Análise IEDI
Sérios obstáculos à recuperação
O quadro do emprego no Brasil vem apresentando uma reação marcada por fortes assimetrias. Do ponto de vista quantitativo, é inegável a existência de uma trajetória positiva, mas existem problemas do ponto de vista qualitativo que têm impedido a total recomposição do nível de vida das famílias depois da crise recente e, consequentemente, de seu consumo. Este é um sério obstáculo à expansão mais vigorosa do nosso PIB.
Esta Análise pontuará aspectos favoráveis e desfavoráveis do perfil de recuperação do emprego em 2019 ao tratar dos resultados mais recentes divulgados hoje pela Pnad Contínua do IBGE, que cobrem o trimestre móvel findo em setembro último.
Em primeiro lugar, destacamos quatro bons resultados desta última pesquisa, que justificam afirmar que existe um processo de recuperação do emprego e que há chances de seu perfil melhorar no futuro próximo.
1) O número total de ocupados cresce sistematicamente desde meados de 2017 na comparação interanual, ou seja, por nove trimestres consecutivos. Agora em jul-set/19, a alta foi de +1,6% ante jul-set/18, o que significa um contingente de 1,4 milhão a mais de empregados.
2) O emprego com carteira assinada, que até pouco tempo atrás não se recuperava, segundo as estatísticas da Pnad Contínua, permaneceu no azul pela terceira vez consecutiva: +0,5% em jul-set/19 ante jul-set/18. Embora ainda fraco, este movimento, ao ter continuidade, pode vir a indicar que as vagas inicialmente criadas como informais estão progressivamente sendo convertidas em empregos formais.
3) O setor industrial, cuja ocupação é majoritariamente formal e normalmente melhor remunerada, não só voltou a criar vagas, como tem reforçado o ritmo com que tem feito isso: +0,7% no 1º trim/19, +1% no 2º trim/19 e +1,8% no 3º trim/19 frente ao mesmo período do ano anterior. A indústria empregando mais reforça a possibilidade de o emprego com carteira continuar se expandindo.
4) O setor da construção, cuja ocupação foi a última a dar sinais de recuperação, também parece ter deixado para trás a sequência de resultados negativos. Seu número de ocupados começou a aumentar novamente no 2º trim/19 (+0,9% ante 2º trim/18) e ganhou velocidade agora no 3º trim/19: +1,3% frente o mesmo período do ano anterior.
Em contrapartida, existem aspectos preocupantes no quadro do emprego, limitadores da reativação do nível geral da atividade econômica:
1) A taxa de desocupação praticamente parou de cair, ficando em 11,8% em jul-set/19, praticamente o mesmo patamar de 11,9% em jul-set/18. Vale mencionar que este patamar mais recente é exatamente o mesmo daquele de jul-set/16, em que a economia estava em plena crise.
2) Entretanto, a taxa de desocupação ainda muito alta não é tudo. Há também uma grande parcela da força de trabalho subutilizada, que além dos desocupados reúne subocupados por horas insuficientes, desalentados, etc. Ao todo, esta subutilização corresponde a quase ¼ de nossa força de trabalho.
3) Em paralelo ao aumento da ocupação, tem ocorrido uma elevação da taxa de informalidade, isto é, de empregos de menor qualidade. Segundo cálculos do IBGE, esta taxa de informalidade atingiu em jul-set/19 seu nível mais elevado desde 2015: 41,4% da população ocupada total. Isso é resultado do crescimento mais expressivo de empregos sem carteira assinada e do trabalho por conta própria, que compreende os chamados “bicos”.
4) Com desemprego ainda elevado e ampliação da informalidade, o rendimento médio dos ocupados, já corrigido pela inflação, está praticamente estagnado nos últimos meses. Frente a um ano atrás, variou -0,2% no 2º trim/19 e +0,1% agora no 3º trim/19. Com isso, o dinamismo da massa de rendimentos, que funciona como base para o consumo das famílias, registrou +1,8% no 3º trim/18, a menor taxa de crescimento desde meados de 2017, quando a economia dava seus primeiros sinais de recuperação.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre julho a setembro de 2019 registrou 11,8%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, abril a junho de 2019, houve queda de 0,2 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve retração de 0,1 p.p., quando registrou 11,9%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$ 2.298, apresentando estabilidade em relação ao trimestre imediatamente anterior (abr-mai-jun), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior, houve incremento de 0,1%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 210,4 bilhões no trimestre que se encerrou em setembro, registrando incremento de 0,7% frente ao trimestre imediatamente anterior e crescimento de 1,8% quanto ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 206,6 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 93,8 milhões de pessoas, crescimento de 0,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior (abr-mai-jun), e aferiu-se expansão de 1,6% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (92,3 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados apresentou decréscimo de 2,0%, com 12,5 milhões de pessoas, já para a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se estabilidade. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 106,3 milhões de pessoas, isto representou variação positiva de 0,2% frente ao trimestre imediatamente anterior e acréscimo de 1,5% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Com análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, os grupamentos de atividades que obtiveram incrementos na ocupação foram os seguintes: Transporte, armazenagem e correios (6,0%), Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias (3,9%), Alojamento e alimentação (2,1%), Indústria (1,8%), Outros serviços (1,7%), Serviços domésticos (1,4%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (1,4%), Construção (1,3%) e Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (0,9%). Por outro lado, o agrupamento de Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura apresentou variação negativa de 2,0%.
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação frente ao mesmo trimestre do ano anterior, registrou-se variações positivas nas seguintes categorias: trabalhador por conta própria (4,3%), trabalho privado sem carteira (3,3%), trabalho doméstico (0,5%) e trabalho privado com carteira (0,5%). Em sentido oposto, as demais categorias apresentaram decréscimos: trabalho familiar auxiliar (-3,4%), empregador (-1,0%) e setor público (-0,06%).