Análise IEDI
Indústria para alavancar o emprego formal
Os dados divulgados hoje pelo IBGE, mostram que a taxa de desemprego do país continua cedendo em relação ao ano passado. Superamos o choque da pandemia de Covid-19, mas ainda não deixamos para trás integralmente os efeitos negativos da crise de 2015-2016 sobre o emprego.
No trimestre findo em abr/23, a taxa de desemprego chegou a 8,5%, isto é, 2 pontos percentuais abaixo do patamar de igual período no ano passado e bem aquém do pico de 14,8% registrado em abr/21. Mesmo assim, ainda há o que progredir para retornarmos ao nível de desemprego de 7,2% registrado em abr/14.
A informalidade, embora também esteja menor do que no ano passado, não obteve avanços em relação a 2016. No trimestre findo em abr/23, a taxa de informalidade calculada pelo IBGE era de 38,5% da população ocupada ante 40,1% no mesmo período de 2022 e 38,1% em abr/16. Em termos absolutos, somam 38,1 milhões de pessoas, um número 9,3% superior ao do trimestre findo em abr/16.
Continuar reduzindo a informalidade tende a ser o principal caminho para que o quadro do emprego do país siga melhorando. Isso porque a ampliação do número total de ocupados, responsável pelos recuos na taxa de desemprego, dá sinais de desaceleração, como mostram as variações interanuais a seguir.
• Ocupação total: +8,8% em mai-jul/22; +6,1% em ago-out/22; +3,4% em nov/22-jan/23 e +1,6% em fev-abr/23;
• Trabalho com carteira assinada: +10,0%; +8,1%; +6,5% e +4,4%;
• Ocupação total na indústria: +8,2%; +5,0%; +2,3% e +1,3%, respectivamente.
As ocupações com carteira de trabalho, destacado veículo da formalização do emprego, também reduziram ritmo de crescimento nos últimos meses, mas permanecem com um desempenho bastante superior ao da ocupação como um todo. No trimestre findo em abr/23 registraram alta de +4,4%, o equivalente a 1,5 milhão a mais de pessoas.
Este resultado é mais do que o dobro do crescimento do trabalho sem carteira (+2,0% ante abr/22), ao passo que outras modalidades de ocupação em que há parcela importante de informais têm registrado contração: -1,3% frente ao trimestre findo em abr/22, tanto no trabalho doméstico como no conta própria, que inclui os chamados “bicos”.
Se a indústria estivesse em um momento melhor, dado que sua mão de obra é majoritariamente formal, este processo de avanço qualitativo do emprego poderia estar mais adiantado. Como mostra a Carta IEDI n. 1197, o emprego com carteira na indústria de transformação supera 65% enquanto na média do setor privado não chega a 40%.
O enfraquecimento do nível de atividade industrial neste início de ano, levando a produção do setor a encolher -0,4% no 1º trim/23 ante o 1º trim/22, desperdiça uma importante alavanca do emprego formal no país.
Os dados recentes do IBGE mostram que a ocupação industrial variou apenas +1,3% em fev-abr/23, sendo o setor que menos ampliou vagas frente a fev-abr/22, entre aqueles que ficaram no positivo nesta comparação. Este resultado o coloca em ritmo inferior de crescimento ao do total da ocupação no país.
Ainda assim, a indústria se saiu melhor do que outros setores que contribuíram negativamente para a melhora do emprego, como a agropecuária, que corta vagas desde o 2º trim/22, e que agora em fev-abr/23 registrou -5,2% frente ao mesmo período do ano passado, o equivalente a 455 mil postos a menos.
Outros setores no vermelho foram a construção, com -3,3% ante fev-abr/22 ou -242 mil postos, e serviços domésticos, com -1,7% ou -98 mil ocupados. Estes três setores no negativo foram os principais responsáveis pela desaceleração do aumento do número de ocupados nestes últimos doze meses.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrou 8,5% no trimestre compreendido entre fevereiro e abril de 2023. Em relação ao trimestre imediatamente anterior (nov-dez/22-jan/23) houve crescimento de 0,1 p.p., e para o mesmo trimestre do ano passado houve variação negativa de 2 p.p., quando registrou 10,5%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$ 2.891, apresentando variação de -0,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior (nov-dez/22-jan/23), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano passado houve aumento de 7,4%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 278,8 bilhões no trimestre que se encerrou em abril, registrando estabilidade frente ao trimestre imediatamente anterior (nov-dez/22-jan/23) e variação positiva de 9,6% em comparação com o mesmo trimestre do ano passado.
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 98,0 milhões de pessoas, apresentando uma variação negativa de 0,6% em relação ao trimestre imediatamente anterior, e aferiu-se incremento de 1,6% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (96,5 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação com o trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu elevação de 1,1%, com 9,1 milhões de pessoas. Já na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se variação negativa de 19,9%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 107,1 milhões de pessoas, representando retração de 0,5% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação negativa de 0,7% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (107,9 milhões de pessoas).
Na análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, sete dos dez agrupamentos analisados apresentaram variação positiva: transporte, armazenagem e correios (7,8%), administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (4,6%), informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (4,0%), alojamento e alimentação (2,4%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (1,8%), outros serviços (1,5%), indústria (1,3%). Em sentido oposto, os três agrupamentos restantes apresentaram retração: serviços domésticos (-1,7%), construção (-3,3%) e agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-5,2%).
Por fim, na comparação com mesmo trimestre do ano anterior, a população ocupada por posição na ocupação registrou expansão em três das sete categorias analisadas: trabalho privado com carteira (4,4%), setor público (4,1%), trabalho privado sem carteira (2,0%). Nas quatro categorias restantes houve retração no período: empregador (-0,1%), trabalho doméstico (-1,3%), trabalhador por conta própria (-1,3%) e trabalho familiar auxiliar (-19,2%).