Análise IEDI
O crédito na primeira metade de 2020
Depois da variação negativa em maio, as concessões de crédito no mês de junho de 2020, deflacionadas pelo IPCA, voltaram a se expandir. A alta, porém, foi muito pequena, sinalizando mais um quadro de estabilidade do que de crescimento. Descontados os efeitos sazonais, registrou +1,9% frente ao mês anterior. Em relação a jun/19, o resultado foi ainda mais fraco: +0,9%.
Apesar deste recente baixo dinamismo, o valor acumulado de novos empréstimos na primeira metade de 2020 aumentou +6,7% em termos reais. Muito disso deve-se ao desempenho dos primeiros meses do ano e especialmente de março (+34,4% ante mar/19), quando as empresas de maior porte buscaram recursos para formar um colchão de liquidez para enfrentar os desafios da pandemia de Covid-19, que se acelerava no país.
Devido a estas estratégias precaucionais das empresas e também às políticas de apoio ao crédito, a despeito das dificuldades de implementação, a evolução do estoque total das operações, segundo o Banco Central, foi mais favorável do que a do PIB geral da economia, de modo que a relação crédito/PIB interrompeu sua longa trajetória de queda e voltou a crescer desde março. Em jun/20 ultrapassou a marca de 50% pela primeira vez desde set/16.
No primeiro semestre de 2020, o estoque total de empréstimos teve expansão real de +5,1%, enquanto o saldo de operações para as empresas cresceu +9,3%. O crédito para as famílias, por sua vez, apresentou variação bem menor, de apenas +2,1%, desestimulado pela queda do consumo, devido ao medo do desemprego e à perda de renda por muitas pessoas, mas também pelo risco maior que este tipo de operação implica aos credores.
Este é um quadro bem diferente da primeira metade de 2019, quando a ampliação do estoque de crédito era puxada pelas operações junto a pessoas físicas e não com as empresas, tal como ilustram as variações a seguir.
• Estoque de crédito total: +1,3% no 1º sem/19 e +5,1% no 1º sem/20
• Estoque de crédito às empresas: -2,8% no 1º sem/19 e +9,3% no 1º sem/20
• Estoque de crédito às famílias: +4,5% no 1º sem/19 e +2,1% no 1º sem/20
No segmento corporativo, os dados de estoque do Banco Central permitem avaliar a evolução em 2020, em função do tamanho das empresas e do setor econômico a que pertencem. Em resumo, vê-se que foram as empresas de maior porte e as do setor industrial que responderam mais pela ampliação dos empréstimos nesta primeira metade do ano.
Em relação ao porte, o saldo de crédito das grandes empresas registrou alta de +12,5%, isto é, quase três vezes maior do que o desempenho do financiamento a micro, pequenas e médias empresas, que, segundo o BCB, teve aumento real de +3,9% no primeiro semestre do ano.
Em relação ao setor de atuação, as empresas da indústria, por terem mantido algum nível de atividade produtiva mesmo com os protocolos de distanciamento físico, apresentaram um crescimento real de seu saldo de crédito de +11,1%, acima da evolução do financiamento corporativo como um todo. Isso interrompe uma sequência de quatro anos seguidos de queda do estoque de financiamento à indústria.
Já para o setor de serviços, mais diretamente impactado pelo isolamento social e onde a presença de micro e pequenas empresas tende a ser maior, o estoque de crédito em 2020 cresceu +7,9%, ou seja, abaixo do setor corporativo como um todo. O mesmo ocorreu com a agropecuária (+6,8%).
Alguns ramos dos serviços nas estatísticas do BCB registraram desacelerações importantes na evolução de seu saldo de empréstimos, como o comércio, notadamente de veículos, serviços de informação e comunicação e outros serviços.
Os dados de crédito apresentados hoje pelo Banco Central registraram que o saldo das operações alcançou R$ 3,6 trilhões em junho, apresentando variação positiva de 0,8% em relação ao mês imediatamente anterior. O saldo de crédito a pessoas físicas em relação ao imediatamente anterior aumentou 0,7% (R$ 2,0 trilhões) e a carteira de pessoas jurídicas cresceu 1,0% na mesma comparação, alcançando R$ 1,6 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior (junho de 2019), o saldo total de crédito obteve incremento de 9,8%.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$ 2,1 trilhões, acréscimo de 0,6% em relação ao mês anterior e expansão de 14,9% quando comparado com junho de 2019. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas ficou em R$ 1,1 trilhão, aferindo expansão de 0,6% em relação ao mês imediatamente anterior e crescimento de 8,9% quando comparado com o mês de junho de 2019. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se montante da ordem de R$ 1,0 trilhão, crescimento de 0,6% em relação ao mês anterior e variação positiva de 22,4% na comparação com o mesmo período de 2019.
O estoque de crédito com recursos direcionados registrou valor de R$ 1,5 trilhão para junho de 2020, em termos nominais, indicando expansão de 3,3% frente ao mesmo mês do ano anterior e variação positiva de 1,1% em relação ao mês imediatamente anterior. O saldo registrado referente as pessoas físicas foi de R$ 935,1 bilhões, apresentando incremento de 8,0% quando comparado ao mês de junho de 2019. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 574,9 bilhões, decréscimo de 3,6% quando comparado com o mesmo mês do ano anterior.
Para o mês de junho de 2020, foram concedidos R$ 321,9 bilhões em novas operações de crédito, apresentando variação positiva de 1,1% frente ao montante de R$ 318,3 bilhões observado em junho de 2019. Deste volume apresentado em junho de 2020, R$ 284,7 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 37,2 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparado ao mesmo mês do ano anterior, retração de 1,0% para recursos livres e incremento de 22,0% para recursos direcionados.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 101,5 bilhões), cartão de crédito (R$ 95,8 bilhões), crédito não rotativo (R$ 42,6 bilhões), crédito pessoal (R$ 31,2 bilhões) e cheque especial (R$ 24,3 bilhões). Para as pessoas jurídicas as principais modalidades foram capital de giro (R$ 37,2 bilhões), desconto de duplicatas (R$ 30,7 bilhões), cheque especial (R$ 11,2 bilhões), conta garantida (R$10,0 bilhões) e cartão de crédito (R$ 5,8 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$ 10,3 bilhões), financiamento imobiliário (R$ 10,1 bilhões), microcrédito (R$ 1,1 bilhão) e BNDES (R$ 542,0 milhões). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades ficaram com o BNDES (R$ 6,2 bilhões), o crédito rural (R$ 4,8 bilhões) e os financiamentos imobiliários (R$ 929,0 milhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$ 868,8 bilhões, o que significou um acréscimo nominal de 15,2% frente a junho de 2019, e as maiores expansões ficaram em: comércio geral – bens de capital (29,7%), comércio atacado - bens duráveis e não duráveis (26,5%), demais serviços prestados às empresas (26,3%), transporte via terrestre – carga e passageiro (23,2%), outros serviços (21,7%), demais serviços prestados às famílias (20,0%), varejo – bens duráveis (19,8%), transporte (19,6%), comércio geral – bens intermediários (17,6%) e administração pública (14,3%).
Para o setor da indústria aferiu-se valor de R$ 674,8 bilhões, variação positiva de 8,1% frente ao mesmo mês do ano anterior e, por fim, o setor agropecuário registrou crédito de R$ 28,5 bilhões, variação positiva de 7,6% em termos nominais, quando comparado ao registrado no mês de junho de 2019.
Na distribuição de crédito do sistema financeiro nacional por controle de capital, as instituições financeiras públicas emprestaram R$ 1,698 trilhão, representando 46,8% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$ 1,282 trilhão, representando 35,4% e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$ 644,4bilhões, representando por sua vez 17,8% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das operações contratadas em junho alcançou 19,3% a.a., variação negativa de 1,2 p.p. no mês e declínio de 5,5 p.p. em doze meses. O spread geral das taxas das concessões situou-se em 15,6 p.p., o que representou variações de -0,9 p.p. e de -3,5 p.p., nas mesmas bases de comparação.