Análise IEDI
A expansão industrial de 2024
A indústria brasileira fechou 2024 com razoável crescimento, sendo a primeira vez nos últimos dez anos em que se expande sobre uma base não fortemente deprimida. Apesar disso, os sinais de curto prazo são negativos, apontando para uma precoce desaceleração, sob efeito de eventos climáticos adversos, da elevação das taxas de juros, aumento das incertezas e da volatilidade do câmbio.
Analisemos primeiro os retrocessos recentes. A produção da indústria geral ficou no negativo nos últimos três meses na comparação com o período imediatamente anterior: -0,2% em out/24; -0,7% em nov/24 e -0,3% em dez/24, já descontados os efeitos sazonais. Com isso, eliminou o crescimento que havia registrado em ago-set/24.
A parcela de ramos no vermelho ficou maior nestes últimos meses. Ainda na série com ajuste sazonal, passou de 24% dos ramos identificados pelo IBGE em out/24 para 60% em dez/24, depois de ter atingido 80% em nov/24. Entre os macrossetores, 3 dos 4 perderam produção.
Bens de capital e bens de consumo duráveis caíram, respectivamente, -1,1% e -1,6% na passagem de nov/24 para dez/24. Para ambos foi a segunda queda consecutiva. Bens de consumo semi e não duráveis, o resultado foi de -1,8%, seu terceiro recuo seguido. A exceção coube a bens intermediários, que registraram +0,6%, o que serviu apenas para compensar a perda anterior (-0,6%, com ajuste).
Em resumo, o setor não progrediu neste último quarto do ano e contou com as bases de comparação mais baixas de 2023 para apresentar alguma resiliência no acumulado do ano. O conjunto de dados a seguir sintetizam esta evolução.
• Indústria geral com ajuste sazonal: +0,5% no 1º trim/24; +0,7% no 2º trim/24; +1,2% no 3º trim/24 e -0,1% no 4º trim/24;
• Indústria geral frente a 2023: +2,0% no 1º trim/24; +3,3% no 2º trim/24; +3,9% no 3º trim/24 e +3,1% no 4º trim/24;
• Indústria geral no acumulado do ano: -4,5% em 2020; +3,9% em 2021; -0,7% em 2022; +0,1% em 2023 e +3,1% em 2024.
De todo modo, é importante destacar a positiva quebra de comportamento que trouxe 2024 para o setor. Desde 2014, toda vez que a indústria conseguia acumular expansão mais vigorosa em um determinado ano, isso se dava em grande medida pela existência de bases muito deprimidas de comparação e não ocorria na intensidade necessária para compensar a perda anterior.
Foi o caso de 2017, quando a alta de +2,5% ficou muito longe de anular o recuo de -6,4% de 2016, que se sobrepôs às quedas de -8,3% de 2015 e de -3,0% em 2014. Foi também o caso de 2021, quando o crescimento de +3,9% não fez frente à queda de -4,5% de 2020, que se somava àquela de -1,1% de 2019.
Agora em 2024, o resultado de +3,1% acumulado em jan-dez se deu sobre uma virtual estabilidade da produção registrada em 2023 e veio em intensidade suficiente para mais do que compensar o declínio de -0,7% de 2022. É a continuidade desta trajetória que o setor precisa para eliminar progressivamente a defasagem que ainda apresenta nesta última década, já que sua produção em dez/24 segue 11% abaixo do patamar de dez/13.
A nova fase de aumento das taxas de juros é um importante obstáculo para isso. Os ramos industriais que lideraram o crescimento da indústria em 2024 têm mercados sensíveis às condições de financiamento: eletrônicos e informática (+14,7%), veículos (+12,5%), máquinas e aparelhos elétricos (+12,2%), outros equipamentos de transporte (+10,4%), móveis (+9,5%).
O mesmo vale para os macrossetores, entre os quais a liderança em 2024 coube a bens de consumo duráveis, com +10,6%, e bens de capital, com +9,1%, após dois anos seguidos de retração neste último caso.
A tendência para 2025 é, então, de desaceleração, dada a expectativa de que a taxa Selic chegue a 15% ao ano, implicando uma alta de quase metade da taxa vigente no início de set/24 (10,5% a.a.), mas alguns fatores podem funcionar como mitigadores, como temos observado em nossas Análises.
Entre estes fatores estão uma projeção favorável para a safra agrícola, que não apenas mobiliza a indústria agroalimentar, como também pode amenizar a pressão inflacionária de alimentos; o programa de depreciação superacelerada, que tende a favorecer as decisões de investimento; a criação das LCD, que fortalecem o funding do BNDES e viabilizam novos desembolsos para áreas estratégicas, como infraestrutura. O mercado de trabalho aquecido, que tende a demorar um pouco para refletir a desaceleração econômica, também ajuda.
A partir dos dados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de dezembro de 2024 divulgados hoje pelo IBGE a produção da indústria nacional registrou queda de -0,3% frente ao mês de novembro na série livre de influências sazonais. No acumulado no ano houve incremento de 3,1%. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior (dezembro de 2023), aferiu-se a variação positiva de 1,6 %.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior (novembro/2024), 4 das 5 categorias apresentaram variação negativa, na seguinte ordem: bens de consumo (-2,2%), bens semiduráveis e não duráveis (-1,8%), bens duráveis (-1,6%) e bens de capital (-1,1%). O segmento de bens intermediários apresentou crescimento de 0,6% no período.
No resultado observado na comparação com o mesmo mês do ano anterior (dezembro/2023), os segmentos de bens de consumo e bens semiduráveis e não duráveis caíram, respectivamente, -0,3% e -1,8%. As outras três categorias analisadas apresentaram expansão: bens de capital (13,7%), bens de consumo duráveis (9,8%) e bens intermediários (1,5%).
O resultado no acumulado no ano registrou crescimento em todas as categorias: bens duráveis (10,6%), bens de capital (9,1%), bens de consumo (3,5%), bens intermediários (2,5%) e bens semiduráveis e não duráveis (2,4%).
Setores. Na comparação de dezembro de 2024 com o mesmo mês do ano anterior (dezembro de 2023), houve variação negativa no nível de produção de 8 dos 26 ramos pesquisados. Algumas variações negativas importantes foram percebidas nos seguintes setores: fabricação de produtos do fumo (-15,8%), preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-9,0%), indústrias extrativas (-7,0%), fabricação de produtos diversos (-5,2%) e fabricação de produtos alimentícios (-3,7%). Por sua vez, as maiores variações positivas ficaram por conta dos seguintes setores: fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (27,1%), impressão e reprodução de gravações (23,4%), fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (22,0%), fabricação de produtos têxteis (18,3%), fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (12,8%).
Na comparação do acumulado do ano de 2024, 22 dos 26 setores cresceram, sendo as maiores variações positivas: fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (14,7%), fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (12,5%), fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (12,2%), fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (10,4%), fabricação de móveis (9,5%). Já fabricação de produtos do fumo (-0,9%), fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-1,2%), impressão e reprodução de gravações (-1,3%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-2,1%), indústrias extrativas (0,0%) apresentaram as maiores quedas no período.