Análise IEDI
Dois mundos
Em nov /23, a indústria registrou uma expansão mais significativa após cinco meses seguidos virtualmente estagnada. A variação, já descontados os efeitos sazonais, foi de +0,5%, o que não configura um resultado robusto, mas, dada a situação recente, foi o suficiente para ser o segundo melhor mês de 2023 (atrás apenas de fev/23: +1,1%). De todo modo, isso pouco afetou o agregado do ano: +0,1% em jan-nov/23.
O panorama setorial da indústria em nov/23 também seguiu bastante dividido, com 13 dos 25 ramos identificados pelo IBGE conseguindo crescer frente a out/23, com ajuste. As principais contribuições positivas vieram da indústria extrativa, da produção de derivados de petróleo e também do setor alimentício e de bebidas.
Entre os macrossetores industriais, metade registrou aumento de produção, com destaque para bens intermediários (+1,6% ante out/23, com ajuste sazonal), refletindo a expansão das atividades extrativas. Bens de consumo semi e não duráveis (+0,2%) também evitaram o sinal negativo, mas permaneceram muito perto da mera estabilidade. As quedas couberam a bens de capital (-1,7%) e bens de consumo duráveis (-3,3%).
A tomar pelo desempenho do bimestre out-nov/23, as tendências anteriores se mantiveram no último quarto de 2023: de um lado, bens de capital em forte retração e bens de consumo duráveis em deterioração e, de outro lado, expansão mais vigorosa em bens intermediários e bens de consumo semi e não duráveis, como indicam as variações interanuais a seguir. Isso forma dois mundos bem distintos em 2023.
• Indústria geral: -0,4% no 1º trim/23; -0,1% no 2º trim/23; 0% no 3º trim/23 e +1,2% em out-nov/23;
• Bens de capital: -5,8%; -11,0%; -13,7% e -12,2%, respectivamente;
• Bens de consumo duráveis: +9,0%; +2,6%; -1,1% e -5,8%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: +3,4%; +0,1%; +2,1% e +4,1%;
• Bens intermediários: -1,9%; +0,7%; +0,3% e +1,8%, respectivamente.
O que aqueles macrossetores no vermelho têm em comum é a maior dependência de seus mercados das condições de crédito e do nível de taxas de juros, que não se encontraram em situação favorável ao crescimento, como mostrou a Carta IEDI n. 1237 “Desaceleração creditícia”.
Bens de capital registram retração de dois dígitos desde o 2º trim/23, sendo que em out-nov/23 foi muito influenciada pelos segmentos de bens de capital para energia (-32,2% ante out-nov/22), para construção (-25,6%), para transporte (-21,9%) e para uso misto (-11,3%). Bens de capital para indústria estão no vermelho desde o 4º trim/21.
Bens de consumo duráveis por sua vez, foi quem apresentou a reviravolta mais aguda ao longo de 2023. Sua produção saiu de uma alta de +9,0% no 1º trim/23 para um declínio de -5,8% em out-nov/23. Automóveis (de +9,1% para -6,6%, respectivamente) e eletrodomésticos (de +15,7% para -7,3%) condicionaram esta involução, bem como outros equipamentos de transporte (de +23,6% para -1,8%) mais recentemente.
Em um quadro bastante diferente estão bens intermediários e bens de consumo semi e não duráveis. Um dos traços em comum destes dois macrossetores é que apresentam ramos mais próximos de atividades primárias, sejam elas minerais ou agropecuárias. Assim, ajudaram esta parcela da indústria a supersafra agrícola do início do ano e o fato de a extração de petróleo e gás vir batendo recordes.
A queda do desemprego e a desaceleração da inflação são outros fatores a favorecerem a produção de bens de consumo semi e não duráveis, que em out-nov/23 foi puxada pelo ramo de carnes (+19,9% ante out-nov/22), bebidas (+6,0%) e laticínios (+4,0%). A produção de álcool e gasolina também se destacou novamente, com alta de +17,5% frente ao mesmo período do ano passado.
Em bens intermediários, cujo resultado de out-nov/23 (+1,8%) sinaliza para um ganho importante de ritmo, as principais influências positivas vieram de intermediários de alimentos (+4,3%), de derivados de petróleo (+9,4%) e têxteis (+11,2%). A siderurgia (-1,9%), muito prejudicada pela concorrência chinesa, e pela desaceleração do setor automobilístico, de bens de capital e da construção civil, funciona como um freio para este macrossetor industrial.
Os dados da Pesquisa Industrial Mensal para o mês de novembro de 2023, divulgados hoje pelo IBGE, mostram que a produção física da indústria nacional registrou aumento de 0,5% frente ao mês de outubro de 2023, na série livre de influência sazonal. Em comparação ao mesmo mês do ano anterior (novembro de 2022), aferiu-se a variação positiva de 1,3%.
Para o acumulado de doze meses e o acumulado do ano até o mês de novembro de 2023 houve estabilidade: 0% e 0,1%, respectivamente frente ao mesmo período do ano anterior. No último bimestre com dados já divulgados, isto é, outubro-novembro de 2023, há um sinal de reativação do setor na comparação interanual: 1,2%, puxada sobretudo pela indústria extrativa.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior (outubro/2023), o segmento de bens intermediários cresceu 1,6% e o segmento de bens semiduráveis e não duráveis variou 0,2%. As outras duas categorias analisadas apresentaram variações negativas: bens de capital (-1,7%) e bens de consumo duráveis (-3,3%).
Já no resultado observado em comparação com o mesmo mês do ano anterior (novembro/2022), três categorias apresentaram variações positivas, na seguinte ordem: bens de consumo semiduráveis e não duráveis (3,7%) e bens de intermediários (2,6%). Os bens de consumo duráveis (-8,6%) e os bens capital (-14,8%) reduziram produção.
O resultado para o acumulado no ano de janeiro a novembro aponta variação positiva em três categorias: bens de consumo duráveis (1,4%), bens de consumo semiduráveis e não duráveis (2,3%) e bens intermediários (0,1%). A produção de bens de capital (-10,7%) foi a única a se contrair nesta comparação.
Para o índice acumulado em 12 meses, três macrossetores assinalaram resultados positivos: bens de consumo duráveis (1,0%), bens de consumo semiduráveis e não duráveis (2,2%) e bens intermediários (0,1%). Os bens de capital registraram queda de 10,2%.
Setores. Na comparação de novembro de 2023 com o mesmo mês do ano anterior (novembro de 2022), houve variação positiva no nível de produção de 10 dos 25 ramos pesquisados.
As maiores variações positivas foram percebidas nos seguintes setores: indústrias extrativas (14,5%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (11,6%), produtos e madeira (10,6%), fumo (10,5%), produtos têxteis (9,6%) e bebidas (5,4%).
Por sua vez, as maiores variações negativas ficaram por conta dos seguintes setores: máquinas e equipamentos (-10,2%), impressão e reprodução de gravações (-14,2%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-15,1%), produtos diversos (-16,4%), produtos farmacêuticos (-19,0%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-22,4%).
Na comparação do acumulado do ano de 2023 até o mês de novembro, 10 dos 25 setores cresceram, sendo as maiores variações positivas: impressão e reprodução de gravações (10,4%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (9,8%), indústrias extrativas (6,1%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (6,0%) e produtos alimentícios (3,9%).
Já as maiores quedas em janeiro-novembro de 2023 foram registrados pelos seguintes ramos: artigos do vestuário e acessórios (-7,8%), produtos de madeira (-8,1%), produtos diversos (-8,9%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,5%) equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-10,9%).
Na comparação do acumulado dos últimos 12 meses até novembro de 2023, a produção industrial apresentou variação positiva em 9 dos 25 ramos analisados, com destaque para os itens de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (10,5%), impressão e reprodução de gravações (9,2%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (5,6%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (5,5%) e indústrias extrativas (5,2%).
Por outro lado, os setores que apresentaram as maiores variações negativas entre dezembro de 2022 e novembro de 2023 foram: artigos do vestuário e acessórios (-7,9%), produtos diversos (-9,8%), produtos de madeira (-9,9%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,0%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-11,2%).