Análise IEDI
Sem crescimento, mas também sem retração
Corroborando sinais antecedentes que vinham se acumulando, a economia brasileira perdeu muito dinamismo na entrada da segunda metade do ano. Ainda assim, não chegou a registrar sinal negativo, como alguns analistas esperavam. É um caso de copo meio cheio, meio vazio.
Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram um PIB estagnado no 3º trim/23, mas com contribuição positiva do setor externo, sobretudo devido à exportação de bens primários, e resiliência do consumo das famílias, apoiada na melhora do emprego, na redução da inflação e em programas governamentais de transferência de renda.
Já corrigidos os efeitos sazonais, a variação do PIB brasileiro na passagem do 2º trim/23 para o 3º trim/23 foi de +0,1%, isto é, bem aquém do resultado registrado na primeira metade do ano (+1,4% em jan-mar/23 e +1,0% em abr-jun/23). Frente ao mesmo período do ano anterior, o resultado foi de +2,0%, o menor desde o 1º trim/22 nesta comparação.
O consumo das famílias foi importante para evitar que o PIB resvalasse para o terreno negativo. Na série com ajuste, houve alta de +1,0% ante o 2º trim/23, em linha com o ritmo dos dois trimestres anteriores. O mesmo ocorreu na comparação interanual, cujo resultado foi de +3,3%.
Embora para muitos o elevado endividamento e as altas taxas de juros continuem prejudicando suas decisões de consumo, a redução do desemprego associada a um avanço mais forte do emprego formal e a desaceleração da inflação fortaleceram a massa real de rendimentos, que segundo a PNAD/IBGE atingiu o valor recorde de R$ 293 bilhões no 3º trim/23.
Outro componente da demanda a favorecer o resultado geral do PIB foi o setor externo. As exportações avançaram +3,0% ante o 2º trim/23, com ajuste sazonal, e +10% em relação ao 3º trim/22, com destaque positivo para produtos primários. As importações, por sua vez, também ajudaram ao se contrairem: -2,1% na série com ajuste e -6,1% na comparação interanual.
Entre os outros componentes da demanda, o consumo do governo se desacelerou e o que mais chama atenção é o insistente declínio do investimento agregado do país. Na série com ajuste, são 4 trimestres seguidos em retração, sendo -2,5% agora em jul-set/23. Frente ao 3º trim/22 a queda chegou a -6,8%, o pior resultado desde o choque na pandemia de Covid-19.
Do lado da oferta, como mostram as variações interanuais a seguir, a indústria continua sendo o setor com desempenho mais restringido, notadamente a indústria de transformação, enquanto os serviços e a agropecuária perderam força com a virada do semestre.
• PIB total: +4,2% no 1º trim/23; +3,5% no 2º trim/23 e +2,0% no 3º trim/23;
• PIB da Indústria total: +1,5%; +1,0% e +1,0%, respectivamente;
• PIB da Indústria de transformação: -1,4%; -1,9% e -1,5%;
• PIB de Serviços: +3,3%; +2,7% e +1,8%;
• PIB da Agropecuária: +22,9%; +20,9% e +8,8%, respectivamente.
No 3º trim/23, o desempenho da indústria total foi negativamente impactado pelo setor da construção, que registrou a maior perda (-3,8% ante o 2º trim/23 e -4,5% ante o 3º trim/22), bem como pela indústria de transformação, que ficou estagnada em relação ao trimestre anterior (+0,1%, com ajuste) e, pela terceira vez consecutiva, teve queda em comparação com um ano atrás (-1,5%).
Já o setor de serviços, em boa medida devido ao desempenho do comércio e de transportes, deixou de crescer no ritmo que vinha crescendo: a alta de +3,3% no 1º trim/23 deu lugar a uma de +1,8% no 3º trim/23, na comparação interanual. Na série com ajuste, registrou +0,6% em jul-set/23, isto é, quase metade do resultado do trimestre anterior (+1,0%).
Quanto à agropecuária, após do impulso proporcionado pela supersafra no início do ano, a trajetória é de resultados cada vez mais modestos. É na série com ajuste sazonal que isto fica mais evidente: +12,5% no 1º trim/23; +0,5% no 2º trim/23 e -3,3% no 3º trim/23. Na comparação interanual, as bases são mais favoráveis, mas ainda assim há sinal de desaceleração: +20,9% no 2º trim/23 e +8,8% no 3º trim/23.
Por fim, com ¾ do ano cobertos pelas estatísticas do IBGE podemos identificar o seguinte perfil. Do lado expansionista, estão o bom desempenho das atividades primárias (+18,1% da agropecuária e +7,9% na extrativa mineral em jan-set/23) associada ao avanço das exportações (+9,8%) e a resiliência do setor de serviços (+2,6%) apoiada no consumo interno (+3,4% das famílias e +1,2% do governo).
Do lado dos obstáculos, há a retração do investimento (-2,5% no acumulado de jan-set/23), em muito derivada do ambiente interno de elevadas taxas de juros, além das incertezas no front externo, mas também no interno, dada a mudança de governo ocorrida neste ano. Isso tem correspondente, do lado da oferta, na retração da indústria de transformação (-1,6%) e na construção (-0,9%).
Vale mencionar ainda que o déficit da balança comercial da indústria de transformação, como discutido na Carta IEDI n. 1234, vem se reduzindo em 2023, em grande medida, em função da contração das importações. Ou seja, o setor teve um papel na contribuição positiva do setor externo no acumulado de 2023 até o 3º trimestre, quando as importações totais do país recuaram -1,3%.
Segundo dados divulgados hoje pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou, no terceiro trimestre de 2023, R$ 2.741,0 bilhões a preços correntes, apresentando variação positiva de 0,1% na comparação com o trimestre anterior, na série livre de influências sazonais.
Com relação ao terceiro trimestre de 2022, houve variação positiva de 3,4%. No que se refere à oscilação do acumulado nos últimos quatro trimestres frente a igual período anterior, houve acréscimo de 2,0%. No acumulado ao longo do ano, o PIB apresentou variação positiva de 3,2%.
Ótica da oferta. Frente ao trimestre imediatamente anterior (segundo trimestre de 2023), a partir de dados dessazonalizados, houve queda de -3,3% no setor agropecuário, além de aumento de 0,6% no setor da indústria e de 0,6% no setor de serviços.
Para os subsetores da indústria, na mesma comparação, as variações positivas foram nas categorias: indústrias extrativas (0,1%), eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (3,6%) e indústrias de transformação (0,1%). O setor da construção apresentou variação negativa no período (-3,8%).
Nos subsetores de serviços, ainda sobre o trimestre anterior e com ajuste sazonal, seis subsetores apresentaram variação positiva: atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (1,3%), outros serviços (1,3%), informação e comunicação (1,0%), atividades imobiliárias (0,5%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,4%) e comércio (0,3%). O setor de transporte, armazenagem e correio apresentou recuo de -0,9%.
No comparativo com o mesmo trimestre do ano anterior (terceiro trimestre de 2022), o setor agropecuário apresentou variação positiva de 8,8%, enquanto o setor da indústria registrou avanço de 1,0% e o setor de serviços cresceu 1,8%.
Para os subsetores da indústria, na mesma comparação, as variações positivas foram nas indústrias extrativas, com 7,2%, eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos com 7,3%. As indústrias de transformação (-1,5%) e construção civil (-4,5%) caíram.
Nos subsetores de serviços, todos os subsetores apresentaram variação positiva: atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (7,0%), outros serviços (3,6%), informação e comunicação (1,6%), transporte, armazenagem e correio (1,6%), atividades imobiliárias (1,1%), comércio (0,7%) e administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,4%).
Na taxa acumulada nos últimos quatro trimestres (em relação ao mesmo período anterior), o setor agropecuário apresentou aumento de 14,4%, observou-se expansão no setor da indústria (2,0%) e crescimento no setor de serviços (2,8%).
Ótica da demanda. Sob a ótica da demanda, frente ao trimestre imediatamente anterior (segundo trimestre de 2023), para dados com ajuste sazonal, três categorias apresentaram expansão: exportações de bens e serviços (3,0%), consumo das famílias (1,1%), consumo do governo (0,5%). A importação de bens e serviços (-2,1%) e a formação bruta de capital fixo (-2,5%), por sua vez, apresentaram variação negativa.
Na comparação com o terceiro trimestre de 2022 (mesmo trimestre do ano anterior), perceberam-se acréscimos em três categorias: exportações de bens e serviços (10,0%), consumo das famílias (3,3%) e consumo do governo (0,8%). A formação bruta de capital fixo (-6,8%) e as importações de bens e serviços (-6,1%) registraram queda.
Por fim, na comparação da taxa acumulada nos quatro últimos trimestres (em relação ao mesmo período anterior), três das cinco categorias analisadas apresentaram variação positiva: exportações de bens e serviços (10,3%), consumo das famílias (3,7%) e consumo do governo (1,0%). A formação bruta de capital fixo (-1,1%) e as importações de bens e serviços (-0,1%) apresentaram oscilações negativas.