Análise IEDI
Recuperação incompleta, mas disseminada
Depois de uma fase adversa, anterior mesmo à pandemia de Covid-19, em que desde novembro do ano passado só havia registrado avanço em apenas um único mês, o setor de serviços reagiu em junho de 2020, apresentando alta de +5% de seu faturamento real em relação a maio, com eventuais efeitos sazonais já corrigidos.
Além disso, o sinal positivo foi bastante disseminado setorial e regionalmente. Atingiu a integralidade dos cinco ramos de serviços identificados pelo IBGE, além do agregado especial de atividades turísticas, e 77% das vinte e sete unidades da federação, sendo que em 40% delas o avanço foi mais forte do que o agregado nacional.
Apesar deste desempenho, tal como também ocorre no caso da indústria, os serviços ainda estão longe de superar o choque do coronavirus. Em jun/20, o setor precisava recuperar 14,5% de seu faturamento real para voltar ao nível de fev/20, quando o país não havia sido atingido pela pandemia.
Os ramos mais intensivos em mão de obra, em que o distanciamento social é mais difícil de ser assegurado, ou associados à mobilidade das pessoas são os que acumulam perdas mais intensas e também estão entre aquelas atividades cuja normalização poderá demandar mais tempo.
É notadamente o caso de serviços prestados às famílias, que a despeito de terem apresentado avanços substanciais tanto em maio como agora em junho, como mostram as variações com ajuste sazonal a seguir, ainda estão 51,3% abaixo do nível de faturamento de fev/20, em função do componente alojamento e alimentação (-53,1%) e também dos demais serviços pessoais (-43,1%).
• Serviços – total: -11,9% em abr/20; -0,5% em mai/20 e +5,0% em jun/20;
• Serviços prestados às famílias: -45,0%; +13,8% e +14,2%, respectivamente;
• Serviços de informação e comunicação: -2,8%; -2,9% e +3,3%;
• Serviços profissionais, adm. e complementares: -10,2%; -3,6% e +2,7%;
• Transportes, seus auxiliares e correios: -18,0%; +4,6% e +6,9%
• Outros serviços: -6,5%; -4,2% e +6,4%
• Agregado especial Turismo: -54,4%; +6,9% e +19,8%, respectivamente.
A segunda maior defasagem em relação a fev/20 refere-se aos serviços de transportes e correios: -16,3%, mesmo tendo apresentado o segundo maior avanço na passagem de maio para junho, já descontados os efeitos sazonais. O setor aéreo, paralisado devido à pandemia, é a principal razão disso: permanece 63,7% abaixo do patamar de faturamento de fev/20.
Os serviços profissionais, administrativos e complementares, por sua vez, estão a 15% de distância do faturamento de fev/20, em boa medida, devido ao componente de serviços administrativos e complementares (-16,4%), que reúne muitas daquelas atividades auxiliares normalmente terceirizadas pelas empresas. O segmento como um todo registrou a primeira alta na série com ajuste sazonal (+2,7%) em jun/20, depois de oito meses seguidos de declínio.
A completa reação destes dois últimos ramos pode ocorrer mais lentamente que a dos demais se algumas das mudanças provocadas pelo isolamento social vierem para ficar passada a pandemia, como por exemplo, o recurso ao teletrabalho, que tende a impactar negativamente a demanda de serviços terceirizados de limpeza, segurança etc., ou a maior frequência de reuniões e encontros de negócios online, estreitando o mercado de viagens aéreas corporativas.
Entre os menos impactos pela Covid-19 e já de retorno ao azul no mês de jun/20 estão os serviços de informação e comunicação e o segmento de outros serviços, que reúne um conjunto diversificado de atividades, como serviços financeiros, imobiliários, urbanos etc. No primeiro caso, a alta de +3,3% em junho reduziu sua defasagem em relação ao nível pré coronavírus para apenas -3,7%. No segundo caso, houve avanço de +6,4% em jun/20 e a diferença ante fev/20 é de -6,3%.
Conforme os dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados hoje pelo IBGE para o mês de junho, o volume de serviços prestados apresentou expansão de 5,0% frente a maio de 2020, na série com ajuste sazonal. Frente ao mesmo mês do ano anterior (junho/2019) aferiu-se redução de 12,1%. No acumulado de 12 meses registrou-se decréscimo de 3,3% e no acumulado do ano (janeiro-junho) registrou-se variação negativa de 8,3%.
Na comparação com o mês imediatamente anterior, na série dessazonalizada, todos os segmentos analisados apresentaram variações positivas: serviços prestados às famílias (14,2%), transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (6,9%), outros serviços (6,4%), serviços de informação e comunicação (3,3%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (2,7%). Já para o segmento das atividades turísticas registrou-se variação positiva de 19,8% na comparação com o mês imediatamente anterior, com ajuste sazonal.
Na comparação com junho de 2019, apenas um dos cinco segmentos analisados apresentou variação positiva: outros serviços (4,4%). Os quatro segmentos analisados restantes registraram decréscimos em relação à mesma base de comparação (mesmo mês do ano anterior): serviços prestados às famílias (-57,2%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-15,5%), transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (-11,3%) e serviços de informação e comunicação (-1,9%). Já no segmento de atividades turísticas houve retração de 58,6% frente a junho de 2019.
Na análise do acumulado do ano, apenas um dos cinco segmentos analisados registrou variação positiva: outros serviços (5,1%). Em sentido oposto, os setores restantes apresentaram variações negativas no período: serviços prestados às famílias (-35,2%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-10,5%), transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (-8,5%) e serviços de informação e comunicação (-2,6%). Para a mesma comparação, o segmento de atividades turísticas aferiu variação negativa de 34,6%.
Na análise por unidade federativa, no mês de junho de 2020 frente ao mesmo mês do ano anterior, apenas 1 dos 27 estados apresentou variação positiva: Rondônia (1,3%). Por outro lado, entre os 26 estados restantes que apresentaram variações negativas, as maiores foram: Alagoas (-33,1%), Rio Grande do Norte (-25,7%), Bahia (-23,1%), Pernambuco (-22,9%), Ceará (-21,3%), Sergipe (-20,9%), Paraíba (-20,8%), Piauí (-20,0%), Rio Grande do Sul (-17,2%), Roraima (-16,4%) e Paraná (-15,2%).
Por fim, na análise do acumulado no ano, 1 das 27 unidades federativas apresentou variação positiva, a saber, Rondônia (3,7%). Em sentido oposto, as 26 unidades federativas restantes apresentaram variações negativas, sendo as maiores: Alagoas (-17,8%), Bahia (16,5%), Piauí (-16,4%), Rio Grande do Norte (-14,9%), Rio Grande do Sul (-14,4%), Ceará (-13,3%), Sergipe (-13,4%), Pernambuco (-13,3%), Roraima (-13,2%), Amapá (-11,6%), Paraíba (-10,7%) e Goiás (-9,0%).