Análise IEDI
Um setor paralisado
Neste início de 2019, a indústria é um setor estagnado, já que o crescimento obtido em fevereiro foi suficiente apenas para compensar o retrocesso de janeiro. Ou seja, andamos em círculo em torno de um ponto de baixíssimo dinamismo atingido após um trimestre recessivo como foi o de outubro a dezembro do ano passado.
Pode ser que estejamos passando por um período menos adverso, isto é, por uma fase de estabilização, mas não deve ser descartada a hipótese de que a produção de fevereiro tão somente reagiu a uma necessidade de recomposição de estoques. De um modo ou de outro, o que não dá para afirmar com certeza é que estamos vendo um retorno do crescimento industrial.
Em fevereiro, o resultado da indústria na série com ajuste sazonal foi de apenas +0,7% ante jan/19. Em relação a um ano atrás, o quadro parece menos adverso à primeira vista. Registrou crescimento de +2% ante fev/18, devido a avanços em 16 dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE. É preciso ter em conta, porém, a ajuda do efeito calendário, com fev/19 tendo dois dias úteis a mais do que fev/18. Além disso, esta alta tampouco fez frente ao declínio de janeiro (-2,4% ante jan/18).
Assim, no 1º bimestre de 2019 o saldo é de virtual estagnação: -0,2% frente ao mesmo período do ano anterior. São 54% dos ramos industriais no vermelho neste bimestre, alguns deles, inclusive, já tendo apresentado perdas no 4º trim/18, como nos casos de têxteis, calçados e couros, produtos de madeira, borracha e plástico, químicos, outros equipamentos de transporte e informática e eletrônicos.
Entre os macrossetores industriais, os problemas aparecem mais nitidamente em bens intermediários e bens de capital, como mostram as variações interanuais abaixo.
• Indústria geral: +1,2% no 3º trim/18; -1,2% no 4º trim/18 e -0,2% no 1º bim/19;
• Bens de capital: +7,3%; +3,6% e +0,1%, respectivamente;
• Bens intermediários: +0,6%; -1,6% e -0,9%;
• Bens de consumo duráveis: +7,1%; -2,7% e +3,7%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: -0,2%; -0,8% e +0,5%, respectivamente.
A trajetória mais preocupante é a de bens intermediários, e isso por duas razões. A primeira é pela duração das quedas, que vêm ocorrendo repetidamente desde set/18. Ou seja, já é um semestre de recessão. A segunda razão é pelo que significa. Bens intermediários compreendem o núcleo duro do sistema industrial, por funcionarem como insumo aos demais setores. Por isso, seu retrocesso duradouro indica que o dinamismo da indústria geral vem de fato enfraquecendo.
Bens de capital, por sua vez, ainda resistem e se mantêm no azul, mas é patente a desaceleração que têm sofrido. Depois de crescer +11,1% no 1º trim/18, terminou o ano passado com um resultado de apenas +3,6% no 4º trimestre e parou no 1º bim/19 (+0,1% ante 1º bim/18). Muito disso se deve a bens de capital para a própria indústria, mas, segundo o IBGE, também a bens de capital agrícola, para o setor de energia e de uso misto. Bom sinal para o investimento é que não é.
Bens de consumo semi e não duráveis cresceu pouco no 1º bim/19, mas cresceu; algo que não vinha ocorrendo desde a entrada da segunda metade de 2018. Apesar disso, existem ramos em uma situação muito pior, como têxteis, vestuário e acessórios e couros e calçados, que já acumulam vários meses de resultado negativo. Como estes setores estão espalhados pelo território nacional e são muito empregadores, essa evolução prejudica o dinamismo econômico no interior do país e a geração de empregos.
O macrossetor de bens de consumo duráveis, por fim, não parece que repetirá o sinal negativo do 4º trim/18. Em jan-fev/19, acumula alta de +3,7% frente ao mesmo período do ano anterior, o melhor resultado dentre os macrossetores. O que está ocorrendo neste caso é uma mudança no padrão de crescimento, em boa medida devido à evolução mais contida do ramo automobilístico. É possível que as altas de dois dígitos em duráveis tenham ficado para trás.
A partir dos dados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de fevereiro divulgados hoje pelo IBGE, a produção industrial nacional registrou incremento de 0,7% frente ao mês de janeiro de 2019, para dados livres de influência sazonal. O acumulado de doze meses acusou expansão de 0,5% e o acumulando do ano apresentou decréscimo de 0,2%. Em comparação a fevereiro de 2018 houve aumento de 2,0%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, para dados sem influência sazonal, dos cinco segmentos analisados quatro apresentaram incremento: bens de capital (4,6%), bens duráveis (3,7%), bens de consumo (1,6%) e bens semiduráveis e não duráveis (0,7%). Por outro lado, o segmento de bens intermediários apresentou retração de 0,8%.
O resultado observado na comparação com o mês de fevereiro de 2018, quatro dos cinco seguimentos analisados apresentaram expansão, sendo eles, em ordem decrescente: bens de duráveis (12,2%), bens de capital (7,0%), bens de consumo (5,3%) e bens semiduráveis e não duráveis (3,2%). De outro lado, o seguimento de bens intermediários registrou retração de 0,4%. Para o índice acumulado nos últimos doze meses, registrou-se incremento em três dos cinco segmentos analisados: bens de consumo duráveis (5,7%), bens de capital (5,6%) e bens de consumo (1,0%). Para os demais segmentos registraram-se decréscimos: bens semiduráveis e não duráveis (-0,2%) e bens intermediários (-0,3%).
Setores. Na comparação com fevereiro de 2018, houve expansão no nível de produção em 17 dos 26 ramos pesquisados: fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (16,4%), fabricação de produtos diversos (8,0%), impressão e reprodução de gravações (6,8%), coque, produtos derivados de petróleo e biocombustível (6,8%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (6,1%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (6,1%), fabricação de bebidas (5,0%), fabricação de produtos de minerais não-metálicos (4,6%), fabricação de produtos alimentícios (4,2%), fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (3,7%), fabricação de máquinas e equipamentos (3,5%), fabricação de móveis (3,2%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (2,8%), fabricações de sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria (1,9%), fabricação de outros produtos de transporte, exceto veículos automotores (1,6%), fabricação de têxteis (1,6%), fabricação de produtos de borracha e material plástico (0,1%).
Os demais segmentos apresentaram decréscimos na mesma base de comparação, sendo os maiores em: fabricação de produtos de fumo (-15,7%), fabricação de produtos de madeira (-7,5%), fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-3,1%), fabricação de celulose, papel e produtos de papel (-3,0%), preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-2,4%), produtos farmacêuticos e farmoquímicos (-2,1%) e metalurgia (-1,6%).
Por fim, na comparação do acumulado do ano de 2019, frente igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou crescimento em 12 dos 26 ramos analisados, sendo os maiores: fabricação de produtos diversos (8,3%), fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (6,7%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (6,6%), coque, produtos derivados de petróleo e biocombustível (3,8%), fabricação de bebidas (2,9%), fabricação de produtos de minerais não-metálicos (2,7%) e fabricação de sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal (2,5%).
Em sentido oposto, os demais segmentos apresentaram retrações na mesma base de comparação, sendo os mais expressivos: fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-12,3%), fabricação de produtos de fumo (-10,7%), fabricação de produtos de madeira (-7,9%), fabricação de produtos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-6,5%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-4,2%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-3,5%), fabricação de celulose, papel e produtos de papel (-3,4%) e fabricação de máquinas e equipamentos (-3,0%).