Análise IEDI
Robotização e a Competitividade no Futuro
Os processos produtivos estão entrando em rota de profunda transformação devido ao continuado avanço de tecnologias digitais, da automação e da inteligência artificial. Embora a indústria esteja no centro da revolução tecnológica em curso, daí o emprego recorrente do termo Indústria 4.0, todos os setores da economia serão afetados, incluindo os serviços e a agricultura.
Por isso, estamos vendo no mundo todo, sobretudo nas principais potências industriais do globo, uma tentativa incessante de avaliar a velocidade e a amplitude dos efeitos das novas tecnologias, sobre a produtividade, o emprego, a competitividade e o crescimento econômico. O objetivo é estabelecer linhas estratégicas que minimizem consequências indesejadas e maximizem os potenciais ganhos.
Como as tecnologias subjacentes a esta onda de transformações continuam sendo desenvolvidas e aperfeiçoadas, há também uma competição entre os países para assegurar um papel central nas principais áreas tecnológicas e a existência de empresas nacionais bem posicionadas nos mercados globais. Com isso, buscam capturar parcelas importantes do valor a ser gerado pelo emprego das novas tecnologias.
O avanço da robotização, cada vez mais aliada à inteligência artificial, faz parte das mudanças em vigor. Mesmo que sua presença no chão de fábrica exista há décadas, a sua penetração aumentou muito nos últimos anos, como mostra o trabalho da OCDE intitulado “The Future of Work”, de abril de 2019. Esta Análise IEDI aborda os efeitos da Indústria 4.0 com o aumento da robotização a partir do referido estudo da OCDE.
Entre 2001 e 2017, o número de unidades de robôs industriais vendidos aumentou por 5 vezes e a tendência é que ele continue crescendo ainda mais rápido. A OCDE estima que o número de robôs aumente 280% entre 2011 e 2021.
Ao executarem sobretudo funções rotineiras e repetidas, os robôs em número cada vez maior implicarão riscos crescentes de desemprego a determinados grupos. A potencial substituição de trabalho manual por robôs foi estimada pela OCDE: 14% dos postos de empregos atuais na média dos países pertencentes à organização.
No entanto, isso não significa uma redução direta no nível do emprego, já que mudanças de paradigmas tecnológicos também criam novos empregos, assim como redefinem as tarefas das ocupações existentes.
Mas os impactos não param por aí. Os robôs podem realizar tarefas que envolvem maior risco para o trabalhador, reduzindo o número de acidentes, tendem a executar atividades mais rapidamente e com maior destreza e podem fundir etapas de produção que antes eram realizadas separadamente, aumentando vertiginosamente a produtividade da indústria.
Outro ponto positivo da automação é a redução dos custos de produção e, consequentemente aumento de competitividade. Isso contudo não ocorrerá de maneira homogênea entre os países. As empresas brasileiras, segundo a OCDE, não serão as mais beneficiadas, o que deve agravar ainda mais sua posição competitiva no mundo.
No Brasil a redução potencial de custos decorrente da introdução de robôs no chão de fábrica é apenas 7% até 2025, de acordo com a estimativa da OCDE. Em economias mais avançadas como a dos EUA e da Coreia do Sul, a economia chega a 22% e a 33% respectivamente. Como a competitividade do Brasil já é prejudicada por inúmeros fatores, como o chamado Custo Brasil, e pelos frequentes episódios de apreciação cambial, se estas estimativas se efetivarem, ficaremos ainda mais para trás.
O quadro poderá ser diferente se o Brasil eliminar as distorções que já prejudicam sua competitividade e adotar uma estratégia industrial que dê ênfase à inovação e ao desenvolvimento tecnológico para aproveitar as janelas de oportunidades que se abrem neste início da Quarta Revolução Industrial.
Ademais, para acelerar a difusão das novas tecnologias e arrefecer impactos negativos sobre o emprego serão necessárias medidas de treinamento, requalificação e capacitação focadas nas habilidades ocupacionais para atender as indústrias mais intensivas em tecnologias e robotizadas.
Robotização e Indústria 4.0. Com a Quarta Revolução Industrial os processos produtivos estão se transformando. Progresso tecnológico, globalização, novos modelos de negócios, entre outros fatores, estão contribuindo para o surgimento de novas formas de produção e de trabalho que se afastam do tradicional.
O uso de tecnologias de informação e comunicação nas linhas de produção está se ampliando rapidamente no mundo todo. O principal destaque da Indústria 4.0 é a conectividade entre sistemas físicos (máquinas, equipamentos e trabalhadores) e digitais (computação em nuvem e inteligência artificial).
Mesmo que a presença de robôs no chão de fábrica já exista há décadas, a sua penetração aumentou muito nos últimos anos. De acordo com dados recentes da OCDE, a difusão dos robôs no ambiente produtivo cresceu vertiginosamente no século XXI.
O número de unidades de robôs industriais vendidos entre 2001 e 2017 ampliou-se 5 vezes e a tendência é que ele continue crescendo ainda mais rápido. Comparando as duas décadas do século XXI, nos 10 anos iniciais o número de robôs industriais aumentou 55%, enquanto a previsão da OCDE aponta para um crescimento de 280% nos próximos 10 anos, de 2011 até 2021.
Em geral, esses robôs executam funções que são rotineiras e repetidas. A coleta, o processamento de dados e a execução da função são atividades que podem ser feitas cada vez mais rapidamente e com maior destreza pelas máquinas. Além disso, as máquinas podem realizar tarefas que envolvem maior risco para o trabalhador, assim reduzem acidentes de trabalho. Outro ponto relevante é que ao fundir etapas de produção que antes eram realizadas separadamente, além de reduzir o tempo necessário para produzir, elas aumentam vertiginosamente a produtividade da indústria.
A potencial substituição de trabalho manual por robôs foi mensurada para alguns países predominantemente avançados. Em média para os países da OCDE, 14% dos postos de empregos atuais têm mais de 70% de chances de serem automatizados. Mas esse percentual depende das condições de cada país. Nos EUA esse valor chega a 10%, enquanto na Espanha alcança 22%.
No entanto, isso não significa uma redução direta no nível do emprego. Todas as mudanças de paradigmas tecnológicos envolveram também a criação de novos postos, assim como a remodelação das tarefas desempenhadas por ocupações existentes. A automação tem um efeito menor em tarefas que envolvem o gerenciamento de pessoas e aplicação de conhecimentos – e não apenas a replicação de um padrão –, nas quais as máquinas ainda não conseguem corresponder ao desempenho humano.
Robôs, Custo de Produção e Competitividade. Outro ponto positivo da automação é a redução gerada nos custos de produção. No Brasil a redução potencial decorrente da introdução de robôs no chão de fábrica é em torno de 7% segundo dados estimados pela OCDE. Em economias mais avançadas como a norte-americana, a economia de custo atinge 22%, e na Coreia do Sul, país referência em desenvolvimento tecnológico, a economia pode chegar a 33% até 2025. Assim como as chances de automação variam entre países, o potencial de redução dos custos também. Nos países desenvolvidos, o custo da mão de obra é mais elevado e a taxa de crescimento populacional é menor em relação aos países emergentes, fatores que levam a economia de custos ser maior.
As transformações produtivas globais já estão em curso e os países que demorarem para se adaptar a elas ficarão para trás em termos de competitividade. O Brasil possui elevado hiato de competitividade devido aos problemas estruturais relacionados ao Custo Brasil – carga tributária elevada; infraestrutura defasada e insuficiente; altas taxas de juros; e elevada burocracia em várias áreas do ambiente de negócios – e aos períodos longos de câmbio apreciado e sua alta volatilidade.
Para não ficar ainda mais para trás, o país requer uma política industrial de transformação produtiva focada na inovação e desenvolvimento tecnológico para aproveitar as janelas de oportunidades que se abrem no início de cada revolução industrial. Ademais, também é vital se antecipar aos impactos no mercado de trabalho para que a transição seja mais harmônica; para isso, medidas de treinamento e capacitação focadas nas habilidades ocupacionais para atender as indústrias mais autônomas e robotizadas são bem-vindas, como também políticas de requalificação e reinserção no mercado de trabalho. O país precisa se preparar para o futuro sob o risco de ficar permanentemente para trás.