Análise IEDI
Juros em alta, bens de capital em baixa
Em mai/23, a produção industrial apresentou variação positiva, mas bastante modesta, como tem sido a norma recente. O resultado foi de +0,3% frente ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, graças a um avanço de +1,2% na atividade extrativa, já que a indústria de transformação (-0,1%) ficou mais uma vez no vermelho.
Embora fraco, o desempenho no mês foi acompanhado por expansão na maioria dos ramos industriais acompanhados pelo IBGE. Além do extrativo, outros 18 ramos ficaram no positivo, totalizando uma parcela de 76% da indústria como um todo.
Em comparação com um ano atrás, a trajetória tem sido de oscilação entre altas e baixas. Agora em mai/23, houve crescimento de +1,9%, insuficiente para aplacar a retração do mês anterior (-2,7% ante abr/22), mas isso devido a apenas um único macrossetor: bens de capital, cuja produção caiu -11,6%.
De fato, bens de capital têm sido o principal freio para a indústria em 2023. Como se sabe, as decisões de investimento são particularmente prejudicadas pelo quadro de elevação das taxas de juros reais que temos visto no país, ao que se somam o enfraquecimento do mercado interno e as incertezas em relação a reformas estruturais, como, por exemplo, quanto à aprovação ou não da reforma tributária e com quais características.
Isso tem feito a produção de bens de capital acumular recuo de -9,6% em jan-mai/23 em uma trajetória de progressiva deterioração, como mostram as variações interanuais a seguir. Outro freio importante foi bens intermediários, com queda de -1,0% nestes primeiros cinco meses do ano. Com isso, tudo que a indústria geral havia ganhado na segunda metade de 2022 (+0,4%) se perdeu agora em 2023 (-0,4%).
• Indústria geral: +0,6% no 4º trim/22; -0,4% no 1º trim/23 e -0,3% abr-mai/23;
• Bens de capital: -3,3%; -6,8% e -13,4%, respectivamente;
• Bens intermediários: +0,8%; -1,9% e +0,3%;
• Bens de consumo duráveis: +4,7%; +9,0% e +6,1%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: +0,5%; +3,5% e +0,4%, respectivamente.
O bimestre abr-mai/23 aponta para um ritmo de queda duas vezes mais intenso do que no 1º trim/23 para bens de capital: -13,4% frente a abr-mai/22. Bens de capital para a própria indústria (-6,6%) seguem no vermelho, mas a piora veio principalmente de bens de capital para agricultura (-2,0% no 1º trim/23 e -13,6% em abr-mai/23) e para energia (-19,9% e -36,2%, respectivamente).
No acumulado dos cinco primeiros meses de 2023, o outro macrossetor em declínio, o de bens intermediários, reflete não apenas a involução de bens de capital, mas também a desaceleração recente dos demais macrossetores. Entretanto, sua produção, que caiu -1,0% na comparação com jan-mai/22, ficou mais próxima da estabilidade no último bimestre (+0,3% em abr-mai/23).
Para bens de consumo duráveis, o indicativo recente é de taxas de crescimento um pouco menores. Em abr-mai/23 registrou +6,1% frente ao mesmo período do ano passado contra +9,0% no 1º trim/23. Vale lembrar que esta parcela da indústria é a que está mais longe dos patamares de produção pré-pandemia (-12,7% ante fev/20) e mais ainda dos níveis anteriores à crise de 2015/2016 (-23,4% ante mai/14). Com bases baixas, é o macrossetor que mais cresce.
Já para bens de consumo semi e não duráveis, a desaceleração é mais pronunciada. Depois de crescer +3,5% no 1º trim/23, ficou virtualmente estável em abr-mai/23, registrando +0,4% frente ao mesmo período do ano anterior. Muito disso coube a taxas menores de crescimento na indústria farmacêutica e farmoquímica (+19,4% e +9,4%, respectivamente) e na produção de álcool e gasolina (+14,5% e +7,9%) e ao declínio em bebidas (+3,3% e -5,2%, respectivamente).
Segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de maio de 2023 divulgados hoje pelo IBGE, a produção da indústria nacional registrou aumento de 0,3% frente a abril, na série livre de influências sazonais. No acumulado em doze meses registrou-se estabilidade e, considerando-se o acumulado no ano, houve retração de 0,4%. Em comparação com o mesmo mês do ano anterior (maio de 2022), aferiu-se variação positiva de 1,9%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior (abril/2023), segundo dados dessazonalizados, três das cinco categorias analisadas apresentaram variação positiva: bens duráveis (9,8%), bens de capital (4,2%) e bens intermediários (0,1%). Nas duas categorias restantes houve queda: bens de consumo (-0,8%) e bens semiduráveis e não duráveis (-1,1%).
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior (maio/2022), quatro das cinco categorias analisadas apresentaram variação positiva: bens duráveis (11,1%), bens intermediários (3,1%), bens de consumo (2,2%) e bens semiduráveis e não duráveis (0,9%). Em sentido oposto, bens de capital registrou queda de -11,6%.
No acumulado no ano três das cinco categorias registraram crescimento: bens duráveis (7,8%), bens de consumo (2,9%) e bens semiduráveis e não duráveis (2,2%). As duas categorias restantes registraram queda nessa base de comparação: bens intermediários (-1,0%) e os bens de capital (-9,6%).
Para o índice acumulado em 12 meses, três dos cinco segmentos analisados assinalaram resultados positivos: bens duráveis (6,4%), bens de consumo (2,7%) e bens semiduráveis e não duráveis (-2,0%). Por outro lado, os dois segmentos restantes caíram: bens intermediários (-0,8%) e bens de capital (-5,0%).
Setores. Na comparação de maio de 2023 com o mesmo mês do ano anterior (maio de 2022), houve variação positiva no nível de produção em nove dos 25 ramos pesquisados. As maiores variações positivas foram percebidas nos seguintes setores: outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (23,9%), impressão e reprodução de gravações (18,8%), indústrias extrativas (12,0%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (7,1%) e produtos alimentícios (5,8%). Por sua vez, os 16 ramos restantes registraram variação negativa, sendo as mais expressivas: máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-16,7%), produtos de madeira (-15,3%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-13,6%), artigos do vestuário e acessórios (-9,6%) e produtos químicos (-6,4%).
No acumulado no ano de 2022, onze dos 25 setores cresceram, sendo as maiores variações positivas: outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (17,1%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (15,2%), impressão e reprodução de gravações (5,7%), indústrias extrativas (4,7%) e coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (4,3%). Já os 14 setores restantes registram queda, sendo as maiores: produtos de madeira (-18,6%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-11,4%), artigos do vestuário e acessórios (-9,7%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-9,4%), produtos de minerais não-metálicos (-9,1%).
No acumulado nos últimos 12 meses, a produção industrial apresentou variação positiva em nove dos 25 ramos analisados, com destaque para os itens de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (15,5%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (9,6%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (5,9%), produtos do fumo (5,3%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (5,0%). Por outro lado, os 13 setores que apresentaram as maiores variações negativas foram: produtos de madeira (-19,4%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-9,0%), artigos do vestuário e acessórios (-8,9%), produtos de minerais não-metálicos (-7,4%), produtos têxteis (-7,1%).