Análise IEDI
Sem alívio
O número de pessoas sem emprego no país não para de bater recordes, segundo a PNAD contínua divulgada pelo IBGE. No 1º trim/21 chegou a 14,8 milhões de brasileiros e, ao que tudo indica pela evolução recente, estamos caminhando para a marca dos 15 milhões.
Com isso, a taxa de desocupação também se manteve em alta, passando de 13,9% no 4º trim/20 para 14,7% no 1º trim/21. Não é demais lembrar que esta taxa vem apresentando dois dígitos há muito tempo, desde a entrada de 2016.
Ou seja, são 5 anos que o Brasil testemunha um quadro dramático no emprego e o pior é que não há indicativos claros de sua melhora no futuro próximo. Quanto mais tempo um indivíduo fica fora do mercado de trabalho, mais difícil é seu retorno, pois perde sua rede de contatos e suas competências ficam desatualizadas.
Poucas são as atividades econômicas que vêm conseguindo atenuar esta situação. Em geral, como mostram as variações interanuais a seguir, compreendem setores menos atingidos pela pandemia e pelas necessárias medidas de restrição de mobilidade.
• Ocupação total: -12,1% no 3º trim/20; -8,9% no 4º trim/20 e -7,1% no 1º trim/21;
• Ocupação na agropecuária: -2,7%; +2,7% e +4,0%, respectivamente;
• Ocupação na indústria: -12,2%; -10,3% e -7,7%;
• Ocupação na construção: -16,6%; -11,8% e -5,7%;
• Ocupação no comércio: -13,5%; -10,9% e -9,4%;
• Ocupação em alojamento e alimentação: -29,9%; -27,7% e -26,1%, respectivamente.
A agropecuária, por esta razão, é o único setor com ampliação do número de ocupados no 1º trim/21 ante o mesmo período do ano passado: +4,0%, dando continuidade à evolução positiva do final de 2020.
Alguns ramos de serviços não chegaram a crescer, mas ficaram muito próximos da estabilidade. Foi o caso dos serviços de informação, comunicação, atividades financeiras, imobiliárias etc., cuja ocupação registrou variação de -0,5%, depois de ter caído -6,5% no 3º trim/20 e -1,2% no 4º trim/20.
Também foi o caso dos serviços de administração pública, seguridade, educação, saúde etc. com -0,4% no 1º trim/20. Aqui, porém, houve algum retrocesso, pois no 4º trim/20, frente ao mesmo período do ano anterior, havia conseguido ficar no positivo (+0,7%).
O emprego em todas as demais atividades permanece em declínio acentuado. Entretanto, em algumas delas, o ritmo de queda atenuou-se, a exemplo da indústria. A ocupação industrial, depois de passar três trimestres seguidos com perdas de dois dígitos, registrou -7,7% no 1º trim/21, o que, devemos reconhecer, ainda é um nível elevado. Pelo menos manteve-se em linha com o desempenho da ocupação total (-7,1%) neste início de ano.
Para não perder de vista os efeitos acumulados das crises industriais recentes, isto é, não apenas o impacto negativo da pandemia, mas também as graves perdas do período 2015-2016, cabe observar que o emprego na indústria no 1º trim/21 está 15,5% abaixo daquele do 1º trim/14. Isto é, uma defasagem quase três vezes maior do que o total da ocupação do país (-5,7%).
Outros ramos com arrefecimento das quedas foram a construção e, em menor medida, o comércio, que voltou a fechar as portas em muitas cidades devido ao novo surto de Covid-19. Os serviços domésticos, cuja queda na ocupação superava -20% desde o 2º trim/20, caiu abaixo desta marca no 1º trim/21, mas não ficou muito longe dela: -17,3% ante o 1º trim/20.
Os três piores resultados, por sua vez, ficaram a cargo de serviços mais vinculados à mobilidade e à presença física. Foram os casos de alojamento e alimentação (-26,1% ante 1º trim/20), outros serviços (-18,6%), que reúne um número diversificado de atividades, e transporte, armazenagem e correios (-11,1%).
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrou 14,7% no trimestre compreendido entre janeiro de 2021 e março de 2021. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, outubro de 2020 a dezembro de 2020, houve expansão de 0,8 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve variação positiva de 2,5 p.p., quando registrou 12,2%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$2.544,00, apresentando variação negativa de 0,9% em relação ao trimestre imediatamente anterior (out-nov-dez), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior houve incremento de 0,8%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 212,5 bilhões no trimestre que se encerrou em março, registrando retração de 1,5% frente ao trimestre imediatamente anterior (out-nov-dez) e variação negativa de 6,7% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 227,7 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 85,7 milhões de pessoas, variação negativa de 0,6% em relação ao trimestre imediatamente anterior (out-nov-dez) e retração de 7,1% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (92,2 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu expansão de 6,3%, com 14,8 milhões de pessoas. Já para a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, observou-se expansão de 1%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 100,5 milhões de pessoas, representando crescimento de 0,4% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação negativa de 4,4% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (105,1 milhões de pessoas).
Com análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, um dos agrupamentos apresentou variação positiva, Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (4,0%). Na mesma base de comparação, os demais agrupamentos apresentaram decréscimos: Alojamento e alimentação (-26,1%), Outros serviços (-18,6%), Serviços domésticos (-17,3%), Transporte, armazenagem e correios (-11,1%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-9,4%), Indústria geral (-7,7%), Construção (-5,7%), Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (-0,5%) e Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (-0,4%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação, comparada ao mesmo trimestre do ano anterior, registrou-se acréscimo nas categorias trabalho familiar auxiliar (5,1%) e setor público (1,4%). Em sentido oposto, as categorias restantes apresentaram retrações: trabalho doméstico (-17,3%), empregador (-14,0%), trabalho privado sem carteira (-12,1%), trabalho privado com carteira (-10,7%) e trabalhador por conta própria (-1,3%).