Análise IEDI
Encolhimento do crédito
Na passagem de abril para maio de 2020, as concessões reais de crédito encolheram -3,3%, já descontados os efeitos sazonais, sob a influência da retração das operações livremente pactuadas entre credores e tomadores de empréstimos. Frente a maio do ano passado, o desempenho também foi negativo: -11,9%.
Este resultado decorre da contração da demanda por crédito devido ao declínio do consumo das famílias e à quase paralisação de muitos negócios, mas também pode estar refletindo a piora das condições da oferta de financiamento diante da percepção de risco em elevação por parte dos credores. Além disso há ainda os problemas na execução de programas emergenciais de crédito do governo.
Frente ao mesmo período de 2019, é a segunda vez consecutiva que as concessões totais declinam quando descontada a inflação. Além disso, a queda se tornou bem mais intensa. O crédito às famílias foi quem mais encolheu, mas o financiamento às empresas passou por uma deterioração notável ao sair de +15,5% em abr/20 para -4,9% em mai/20.
Como mostram as variações interanuais a seguir, o menor financiamento das empresas tem origem no segmento livre do mercado de crédito, enquanto as fontes oficiais conservaram ritmo intenso de crescimento, assumindo seu tradicional papel anticíclico.
• Crédito livre às empresas: +61,7% em mar/20; +12,1% em abr20 e -9,0% em mai/20;
• Crédito direcionado às empresas: +20,5%; +81,6% e +70,1%, respectivamente;
• Crédito livre às famílias: +9,5%; -19,2% e -20,3%;
• Crédito direcionado às famílias: +29,7%; +14,2% e +1,0%, respectivamente.
A expansão dos empréstimos de capital de giro, cujas concessões reais dobrou de jan/20 para mai/20, não foi suficiente para arrefecer a contração de outras modalidades de financiamento corporativo, como desconto de cheques e duplicatas, conta garantida, cheque especial, compra de veículos etc.
No financiamento às famílias, cujas concessões totais caíram -18,8% em termos reais, o crédito oficial ficou praticamente estável (+1%), devido à perda de dinamismo de sua principal modalidade, o financiamento imobiliário. As medidas de isolamento social contribuíram muito para isso, já que a escolha de um imóvel e a contratação do financiamento geralmente exigem presença física. A escala da incerteza também é outro fator explicativo importante, dado o comprometimento de longo prazo destas operações.
No segmento livre, o crédito às famílias recuou pela segunda vez consecutiva a uma velocidade de dois dígitos. Em mai/20 chegou a -20,3% ante mai/19. As modalidades com quedas mais intensas foram crédito para aquisição de veículos (-38,4%) e de outros bens (-18%) e cheque especial (-33,5%), claros sinais do tombo que o consumo levou com a pandemia.
Vale notar o esforço de renegociação das dívidas de pessoas físicas, cujo montante mensal de jan/20 para mai/20 quase triplicou, chegando a equivaler ao volume de recursos concedidos como crédito pessoal não consignado (cerca de R$ 10 bilhões/mês).
Os dados de crédito apresentados pelo Banco Central hoje registraram que o saldo das operações alcançou R$ 3,6 trilhões em maio, apresentando variação positiva de 0,3% em relação ao mês imediatamente anterior. O saldo de crédito a pessoas físicas registrou estabilidade no período (R$ 2,0 trilhões), e a carteira de pessoas jurídicas apresentou variação positiva de 0,7%, alcançando R$ 1,6 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o saldo total de crédito obteve incremento de 9,3%.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$ 2,1 trilhões, com acréscimo de 0,1% em relação ao mês anterior e expansão de 15,8% quando comparado com maio de 2019. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas ficou em R$ 1,1 trilhão, aferindo decréscimo de 0,5% em relação ao mês imediatamente anterior e crescimento de 9,0% quando comparado com o mês de maio de 2019. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se montante da ordem de R$ 1,0 trilhão, crescimento de 0,7% em relação ao mês anterior e variação positiva de 24,2% na comparação com o mesmo período de 2019.
O estoque de crédito com recursos direcionados registrou valor de R$ 1,5 trilhão para maio de 2020, em termos nominais, indicando expansão de 1,3% frente ao mesmo mês do ano anterior e apresentando variação positiva de 0,6% em relação ao mês imediatamente anterior. O saldo referente as pessoas físicas registrado foi de R$ 928,8 bilhões, apresentando incremento de 7,9% quando comparado ao mês de maio de 2019. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 565,1 bilhões, havendo decréscimo de 8,0% quando comparado com o mesmo mês do ano anterior.
Para o mês de maio de 2020, foram concedidos R$ 288,5 bilhões em novas operações de crédito, apresentando variação negativa de 12,4% frente ao montante de R$ 329,3 bilhões observado em maio de 2019. Deste volume, R$ 255,8 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 32,6 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparados ao mesmo mês do ano anterior, retração de 15,4% para recursos livres e incremento de 20,3% para recursos direcionados.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 89,6 bilhões), cartão de crédito (R$ 89,3 bilhões), crédito não rotativo (R$ 36,1 bilhões), crédito pessoal (R$ 27,5 bilhões) e cheque especial (R$ 22,0 bilhões). Quanto as pessoas jurídicas, as principais modalidades foram capital de giro (R$ 33,2 bilhões), desconto de duplicatas (R$ 25,3 bilhões), cheque especial (R$ 12,9 bilhões) e conta garantida (R$ 9,4 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$ 9,9 bilhões), financiamento imobiliário (R$ 8,1 bilhões), microcrédito (R$ 851,0 milhões) e BNDES (R$ 625,0 milhões). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades foram crédito rural (R$ 4,1 bilhões), BNDES (R$ 5,4 bilhões) e os financiamentos imobiliários (R$ 1,1 bilhão).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$ 854,1 bilhões, o que significou acréscimo nominal de 15,6% frente a maio de 2019, com as maiores expansões verificadas em demais serviços prestados às empresas (26,3%), comércio atacado – bens duráveis e não duráveis (26,5%), varejo – bens duráveis (24,0%), transporte via terrestre – carga e passageiro (23,6%), comércio geral – bens intermediários (R$ 21,8%), comércio varejo – bens não duráveis (22,2%), demais serviços prestados às famílias (21,5%), transporte (18,1%), outros serviços (16,8%) e administração pública (11,7%).
Para o setor da indústria aferiu-se valor de R$ 674,0 bilhões, variação positiva de 5,9% frente ao mesmo mês do ano anterior. O setor agropecuário registrou crédito de R$ 28,2 bilhões, variação negativa de 0,2% em termos nominais, quando comparado ao registrado no mês de maio de 2019.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$ 1,685 trilhão, representando 46,9% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$ 1,269 trilhão, representando 35,3%, e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$ 641,5 bilhões, representando por sua vez 17,8% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das operações contratadas em maio alcançou 20,4% a.a., variação negativa de 1,1 p.p. no mês e declínio de 4,5 p.p. em doze meses. O spread geral das taxas das concessões situou-se em 16,4 p.p., o que representou variações de -0,8 p.p. e de -2,4 p.p., nas mesmas bases de comparação.