Análise IEDI
A liderança industrial no resultado do PIB
Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram um PIB mais forte do que se imaginava na primeira metade de 2024. O resultado do 1º trim/24 foi revisto de +0,8% para +1,0%, na série com ajuste sazonal, e agora no 2º trim/24 a economia brasileira registrou crescimento de +1,4%, enquanto as projeções de mercado divulgadas pela imprensa apontavam para algo como +0,9%.
No 2º trim/24, o investimento e a indústria foram os únicos componentes do PIB que ficaram acima do resultado geral. Do lado da oferta, o PIB industrial também foi o único a ganhar intensidade na série livre de efeitos sazonais e isso devido à maioria de seus ramos. Ou seja, foi um trimestre de dinamismo liderado pela indústria.
A virtual estabilidade industrial do 1º trim/24 (-0,1%) reverteu-se em alta de +1,8% no 2º trim/24, compensando a retração de -2,3% da agropecuária e a desaceleração de +1,4% para +1,0% dos serviços totais, como mostram as variações com ajuste sazonal a seguir.
• PIB total: +0,2% no 4º trim/23; +1,0% no 1º trim/24 e +1,4% no 2º trim/24;
• PIB da indústria total: +1,3%; -0,1% e +1,8%, respectivamente;
• PIB da indústria de transformação: +0,2%; +0,9% e +1,8%;
• PIB de serviços: +0,5%; +1,4% e +1,0%;
• PIB da agropecuária: -7,8%; +11,1% e -2,3%, respectivamente.
Entre os destaques positivos está a indústria de transformação, cujo resultado do 1º trim/24 foi revisado para cima, de +0,7% para +0,9%, dobrando de intensidade no 2º trim/24: +1,8%, com ajuste. Outros dois componentes do PIB industrial que não tinham crescido no início do ano também apresentaram desempenho robusto: +4,2% para eletricidade e gás, água, esgoto e gestão de resíduos e +3,5% para a construção.
A evolução favorável do PIB industrial foi influenciada pela expansão da formação bruta de capital fixo, isto é, do investimento, de +2,1% ante o 1º trim/24, com ajuste sazonal, favorecendo a produção nacional de bens de capital, como os dados mensais da indústria vinham indicando, assim como a construção civil.
A resiliência do consumo das famílias (+1,3%), que apesar da desaceleração (+2,5% no 1º trim/24), seguiu com uma performance trimestral superior à do ano passado, também contribuiu para o resultado industrial, estimulando a produção de bens de consumo. Cabe destacar ainda o crescimento mais forte do consumo do governo, que passou de +0,1% para +1,3% do 1º para o 2º trim/24.
Na origem destas evoluções estão a fase de redução da taxa básica de juros (Selic) entre meados de 2023 e meados de 2024, a retomada dos desembolsos do BNDES, a queda do desemprego e o aumento da massa real de rendimentos da população ocupada, bem como políticas de transferência de renda, correção do salário mínimo e o pagamento dos precatórios em atraso.
Além disso, ao que tudo indica, o impacto negativo das enchentes do Rio Grande do Sul pode ter sido mitigado pelas empresas a partir de aprendizados derivados da pandemia diante de desorganizações inesperadas das linhas de produção, assim como pelo início da reconstrução das infraestruturas danificadas.
A interrupção da queda da Selic e a possibilidade de uma nova fase de sua elevação é um fator que tende a colocar em risco tanto a reação do investimento como a continuidade deste início de retomada industrial.
Na comparação com o ano anterior, a fase de desaceleração da segunda metade de 2023 foi revertida no primeiro semestre de 2024, com o PIB total registrando +2,5% no 1º trimestre e +3,3% no 2º trimestre. Assim, no acumulado de jan/24 a jun/24 a economia brasileira avançou +2,9% ante +2,0% no 2º sem/23, não superando, porém, o resultado de jan-jun/23 (+3,8%).
Do lado da demanda, o desempenho de 2024 acumulado até junho se distingue em relação a ambos os semestres de 2023 por um aquecimento da demanda doméstica, com aceleração do consumo das famílias e do governo e o retorno ao crescimento do investimento, e pelo fato de o setor externo ter passado a contribuir negativamente.
Do lado da oferta, destaca-se a sistemática aceleração do PIB total da indústria, de +1,3% no 1º sem/23 para +1,9% no 2º sem/23 e +3,4% no 1º sem/24, para a qual foi importante a inversão de sinal da indústria de transformação, que cresceu +2,6% agora em 2024.
Esta evolução industrial compensou outro movimento continuado e de direção oposta: a persiste perda de dinamismo da agropecuária após a supersafra de grãos da entrada de 2023, passando de +22,0% no 1º sem/23 para +5,2% no 2º sem/22 e -2,9% no 1º sem/24, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior. Também ajudou a mitigar as oscilações do setor de serviços, sobretudo no 2º sem/23.
Segundo dados divulgados hoje pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou R$ 2,9 trilhões a preços correntes no primeiro trimestre de 2024, apresentando crescimento de 1,4% na comparação com o trimestre anterior, na série livre de efeitos sazonais.
Com relação ao segundo trimestre de 2023, houve variação positiva de 3,3%. No acumulado nos últimos quatro trimestres frente a igual período anterior, houve crescimento de 2,5%, enquanto o resultado da variação acumulada no ano foi de 2,9%
Ótica da oferta. Frente ao trimestre imediatamente anterior (primeiro trimestre de 2024), a partir de dados dessazonalizados, houve retração de -2,3% no setor agropecuário, além de expansão de 1,8% no setor da indústria e crescimento de 1,0% no setor de serviços.
Para os subsetores da indústria, na mesma base de comparação, variações positivas foram observadas nas categorias: indústrias extrativas (1,0%), setor da construção (4,4%) e eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (8,5%) e indústria de transformação (3,6%).
Nos subsetores de serviços, ainda sobre o trimestre anterior e com ajuste sazonal, os setores apresentaram as seguintes variações: informação e comunicação (6,1%), outras atividades de serviços (4,5%), atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (4,0%), comércio (4,0%), atividades imobiliárias (3,7%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (1,9%) e transporte, armazenagem e correio (0,7%).
No comparativo com o mesmo trimestre do ano anterior (segundo trimestre 2023), o setor agropecuário apresentou queda de -2,9%, enquanto o setor da indústria apresentou avanço de 3,9% e o setor de serviços registrou crescimento de 3,5%.
Para os subsetores da indústria, na mesma base de comparação, as variações positivas foram: eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (4,2%), construção (3,5%) e indústria de transformação (1,8%). Por outro lado, houve queda de 4,4% nas indústrias extrativas.
Nos subsetores de serviços, todos os subsetores apresentaram variações positivas, sendo eles: Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (2,0%), informação e comunicação (1,7%), comércio (1,4%), transporte, armazenagem e correio (1,3%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (1,0%), atividades imobiliárias (0,9%) e outras atividades de serviços (0,8%).
Para a taxa acumulada nos últimos quatro trimestres (em relação ao mesmo período do ano anterior), o setor agropecuário apresentou queda de -2,9%, observou-se expansão no setor da indústria (3,4%) e crescimento no setor de serviços (3,3%).
Ótica da demanda. Sob a ótica da demanda, frente ao trimestre imediatamente anterior (1º trimestre de 2024), para dados com ajuste sazonal, o consumo do governo (1,3%) apresentou expansão, bem como importação de bens e serviços (7,6%), formação bruta de capital fixo (2,1%), consumo das famílias (1,3%) e exportações de bens e serviços (1,4%).
Na comparação com o segundo trimestre de 2023 (mesmo trimestre do ano anterior), registrou-se acréscimo em todas as categorias: importações de bens e serviços (14,8%), exportações de bens e serviços (4,5%), consumo das famílias (4,9%), formação bruta de capital fixo (5,7%) e consumo do governo (3,1%).
Por fim, na comparação da taxa acumulada nos quatro últimos trimestres (em relação ao mesmo período anterior), todas as categorias apresentaram variação positiva: serviços (3,3%), exportações de bens e serviços (5,4), consumo das famílias (4,6%), formação bruta de capital fixo (4,2%) e consumo do governo (2,9%).