Análise IEDI
Reação contida
De todos os grandes setores da economia, os serviços são os que apresentam a recuperação mais restringida. Crescem há menos meses que outras atividades e ainda estão longe de retomarem o patamar de faturamento real anterior ao choque da Covid-19, ocorrido em mar-abr/20. Mas, apesar disso, registram perda recente de dinamismo.
Enquanto indústria e comércio varejista já somam cinco meses de reação, até set/20 o setor acumula apenas quatro. A produção industrial e sobretudo as vendas do varejo já superaram seus níveis de fev/20, mas os serviços permanecem 8% abaixo do pré-crise e alguns de seus ramos estão muito mais distantes do que isso.
Muito desta performance inferior vis-à-vis os demais setores deriva do fato de os serviços reunirem algumas das atividades mais afetadas pelo isolamento social e perda de renda da população. Ramos que exigem contato direto ou se baseiam na mobilidade das pessoas, como serviços pessoais e de transporte, encontram dificuldades de se normalizar enquanto houver risco de contágio pelo novo coronavirus.
O menor nível de atividade econômica também contém a reativação dos ramos mais vinculados ao ciclo econômico, como aqueles demandados pelas empresas e o transporte de mercadorias.
Seja como for, ao menos, o resultado do mês de set/20 foi positivo, segundo os dados divulgados hoje pelo IBGE: +1,9% frente a agosto, já descontados os efeitos sazonais, impulsionado pelo crescimento em 4 dos seus 5 ramos, como mostram as variações com ajuste a seguir.
• Serviços total: +2,7% em jul/20; +2,9% em ago/20 e +1,8% em set/20;
• Serviços prestados às famílias: -11,2%; +35,1% e +9,0%, respectivamente;
• Serviços de informação e comunicação: +1,9%; -1,0% e +2,0%;
• Serviços profissionais, adm. e complementares: +2,5%; +1,4% e -0,6%;
• Transportes e seus auxiliares: +2,2%; +3,9% e +1,1%;
• Outros serviços: +3,7%; +1,0% e +4,8%, respectivamente.
O aspecto adverso a ser destacado neste resultado é que, embora longe do nível pré-crise, como dito anteriormente, houve desaceleração. Ou seja, mesmo com uma base de comparação ainda favorável à obtenção de taxas mais elevadas, o faturamento do setor refluiu de +5,3% em jun/20 para +1,8% em set/20, a despeito da progressiva flexibilização do isolamento social.
O ramo de serviços prestados às famílias, que está 36% abaixo do nível de fev/20, tem apresentado nos últimos meses grande volatilidade, sobretudo por seu componente de alojamento e alimentação. Embora em amplitude menor, o ramo de informação e telecomunicação também tem oscilado, mas ao menos reforçou seu resultado agora em set/20.
Serviços de transporte e seus auxiliares tiveram sua taxa de crescimento em set/20 reduzida para 1/4 daquele de ago/20, de +3,9% para +1,1%, com ajuste sazonal, mesmo estando 10% abaixo do nível de faturamento pré-crise. Enquanto o segmento aéreo continua se recuperando a taxas de dois dígitos, o segmento terrestre dá sinais de alguma acomodação.
É de se esperar que este desempenho nos transportes terrestres não se deva apenas ao transporte rodoviário de pessoas, mas também de mercadorias, já que a atividade da indústria e comércio também se expandiu menos em set/20.
O segmento de serviços profissionais e administrativos, por sua vez, que são aqueles geralmente demandados pelas empresas, foi quem pior se saiu, pois voltou ao vermelho (-0,6% ante ago/20), mesmo sendo o segundo ramo mais distante do nível de fev/20 (12,3% abaixo). Este resultado foi condicionado pelo seu componente de serviços técnico-profissionais, que reúne as atividades de maior qualificação, com recuo de -1,9%.
Por fim, a fração do setor de serviços que mais claramente apresenta uma trajetória de recuperação é aquela classificada pelo IBGE como “outros serviços”, que reúne um conjunto bastante diversificado de atividades, como financeiras, imobiliárias, serviços urbanos etc. Neste caso houve alta de +4,8% em set/20, mais forte do que em ago/20, o que levou seu nível de faturamento a ficar 4,7% acima do pré-crise.
Conforme os dados para o mês de setembro da Pesquisa Mensal de Serviços, divulgados hoje pelo IBGE, o volume de serviços prestados apresentou expansão de 1,8% frente a agosto de 2020, na série com ajuste sazonal. Frente ao mesmo mês do ano anterior (setembro/2019) aferiu-se redução de 7,2%. No acumulado em 12 meses registrou-se decréscimo de 6,0% e no acumulado do ano (janeiro-setembro) houve variação negativa de 8,8%.
Para a comparação com o mês imediatamente anterior, na série dessazonalizada, quatro dos cinco segmentos analisados apresentaram variações positivas: serviços prestados às famílias (9,0%), outros serviços (4,8%), serviços de informação e comunicação (2,0%) e transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (1,1%). O segmento restante apresentou decréscimo: serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,6%). Já para o segmento das atividades turísticas registrou-se variação positiva de 11,5% na comparação com o mês imediatamente anterior, com ajuste sazonal.
Na comparação com setembro de 2019, um dos cinco segmentos analisados apresentou variação positiva: a categoria outros serviços (13,2%). Os demais segmentos analisados registraram decréscimos na mesma base de comparação (mesmo mês do ano anterior): serviços prestados às famílias (-36,4%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-13,6%), transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (-6,3%) e serviços de informação e comunicação (-1,0%). Já para o segmento de atividades turísticas houve retração de 38,7% frente a setembro de 2019.
Na análise do acumulado do ano (janeiro-setembro), um dos cinco segmentos analisados registrou variação positiva: a categoria outros serviços (6,1%). Por outro lado, os demais setores apresentaram variações negativas no período: serviços prestados às famílias (-38,6%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-11,8%), transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (-8,6%) e serviços de informação e comunicação (-2,5%). Para a mesma base de comparação, o segmento de atividades turísticas aferiu variação negativa de 38,8%.
Na análise por unidade federativa, no mês de setembro de 2020frente ao mesmo mês do ano anterior (setembro/2019), aferiu-se que 7 dos 27 estados apresentaram variações positivas: Amazonas (8,4%), Pará (5,0%), Mato Grosso do Sul (3,9%), Santa Catarina (3,7%), Mato grosso (3,3%), Maranhão (2,9%) e Rondônia (2,5%). Em sentido oposto, as 20 unidades federativas restantes apresentaram variações negativas, sendo as maiores: Sergipe (-18,4%), Alagoas (-17,5%), Bahia (-16,7%), Pernambuco (-15,6%), Rio Grande do Norte (-13,2%), Ceará (-12,6%), Rio Grande do Sul (-10,5%), Paraíba (-10,4%) e Rio de Janeiro (-10,4%).
Por fim, na análise por unidade federativa no mês de setembro, considerando o acumulado do ano em 2020 frente ao mesmo período do ano anterior, apenas 1 das 27 unidades federativas apresentou variação positiva: Rondônia (3,4%). As 26 unidades federativas restantes apresentaram variações negativas, sendo as maiores: Alagoas (-19,4%), Bahia (18,4%), Rio Grande do Norte (-17,0%), Piauí (16,5%), Sergipe (-15,6%), Ceará (-15,1%), Rio Grande do Sul (-14,0%) e Roraima (-12,5%).