Análise IEDI
Reflexo do baixo crescimento econômico
O nível de atividade econômica vem dando sinais de desaceleração nesta primeira metade de 2019, fazendo com que a recuperação da economia, que já não era robusta, ficasse ainda mais fraca. Os dados da balança comercial divulgados hoje trazem outros sinais.
As importações, que respondem ao ritmo de crescimento da economia nacional, registraram US$ 13 bilhões em junho de 2019, isto é, praticamente o mesmo patamar de um ano atrás se considerarmos a média por dia útil (+0,5% ante jun/18). Mais do que um desempenho pontual, este foi o padrão da primeira metade do ano.
Depois de terem crescido +20% em 2018 como um todo, as importações totais ficaram estagnadas (0%) no primeiro semestre de 2019 frente ao mesmo período do ano anterior, ao somarem US$ 83,7 bilhões. Feito o ajuste por dias úteis, o resultado melhora para +0,8%, mas o quadro geral de estabilidade se mantém.
O pior resultado coube à importação de bens de consumo, que caiu -7,1% em jan-jun/19; uma realidade totalmente diferente daquela da primeira metade de 2018 quando crescia a um ritmo de +16,5%. A importação de combustíveis e lubrificantes também ficou no negativo: -1,7% frente ao mesmo período do ano anterior.
Já a compra externa de bens intermediários, que nutrem a produção doméstica de muitos produtos, não chegou a cair, mas sofreu importante desaceleração. Havia crescido +12,1% em 2018 como um todo e agora na primeira metade de 2019 variou apenas +1,1%. Somente bens de capital (+4,7%) conseguiu apresentar um dinamismo melhor, mas neste caso a série tem sido muito influenciada desde o ano passado por operações com plataformas de petróleo.
A perda de fôlego das importações poderia ter funcionado, ao menos, para estancar a deterioração do superávit de nossa balança comercial, mas não foi isso que ocorreu, como mostram as variações interanuais a seguir.
• Exportações: +5,6% em jan-jun/18; +14,3% em jul-dez/18 e -2,5% em jan-jun/19;
• Importações: +17,2%; +22,9% e 0%, respectivamente;
• Superávit da Balança Comercial: -17,4%; -7,9% e -9,3%, respectivamente.
Tensões no comércio internacional e especialmente a crise da economia argentina têm prejudicado muito o desempenho exportador brasileiro. Em junho, as exportações caíram -1,7% pela média por dia útil em relação a jun/18, registrando no total US$ 18 bilhões. No acumulado do 1º semestre de 2019, as vendas externas de US$ 110,9 bilhões implicaram redução de -2,4% frente ao mesmo período do ano passado, levando a uma queda de -9,3% do superávit total da balança comercial.
Foram os bens manufaturados e semimanufaturados quem esteve por trás deste desempenho negativo das exportações. No primeiro caso, o declínio chegou a -5,5% ante jan-jun/18 e, no segundo caso, a -0,4%. Os embarques de produtos básicos continuaram crescendo na primeira metade de 2019, mas a um ritmo muito aquém do que vinham apresentando: variaram apenas +4,3%, depois de avançar +17,6% em 2018 como um todo.
Dentre os bens manufaturados, o destaque negativo certamente cabe às exportações de automóveis de passageiros, que representaram, sozinhas, nada menos do que 37% (US$ 1,1 bilhão) do declínio total das vendas externas do país no 1º semestre do presente ano (US$ 2,3 bilhões). Outros manufaturados com perdas expressivas foram aviões, plataformas para extração de petróleo, autopeças e veículos de carga.
Conforme os dados divulgados pelo Ministério da Economia, no mês de junho de 2019 a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 5,019 bilhões, retração de 4,2% frente ao alcançado no mesmo período do ano anterior, US$ 5,789 bilhões, tomando por base as médias diárias, que considera o número de dias úteis no mês.
As exportações registraram valor de US$ 18,047 bilhões, representando decréscimo de 0,8% em relação a junho de 2018, pela média diária. As importações totalizaram US$ 13,027 bilhões, o que significou crescimento de 0,5% na mesma base de comparação, considerando os dias úteis do mês.
Para o mês de junho de 2019, as médias diárias das exportações alcançaram US$ 950,0 e das importações registradas ficaram em US$ 686,0 milhões.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$ 9,570 bilhões no período, acréscimo de 0,1% em comparação a junho de 2018. Os produtos industrializados alcançaram o valor de US$ 8,477, variação negativa de 15,9%, os manufaturados registraram US$ 6,022 bilhões, representando por sua vez queda de 16,0%, e os semimanufaturados somaram US$ 2,455 bilhões, retração de 15,7%, sempre na comparação com junho de 2018.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com junho de 2018 registrou-se crescimento em um dos quatro segmentos analisados: produtos básicos (10,7%). Por outro lado, os demais segmentos registraram decréscimos: operações especiais (-99,9%), produtos manufaturados (-7,2%) e produtos semimanufaturados (-6,8%).
Destaques exportações. No grupo dos básicos, quando comparado com junho de 2018, cresceram as vendas principalmente de milho em grãos (+1.040%, para US$ 272 milhões), carne suína (+141,2%, para US$ 128 milhões), carne bovina (+108,8%, para US$ 431 milhões), carne de frango (+94,8%, para 581 milhões) e minério de ferro (+37,7%, para US$ 2,043 bilhões).
No grupo dos manufaturados, quando comparado com junho de 2018, diminuíram as vendas principalmente de aviões (-54,3%, para US$ 209 milhões), máquinas e aparelhos para terraplanagem (-27,4%, para US$ 183 milhões), autopeças (-24,9%, para US$ 138 milhões), laminados planos de ferro/aço (-23,8%, para US$ 127 milhões), motores para veículos e partes (-19,9%, para US$ 163 milhões), veículos de carga (-13,1%, para US$ 158 milhões), óxidos e hidróxidos de alumínio (-13,0%, para US$ 249 milhões) e automóveis de passageiros (-9,8%, para US$ 391 milhões).
No grupo dos semimanufaturados, frente a junho de 2018 caíram as vendas principalmente de semimanufaturados de ferro ou aço (-28,7%, para US$ 401 milhões), couros e peles (-27,8%, para US$ 87 milhões), zinco em bruto (-15,6%, para US$ 25 milhões), açúcar em bruto (-12,2%, para 395 milhões) e celulose (-12,2%, para US$ 661 milhões).
Ao analisar os mercados compradores, decresceram as vendas para os seguintes destinos: América Central e Caribe (-49,6%, por conta de petróleo em bruto, aviões, motores e turbinas para aviação, semimanufaturados de ferro/aço, farelo de soja, celulose, máquinas e aparelhos para terraplanagem, carne de frango); Mercosul (-34,4%, sendo que para a Argentina diminuiu 38,1%, por conta de automóveis de passageiros, veículos de carga, autopeças, laminados planos de ferro/aço, soja em grãos, tratores, máquinas e aparelhos para terraplanagem, carbonetos, óleos combustíveis, motores para veículos e partes), União Europeia (-9,3%, por conta de celulose, tubos flexíveis de ferro/aço, torneiras, válvulas e partes, farelo de soja, óleos combustíveis, ouro em formas semimanufaturadas, máquinas e aparelhos para terraplanagem, suco de laranja não congelado, aviões, minério de ferro) e Estados Unidos (-2,9%, por conta de semimanufaturados de ferro/aço, aviões, petróleo em bruto, máquinas e aparelhos para terraplanagem, ferro fundido, óxidos e hidróxidos de alumínio, motores para veículos e partes, fumo em folhas, partes e peças de aviões e helicópteros).
Por outro lado, cresceram as vendas para a Oceania (+64,3%, por conta de óleos combustíveis, máquinas e aparelhos para terraplanagem, calçados, pneumáticos, aquecedor, secador e partes, gelatinas e colas para uso industrial, medicamentos para medicina humana e veterinária, motocicletas); Oriente Médio (+36,5%, principalmente por conta de carne de frango, milho em grãos, carne bovina, minério de ferro, bovinos vivos, óxidos e hidróxidos de alumínio, ouro em formas semimanufaturadas, munições de caça e esporte); Ásia (+10,9%, sendo que China, Hong Kong e Macau cresceu 6,0%, para US$ 5,7 bilhões, por conta de petróleo em bruto, minério de ferro, açúcar em bruto, carne suína, bovina e de frango, algodão em bruto, óleo de soja em bruto, minério de cobre); África (+10,6%, em decorrência de carne bovina, tubos de ferro fundido, óleos combustíveis, milho em grãos, minério de ferro, papel/cartão para escrita/impressão, enchidos de carne).
Importações por categoria de uso. Dos US$ 13,027 bilhões importados em junho, US$ 8,046 bilhões foram de bens intermediários, US$ 1,745 bilhões de bens de consumo, US$ 1,683 bilhões de bens de capital e para combustíveis e lubrificantes US$ 1,552 bilhões.
Na comparação frente ao mesmo período de 2018, considerando a média diária, houve incremento em dois dos quatro segmentos analisados das importações: combustíveis e lubrificantes (13,2%) e bens de capital (10,3%). Por outro lado, os demais segmentos apresentaram retrações: bens de consumo (-12,2%) e bens intermediários (-0,3%).
Destaques importações. Com relação ao grupo dos combustíveis e lubrificantes, o incremento ocorreu principalmente pelo aumento de petróleo em bruto, óleo diesel, óleos lubrificantes sem aditivos, gás natural liquefeito, coques e butanos liquefeitos.
No segmento bens intermediários caíram as aquisições de naftas para petroquímica, caixas de marchas, catodos de cobre refinado e seus elementos em forma bruta, partes de turbo reatores ou de turbo propulsores, trigos e misturas de trigo com centeio, circuitos integrados monolíticos digitais não montados, válvulas tipo gaveta.
No segmento de bens de capital cresceram, principalmente, condensadores para máquinas a vapor, aparelhos e dispositivos para tratamento de matérias por meio de operações que impliquem mudança de temperatura, aviões ou veículos aéreos com peso > 15000 KG, dumpers para transporte de mercadoria >= 85T utilizado fora de rodovias, máquinas para fabricação de caixas, tubos, tambores de papel, tratores, máquinas e aparelhos mecânicos com funções próprias, helicópteros, veículos automóveis para transportar >= 10 pessoas com motor a diesel.
No grupo dos bens de consumo, as principais quedas foram observadas nas importações de automóveis de até 6 passageiros, anticorpos monoclonais, produtos imunológicos, medicamentos, medicamentos contendo outros hormônios, terminais portáteis de telefonia celular, vinhos e mostos de uvas, frações do sangue preparadas como medicamentos.
Por fim, observando as importações por mercados fornecedores, na comparação com junho de 2018, cresceram as compras originárias dos seguintes mercados: Oriente Médio (+75,1%, por conta de petróleo em bruto, óleos combustíveis, ureia mesmo em solução aquosa, compostos heterocíclicos, outras obras de alumínio, superfosfatos (adubos/fertilizantes), chapas, folhas e tiras de plástico, cloreto de potássio); Ásia (+3,4%, sendo que China, Hong Kong e Macau cresceu 6,4%, por conta de adubos/fertilizantes com nitrogênio, fósforo e potássio, partes de aparelhos transmissores/receptores, superfosfatos (adubos/fertilizantes), tecidos de fibras têxteis, motores e geradores elétricos, tubos de ferro fundido, máquinas e aparelhos para tratamento de pedra e substância mineral, compostos organo-inorgânicos, automóveis de passageiros, ferramentas de uso manual) e Estados Unidos (+4,1%, por conta de óleos lubrificantes, gasolina, gás natural liquefeito, veículos de carga, óleos combustíveis, adubos/fertilizantes c/nitrogênio, fósforo e potássio, compostos organo-inorgânicos, tratores, máquinas e aparelhos para uso agrícola (exceto trator), tubos flexíveis de ferro/aço, automóveis de passageiros, álcoois acíclicos e derivados).
Por outro lado, diminuíram as compras originárias dos seguintes mercados: América Central e Caribe (-50,4%, por conta de álcoois acíclicos e derivados, medicamentos para medicina humana e veterinária, amônia, instrumentos e aparelhos médicos, artigos e aparelhos de prótese/ortopedia, inseticidas, formicidas e herbicidas); Oceania (-37,0%, por conta de carvão, alumínio em bruto, inseticidas, formicidas, herbicidas, etc., artigos e aparelhos de prótese/ortopedia, quadros e painéis de energia, sementes de hortícolas, carne bovina, ligas de alumínio em bruto); União Europeia (-9,9%, por conta de aparelhos de rádio navegação, medicamentos para medicina humana e veterinária, autopeças, compostos heterocíclicos, laminados planos de ferro/aço, gasolina, instrumentos e aparelhos de medida e precisão, partes de motores e turbinas para aviação); Mercosul (-7,4%, sendo que da Argentina decresceu 11,3%, por conta de automóveis de passageiros, veículos de carga, trigo em grãos, polímeros plásticos, autopeças, naftas, leite e creme de leite, produtos de perfumaria, toucador e cosméticos, óleo de girassol em bruto) e África (-7,4%, por conta de naftas, petróleo em bruto, gás propano liquefeito, carvão, resíduos e desperdícios de alumínio, ródio em bruto, platina em bruto, paládio em bruto).