Análise IEDI
Indústria e serviços em trajetórias opostas
Indústria e serviços caminharam em direção oposta no início da segunda metade de 2023. Enquanto a produção industrial encolheu -0,6%, o faturamento real do setor de serviços cresceu +0,5% na passagem de jun/23 para jul/23, já descontados os efeitos sazonais.
Vale lembrar que esta assimetria não é nova, já que dos sete meses do ano cobertos por estatísticas do IBGE, a indústria registrou apenas duas taxas positivas de crescimento e os serviços conseguiram cinco meses de expansão.
Como temos observado, o mercado de serviços tende a ser mais associado à renda corrente das famílias e empresas, favorecida pela desaceleração da inflação e pela melhoria do emprego no país. Já na indústria, a produção de bens de consumo duráveis e até mesmo semiduráveis e a de bens de capital são diretamente restringidas pelos níveis elevados de taxas de juros.
A decisão tomada pelo Banco Central no início de ago/23, quando a taxa básica de juros (Selic) foi reduzida em 0,5 p.p., é um bom sinal para o nível de atividade econômica geral, sobretudo para a indústria e comércio, se vier sucedida de novas reduções. Seu efeito sobre as taxas de juros dos empréstimos a pessoas físicas e jurídicas geralmente leva tempo para ocorrer e deve ser sentido só em 2024.
Assim, o desempenho dos serviços segue na frente dos demais setores. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, o setor só registrou expansão, acumulando alta de +4,5% em jan-jul/23 ante uma queda de -0,4% na indústria.
Em jul/23, como mostram as variações interanuais a seguir, todos os ramos de serviços identificados pelo IBGE apresentavam aumento de faturamento real.
• Serviços – total: +5,1% em mai/23; +4,0% em jun/23 e +3,5% em jul/23;
• Serviços prestados às famílias: +2,4%; +5,3% e +4,9%, respectivamente;
• Serviços de info. e comunicação: +5,3%; +5,1% e +3,6%;
• Serviços profissionais, adm. e complementares: +3,8%; +4,0% e +3,2%;
• Transportes e correios: +7,2%; +4,6% e +2,5%;
• Outros serviços: +0,5%; -1,6% e +4,2%, respectivamente.
Dois ramos merecem destaque pela boa performance em jul/23, mas também em meses anteriores. O primeiro deles é o de serviços prestados às famílias, responsável pela maior alta tanto na série com ajuste sazonal (+1,0% ante jun/23) como na comparação interanual (+4,9%).
Cabe observar que este é o único ramo de serviços que segue em níveis inferiores ao pré-pandemia (-1,7% ante fev/20), apresentando, assim, espaço adicional para novos avanços até sua total recuperação. Em jan-jul/23, os serviços prestados às famílias acumulam avanço de +5,6%.
O segundo ramo a ser destacado é o de transporte, armazenagem e correios, que, apesar de certa desaceleração, registrou o segundo melhor resultado na série com ajuste sazonal agora em jul/23 (+0,6% ante jun/23) e se manteve no azul ao longo de todos estes sete primeiros meses de 2023 na comparação interanual. Frente a jul/22 teve alta de +2,5% e em jan-jul/23 acumula resultado de +5,1%.
Serviços de informação e comunicação e os serviços profissionais, administrativos e complementares foram os dois únicos segmentos a registrarem declínio na passagem de jun/23 para jul/23, já descontados os efeitos sazonais: -0,2% e -1,1%, respectivamente.
Na comparação interanual, informação e comunicação registrou sua menor taxa de crescimento em jul/23 (+3,6%) e os serviços profissionais, administrativos e complementares, seu segundo resultado mais fraco (+3,2%). Ainda assim, ambos não se saem nada mal no acumulado jan-jul/23: +5,1% e +4,3%, respectivamente.
Por fim, o segmento de outros serviços tem apresentado uma trajetória mais volátil, alternando avanços e retrocessos, muito provavelmente pela natureza distinta das atividades que a compõem, como serviços financeiros, imobiliários, rurais etc. Frente a jun/23 variou +0,3% e ante jul/22, +4,2%. Seu resultado em jan-jul/23 é positivo, mas é o mais baixo entre os ramos de serviços: +0,5%.
Conforme os dados da Pesquisa Mensal de Serviços para o mês de julho/2023 divulgados hoje pelo IBGE, o volume de serviços prestados apresentou aumento de 0,5% frente a junho, na série com ajuste sazonal. Frente ao mesmo mês do ano anterior (julho/2022), aferiu-se incremento de 3,5%. Quanto à variação acumulada no ano, houve crescimento de 4,5%. No acumulado em 12 meses registrou-se acréscimo de 6,0%.
Na comparação do mês de julho de 2023 com o mês imediatamente anterior (junho/2023), na série dessazonalizada, três dos cinco segmentos apresentaram crescimento: serviços prestados às famílias (1,0%), transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (0,6%) e outros serviços (0,3%). Já os setores com queda foram: serviços de informação e comunicação (-0,2%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,1%). No segmento de atividades turísticas, houve variação de 0,7% em relação ao mês imediatamente anterior.
Na comparação do mês de julho de 2023 frente ao mesmo mês do ano anterior (julho/2022), todos os cinco segmentos apresentaram crescimento: serviços prestados às famílias (4,9%), outros serviços (4,2%), serviços de informação e comunicação (3,6%), serviços profissionais, administrativos e complementares (3,2%) e serviços de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (2,5%). No segmento das atividades turísticas houve expansão de 7,8% na comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Na análise do acumulado nos últimos 12 meses, todos os cinco segmentos analisados apresentaram expansão: serviços prestados às famílias (8,7%), transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (8,2%), serviços profissionais, administrativos e complementares (5,7%), informação e comunicação (4,6%) e outros serviços (1,4%). Além disso, o segmento das atividades turísticas variou 11,8% nos últimos 12 meses.
Na análise por unidade federativa, no mês de julho de 2023 em comparação com o mesmo mês do ano anterior (julho/2022), 25 das 27 unidades federativas apresentaram incremento no volume de serviços prestados, sendo os maiores registrados em: Mato Grosso (30,5%), Acre (18,4%), Tocantins (14,6%), Paraná (13,7%) e Maranhão (13,2%). Por outro lado, as duas unidades federativas que apresentaram variação negativa nessa base de comparação foram São Paulo (-2,1%) e Amapá (-3,3%).
Por fim, na análise por unidade federativa para o acumulado nos últimos 12 meses, 26 dos 27 estados apresentaram incremento, sendo os maiores observados em: Mato Grosso (17,8%), Tocantins (14,1%), Paraíba (13,3%), Minas Gerais (10,4%) e Roraima (10,0%). A única UF com redução no período foi Mato Grosso do Sul (-1,3%).