Análise IEDI
No trimestre da reação, a indústria à frente
O PIB do Brasil no terceiro trimestre de 2020 apresentou expressivo crescimento, como já era esperado. Foi puxado, sobretudo, pela reação da indústria. Apesar disso, não recompôs integralmente as perdas recordes derivadas da pandemia de Covid-19, que marcaram principalmente o segundo trimestre do ano.
A alta chegou a +7,7% frente ao trimestre anterior, com ajuste sazonal, depois do tombo de -9,6% no 2º trim/20. Mesmo com este avanço, o PIB brasileiro permaneceu 4,1% abaixo do nível do 4º trim/19, isto é, quando a pandemia ainda não havia atingido o país, retrocedendo a um patamar equivalente àquele do 2º trim/16, um período sabidamente de grandes dificuldades.
Embora parcial, o resultado do 3º trim/20 aponta na direção correta e foi acompanhado por variações positivas em quase todos os setores da economia. A exceção foi a agropecuária. A reação mais forte, por sua vez, veio da indústria, que cresceu +14,8% frente ao período anterior, já descontados os efeitos sazonais. É a maior taxa da série histórica do IBGE iniciada em 1996 e foi suficiente para que o setor retomasse o nível de PIB do 1º trim/20.
Na origem deste desempenho está a progressiva flexibilização do isolamento social, reduzindo restrições de oferta, mas também as medidas do governo de combate aos efeitos da Covid-19, cujas dificuldades de implementação e desenho foram sendo progressivamente equacionadas. O auxílio emergencial assegurou renda para as famílias, estimulando o consumo e a produção.
Entre as diferentes atividades, chama atenção a alta de +23,7% do PIB da indústria de transformação, seguida pelo comércio, que cresceu +15,9% e pelos serviços de transporte, com +12,5%. Como sugerem as variações com ajuste sazonal a seguir, os demais segmentos dos serviços que não comércio e transporte bem como a agropecuária restringiram a recuperação do PIB total no 3º trim/20.
• PIB total: -1,5% no 1º tirm/20; -9,6% no 2º trim/20 e +7,7% no 3º trim/20;
• PIB agropecuária: +2,9%; -0,2% e -0,5%, respectivamente;
• PIB da indústria total: -0,9%; -13,0% e +14,8%;
• PIB dos serviços: -1,5%; -9,4% e +6,3%, respectivamente.
Pela ótica da demanda, o setor externo contribuiu positivamente, não porque ampliamos exportações, mas porque sua queda foi inferior à das importações. A despeito de uma taxa de câmbio mais competitiva, nossas vendas externas recuaram -2,1% no 3º trim/20, com ajuste sazonal. As importações, por sua vez, caíram -9,6%, menos do que no 2º trim/20 (-12,4%) devido à melhora do dinamismo da economia doméstica.
Na demanda interna, o investimento reagiu, avançando +11%, mas sem anular o tombo que levou com a pandemia. A taxa de investimento, manteve-se no mesmo patamar de 2018 e 2019, em 16,2%. Está, portanto, muito distante do nível anterior à crise 2015-2016, geralmente acima de 20% desde 2008.
Já o consumo das famílias, que é o principal componente da demanda, registrou crescimento de +7,6% na série com ajuste sazonal, ficando ainda 6,4% abaixo do último trimestre do ano passado, ou seja, do pré-pandemia. Em comparação com o 3º trim/19, a diferença também é grande: -6,0%, que consiste na segunda pior taxa da série histórica do IBGE, perdendo apenas para o 2º trim/20 (-12,2%) e é equivalente ao seu pior momento na crise de 2015-2016 (-5,9% no 4º trim/15). Ou seja, um longo caminho de reação pela frente.
Em resumo, os dados de hoje do IBGE mostram que a recuperação ocorreu de forma relativamente disseminada e veio até mais forte do que se previa no início da pandemia. Mas nem por isso 2020 deixará de ser um dos piores anos da história recente do país. A queda acumulada do PIB até o 3º trim/20 está em -5%. O último Boletim Focus projeta perda de -4,5% para o ano como um todo, isto é, mais intensa do que em 2015 e 2016 (-3,5% e -3,3%, respectivamente).
Segundo dados divulgados hoje pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou R$ 1,891 trilhão a preços correntes no terceiro trimestre de 2020, apresentando expansão de 7,7% na comparação com o trimestre anterior, a partir de dados dessazonalizados.
Com relação ao terceiro trimestre de 2019, houve variação negativa de 3,9%. No acumulado nos últimos quatro trimestres frente a igual período do ano anterior houve decréscimo de 3,4%.
Ótica da oferta. Frente ao segundo trimestre de 2020, a partir de dados dessazonalizados, houve decréscimo de 0,5% para o setor agropecuário, para o setor da indústria registrou-se expansão de 14,8% e para serviços houve uma variação negativa de 14,8%.
Para os subsetores da indústria, na mesma base de comparação, verificou-se expansões nos seguintes segmentos: indústrias de transformação (23,7%), produção e distribuição de eletricidade, gás e água (8,5%), construção (5,6%), e indústrias extrativas (2,5%).
Nos subsetores de serviços, ainda sobre o trimestre anterior e com ajuste sazonal, dois setores apresentaram variações positivas, sendo eles: comércio (-13,0%), transporte, armazenagem e correio (12,5%), outras atividades de serviços (7,8%), informação e comunicação (3,1%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (2,5%), intermediação financeira e seguros (1,5%) e atividades imobiliárias (1,1%).
No comparativo com o mesmo trimestre do ano anterior, a partir de dados dessazonalizados, o setor agropecuário apresentou variação positiva de 0,4%, enquanto o setor da indústria apresentou retração de 0,9% e o setor de serviços um decrescimento de 4,8%.
Para os componentes do setor industrial, frente ao mesmo trimestre do ano anterior, houve variações positivas nos seguintes setores: produção e distribuição de eletricidade, gás e água (3,8%) e indústrias extrativas (1,0%). Os demais segmentos analisados registraram decréscimos: construção (-7,9%) e indústria de transformação (-0,2%).
No setor de serviços os segmentos que apresentaram incrementos, ainda frente ao mesmo trimestre do ano anterior, foram: atividades financeiras de seguros e serviços relacionados (6,0%) e atividades imobiliárias (2,7%). Os demais segmentos apresentaram variações negativas: outras atividades de serviços (-14,4%), transporte, armazenagem e correio (-10,4%), administração, saúde e educação públicas (-5,4%), comércio (-1,3%) e serviços de informação e comunicação (-1,3%).
Ótica da demanda. Sob a ótica da demanda, frente ao segundo trimestre de 2020, para dados com ajuste sazonal, houve acréscimos nas seguintes categorias: formação bruta de capital fixo (11,0%), consumo das famílias (7,6%) e consumo do governo (3,5%). Por outro lado, houve decréscimo em: importações de bens e serviços (-9,6%) e exportações de bens e serviços (-2,1%).
Por fim, na comparação com o terceiro trimestre de 2019, todos os seguimentos registraram-se retrações, na seguinte ordem: importações de bens e serviços (-25,0%), formação bruta de capital fixo (-7,8%), consumo das famílias (-6,0%), consumo do governo (-5,3%) e exportação de bens e serviços (-1,1%).