Carta IEDI
Indústria: perspectivas favoráveis e novos riscos
Com o avanço da vacinação contra a Covid-19 no Brasil e no restante do mundo e a reedição do auxílio emergencial, as perspectivas para a recuperação industrial vêm se tornando mais positivas para os próximos meses, apoiadas em um dinamismo superior da demanda interna e também das exportações, dada a reativação do comércio internacional.
Índices de confiança dos empresários industriais interromperam a tendência de enfraquecimento dos primeiros meses de 2021 e voltaram a indicar um estado melhor de expectativas para o setor. No caso do ICEI/CNI, em jun/21 atingiu a maior marca do ano, de 61,7 pontos, lembrando que a região de otimismo é estabelecida acima dos 50 pontos.
Neste início de jul/21, as expectativas para o resultado da produção industrial em 2021 coletadas pelo Boletim Focus do Banco Central apontam para uma alta de +6,3%, isto é, bastante superior às projeções do início de mar/21 (+4,3%), quando ficava evidente uma segunda onda de Covid-19 no país.
Assim, o crescimento de +1,4% da produção industrial, já descontados os efeitos sazonais, na passagem de abr/21 para mai/21, segundo a última pesquisa divulgada pelo IBGE, parece apontar para o início de uma nova fase de expansão do setor, depois de uma sequência de meses negativos nestes primeiros meses de 2021. Em outros termos, o ano pode estar começando somente agora para a indústria.
Mesmo com a alta de mai/21, vale observar que o nível de produção continua 3,1% abaixo daquele de dez/20, indicando que o presente ano ainda pouco contribuiu para a recuperação da indústria. Apenas conseguiu retomar o mesmo patamar do pré-pandemia, isto é, de fev/20, depois de ter superado esta marca em mais de 3% no final de 2020.
Isso ocorre porque o processo de recuperação ainda está incompleto. Dos 26 setores acompanhados pelo IBGE, 13 setores, isto é, metade deles, ainda se encontram abaixo do pré-pandemia, inclusive setores reconhecidamente importantes por difundir dinamismo pelo grande número de interações que estabelece, como é o caso da indústria automobilística (11,3% abaixo de fev/20), e setores intensivos em mão de obra e mais espalhados regionalmente, como o setor de confecções (14,8% abaixo de fev/20).
Outros indicadores também sugerem continuidade da expansão industrial. O quantum de exportações de manufaturados voltou a crescer e registrou +43,3% em mai/21 ante mai/20. Os estoques, segundo a CNI, têm ficado estáveis, após diminuição na maior parte de 2020 e na entrada de 2021, embora muitos setores ainda considerem seus níveis aquém do desejado. A utilização da capacidade instalada, segundo a FGV, cresceu por dois meses seguidos e atingiu em jun/21 (79,4%) o nível histórico até fev/20 (79,5%).
Ainda que as perspectivas se mostrem favoráveis para os próximos meses, é prudente não subestimar os obstáculos à recuperação industrial. Alguns deles já conhecidos, como por exemplo, o elevadíssimo desemprego e possíveis novas mutações do coronavírus. Outros começam a se revelar apenas agora, como é o caso da crise hídrica, que, mesmo não vindo acompanhada de racionamentos, ao implicar aumento de tarifas e, consequentemente da inflação, tende a corroer poder de compra da população e elevar os custos de produção das empresas.
Resultados da Indústria
Em maio de 2021, a produção industrial cresceu +1,4% na comparação com o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais. Foi a primeira taxa positiva depois de uma sequência de resultados negativos em 2021. Com isso, o setor voltou a ficar no mesmo nível de produção de fev/20, embora permaneça 3,1% abaixo daquele de dez/20.
O retorno do auxílio emergencial pago às famílias, ainda que em valor menor do que no início do programa, e a reativação da economia mundial, com o avanço da vacinação, contribuíram para o retorno ao crescimento da produção industrial em maio último. Espera-se que seja apenas o início de uma nova fase positiva, a despeito dos novos riscos no horizonte, notadamente, os efeitos da crise hídrica.
A indústria também conseguiu crescer na comparação com o mesmo período do ano anterior, ajudada mais uma vez por bases baixas de comparação. Além disso, mai/21 (21 dias) também teve um dia útil a mais do que o mesmo mês de 2020. A alta foi de +24,0%. Deste modo, o desempenho no acumulado dos primeiros cinco meses do ano foi de +13,1%.
Em relação aos macrossetores, na comparação de mai/21 com abr/21, descontados os efeitos sazonais, houve declínio em metade deles. Bens intermediários recuaram -0,6%, ficando ainda muito próximo da estabilidade. A retração de bens de consumo duráveis foi de -2,4%, sendo o sexto mês consecutivo em que este macrossetor ficou no negativo. Ou seja, sem crescimento desde final do ano passado. Bens de capital registraram +1,3% e bens de consumo semi e não duráveis, +3,6%, pouco compensando as perdas acumuladas nos três meses anteriores.
Na comparação de mai/21 com mai/20, houve variação positiva em todos os quatro macrossetores industriais. Enquanto o total da indústria cresceu +24,0% nesta comparação, bens de capital e bens de consumo duráveis apresentaram dinamismo muito superior: +76,7% e +149,4%, respectivamente, ajudados pelas bases de comparação ainda deprimidas. Bens intermediários registraram +18,1% e bens de consumo semi e não duráveis, +13,2%.
O macrossetor de bens de consumo duráveis foi quem melhor se saiu na comparação com mai/20, registrando alta de +149,4%, sendo particularmente impulsionado pela maior fabricação de automóveis (+340,4%), eletrodomésticos da “linha branca” (+104,6%) e motocicletas (+634,3%), além de eletrodomésticos da “linha marrom” (+12,3%), outros eletrodomésticos (+99,1%) e móveis (+45,5%).
O aumento interanual de +76,7% na produção de bens de capital, a seu turno, derivou do crescimento associado a todos os seus grupamentos, com destaque para bens de capital para equipamentos de transporte (+155,3%), bens de capital para fins industriais (+56,7%), agrícolas (+55,8%), de uso misto (+39,9%), para construção (+75,1%) e para energia elétrica (+9,3%).
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, o segmento de bens intermediários, que cresceu +18,1% em mai/21, teve seu resultado influenciado principalmente por avanços nas atividades de veículos automotores, reboques e carrocerias (+158,0%), metalurgia (+49,3%), produtos de minerais não-metálicos (+46,7%), outros produtos químicos (+25,6%), indústrias extrativas (+11,8%), máquinas e equipamentos (+79,1%) e produtos de borracha e de material plástico (+32,4%), entre outros. Pressões negativas vieram de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-12,6%) e produtos alimentícios (-11,1%).
Já bens de consumo semi e não duráveis, cujo resultado foi de +13,2% ante mai/20, receberam contribuição positiva sobretudo do grupamento de semiduráveis (+63,4%), impulsionado por avanços em calçados e vestuário e acessórios, e dos grupamentos de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+5,5%), de não-duráveis (+9,3%) e de carburantes (+12,3%).
Por dentro da Indústria de Transformação
O aumento de +1,4% da produção industrial geral em mai/21 ante abr/21, já realizado o ajuste sazonal, foi acompanhado de variação de +1,2% na indústria de transformação e de +2,0% no ramo extrativo. Nesta comparação, foi a primeira vez que a indústria de transformação registrou uma variação positiva em 2021 e, por isso, ainda se encontra 5,2% abaixo do nível de produção de dez/20.
Em relação a mai/20, tal como a indústria geral (+24,0%), o desempenho da indústria de transformação também foi bastante positivo: +25,8% devido a bases de comparação mais baixas. No caso do ramo extrativo, houve variação de +11,8%.
Frente a abr/21, na série com ajuste sazonal, o acréscimo de +1,4% da indústria geral foi acompanhado por 15 dos 26 ramos pesquisados. As principais influências positivas foram registradas por produtos alimentícios (+2,9%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+3,0%), metalurgia (+3,2%), outros produtos químicos (+2,9%), farmoquímicos e farmacêuticos (+8,0%), bebidas (+2,9%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (+6,2%), além de indústrias extrativas (+2,0%).
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou variação de +24,0% na produção em mai/21, variações positivas marcaram o desempenho de 22 dos 26 ramos, 69 dos 79 grupos e 76,3% dos 805 produtos pesquisados. Maio de 2021 (21 dias) teve um dia útil a mais do que o mesmo mês de 2020.
As maiores influências positivas nesta comparação interanual vieram de: veículos automotores, reboques e carrocerias (+216,0%), máquinas e equipamentos (+64,9%), metalurgia (+49,3%), produtos de minerais não-metálicos (+47,1%), outros produtos químicos (+25,5%), borracha e de material plástico (+33,2%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (+97,6%), entre outros. Entre as quatro atividades em queda, produtos alimentícios (-4,9%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-5,9%) exerceram as influências negativas mais intensas.
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE juntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de mai/21 cresceu +43,3%, impulsionado pela baixa base de comparação. Por sua vez, as importações em quantum de matérias-primas para a indústria avançaram +17,8% na comparação com mai/20. Foi a sétima taxa positiva consecutiva; todas de dois dígitos.
Assim, no acumulado de 2021, as exportações industriais pararam de apresentar sinal negativo e registraram crescimento de +8,4% nos cinco primeiros meses do ano frente a igual período do ano anterior. Quanto às importações de matérias-primas para o setor, apresentaram alta expressiva de +20,7% em 2021, um quadro bem diferente de 2020 como um todo (-4,1%).
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, caiu seguidamente a partir de fev/21, chegando a 76,7% em abr/21, em linha com os resultados desfavoráveis da produção industrial aferida pelo IBGE. Em mai/21 voltou a mostrar alguma reação: 77,8%, em linha com a evolução positiva da produção industrial, segundo o IBGE. A tendência teve continuidade em jun/21, registrando 79,4%; um bom sinal para o setor no final do semestre.
Cabe observar, porém, que o nível de utilização até mai/21 permaneceu abaixo da média histórica anterior à Covid-19, que é de 79,5%, e ainda mais do patamar imediatamente anterior à crise de 2014-2016. No 1º trim/14, a utilização da capacidade estava em 82,6%.
Diferentemente da FGV, a pesquisa da CNI, mostra que a utilização da capacidade instalada da indústria ficou praticamente estável de abr/21 para mai/21. Atingiu 81,6%, após ajuste sazonal, registrando declínio de apenas 0,3 ponto percentual ante o mês anterior. Isso consolida um nível persistentemente superior ao observado antes da crise (78% em fev/20). Em relação a mai/20, o aumento foi de 9,4 pontos percentuais.
Vale apontar, contudo, a reação ainda não foi capaz de superar o efeito negativo da sobreposição das crises de 2014-2016 e da Covid-19, mas tem se aproximado disso. O nível atual da utilização permanece abaixo daquele do 1º trim/14 (82%).
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria em mai/21 variou +0,5 ponto em relação a abr/21, para 49,9 pontos. Por se encontrar praticamente na marca de 50 pontos, o indicador sugere estoques em estabilidade. No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador registrou 50,1 pontos (+0,5 ponto frente a abr/21), apontando aumento de estoques, e na indústria extrativa ficou em 46,4 pontos (-2,0 pontos), sinalizando diminuição de estoques.
Este quadro dos estoques mais equilibrados sugere uma redução da vulnerabilidade das cadeias produtivas a repiques inesperados de comandas, amenizando os gargalos em diversos elos que temos visto desde o ano passado.
Na avaliação dos empresários, os estoques efetivos da indústria geral ficaram, mais uma vez, abaixo do nível planejado (50 pontos), com um indicador de satisfação em 49,2 pontos em mai/21, isto é, patamar melhor do que em dez/20 (+3,7 pontos), mas inferior ao de abr/21 (-0,4 ponto).
No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 50,1 pontos e 49,1 pontos, respectivamente, isto é, no nível de equilíbrio (50 pontos) no primeiro caso e abaixo dele no segundo caso. Apesar disso, a insuficiência de estoques na indústria de transformação tem se amenizado, depois de atingir a pior avaliação no bimestre set-out/20 (43,1 pontos).
No grupo da indústria de transformação, a situação dos estoques até pode ter se tornado mais amena no início de 2021, mas o problema continua difundido para um amplo conjunto de ramos. Depois de praticamente todos os ramos industriais acompanhados pela CNI apresentaram estoques menores do que o planejado (50 pontos) em dez/20 (96% do total), em mai/21, 16 dos 26 ramos acompanhados pela CNI (ou 61,5% do total) permaneceram abaixo da linha de 50 pontos, mostrando uma recomposição parcial dos estoques industriais.
Entre os 10 ramos acima de 50 pontos destacam-se: calçados (57 pontos), bebidas (55,1 pontos), outros equipamentos de transporte (52,8 pontos) e têxteis (52,3 pontos), entre outros. Estão mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: madeira (39,6 pontos), minerais não metálicos (42,5 pontos), vestuário (43,9 pontos) e metalurgia (44 pontos) etc.
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI, que vinha evoluindo negativamente desde jan/21, voltou a subir a partir de abr/21 e atingiu 61,6 pontos em jun/21. Assim, não só está na região de otimismo (acima de 50 pontos), como atingiu sua melhor marca desde dez/20, trazendo perspectivas mais favoráveis para o setor nos próximos meses.
Esta melhora do estado da confiança resultou sobretudo de seu componente de expectativas em relação ao futuro, que passou de 62,3 pontos em mai/21 para 65,0 pontos em jun/21, embora a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios também tenha progredido. Este último componente atingiu 54,7 pontos em jun/21, retornando à região de otimismo (acima de 50 pontos), depois de três meses seguidos de pessimismo. Vale lembrar que este componente do indicador de confiança havia registrado 60,2 pontos em dez/20, o que dá ideia do tamanho da involução nesta entrada de 2021.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV também passou por um movimento descendente. Encontrava-se em 114,9 pontos em dez/20 e em jun/21 ficou em 107,6 pontos, já descontados os efeitos sazonais. Frente a mai/21, porém, houve alta de +3,4 pontos. Como se manteve acima da linha dos 100 pontos, indica que os empresários industriais estão confiantes, mas menos do que estavam no final do ano passado.
O resultado em jun/21, foi influenciado por seus dois componentes. A avaliação em relação ao futuro passou de 99,0 pontos em mai/21 para 111,3 pontos em jun/21, retornando à região de otimismo. Já a avaliações da situação atual aumentou 109,5 pontos em mai/21 para 111,3 pontos em jun/21.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Este indicador está acima dos 50 pontos desde jun/20, apontando melhora das condições de negócio neste período. Em jun/21, depois de meses de deterioração, deu sequência à reação iniciada em mai/21, passando de 53,7 pontos para 56,4 pontos.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)