Análise IEDI
Sem vitalidade
Depois de um período volátil na entrada do último trimestre do ano passado, a indústria tem se mantido em um quadro de virtual estagnação, mas, embora baixas, as variações negativas estão se acumulando. Em fev/23, o padrão se manteve, segundo os dados de hoje do IBGE, que assinalaram declínio de -0,2% na série com ajuste sazonal. Para a indústria, 2023 ainda não começou.
Setorialmente, a perda não se mostrou muito difundida, mas ainda assim atingiu 36% dos ramos acompanhados pelo IBGE e metade dos macrossetores industriais. Setores importantes para as condições de produção futura, como bens de capital, não estão em boa fase, ficando ou estagnados ou no vermelho nos últimos meses.
Frente a jan/23, já descontados os efeitos sazonais, bens de capital registraram mero +0,1%, após dois meses de recuo. Ramos como máquinas e aparelhos elétricos (-3,5%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-1,8%) e máquinas e equipamentos (-0,5%) estiveram entre os piores resultados.
Igualmente quase estagnados ficaram os bens de consumo semi e não duráveis, com -0,1% ante jan/23, com ajuste. Deste a entrada do ano que este macrossetor mal sai do lugar. Neste segundo mês do ano, alimentos (-1,1%) e farmacêuticos e farmoquímicos (-4,5%) foram obstáculos para um resultado superior.
O pior desempenho coube a bens de consumo duráveis, como mostram as variações com ajuste sazonal a seguir, e mesmo em bens intermediários, que obtiveram expansão da produção, a taxa de variação foi modesta.
• Indústria geral: -0,1% em dez/22; -0,3% em jan/23 e -0,2% em fev/23;
• Bens de capital: -1,7%; -4,4% e +0,1%, respectivamente;
• Bens intermediários: -0,7%; -0,8% e +0,5%;
• Bens de consumo duráveis: +2,4%; -1,2% e -1,4%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: +2,1%; +0,1% e -0,1%, respectivamente.
Frente a fev/22, agravado por um dia útil a menos em fev/23, o resultado tampouco foi favorável para a indústria como um todo: -2,4%. Com isso, aumentaram as chances de o 1º trim/23 colocar o setor novamente em terreno negativo, revertendo o movimento de trimestres anteriores, que contaram com bases baixas de comparação.
No bimestre jan-fev/23 frente a jan-fev/22, a indústria registrou -1,1%, com dois de seus macrossetores em queda. O caso mais intenso de declínio é bens de capital, com -9,5%, especialmente devido ao mau desempenho de bens de capital para a própria indústria (-15,6%) e aqueles de uso misto (-17,1%).
Bens intermediários, por sua vez, registram -2,2%, influenciados por insumos para a construção civil (-3,8%) e para o setor automobilístico (-4,7%), bem como por defensivos agrícolas (-7,0%) e siderurgia (-9,0%).
Por fim, bens de consumo, sejam eles duráveis (+7,6%) ou semi e não duráveis (+2,4%), estão no positivo no 1º bim/23. No primeiro caso, porque as bases de comparação ajudam. Eletrodomésticos e móveis estão voltando a crescer neste início de 2023, após seguidos trimestres de declínio. A produção de veículos perdeu um pouco de dinamismo, mas ainda apresenta um ritmo nada desprezível (+8,2% ante jan-fev/22).
Bens de consumo semi e não duráveis, a seu turno, refletiram, sobretudo, a aceleração do ramo de combustíveis (+7,4%) e melhora nos segmentos de bebidas (+4,6% ante jan-fev/22) e de alimentos, como em aves e suínos (+4,5%) e laticínios (+1,7%), que até há pouco estavam no vermelho.
A partir dos dados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de fevereiro de 2023 divulgados hoje pelo IBGE, a produção da indústria nacional registrou queda de 0,2% frente ao mês de janeiro de 2023 na série livre de influências sazonais. No acumulado em doze meses registrou-se decréscimo de 0,2% e no acumulado no ano houve diminuição de 1,1%. Em comparação com o mesmo mês do ano anterior (fevereiro de 2022), aferiu-se variação de -2,4%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior (janeiro/2023), segundo dados livres de influência sazonal, duas das cinco categorias analisadas apresentaram variação positiva: bens intermediários (0,5%) e bens de capital (0,1%). Nas tr~es categorias restantes foram observadas quedas: bens semiduráveis e não duráveis (-0,1%), bens de consumo (-0,3%) e bens duráveis (-1,4%).
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior (fevereiro/2022), três das cinco categorias analisadas apresentaram variação positiva: bens duráveis (2,1%), bens de consumo (0,5%) e bens semiduráveis e não duráveis (0,2%). Em sentido oposto, as categorias de bens intermediários (-2,8%) e de bens de capital (-12,4%) caíram.
O resultado do acumulado no ano registrou crescimento em três das cinco categorias pesquisadas: bens duráveis (7,6%), bens de consumo (3,1%) e bens semiduráveis e não duráveis (2,4%). As duas categorias restantes apresentaram recuo no período: bens intermediários (-2,2%) e bens de capital (-9,7%).
No índice acumulado em 12 meses, três dos cinco segmentos assinalaram resultados positivos: bens semiduráveis e não duráveis (1,5%), bens de consumo (1,4%) e bens duráveis (-1,3%). Por sua vez, as categorias de bens intermediários (-0,9%) e de bens de capital (-1,7%) caíram.
Setores. Na comparação de fevereiro de 2023 com o mesmo mês do ano anterior (fevereiro de 2022), houve variação positiva no nível de produção de oito dos 25 ramos pesquisados. As maiores variações positivas foram percebidas nos seguintes setores: produtos do fumo (18,1%), bebidas (8,2%), impressão e reprodução de gravações (6,9%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (6,7%) e indústrias extrativas (5,1%). Em sentido oposto, as maiores variações negativas ficaram por conta dos seguintes setores: artigos do vestuário e acessórios (-10,9%), produtos de minerais não-metálicos (-11,3%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-11,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-12,6%) e produtos de madeira (-17,1%).
Na comparação do acumulado do ano de 2023, nove dos 25 setores cresceram, sendo as maiores variações positivas observadas em: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (18,1%), produtos do fumo (11,8%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (10,8%), bebidas (6,4%) e móveis (4,1%). Já as quedas mais expressivas foram verificadas nos ramos: máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-9,2%), artigos do vestuário e acessórios (-9,8%), produtos de minerais não-metálicos (-10,9%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-12,2%) e produtos de madeira (-19,3%).
Na comparação do acumulado nos últimos 12 meses, a produção industrial apresentou variação positiva em dez dos 25 ramos analisados, com destaque para os itens de produtos do fumo (9,9%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (9,0%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (6,4%), bebidas (5,0%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (4,6%). Por outro lado, os setores que apresentaram as maiores variações negativas foram: impressão e reprodução de gravações (-7,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-9,2%), produtos de produtos têxteis (-9,3%), móveis (-10,4%) e produtos de madeira (-16,2%).