Análise IEDI
O financiamento da indústria em 2021
Em abr/21, segundo os dados do Banco Central divulgados hoje, as concessões totais de crédito registraram alta de +26,8% ante abr/20, já descontada a inflação. Tal resultado contou com bases deprimidas de comparação, dado o choque inicial da Covid-19 no ano passado.
Saíram-se melhor as concessões às famílias, que apresentaram avanço de +42,3% nesta mesma comparação, mas o sinal positivo no desempenho do segmento corporativo é importante por interromper uma sequência de meses de queda das concessões. Agora em abr/20 sua variação real foi de +12,9%.
A despeito disso, o acumulado nos primeiros quatro meses de 2021 do crédito novo às empresas permaneceu no vermelho: -2,7% ante o mesmo período do ano passado. Com a volta dos programas emergenciais de crédito este quadro tende a melhorar, sobretudo para as empresas de menor porte.
Já no crédito às famílias, as concessões reais em 2021 acumulam crescimento de +12,2% até o mês de abril, graças ao desempenho das modalidades para aquisição de bens, cujas bases de comparação são baixas, e do financiamento imobiliário. É este resultado que permitiu que o total de crédito novo à economia ficasse no positivo: +4,8% ante jan-abr/20.
As variações a seguir mostram a evolução do crédito corporativo por setor econômico, tal como identificado pelo Banco Central. Neste caso não há informações a respeito das concessões, mas sim dos estoques de crédito, que compreendem uma medida mais estável ao longo do tempo. Os dados foram deflacionados pelo IPCA e as comparações são para o acumulado no ano.
• Crédito total às empresas: +21,6% em jan-dez/20 e +2,6% em jan-abr/21;
• Crédito agropecuária: +24,4% e +6,3%;
• Crédito à indústria: +18,4% e +2,7%;
• Crédito aos serviços: +25,1% e +2,2%, respectivamente.
Em todos os grandes setores econômicos a expansão dos saldos de crédito sofreu forte desaceleração com o início de 2021, resultado em boa medida do fim dos programas emergenciais de crédito adotados devido à pandemia.
O setor agropecuário, menos afetado pela crise e favorecido recentemente pela reativação da economia chinesa, foi quem registrou o melhor resultado de jan/21 a abr/21. Também apresentou um avanço importante em 2020 como um todo.
Para a indústria e os serviços houve uma perda maior de fôlego. No caso da indústria, alguns de seus ramos passaram a mostrar contração em 2021, como a indústria automobilística, cujo estoque de crédito caiu -11,5% até abr/21, depois de ter avançado + 18,9% em 2020 como um todo. Petróleo, gás e álcool também ficou no vermelho em jan-abr/21, com -10,2%, assim como a indústria de embalagens, com -5,5%.
Depois de forte crescimento em 2020, escapam por pouco da região negativa outros ramos da indústria, como bens de capital (+13,5% em jan-dez/20 e +0,2% em jan-abr/21), metalurgia e siderurgia (+18,8% e +1,4%, respectivamente) e têxtil, vestuário, couros e calçados (+24,8% e +1,6%).
Nos serviços, o financiamento daqueles prestados às empresas foi onde o revés se mostrou mais intenso, pois a alta de +54,9% em jan-dez/20 foi sucedida por retração de -5,3% em jan-abr/21. Os serviços de comércio e de transporte também registraram forte desaceleração de seus estoques de crédito em 2021.
Os dados de crédito apresentados hoje pelo Banco Central registraram que o saldo das operações alcançou R$4,1 trilhões em abril, apresentando crescimento de 0,5% em relação ao mês imediatamente anterior. O saldo de crédito a pessoas físicas em relação ao mês imediatamente anterior obteve variação positiva de 1,0% (R$2,3 trilhões) e a carteira de pessoas jurídicas apresentou estabilidade na mesma comparação, alcançando R$1,8 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior (abril de 2020), o saldo total de crédito registrou incremento de 15,1%.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$2,4 trilhões, com variação positiva de 0,7% em relação ao mês anterior e expansão de 14,1% quando comparado com abril de 2020. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas ficou em R$1,3 trilhão, aferindo expansão de 0,9% em relação ao mês imediatamente anterior e crescimento de 14,7% quando comparado com o mês de abril de 2020. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se montante da ordem de R$1,1 trilhão, apresentando expansão de 0,3% em relação ao mês anterior e variação positiva de 13,4% na comparação com o mesmo período de 2020.
O estoque de crédito com recursos direcionados registrou valor de R$1,7 trilhão em abril de 2021, em termos nominais, indicando expansão de 16,5% frente ao mesmo mês do ano anterior e variação positiva de 0,3% em relação ao mês imediatamente anterior. O saldo referente as pessoas físicas registrado foi de R$1,1 trilhão, incremento de 13,9% quando comparado ao mês de abril de 2020. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$679,1 bilhões, havendo acréscimo de 20,9% frente ao mesmo mês do ano anterior.
No mês de abril de 2021 foram concedidos R$378,9 bilhões em novas operações de crédito, variação positiva de 27,6% frente ao montante de R$297,0 bilhões observado em abril de 2020. Deste volume apresentado em abril de 2021, R$339,8 bilhões foram originados de recursos livres e R$39,1 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparado ao mesmo mês do ano anterior, variação positiva de 27,6% para recursos livres e incremento de 27,4% para recursos direcionados, respectivamente.
Para as concessões de crédito a pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$123,4 bilhões), cartão de crédito (R$118,6 bilhões), crédito não rotativo (R$47,8 bilhões), crédito pessoal (R$34,5 bilhões) e cheque especial (R$26,9 bilhões). Para as pessoas jurídicas, as principais modalidades foram desconto de duplicatas (R$47,8 bilhões), capital de giro (R$18,1 bilhões), cheque especial (R$14,7 bilhões), conta garantida (R$9,4 bilhões) e cartão de crédito (R$8,7 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$14,9 bilhões), crédito rural (R$13,2 bilhões), microcrédito (R$1,2 bilhão) e BNDES (R$387,0 milhões). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades ficaram com o crédito rural (R$4,0 bilhões), o BNDES (R$2,3 bilhões) e os financiamentos imobiliários (R$1,3 bilhão).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$1,0 bilhão, acréscimo nominal de 20,9% frente a abril de 2020, com as maiores expansões em comércio varejo – bens não-duráveis (36,9%), demais serviços prestados às famílias (33,7%), comércio geral – bens intermediários (32,2%), comércio (29,3%), varejo – bens duráveis (29,0%), comércio atacado - bens duráveis e não duráveis (28,5%), outros serviços (26,2%), demais serviços prestados às empresas (23,2%), transporte via terrestre (19,2%) e transporte (15,7%).
Para o setor da indústria aferiu-se valor de R$738,2 bilhões, variação positiva de 10,8% frente ao mesmo mês do ano anterior. O setor agropecuário registrou crédito de R$35,2 bilhões, variação positiva de 24,4% em termos nominais, quando comparado ao valor registrado no mês de abril de 2020.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$1,833 trilhão, representando 44,4% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$1,537 trilhão, representando 37,3% e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$755,7 bilhões, representando por sua vez 18,3% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das operações contratadas em abril alcançou 20,3% a.a., variação positiva de 0,5 p.p. no mês e declínio de 2,3 p.p. em doze meses. O spread geral das taxas das concessões situou-se em 15,0 p.p., o que representou declínios de 0,1 p.p. e de 2,2 p.p. nas mesmas bases de comparação.