Análise IEDI
O crédito na falta dos programas emergenciais
Em março de 2021, as concessões totais de crédito, segundo a pesquisa do Banco Central, aumentaram +1,7% em relação a mar/20, já descontada a inflação medida pelo IPCA. Este desempenho, contudo, não evitou que o primeiro trimestre fosse negativo para financiamento da economia, sobretudo, para as empresas.
No acumulado de jan-mar/21, houve redução de -1,6% na contratação de créditos novos em relação ao mesmo período do ano anterior, aprofundando a trajetória de desaceleração do final de 2020. Vale lembrar que as concessões haviam crescido +5,8% no 3º trim/20 e +2,3% no 4º trim/20, antes de entrar no vermelho em 2021.
A queda neste início de ano poderia ter sido mais acentuada não fosse o crédito oficial, que continuou crescendo a taxas substanciais: +40,1% em termos reais frente a jan-mar/20, embora não tenha escapado de alguma desaceleração em relação a trimestres anteriores.
Assim, o enfraquecimento do crédito ficou concentrado nas operações livremente pactuadas entre as partes. Em seu agregado, recuou -4,5% no 1º trim/21 frente ao mesmo período do ano passado, condicionado pelos contratos firmados com as empresas.
De fato, com a virada de ano, os programas emergenciais na área do crédito corporativo foram descontinuados, o que levou à desaceleração do financiamento oficial e à contração do crédito livre para as empresas. Só recentemente, no final de abr/21, se aventa uma segunda edição destes programas, a exemplo do Pronampe.
Como resultado, as concessões reais totais para o segmento corporativo encolheram -7,3% no 1º trim/21 frente ao 1º trim/20, como mostram as variações reais a seguir, mesmo diante da clara deterioração do quadro sanitário do país e de novo endurecimento das medidas restritivas.
• Concessões reais totais: +5,8% no 3º trim/20; +2,3% no 4º trim/20 e -1,6% no 1º trim/21;
• Concessões reais às empresas: +13,4%; +0,7% e -7,3%, respectivamente;
• Concessões reais às famílias: -0,6%; +3,7% e +4,0%, respectivamente.
Além de menos crédito novo, as condições de financiamento das empresas também foram prejudicadas pela redução de prazos médios e elevação das taxas médias de juros, que no segmento livre, que melhor refletem as condições de mercado, saíram de 11,6% ao ano em dez/20 para 13,8% ao ano em mar/21.
Quanto ao financiamento das famílias, que funciona como uma alavanca para seu consumo, o quadro foi menos adverso, mas também apresentou sinais negativos. No segmento livre, ficou praticamente estagnado, variando apenas +0,2% em comparação com o 1º trim/20, já descontada a inflação. Modalidades com juros menores ficaram no vermelho, como o crédito pessoal, com -9,8%, e sobretudo o crédito consignado, que caiu -12,6% em jan-mar/21.
Também no que diz respeito aos empréstimos às famílias, foram as operações oficiais que asseguraram algum dinamismo positivo neste início de ano. O crédito direcionado cresceu +41,6% ante jan-mar/20, em grande medida devido ao financiamento imobiliário (+54,3%), que vem reagindo à demanda represada pela pandemia no ano passado.
Os dados de crédito apresentados hoje pelo Banco Central registraram que o saldo das operações alcançou R$4,1 trilhões em março, apresentando crescimento de 1,5% em relação ao mês imediatamente anterior. Por sua vez, o saldo de crédito a pessoas físicas em relação ao mês imediatamente anterior alcançou variação positiva de 1,0% (R$2,3 trilhões) e a carteira de pessoas jurídicas apresentou aumento de 2,0% na mesma comparação, alcançando R$1,8 trilhão. Frente ao mesmo mês do ano anterior (março de 2020), o saldo total de crédito registrou incremento de 14,5%.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$2,4 trilhões, com variação positiva de 1,9% em relação ao mês anterior e expansão de 12,8% quando comparado com março de 2020. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas ficou em R$1,3 trilhão, aferindo expansão de 0,9% em relação ao mês imediatamente anterior e crescimento de 11,1% quando comparado com o mês de maço de 2020. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se montante de R$1,1 trilhão, apresentando expansão de 3,0% em relação ao mês anterior e variação positiva de 14,8% na comparação com o mesmo período de 2020.
O estoque de crédito com recursos direcionados registrou valor de R$1,7 trilhão em março de 2021, indicando expansão de 16,9% frente ao mesmo mês do ano anterior e variação positiva de 0,9% em relação ao mês imediatamente anterior. O saldo referente a pessoas físicas registrado foi de R$1,0 trilhão, incremento de 13,2% quando comparado ao mês de março de 2020. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$684,2 bilhões, acréscimo de 22,9% quando comparado com o mesmo mês do ano anterior.
Para o mês de março de 2020, foram concedidos R$407,1 bilhões em novas operações de crédito, variação positiva de 2,6% frente ao montante de R$396,8 bilhões observado em março de 2020. Deste volume apresentado em março de 2021, R$366,0 bilhões foram originados de recursos livres e R$41,1 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparado ao mesmo mês do ano anterior, variação negativa de 1,1% para recursos livres e incremento de 53,4% para recursos direcionados.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$127,2 bilhões), cartão de crédito (R$120,4 bilhões), crédito não rotativo (R$45,2bilhões), crédito pessoal (R$31,5 bilhões) e cheque especial (R$29,3 bilhões). Quanto as pessoas jurídicas, as principais modalidades foram desconto de duplicatas (R$58,2 bilhões), capital de giro (R$23,8 bilhões), cheque especial (R$15,7 bilhões), conta garantida (R$10,6 bilhões) e cartão de crédito (R$9,0 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$15,2 bilhões), crédito rural (R$10,9 bilhões), microcrédito (R$1,4 bilhão) e BNDES (R$463,0 milhões). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades foram crédito rural (R$6,3 bilhões), BNDES (R$3,4 bilhões) e financiamentos imobiliários (R$1,5 bilhão).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$1,0 bilhão, acréscimo nominal de 23,0% frente a março de 2020, com as maiores expansões em: demais serviços prestados às empresas (42,8%), comércio varejo – bens não-duráveis (37,0%), demais serviços prestados às famílias (36,9%), comércio atacado - bens duráveis e não duráveis (35,6%), comércio geral – bens intermediários (30,9%), comércio (29,6%), outros serviços (24,6%), transporte via terrestre (19,8%) e transporte (16,0%).
Para o setor da indústria aferiu-se valor de R$729,5 bilhões, variação positiva de 12,6% frente ao mesmo mês do ano anterior. O setor agropecuário registrou crédito de R$35,9 bilhões, variação positiva de 28,3% em termos nominais, quando comparado ao registrado no mês de março de 2020.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$1,830 trilhão, representando 44,6% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$1,521 trilhão, representando 37,1%, e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$752,8 bilhões, representando por sua vez 18,3% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das operações contratadas em março alcançou 20,0% a.a., variação positiva de 0,2 p.p. no mês e declínio de 2,7 p.p. em doze meses. O spread geral das taxas das concessões situou-se em 15,1 p.p., o que representou declínios de 0,5 p.p. e de 2,9 p.p., nas mesmas bases de comparação.