Análise IEDI
Comércio também em desaceleração
Os sinais de desaceleração marcam não apenas a indústria e os serviços, mas também o comércio varejista, como mostram os dados divulgados hoje pelo IBGE. Em dez/24, a queda foi ainda mais intensa no varejo do que nos outros dois setores e se mostrou bastante difundida entre seus ramos.
Enquanto a produção industrial e o faturamento dos serviços encolheram -0,3% e -0,5%, respectivamente, as vendas reais do varejo recuaram -1,1% na passagem de nov/24 para dez/24, já descontados os efeitos sazonais, tomando o setor em seu conceito ampliado, que inclui os segmentos de veículos, autopeças, material de construção e atacarejo.
Entre seus ramos, 70% perderam vendas em dez/24, sendo que equipamentos de informática e comunicação foi quem mais caiu, registrando -5,0%, seguido por farmacêuticos, perfumaria e cosméticos (-3,3%), combustíveis e lubrificantes (-3,1%) e material de construção (-2,8%).
Frente ao mesmo período do ano anterior, o último bimestre de 2024 trouxe importante desaceleração. As vendas do varejo ampliado saíram de um ritmo de crescimento em torno de 5% na entrada do semestre para apenas +1,9% em nov-dez/24, como mostram as variações a seguir.
• Varejo ampliado: +5,2% em jul-ago/24; +5,0% em set-out/24 e +1,9% em nov-dez/24;
• Varejo restrito: +4,9%; +4,5% e +3,9%, respectivamente;
• Supermercados, alimentos e bebidas: +4,9%; +3,2% e +2,0%;
• Móveis e eletrodomésticos: +7,2%; +4,9% e +5,2%;
• Eq. de escritório, informática e comunicação: -1,2%; +0,8% e -3,2%;
• Veículos e autopeças: +14,0%; +14,4% e +5,4%;
• Material de construção: +7,7%; +10,8% e +2,8%, respectivamente.
Assim, embora o varejo tenha se saído bem em 2024 como um todo, apresentando expansão de +4,1% em seu conceito ampliado (ante +2,3% em 2023), o final do ano indica um dinamismo que é metade disto.
Muito desta perda de fôlego deveu-se ao ramo de veículos e autopeças, cujas bases de comparação do final de 2023 foram reforçadas pelo crescimento das vendas impulsionadas pela redução de impostos no período e pela aprovação do novo marco de garantias e expansão do financiamento de veículos. Assim, no bimestre nov-dez/24 cresceu +5,4% ante +11,7% no acumulado jan-dez/24.
Outro ramo que perdeu fôlego, embora de forma bem menos acentuada, foi o de supermercados, alimentos e bebidas, cujo resultado de +2,0% em nov-dez/24 frente ao mesmo período do ano anterior é metade da variação acumulada em jan-dez/24 (+4,6%) e 1/3 do desempenho do primeiro semestre do ano (+6,0%).
Material de construção também teve uma trajetória semelhante, crescendo +2,8% em nov-dez/24 ante +4,7% no acumulado de 2024 como um todo.
Além destes, três ramos ficaram no vermelho no final do ano: atacarejo alimentício (-9,8% ante nov-dez/23), livros, jornais, revistas e papelaria (-6,9%) e equipamentos de escritório, informática e comunicação (-3,2%). Os dois primeiros também acumularam queda em jan-dez/24 (-7,1% e -7,7%, respectivamente) e o último aproximou-se da estabilidade (+0,7%).
À exceção de livros, jornais e papelaria, para quem a digitalização tem provocado mudanças estruturais, praticamente todos estes ramos que funcionaram como travas nestes últimos meses de 2024 estiveram sob efeito ou da inflação de alimentos, como no caso de supermercados e do atacarejo, ou da elevação das taxas de juros do país, como material de construção, veículos e informática e comunicação.
A partir dos dados de dezembro de 2024 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do varejo nacional registrou queda de -0,1% frente ao mês imediatamente anterior (novembro/2024), na série com ajuste sazonal. Frente ao mês de dezembro de 2023, houve acréscimo de 2,0%. Para o acumulado nos últimos doze meses aferiu-se crescimento de 4,7%.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças, de materiais de construção e atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo, registrou-se recuo de -1,1% em relação a novembro de 2024, a partir de dados livres de influências sazonais. Frente ao mês de dezembro de 2023 houve crescimento de 1,4%, enquanto para o acumulado nos últimos doze meses verificou-se aumento de 4,1%.
A partir de dados dessazonalizados, na comparação com o mês imediatamente anterior (novembro/2024), cinco das oito atividades pesquisadas apresentaram queda: equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-5,0%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-3,3%), combustíveis e lubrificantes (-3,1%), tecidos, vestuário e calçados (-1,7%), hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,4%). Já livros, jornais, revistas e papelaria (0,8%), móveis e eletrodomésticos (0,7%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,6%) apresentaram taxas positivas.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior (dezembro/2023), quatro dos oito segmentos cresceram: móveis e eletrodomésticos (10,2%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (9,7%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (9,6%) e tecidos, vestuário e calçados (3,4%). Por outro lado, livros, jornais, revistas e papelaria (-3,9%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-2,2%), combustíveis e lubrificantes (-1,7%) e hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,8%) apresentaram queda.
Na análise do acumulado no ano (janeiro-dezembro), os resultados mostram que seis dos oito setores cresceram: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (14,2%), outros artigos de uso pessoal (7,1%), hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (4,6%), móveis e eletrodomésticos (4,2%), tecidos, vestuário e calçados (2,8%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (0,7%). Por outro lado, os setores em queda foram: livros, jornais, revistas e papelaria (-7,7%) e combustíveis e lubrificantes (-1,5%).
Por fim, comparando dezembro de 2024 com o mesmo mês do ano anterior (dezembro/2023), em 23 das 27 unidades federativas houve crescimento no volume de vendas do comércio varejista, sendo os maiores: Rio Grande do Sul (8,1%), Pernambuco (6,3%) e Distrito Federal (6,3%). Em contrapartida, Amapá (-7,1%), Mato Grosso (-6,3%) e Maranhão (-3,3%) apresentaram os maiores recuos no mesmo período de comparação.