Carta IEDI
Ainda sem progresso
O ano de 2021 se aproxima do fim e o quadro industrial continua sem progressos. Segundo os últimos dados do IBGE, o setor seguiu em contração em set/21, totalizando sete dos nove meses deste ano no vermelho. A produção da indústria perdeu todo o avanço que obteve na segunda metade de 2020 e hoje se encontra menor do que era antes do choque da Covid-19.
Na passagem de ago/21 para set/21, já descontados os efeitos sazonais, houve declínio de -0,4%, levando a produção industrial para um patamar 6,3% inferior àquele de dez/20. Em relação ao pré-pandemia, isto é, em comparação com fev/20, o jogo virou para a indústria ao longo destes nove meses de 2021.
Em dez/20, a indústria encontrava-se 3,3% acima do nível de produção pré-pandemia e 65% dos 26 ramos acompanhados pelo IBGE já haviam superado o choque inicial da Covid-19. Já em set/21, a indústria voltou a ficar 3,2% abaixo do patamar de fev/20, sendo que agora 65% de seus ramos também apresentaram defasagem.
Na raiz desta reviravolta está o fato de os efeitos diretos da pandemia terem dado origem a desdobramentos também muito adversos ao crescimento industrial, como gargalos nas cadeias produtivas, aceleração da inflação, desemprego elevado etc. Aos quais outros desafios se somaram, como crise hídrica, tensões políticas e dúvidas sobre as reformas estruturais. Tudo isso gera incertezas, amplia custos e restringe mercado para bens industriais. O que tem ajudado um pouco é a alta das exportações do setor, que em jan-set/21 chega a +15,3% em quantum.
Diante do desempenho decepcionante em 2021, indicadores da CNI e da FGV sugerem abalo na confiança do empresário industrial. Ambos registram queda desde o início da segunda metade do ano, ensejada tanto pela avaliação da situação presente como pelas expectativas em relação ao futuro. Apesar disso, por ora, permanecem na região de confiança, mas caminham para a estabilidade.
Nem mesmo o bônus estatístico, derivado de bases muito deprimidas de comparação do ano passado, consegue mais atenuar a fase de baixo dinamismo. No 3º trim/21 frente ao 3º trim/20, a indústria registrou queda de -1,1%. Sugerindo que este resultado ainda pode se agravar, só no mês set/21 a perda chegou a ser quase quatro vezes mais intensa: -3,9% ante set/20.
Nem mesmo bens de capital, que vinham apresentando uma evolução mais favorável, se salvaram em set/21. Sua produção registrou -1,6% ante ago/21, na série com ajuste sazonal. Os demais macrossetores industriais ficaram virtualmente estagnados.
Depois de meses seguidos de alta na produção, bens de capital já acumulam dois recuos seguidos, tanto em ago/21 como em set/21 na série com ajuste sazonal. Em relação ao ano passado, ainda crescem com intensidade (+15% ante set/20), mas a uma taxa que foi reduzida pela metade do que era. Esta desaceleração foi generalizada, mas atingiu com intensidade bens de capital para a própria indústria (+1%) e de uso misto (+7%).
Bens intermediários, por sua vez, apresentam uma sequência de seis meses seguidos de queda na série com ajuste sazonal, mas na passagem de ago/21 para set/21 foi quando o quadro se aproximou mais da estabilidade. Em comparação com 2020, não cresce há três meses, resultando em uma perda de -2,0% no 3º trim/21.
Para bens de consumo duráveis, são ainda mais escassos os sinais de recuperação. Não registraram, em 2021, um mês sequer de crescimento na série com ajuste sazonal e frente a 2020 voltaram a um nível intenso de declínio: -22,3% ante set/20 e -16,9% ante o 3º trim/20. Automóveis, eletrodomésticos das linhas branca e marrom e móveis tiveram perdas de dois dígitos em jul-set/21.
Vale lembrar que bens de consumo duráveis, por terem linhas de montagem baseadas em grande número de partes e componentes e por terem maior penetração de insumos importados, estão mais expostos aos gargalos nas cadeias de fornecedores. Além disso, a normalização do consumo de serviços pelas famílias também retira recursos antes canalizados ao mercado desses bens devido à pandemia e ao isolamento social.
Por fim, bens de consumo semi e não duráveis, que já vinham crescendo pouco, parecem estar parando. Embora tenha sido o único macrossetor com variação positiva na série com ajuste sazonal em set/21, sua taxa foi de mero +0,2% ante ago/21. Além disso, recuou nada menos do que -5% frente a set/20, acumulando perda de -2,8% no 3º trim/21. Com preços em alta, alimentos e bebidas ficaram no vermelho, mas também têxteis, higiene e limpeza e produtos farmacêuticos.
Este conjunto de resultados recentes da indústria distancia o setor de uma trajetória consistente de crescimento e compromete os esforços necessários de modernização, no ritmo e na intensidade exigidos, para acompanhar as tendências globais em direção à indústria 4.0 e à sustentabilidade ambiental.
Resultados da Indústria
Em setembro de 2021, a produção industrial voltou a ficar no negativo: -0,4% na comparação com o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais. Este resultado foi a quarta queda consecutiva e a sétima variação negativa nos nove meses de 2021 já cobertos pela pesquisa do IBGE, período em que houve crescimento em apenas um mês (mai/21). Com isso, o setor está novamente abaixo do nível de produção pré-pandemia, isto é, de fev/20: -3,2%.
Os últimos dados mostram que, apesar do retorno do auxílio emergencial, da reativação da economia mundial e do avanço da vacinação contra a Covid-19, a indústria brasileira ainda não conseguiu retomar uma trajetória consistente de crescimento. Escassez de partes, peças e demais componentes continuam prejudicando o desempenho do setor, assim como, cada vez mais, a aceleração inflacionária, a corroer o poder de compra da população e pressionar a estrutura de custos das empresas. Também há aumento da incerteza, decorrente da esfera política, bem como dos efeitos da crise hídrica e do andamento das reformas, notadamente, do sistema tributário.
Na comparação com o mesmo período do ano anterior, a indústria ficou igualmente no vermelho, registrando -3,9%. Com o reforço das bases de comparação decorrente da recuperação da segunda metade de 2020, o desempenho interanual deixa de ser tão favorável quanto vinha sendo nos meses anteriores.
Deste modo, o desempenho no acumulado em jan-set/21 foi de +7,5% ante +11,0% em jan-jul/21. A maior parte desse avanço está concentrado no segundo trimestre do ano (+22,7%), dada a baixa base de comparação de abr-jun/20, devido ao choque da Covid-19. No trimestre jul-set/21, o resultado foi negativo em -1,1% ante jul-set/20. Foi a primeira queda desde o 3º trim/20.
No acumulado dos últimos doze meses findos em set/21, por sua vez, a indústria registrou +6,4%, sendo o quinto resultado positivo consecutivo nesta base de comparação, mas não mais em tendência de aceleração, dado o esmorecimento recente.
Em relação aos macrossetores industriais, na comparação de set/21 com ago/21, descontados os efeitos sazonais, houve variação positiva somente em bens de consumo semi e não duráveis, mas de apenas +0,2%. Todos os demais ficaram no negativo, sendo a maior queda a de bens de capital, com -1,6%. Os demais se aproximaram da estabilidade, com -0,2% em bens de consumo duráveis e -0,1% em bens intermediários.
Na comparação de set/21 com set/20, o esgotamento do bônus estatístico derivado de bases baixas de comparação levou quatro dos cinco macrossetores industriais novamente ao negativo. A maior queda foi em bens de consumo duráveis (-22,3%), seguidos por bens de consumo semi e não duráveis (-5,0%) e bens intermediários (-3,6%). A única variação positiva nesta comparação ficou a cargo de bens de capital, com +15,0%.
O macrossetor de bens de capital, que registrou alta de +15,0%, foi positivamente influenciado por todos os seus grupamentos, com destaque para bens de capital para equipamentos de transporte (+15,5%), bens de capital para construção (+49,1%) e agrícolas (+21,5%). As demais taxas positivas foram bens de capital de uso misto (+7,0%), para energia elétrica (+9,9%) e para fins industriais (+1,0%).
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, entre os que ficaram no vermelho, bens intermediários registraram a menor queda, de -3,6%. Contribuíram para seu declínio de produção em set/21 as atividades de produtos alimentícios (-16,5%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-7,5%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-8,5%), produtos de borracha e de material plástico (-6,7%) e outros produtos químicos (-2,9%), entre outros. Pressões positivas foram registradas por metalurgia (+10,0%), indústrias extrativas (+3,2%), máquinas e equipamentos (+4,0%) e produtos de minerais não-metálicos (+0,6%).
Já a produção de bens de consumo semi e não duráveis, que recuou -5,0% ante set/20, foi muito influenciada pelos declínios registrados nas atividades de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (-6,4%), de semiduráveis (-12,7%) e do grupamento de não-duráveis (-0,5%). A única alta nessa categoria foi a do subsetor de carburantes (+2,0%), impulsionado pelo avanço na produção de gasolina automotiva.
Por fim, a queda mais intensa em set/21 ante set/20, que ficou por conta de bens de consumo duráveis (-22,3%), foi provocada pela redução na fabricação de automóveis (-27,5%), eletrodomésticos da “linha marrom” (-38,1%), eletrodomésticos da “linha branca” (-13,6%), outros eletrodomésticos (-4,3%) e em móveis (-21,5%). O principal impacto positivo veio da maior fabricação de motocicletas (+1,7%).
Por dentro da Indústria de Transformação
A queda de -0,4% da produção industrial geral em set/21 ante ago/21, já realizado o ajuste sazonal, foi acompanhada de variação de -0,2% na indústria de transformação e de -0,3% no ramo extrativo. Dessa forma, a indústria de transformação se encontra 8,2% abaixo do nível de produção de dez/20 e 2,9% abaixo do pré-pandemia, isto é, de fev/20.
Em relação a set/20, tal como a indústria geral (-3,9%), o desempenho da indústria de transformação também foi negativo, porém mais intenso: -4,8%. No caso do ramo extrativo, houve aumento de +3,2%, depois dois meses seguidos de queda.
Frente a ago/21, na série com ajuste sazonal, o resultado de -0,4% da indústria geral teve influência negativa de 10 dos 26 ramos pesquisados. Dentre os destaques negativos estão: metalurgia (-2,5%), couro, artigos para viagem e calçados (-5,5%), outros equipamentos de transporte (-7,6%), bebidas (-1,7%) e móveis (-3,7%) entre outros. Em sentido oposto, registram avanços: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+6,5%), outros produtos químicos (+2,3%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,0%) e máquinas e equipamentos (+1,9%), entre outros.
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou queda de -3,9% na produção em set/21, variações negativas marcaram o desempenho 18 dos 26 ramos, 45 dos 79 grupos e 55,7% dos 805 produtos pesquisados.
As maiores influências negativas nesta comparação interanual vieram de: produtos alimentícios (-11,9%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-7,9%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-4,6%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-18,7%), couro, artigos para viagem e calçados (-16,0%), bebidas (-7,1%), produtos de borracha e de material plástico (-7,7%), móveis (-21,0%) e produtos de metal (-5,7%), entre outros.
Por outro lado, entre as atividades em alta, destacaram-se: máquinas e equipamentos (+14,5%), metalurgia (+10,0%) e impressão e reprodução de gravações (+61,5%), além do ramo extrativo (+3,2%).
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE juntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de set/21 cresceu +11,8% ante set/20, favorecido pelo câmbio mais competitivo e pela reativação da economia mundial. Por sua vez, as importações em quantum de matérias-primas para a indústria avançaram +26,5% na comparação com set/20. Foi a décima primeira taxa positiva consecutiva; todas de dois dígitos.
Assim, no acumulado de 2021, as exportações industriais, que pararam de apresentar sinal negativo a partir de abr/21, registraram crescimento de +15,3% em jan-set/21 frente a igual período do ano anterior. Esta foi a terceira taxa positiva de dois dígitos após o choque da Covid-19. Quanto às importações de matérias-primas para o setor, apresentaram alta expressiva de +30,3% em jan-set/21, um quadro bem diferente de 2020 como um todo (-4,1%).
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, voltou a reagir em set/21 e ficou em 80,2%, avançando para 81,3% em out/21. Assim, mais uma vez superou a média histórica anterior à Covid-19, que é de 79,5%. Apesar disso, permaneceu um pouco abaixo do patamar imediatamente anterior à crise de 2014-2016, que era de 82,6% no 1º trim/14.
Já pesquisa da CNI, mostra que a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação de set/21 manteve-se muito próxima do nível de ago/21, mas não sem nenhuma involução. Atingiu 81,6%, após ajuste sazonal, registrando decréscimo de -0,2 ponto percentual ante o mês anterior. Em relação ao final da primeira metade do ano, entretanto, o declínio mostra-se mais acentuado: -0,8 ponto percentual entre jun/21 e set/21. De todo modo, vem se mostrando em nível persistentemente superior ao observado antes da crise (78% em fev/20). Em relação a set/20, o aumento foi de 2,8 pontos percentuais.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria em set/21 continuou apontando melhora e voltou à região de equilíbrio. Registrou valor de 50,1 pontos, superando pela primeira vez a marca dos 50 pontos desde mar/21.
Estoques mais equilibrados sugerem uma redução da vulnerabilidade das cadeias produtivas a repiques inesperados de comandas, amenizando os gargalos em diversos elos que temos visto desde o ano passado.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI registrou 50,3 pontos (+0,5 ponto frente a ago/21), apontando elevação dos estoques, e na indústria extrativa ficou em 42,7 pontos (-2,6 pontos), sinalizando redução de estoques.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques, que registrou 49,1 pontos, aponta que estes ficaram abaixo do planejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 52 pontos e 48,9 pontos, respectivamente, isto é, abaixo do nível de equilíbrio (50 pontos) neste último caso.
A insuficiência de estoques na indústria de transformação, que tinha se amenizado, aproximando-se muito da linha de 50 pontos em abr-mai/21, se afastou dela a partir em jun/21, não dando sinais de reaproximação desde então.
Ainda no grupo da indústria de transformação, a situação dos estoques até pode ter se tornado mais amena do que na passagem de 2020 para 2021, mas o problema continua difundido para um amplo conjunto de ramos. Depois de praticamente todos os ramos industriais apresentarem estoques menores do que o planejado (50 pontos) em dez/20 (96% do total), em set/21 essa tendência de redução dos estoques manteve-se em 19 dos 26 ramos acompanhados pela CNI, ou seja, em 73% do total (81% em ago/21).
Entre os poucos ramos iguais ou acima de 50 pontos destacam-se: caçados (51,4 pontos), papel e celulose (51,5 pontos) e impressão e reprodução (51,6 pontos). Estão mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: químicos (42,5 pontos), outros equipamentos de transporte (43,8 pontos) e biocombustíveis (44,2 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI, que tinha atingido 63,1 pontos em ago/21, recuou para 58,5 pontos em set/21 e, então, para 57,8 pontos em out/21, sinalizando para um quadro menos favorável também no próximo mês a ser coberto pela pesquisa do IBGE. Apesar disso, permaneceu na região de otimismo, isto é, acima de 50 pontos.
O declínio recente do otimismo deveu-se aos dois componente do indicador. O componente referente às expectativas em relação ao futuro, porém, recuou menos, ao passar de 61,6 pontos em set/21 para 61,2 pontos em out/21. Já o componente que capta a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios foi quem mais regrediu: de 52,4 pontos em set/21 para 51 pontos em out/21. Vale lembrar que este último componente do indicador de confiança havia registrado 60,2 pontos em dez/20.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV caminhou na mesma direção do indicador da CNI em out/21, dando continuidade ao movimento descendente já verificado desde ago/21. Passando de 107 pontos em ago/21 para 105,2 pontos em out/21, já descontados os efeitos sazonais. Como se manteve acima da linha dos 100 pontos durante todo este período, indica que os empresários industriais estão confiantes, mas menos do que estavam em meses anteriores.
O resultado em out/21, foi influenciado por seus dois componentes. Aquele que capta a avaliação dos empresários em relação ao futuro passou de 103,6 pontos em set/21 para 101,9 pontos em out/21. Já a avaliação da situação atual recuou de 109,2 pontos em set/21 para 108,3 pontos em out/21.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Este indicador está acima dos 50 pontos desde jun/20, apontando melhora das condições de negócio neste período, mas nunca esteve tão baixo desde jun/20. Em out/21 ficou em 51,7 pontos, quase 10 pontos a menos do que em dez/20 (61,5 pontos).
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)