Análise IEDI
Inflexão disseminada
Em fev/21, a indústria voltou a apresentar desempenho negativo, aprofundando os sinais de perda de dinamismo dos meses anteriores. Caiu -0,7% ante jan/21, algo que não ocorria na série com ajuste sazonal desde o tombo de abr/20 provocado pelo choque da pandemia de Covid-19.
Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram um perfil disseminado de perdas do ponto de vista regional. Dos 15 parques industriais regionais, 10 ficaram no vermelho. Os casos mais graves ficaram por conta de Ceará (-7,7% ante jan/21, com ajuste), Pará (-7,4%) e Bahia (-5,8%), mas a involução também atingiu os motores da recuperação industrial: São Paulo e a região Sul.
Podem ser identificados três quadros distintos neste início de ano, como sugerem as variações com ajuste sazonal a seguir: algumas indústrias locais recuaram pela primeira vez em fev/21, outras estão há mais tempo no vermelho e alguns poucos casos que cresceram, compensando o declínio de jan/21.
• Brasil: +0,8% +0,4% e -0,7%
• São Paulo: +0,7% +1,1% e -1,3%
• Rio Grande do Sul: +1,0% +1,8% e -1,1%
• Nordeste: -0,2% -2,4% e -2,6%
• Amazonas: -5,7% -10,0% e -0,9%
• Minas Gerais: +3,1% -0,6% e +0,5%
• Espírito Santo: +6,7% -10,1% e +4,6%, respectivamente.
Os centros industriais que vinham puxando a reativação do setor no agregado Brasil e apresentando resiliência na virada de 2020 para 2021 registraram queda agora em fev/21, em um contexto de deterioração da situação sanitária do país e fim das medidas emergenciais. Foram os casos de São Paulo e dos três estados da região Sul, que perderam aquilo que haviam obtido em jan/21.
Para outros, o recuo em fev/21 foi reincidente, pois já vinham sentindo o peso da redução do auxílio emergencial pago às famílias. É este o caso notadamente da região Nordeste como um todo, cuja produção industrial não cresce desde dez/20.
Esta involução é grave, pois a indústria nordestina ainda está longe de superar o choque da Covid-19 em mar-abr/20. Seu nível de produção em fev/21 está 6,1% aquém o pré-crise. O Amazonas é outro caso que está no vermelho desde dez/20 e permanece 6% abaixo do nível de produção anterior à Covid-19.
Já entre aqueles que conseguiram ampliar produção na passagem de jan/21 para fev/21 estão Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso e Goiás. Todos estes tinham apresentado retração em jan/21 e, por isso, contaram com bases de comparação menores. A rigor, não cresceram, mas compensaram perda do mês anterior. A única exceção foi o Rio de Janeiro que não apresenta variação negativa desde out/20 e é bom que seja assim, pois a produção industrial do estado ainda está 0,8% abaixo do nível pré-pandemia.
Na passagem de janeiro para fevereiro de 2021, a produção industrial brasileira registrou uma retração de 0,7% segundo dados dessazonalizados. Entre os 15 locais pesquisados, cinco registraram acréscimos: Mato Grosso (7,3%), Espírito Santo (4,6%), Goiás (2,0%), Rio de Janeiro (1,9%) e Minas Gerais (0,5%). Em sentido oposto, os 10 locais pesquisados restantes apresentaram variações negativas, sendo as maiores: Ceará (-7,7%), Pará (-7,4%), Bahia (-5,8%), Nordeste (-2,6%) e Santa Catarina (1,5%).
Analisando em relação a fevereiro de 2020, registrou-se variação positiva de 0,4% da indústria nacional. Entre os 15 locais pesquisado, 5 registraram variações positivas: Santa Catarina (8,1%), Rio Grande do Sul (7,9%), Minas Gerais (5,8%), São Paulo (4,4%) e Paraná (3,1%). Nos 10 outros locais pesquisados observaram-se retrações nessa mesma base de comparação, sendo as maiores: Bahia (-20,9%), Pará (-11,4%), Espírito Santo (-10,1), Amazonas (-9,9%) e Nordeste (-9,7%).
Analisando para o acumulado no ano, registrou-se acréscimo de 1,3% na produção industrial brasileira, sendo que dos 15 locais pesquisados, oito apresentaram crescimentos, sendo os maiores: Santa Catarina (9,5%), Rio Grande do Sul (8,4%), Pará (1,0%), Minas Gerais (7,8%) e Paraná (7,1%). Por outro lado, as regiões restantes apresentaram quedas, sendo as mais expressivas: Bahia (-18,0%), Amazonas (-9,8%), Espírito Santo (-9,3%), Goiás (-9,0%) e Mato Grosso (-9,0%).
São Paulo. Na comparação do mês de fevereiro com o mês de janeiro de 2021, a produção da indústria paulista registrou retração de 1,3% a partir de dados dessazonalizados. Em relação a fevereiro de 2020, houve variação positiva de 4,4%, e analisando os dados acumulados no ano registrou-se acréscimo de 5,0%.
Os setores com maiores expansões no comparativo com do acumulado no ano foram: coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (13,2%), máquinas e equipamentos (12,0%), metalurgia (11,7%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (11,6%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (11,1%). Por outro lado, os setores que apresentaram as maiores retrações foram: outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-45,9%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-6,8%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-1,8%), celulose, papel e produtos de papel (-0,9%) e bebidas (-0,8%).
Nordeste. Na comparação de fevereiro de 2021 com o mês de janeiro de 2021, a produção da indústria nordestina registrou variação negativa de 2,6% a partir de dados dessazonalizados. Em relação a fevereiro de 2020, houve retração de 9,7%. No acumulado do ano, aferiu-se variação negativa de 6,6%.
Os setores com maiores contribuições positivas no comparativo do acumulado no ano foram: bebidas (22,3%), produtos têxteis (20,6%), outros produtos químicos (12,7%), celulosa, papel e produtos de papel (9,3%) e produtos de minerais não-metálicos (8,3%). De outro lado, os seguintes segmentos apresentaram as maiores variações negativas: veículos automotores, reboques e carrocerias (-52,9%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-19,4%), produtos alimentícios (-10,0%) indústrias extrativas (-9,7%), e indústrias de transformação (-6,3%).
Rio de Janeiro. Na comparação de fevereiro com janeiro de 2021, a produção da indústria carioca apresentou incremento de 1,9% segundo dados dessazonalizados. Em relação a fevereiro de 2020, houve retração de 3,9%. No acumulado do ano registrou-se variação negativa de 4,5%.
Os setores que registraram as maiores expansões na comparação do acumulado do ano foram: produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (28,8%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (28,1%), produtos de minerais não-metálicos (16,5%) produtos de borracha e de material plástico (12,4%), e produtos alimentícios (7,4%). Por fim, os maiores decréscimos se deram nos seguintes setores: manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-18,7%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-15,3%), bebidas (-13,3%) outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-13,2%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-11,2%).