/18-jan/19. A contar por esses resultados, o início de 2019 continuou trazendo adversidades para a indústria.
Outros setores econômicos no vermelho foram agropecuária, construção e comércio e reparação de veículos. Nos dois primeiros casos, ao menos as quedas ficaram mais modestas. Já o comércio e reparação de veículos se comportou como a indústria: criava 186 mil postos no início de 2018 e passou a cortar vagas na entrada de 2019 (-104 mil).
Em sentido oposto, quatro setores asseguraram a melhora relativa do número de ocupados quando comparado com um ano antes: administração pública, defesa e serviços sociais (+540 mil); alojamento e alimentação (+241 mil); informática, comunicação, atividades financeiras, imobiliária, profissionais e administrativas (+229 mil) e transporte, armazenagem e correios (+201 mil).
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre novembro de 2018 e janeiro de 2019 alcançou 12,0%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, agosto a outubro de 2018, houve incremento de 0,3 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior verificou-se queda de 0,2 p.p., quando registrou 12,2%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$ 2.270, apresentando expansão de 1,3% em relação ao trimestre imediatamente anterior (ago-set-out/2018), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior houve acréscimo de 0,8%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 205,0 bilhões no trimestre que se encerrou em janeiro, registrando expansão de 1,1% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação positiva de 1,9% quanto ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 197,6 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada ficou em 92,5 milhões de pessoas, decréscimo de 0,4% em relação ao trimestre imediatamente anterior (ago-set-out), e aferiu-se crescimento de 0,9% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (90,6 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados apresentou acréscimo em 2,6%, com 12,7 milhões de pessoas. Já para a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se decréscimo de 0,2%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 105,2 milhões de pessoas, isto representou estabilidade frente ao trimestre imediatamente anterior e crescimento de 0,8% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, os grupamentos de atividades que obtiveram expansão da ocupação foram os seguintes: Alojamento e alimentação (4,6%), Transporte, armazenagem e correios (4,4%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,5%), Outros serviços (3,3%) e Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (2,3%). De outro lado, os agrupamentos que apresentaram variações negativas na ocupação foram: Serviços domésticos (-1,9%), Indústria (-1,7%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-0,8%), Construção (-0,6%) e Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-0,6%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação, comparados ao mesmo trimestre do ano anterior, registrou expansões nas seguintes categorias: empregador (3,3%), trabalhador por conta própria (3,1%), trabalho privado sem carteira (2,9%) e setor público (1,7%). Para os demais seguimentos, registraram-se retrações: trabalho familiar auxiliar (-3,3%), trabalho doméstico (-1,3%) e trabalho privado com carteira (-1,1%).