Carta IEDI
Adversidades no início de 2022
O ano de 2022 começou com declínio da atividade econômica, em um movimento liderado pela indústria, que continua sofrendo com os gargalos em suas cadeias produtivas, seguida pelo varejo e pelos serviços, cujos negócios foram prejudicados pelo surto da variante ômicron.
Além dos desdobramentos diretamente relacionados à pandemia neste início de ano, as cicatrizes dos piores momentos da crise são obstáculos importantes para um desempenho mais consistente de nossa economia.
Vale mencionar que apresentam taxas de dois dígitos tanto o desemprego, como a inflação aos consumidores e os juros básicos definidos pelo Banco Central (Selic), deprimindo o mercado doméstico. Notadamente para a indústria, que ainda “concorre” com a recomposição da parcela de serviços no orçamento das famílias.
Em jan/22, já descontados os efeitos sazonais, a produção industrial encolheu -2,4% frente a dez/21, enquanto o faturamento real do varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos, autopeças e material de construção, variou -0,3%. No caso dos serviços, desta vez não houve crescimento para compensar o recuo dos outros setores; variou -0,1% na mesma comparação.
Deste modo, o indicador IBC-Br do Banco Central, que funciona como uma proxy do PIB, registrou queda de -0,99% em jan/22 frente ao mês anterior, com ajuste sazonal. Perdeu-se, assim, todo o avanço dos meses anteriores, retornando a um patamar próximo ao de set/21.
Na indústria, embora muito da queda tenha se concentrado em bens de consumo duráveis (-11,5% ante dez/21), o sinal negativo marcou o desempenho de 77% de seus ramos. Nenhum macrossetor escapou do vermelho, o que inclui bens de capital (-5,6%). O panorama regional da indústria também não foi muito melhor do que o setorial, já que 2/3 dos parques industriais perderam produção na entrada do ano.
São Paulo e Rio de Janeiro, que formam o principal eixo industrial do país, ficaram no negativo em jan/22 , mas ao menos não caíram tanto quanto outros parques. Frente a dez/21 registraram -1,0% e -1,4%, respectivamente, contribuindo para que o desempenho nacional do setor não fosse pior.
Entre as indústrias regionais que caíram mais do que o total Brasil em jan/22, os casos mais agudos incluem o Norte, tanto em Amazonas (-13%) como no Pará (-9,8%), parte do Nordeste, com Ceará (-3,8%) e Pernambuco (-5,0%), e, no Centro Sul, as indústria do Paraná (-5,1%) e de Minas Gerais (-10,7%). O período de chuvas intensas neste início de ano foi um fator adverso a mais, afetando principalmente os resultados do ramo extrativo do Pará e de Minas Gerais.
No varejo, ficaram no vermelho 7 do 10 segmentos acompanhados pelo IBGE e em 5 deles não foi a primeira vez que deixaram de expandir as vendas nos meses recentes. Dada a evolução na virada do ano, pode-se dizer que o varejo vem andando de lado, isto é, oscilando em torno da mera estabilidade. É o que mostram as médias móveis trimestrais com ajuste sazonal desde novembro do ano passado.
Em jan/22, perderam mais aqueles ramos cujas vendas tendem a demandar presença física, como tecidos, vestuário e calçados (-3,95) e veículos (-1,9%), mais sujeitos ao impacto do repique de contágio pela variante ômicron.
Além da queda de veículos, variações negativas reincidentes em móveis e eletrodomésticos e o baixo dinamismo em informática e comunicação não trazem bons sinais para a indústria de bens de consumo duráveis. Menos vendas no varejo significam menos comandas para reposição de estoques.
O setor de serviços, por sua vez, não saiu do lugar neste início de 2022, tendo interrompido a sequência de bons resultados do último bimestre do ano passado. Ainda assim, os serviços continuam sendo o setor que mais tem progredido ultimamente.
Em comparação com jan/21, seu faturamento real registrou alta de +9,5% e em relação com o pré-pandemia está 7% acima do nível de faturamento de fev/20. Ao menos para o setor como um todo, não há sinais da inflexão pela qual indústria e comércio passaram. Muito disso devido à vacinação contra a Covid-19.
Indústria
Em jan/22, o declínio do total Brasil da produção industrial, que foi de -2,4% frente ao mês anterior, decorreu de sinais negativos em 77% de seus ramos e em 2/3 dos parques regionais do setor. A involução, mais aguda em bens de consumo duráveis, não poupou os grandes centros industriais do Sudeste do país, mas se mostrou bem mais intensa sobretudo na região Norte e em parte do Nordeste.
Na passagem de dez/21 para jan/22, nenhum dos macrossetores industriais escapou do negativo, ainda que a maior perda foi em bens de consumo duráveis (-11,5%), anulando as variações positivas de nov/21 e dez/21 e registrando o patamar mais baixo desde jun/20.
Muito disso deveu-se à indústria automobilística, particularmente afetada por gargalos nas cadeias de fornecedores. Entre dez/21 e jan/22 caiu -17,5%, já descontados os efeitos sazonais. Outros ramos de duráveis, que viram elevação de estoques no final do ano passado, também pisaram forte no freio: -4,5% em informática e eletrônicos e -5,0% em móveis, por exemplo.
Bens de capital e bens intermediários vieram em seguida: -5,6% e -1,9%, respectivamente, já descontados os efeitos sazonais. Em ambos os casos, jan/22 anulou o crescimento de dez/21. Bens de consumo semi e não duráveis foram os que menos caíram, ao registrarem -0,5%.
Do ponto de vista regional, os dados do IBGE mostram que 10 dos 15 parques industriais acompanhados ficaram no vermelho na passagem de dez/21 para jan/22, já descontados os efeitos sazonais, sendo que 6 delas caíram mais do que o agregado nacional.
São Paulo e Rio de Janeiro, que formam o principal eixo industrial do país, perderam produção na virada do ano, mas ao menos não tanto quanto outros parques. Frente a dez/21 registraram -1,0% e -1,4%, respectivamente, contribuindo para que o desempenho nacional do setor não tivesse sido pior.
Apesar disso, vale observar que a indústria paulista começou o presente ano em uma situação inferior ao início de 2021, devido à grande maioria de seus ramos (83% em queda). Frente a jan/21, acusou perda de -8,7%, com perdas particularmente fortes em borracha e plástico (-24,2%), têxteis (-26,1%), veículos (-28,1%) e farmacêuticos e farmoquímicos (-36,3%).
Ou seja, o maior e mais completo parque industrial do país pode não ter liderado o recuo na entrada de 2022, mas nem por isso deixa de sinalizar desaquecimento em seu nível de atividade, especialmente em comparação com o início do ano passado.
Entre os que caíram mais do que o total Brasil em jan/22, os casos mais agudos incluem os parques do Norte, tanto Amazonas como Pará, parte do Nordeste, com Ceará e Pernambuco, e no Centro Sul, as indústria do Paraná e de Minas Gerais.
Os recuos de Pará (-9,8% ante dez/21) e de Minas Gerais (-10,7%) estiveram muito associados ao desempenho negativo de seus ramos extrativos, que tem uma participação relevante em suas estruturas industriais. O período de chuvas intensas neste início de ano contribuiu para esta evolução. Frente a jan/21, também ficaram aquém do total Brasil (-24,4% e -9,8%, respectivamente).
A maior queda, contudo, ficou por conta da indústria do Amazonas, que sofreu forte oscilação na passagem do ano: +14,3% e -13,0% em dez/21 e jan/22, respectivamente, na série com ajuste sazonal. O ramo de bebidas foi um dos que mais contribuíram para a involução recente e ante jan/21 registrou declínio de -17,7% em sua produção, à frente de eletroeletrônicos (-8,2%).
No Nordeste, o crescimento da Bahia (+1,2% ante dez/21), embora pequeno, contribuiu positivamente para o resultado da região, compensando parcialmente o recuo de Ceará (-3,8%) e, principalmente, de Pernambuco (-5,0%). Em seu agregado, a variação de -1,6% da indústria nordestina anulou a expansão de +0,8% de dez/21.
No Sul do país, o Paraná continua sendo exceção. Em dez/21, havia sido o único estado a ampliar produção; agora em jan/22 foi o único a contrai-la: -5,1% ante dez/21, com ajuste sazonal. Rio Grande do Sul registrou +0,8% e Santa Catarina, +0,9%. Em comparação com o início de 2021, a indústria paranaense também ficou no vermelho em decorrência de retrocessos intensos em veículos, móveis e máquinas e equipamentos.
Comércio
O comércio varejista, ao menos em seu conceito restrito, cresceu +0,8% na entrada de 2022, mas não em intensidade suficiente para fazer frente ao retrocesso do final do ano passado. Se consideradas também as vendas de veículos, autopeças e material de construção, seu resultado não se mantém e passa a ficar no negativo: -0,3%, já descontados os efeitos sazonais.
Assim, dada a evolução na virada do ano, pode-se dizer que o varejo vem andando de lado, isto é, oscilando em torno da mera estabilidade. É o que mostram as médias móveis trimestrais com ajuste sazonal desde novembro do ano passado.
Na passagem de dez/21 para jan/22, ficaram no vermelho 7 do 10 ramos acompanhados pelo IBGE e em 5 deles não foi a primeira vez que deixaram de expandir vendas nos meses recentes. Entre os fatores a restringir a evolução do setor estão um novo surto de Covid-19, alta da inflação e dos juros e desemprego ainda muito elevado.
Perderam mais aqueles ramos cujas vendas tendem a demandar presença física, como tecidos, vestuário e calçados (-3,9%) e veículos (-1,9%). Com o repique de contágio pela variante ômicron no início deste ano, estas parcelas do varejo foram mais afetadas.
Além da queda de veículos, variações negativas reincidentes em móveis e eletrodomésticos e o baixo dinamismo em informática e comunicação não trazem bons sinais para a indústria de bens de consumo duráveis, que, como visto ontem, lideraram a perda de produção na entrada de 2022. Menos vendas no varejo significam menos comandas para reposição de estoques.
Ramos de bens de consumo duráveis também estão entre os que pior se encontram em comparação com início do ano passado. Móveis e eletrodomésticos, por exemplo, apresentaram queda de -11,4% ante jan/21 e informática e comunicação de -7,1%, isto é, muito além das perdas do varejo total (-1,9% em seu conceito restrito e -1,5% em seu conceito ampliado).
Supermercado, alimentos, bebidas e fumo assim como combustíveis e lubrificantes são outros dois ramos com evolução restringida pela elevação de preços de muitos de seus produtos, sem mudanças na passagem de dez/21 para jan/22, quando registraram -0,1% e -0,4%, respectivamente, já descontados os efeitos sazonais.
Entre os poucos ramos que conseguiram crescer, está o de outros artigos de uso pessoal e doméstico, que passou por forte oscilação na virada do ano (-9,9% em dez/21 e +9,4% em jan/22), e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, que após uma fase de virtual estabilidade na segunda metade do ano passado, registraram na série com ajuste sazonal três meses seguidos de aumento mais expressivo das vendas (+2,9%; +3,2% e +3,8% de nov/21 a jan/22).
Serviços
O setor de serviços não saiu do lugar neste início de 2022, tendo a sequência de bons resultados do último bimestre do ano passado interrompida pelo recente surto da variante ômicron. Seu faturamento real variou -0,1% ante dez/21, já descontados os efeitos sazonais, devido a recuos em 60% de seus ramos.
A despeito deste resultado fraco, os serviços continuam sendo o setor que mais tem progredido ultimamente. Em comparação com jan/21, registrou alta de +9,5% e em relação com o pré-pandemia está 7% acima do nível de faturamento de fev/20. Ao menos para o setor como um todo, não há sinais da inflexão pela qual indústria e comércio passaram. Muito disso devido à vacinação contra a Covid-19 e ao controle do quadro pandêmico.
Há, contudo, segmentos com um longo caminho pela frente. Vejamos o caso dos serviços prestados às famílias, que está 13,2% abaixo do pré-pandemia e na passagem de dez/21 para jan/22 apresentou a segunda maior queda entre os ramos de serviços: de -1,4% com ajuste sazonal.
É possível que boa parte do impulso que a melhora da pandemia trouxe ao ramo de serviços prestados às famílias venha sendo anulada pela queda do poder de compra da população, afetado pelo desemprego e aceleração da inflação. Ainda assim, está melhor do que em jan/21, quando mal havia vacinação.
Por sua vez, o ramo de informação e comunicação, que assumiu uma trajetória mais oscilante nos últimos meses, e o de outros serviços, que reúne uma ampla gama de atividades, também perderam faturamento na entrada do ano. Neste último caso, manteve-se abaixo do pré-pandemia (-0,6%).
Os segmentos que conseguiram crescer em jan/22 já vinham de um movimento anterior de expansão, mas ainda assim alguma acomodação registraram. Serviços profissionais, administrativos e complementares foi quem mais desacelerou, passando de +3,3% em dez/21 para apenas +0,6% em jan/22, já descontados os efeitos sazonais. Se mantiveram acima do pré-pandemia por uma pequena vantagem: +1,4% ante fev/20.
Outra parcela dos serviços em crescimento continuado nesta virada do ano foram transportes, armazenagem e correios. O ritmo mais modesto em jan/22 deveu-se muito ao transporte aéreo, que na série com ajuste sazonal, variou somente +0,7%, após crescer em torno de +8% no último bimestre de 2021. Também neste caso, o surto da ômicron desemprenhou um papel importante para este resultado.