Carta IEDI
Novo retrocesso do Brasil na Indústria Mundial
Segundo a última edição do Anuário Internacional das Estatísticas Industriais da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization), o valor adicionado da indústria de transformação mundial cresceu +7,2% em 2021, mais do que compensando o recuo de 2020 (-1,3%), devido ao choque da pandemia. Foi o melhor resultado da última década. Só não superou 2010 (+9,0%), mas neste caso existiam perdas maiores para compensar (-5,9% em 2009).
Este desempenho da indústria mundial em 2021 se deu a despeito de obstáculos importantes, como os da produção de veículos automotores, particularmente prejudicada pelas rupturas nas cadeias de suprimentos de materiais e componentes. Outros veículos de transportes também apontaram queda acentuada do MVA (manufacturing value added) em 2021, bem como coque, petróleo refinado e outros derivados do petróleo, produtos de metal e têxteis.
Por sua vez, os ramos farmacêutico, de equipamentos elétricos e computadores, produtos óticos e eletrônicos conseguiram se manter no positivo nos últimos três anos, sendo que este último segmento tornou-se, em 2021, o maior segmento da indústria de transformação em termos de MVA mundial.
Entre os diferentes países, a China preservou sua posição de líder no ranking das maiores indústrias de transformação no ano passado, atingindo sua maior participação já registrada, de 30,5% do valor adicionado do setor (MVA). O topo do ranking se completa com EUA (16,8%), Japão (7,0%) e Alemanha (4,8%).
Dois países merecem destaques por sua performance recente. Um deles é a Índia, que ocupou o posto de 5ª maior indústria manufatureira do mundo, com uma participação de 3,2% do MVA mundial em 2021, quase o dobro da parcela de 2005. Em outras ocasiões, o IEDI discutiu o esforço do governo indiano em fortalecer suas competências industriais, como nas Cartas IEDI n. 709 e n. 849.
O outro país é Taiwan, cuja participação na indústria de transformação mundial progrediu de apenas 1,0% em 2005 para 1,6% em 2021, quando ocupou a 10ª posição do ranking da UNIDO. Em praticamente uma década Taiwan desbancou o Brasil do ranking, que ocupada a 10ª em 2010. Quem também nos ultrapassou nos últimos anos foram Indonésia e Turquia.
De fato, o Brasil vem sistematicamente sendo rebaixado no ranking da indústria global. Entre 2020 e 2021, nossa posição relativa seguiu piorando, com a participação brasileira no MVA mundial recuando de 1,31% para 1,28%. Em 2005, tínhamos a 9ª maior indústria de transformação do mundo, em 2020 éramos a 14ª e em 2021 caímos para a 15ª posição no ranking.
Na competição internacional pelo desenvolvimento de capacidades industriais e, assim, na consolidação de trajetórias robustas de crescimento econômico e da renda da população, não basta registrar expansão do valor adicionado pelo setor. É preciso que ocorra em ritmo semelhante ao restante do mundo e, no caso do Brasil, aproximando-se da performance de outros emergentes de destaque.
Em 2021, em termos reais, enquanto o MVA mundial cresceu +7,2%, o do Brasil variou +4,8%, embora contasse com uma base de comparação muito mais fraca (-4,3% em 2020). Já faz mais de uma década que ficamos abaixo do desempenho industrial global, com o que não surpreende a rota descendente de sua posição no ranking da UNIDO.
A reversão deste quadro vai precisar, como o IEDI vem defendendo há muito tempo, ações sistêmicas que melhorem o ambiente de negócios no país, a começar por uma reforma tributária que nos aproxime do padrão mundial de impostos sobre valor adicionado (IVA) e por uma maior integração ao comércio internacional. Serão necessárias também medidas direcionadas às tendências da digitalização, sustentabilidade e resiliência, que constituem eixos de modernização e de alavancagem da produtividade industrial.
Ao se fazer isso, dado que a indústria é um veículo do desenvolvimento socioeconômico, é o país como um todo que ganha. Tanto é assim que o fortalecimento industrial integra os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, recebendo ênfase nesta última edição do Anuário da UNIDO.
A necessidade de revitalizar a indústria brasileira é clara quando, na maior parte dos indicadores do ODS 9 providos pela UNIDO (correspondente à indústria, inovação e infraestrutura), o desempenho do Brasil foi decrescente e ficou aquém da média mundial e do grupo de economias industrializadas de renda média ao qual pertencemos.
Por exemplo, a participação da indústria de transformação no PIB, segundo os dados atuais da UNIDO, caiu entre 2015 e 2021 de 10,5% para 10,2% no Brasil, ficando bem aquém da média de 22,9% dos países do grupo ao qual o Brasil pertence e do agregado mundial, de 16,9%. O MVA per capita do Brasil encolheu de US$ 927 em 2015 para US$ 875 em 2021, o que equivale a 42% do MVA per capita dos países industrializados de renda média e quase 50% do valor na média mundial.
Quanto à indústria de média e alta intensidade tecnológica, os dados da UNIDO mostram uma participação no MVA total para o Brasil em queda: de 35,5% em 2015 para 33,7% em 2021. A média do grupo a que o Brasil pertence é de 39,3% e no agregado do setor no mundo, de 45,1%.
A única exceção cabe à intensidade de CO2 emitidos pela indústria de transformação, mas mesmo neste caso não conseguimos superar a performance do agregado do setor no mundo. Entre 2015 e 2019 (último dado disponível) a média do Brasil em kg de CO2 por dólar de valor adicionado na indústria de transformação (a preços de 2015) se reduziu de 0,47 para 0,43, igualando-se à média mundial (0,43). Em relação ao conjunto de países industrializados de renda média (0,63), nós nos saímos melhor.
Mundialmente, a indústria de transformação sozinha respondeu por 18% das emissões de CO2, relacionadas ao consumo de energia. Houve queda das emissões de -5% em 2020, mas novo aumento de +6% em 2021. Atualmente, são os países industrializados de renda média que mais emitem CO2 a partir da indústria de transformação, seguidos pelos de alta renda. Mas todos os grupos de economias estão conseguindo reduzir emissões de CO2 por unidade de MVA, segundo a UNIDO.
Introdução
Na edição mais recente do seu Anuário Internacional das Estatísticas Industriais, divulgado agora no final de 2022 com informações de 2021, a UNIDO (United Nations Industrial Development Organization), além da costumeira revisão de dados anteriores, também atualizou alguns aspectos de sua metodologia que serão destacados a seguir.
Quanto à definição setorial, as estatísticas da UNIDO estão de acordo com a ISIC Rev.4 (International Standard Industrial Classification of All Economic Activities), que inclui no termo “indústria” as atividades de extração e mineração (setor B), da indústria de transformação (setor C), de fornecimento de eletricidade, gás, vapor e ar-condicionado (setor D) e de abastecimento de água; saneamento, gestão de resíduos (setor E).
Para agrupar os países por nível de renda, a UNIDO utiliza o padrão do Banco Mundial. Para definir se os países são industrializados ou “em industrialização”, utiliza métricas de transformação estrutural (MVA per capita em dólares americanos constantes), calculadas a partir das bases de dados próprias.
Assim, a classificação aloca países/áreas em cinco grupos:
• Economias industriais de alta renda: países/áreas que alcançaram uma alta renda nacional através de um caminho de desenvolvimento que resultou em economias altamente industrializadas. Inclui 40 países, entre os quais: EUA, Alemanha, Japão e Taiwan.
• Economias em industrialização de alta renda: países/áreas com alto nível de renda, mas com níveis relativamente baixos de industrialização. Reúne 35 países, incluindo Emirados Árabes, Bahamas, Grécia e Portugal.
• Economias industriais de média renda: países/áreas classificadas como economias de renda média, mas que já alcançaram resultados positivos em termos de indicadores de transformação estrutural. Agrupa 32 países, incluindo Brasil, China, Malásia, México, Rússia, Indonésia, Tailândia, Venezuela e África do Sul.
• Economias em industrialização de média renda: países/áreas classificadas como de renda média, mas que ainda permanecem em níveis comparativamente baixos de industrialização. São algumas das economias que mais poderiam se beneficiar, segundo a UNIDO, da priorização do desenvolvimento industrial em suas estratégias políticas e inclui 78 países, como Bolívia, Botsuana, Líbano, Ucrânia e Vietnã.
• Economias em industrialização de baixa renda: países/áreas que permanecem em níveis baixos de renda e que também apresentam pouco desenvolvimento industrial. Também ganhariam muito com um processo acelerado de mudança estrutural que poderia ajudá-las a escapar da armadilha do desenvolvimento. Compreende 26 países, incluindo Afeganistão, Burundi, Malaui, Uganda e Yemen.
Panorama da indústria de transformação mundial
Em 2021, a indústria representou 21,8% do PIB mundial, sendo que a indústria manufatureira respondeu por 77,7% do seu valor agregado, o equivalente a 17% do PIB mundial. O valor adicionado da indústria total (IVA) cresceu 6,4% em 2021, depois de ter recuado 1,6% em 2020, sempre em dólares constantes de 2015.
Vale observar que, apesar de a pandemia da COVID-19 ter impactado severamente a indústria, na maioria dos países ela já havia retornado aos patamares pré-pandêmicos ao final de 2020 e continuou se expandindo ao longo de 2021.
Já o valor adicionado na produção mundial apenas do segmento da indústria de transformação (manufacturing value added: MVA) cresceu 7,2% em 2021, enquanto o valor adicionado da indústria extrativa e utilidades (setores B, D e E somados – mining and utilities value added: MUVA) progrediu a metade disso: 3,1%.
Mundialmente, mas principalmente nas economias de renda média, desde 2010, o MVA manteve taxas de crescimento consistentemente superiores às do PIB e às do MUVA, indicando ser o segmento manufatureiro o mais dinâmico da indústria. Em 2021 as economias industrializadas responderam por 91,0% do valor gerado, denotando concentração mais aguda do que no ano anterior.
Analisando-se o ranking dos países em termos de MVA no ano de 2021, a China manteve a liderança com 30,5% do total, isto é, quase a soma do MVA dos 4 países seguintes no ranking: EUA (16,8%), Japão (7,8%), Alemanha (4,8%) e Índia (3,2%).
A Índia tem sido um destaque nos últimos anos, ascendendo da 13ª posição em 2005 para a 5ª posição em 2021. Como o IEDI discutiu em outras ocasiões, como nas Cartas IEDI n. 709 e n. 849, o governo indiano tem buscado fortalecer suas competências industriais, o que pode ter contribuído para esta importante evolução no ranking.
No ranking dos 15 maiores produtores de manufaturas, destaca-se também o ganho de relevância da Indonésia e da Turquia, que ultrapassaram o Brasil nos últimos anos.
Em 2021, o Brasil deu continuidade à sua trajetória descendente e caiu para da 14ª posição, que ocupada em 2020, para a 15ª colocação no ranking mundial de manufaturas. Sua parcela no MVA mundial recuou de 1,31% para 1,28% entre 2020 e 2021.
Vale lembrar ainda que, em 2019, o Brasil havia ocupado a 13ª posição também com 1,3% da manufatura global, mostrando que não basta preservar sua participação para evitar ser ultrapassado por outros países e, consequentemente, ter sua posição no ranking rebaixada.
A perda de posição na indústria de transformação global é patente: em 2005, o país detinha 2,2% do MVA mundial em 2005 e ocupava a 9ª posição do ranking, isto é, encontrava-se no “pelotão de elite” do setor no mundo todo.
Desempenho mundial dos setores industriais
Todos os setores de manufaturas se recuperaram do choque da Covid-19 entre abril e junho de 2020. As economias industriais, embora tenham registrado menores perdas de produção do que as economias em industrialização, apresentaram uma retomada mais intensa nos setores de média-alta e alta tecnologia, a partir do terceiro trimestre de 2020. A recuperação nas indústrias de baixa tecnologia tem sido mais lenta nos dois grupos de países.
Contrastando 2020 e 2021, a UNIDO indica que a indústria mundial de veículos automotores tem sido o setor de transformação mais prejudicado pela pandemia, com quebras consistentes na demanda e rupturas nas cadeias de suprimentos de materiais e componentes (indicador IIP ajustado sazonalmente, USD constantes 2015).
Outros veículos de transportes também tiveram queda acentuada do MVA em 2021, bem como coque, petróleo refinado e outros derivados do petróleo, produtos de metal e têxteis. Por sua vez, computadores e eletrônicos, farmacêuticos e equipamentos elétricos foram os únicos setores que conseguiram manter crescimento positivo nos últimos 3 anos, devido à natureza sanitária da crise e as adaptações sociais necessárias.
A indústria e os ODS
Nesta edição do anuário, pela primeira vez, a UNIDO destaca os desempenhos dos países quanto ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 9 (ODS9) sob escopo de sua atuação, que envolve Indústria, Inovação e Infraestrutura da Agenda 2030 da ONU. Os indicadores e suas respectivas metas do ODS9 são:
• Meta 9.2 “Promover a industrialização inclusiva e sustentável e, até 2030, aumentar significativamente a participação da indústria no emprego e no produto interno bruto, de acordo com as circunstâncias nacionais, e duplicar sua participação nos países menos desenvolvidos”. Indicadores: 9.2.1) o valor adicionado da manufatura como proporção do PIB e per capita; 9.2.2) o emprego da manufatura como proporção do emprego total.
• Meta 9.3 “Aumentar o acesso de pequenas empresas industriais e outras, em particular nos países em desenvolvimento, aos serviços financeiros, incluindo crédito acessível, e sua integração em cadeias de valor e mercados. Indicadores: 9.3.1) proporção de indústrias de pequena escala no valor agregado total do setor; 9.3.2) proporção de indústrias de pequena escala com um empréstimo ou linha de crédito.
• Meta 9.4 “Até 2030, modernizar a infraestrutura e modernizar as indústrias para torná-las sustentáveis, com maior eficiência na utilização de recursos e maior adoção de tecnologias e processos industriais limpos e ambientalmente corretos, com todos os países agindo de acordo com suas respectivas capacidades”. Indicador 9.4.1) emissão de CO2 por unidade de valor agregado.
• Meta 9.b “Apoiar o desenvolvimento tecnológico nacional, a pesquisa e a inovação nos países em desenvolvimento, inclusive assegurando um ambiente político favorável para, entre outras coisas, a diversificação industrial e a agregação de valor às commodities”. Indicador 9.b.1) proporção do valor agregado da indústria de média e alta tecnologia no valor agregado total.
Como defende a Agenda 2030, a indústria de transformação é um dos setores mais dinâmicos na economia global, tanto em termos de peso econômico quanto de vínculos com todos os outros setores. Promove desenvolvimento econômico porque é agente fundamental do avanço tecnológico, que leva ao crescimento da produtividade, conhecimento e inovação.
Por isso que a transformação estrutural na direção das atividades industriais de maior valor agregado pode ser um caminho seguro para se alcançar níveis de renda mais altos e prover meios de subsistência sustentáveis para a população. Logo, a industrialização apoia direta e indiretamente a realização dos ODS através da criação de empregos, melhorias nas condições de trabalho, inovação, desenvolvimento de novas tecnologias de produção e de energia.
A UNIDO observa, ainda, que a crise da COVID-19 demonstrou que a indústria de transformação continua sendo “a espinha dorsal das economias e que as capacidades industriais desempenham um papel fundamental para a resiliência”. Por isso, diferentes graus de desenvolvimento industrial levam a contrastes expressivos na evolução dos indicadores do ODS 9.
O relatório da UNIDO estima que a pandemia fez com que, globalmente, em 2020, quase um em cada três empregos na cadeia de suprimentos de bens manufaturados fosse perdido. E ainda, as horas de trabalho e/ou remuneração foram reduzidas e as condições de trabalho, deterioradas.
A participação global da indústria de transformação no emprego total diminuiu de 13,7% em 2019 para 13,1% em 2020. O impacto foi particularmente acentuado nos países de renda média baixa e média alta, de -11,8% e -7,4%, respectivamente, em comparação com -3,4% nos países de baixa renda e -3,9% nos países de alta renda.
Em 2021, a recuperação do emprego foi tímida e desigual. Apesar da recuperação da atividade econômica, o emprego global ainda não atingiu os níveis pré-pandêmicos. Através de seu impacto diferenciado nos variados tipos de empresas, a pandemia afetou significativamente a composição do emprego entre 2019 e 2020, com as mulheres e os jovens mais severamente afetados.
Além disso, a crescente brecha de produtividade entre economias de baixa e alta renda está comprometendo o crescimento inclusivo e a criação de empregos decentes.
Sobre a emissão de CO2 relacionada à energia, houve queda de 5% em 2020 e novo aumento de 6% em 2021, com crescimento contínuo desde 2011. Do montante total de US$ 31,5 bilhões, 18% vem da indústria de transformação (cerca de 6 bilhões). Atualmente, os países de renda média industrializados são aqueles que mais emitem CO2 a partir da indústria de transformação, seguidos pelos de alta renda.
Mas analisando-se as emissões de kg CO2 por unidade de MVA, constata-se que todos os grupos de economias estão conseguindo reduzi-lo. Entretanto, em 2019, tal indicador ainda era inferior nos países de alta renda e superior nos países de baixa renda, a despeito da acelerada queda no primeiro grupo.
Como ressalva a UNIDO, a descarbonização dependerá da ação coletiva dos governos e do setor privado, bem como da comunidade global, em priorizar a mudança climática em seus planos de ação para a recuperação pós-pandêmica.
Mundialmente, o setor industrial teria condições de contribuir para a recuperação sustentável melhorando a eficiência energética, com uma redução potencial de emissões de aproximadamente dois bilhões de toneladas de CO2 até 2030 (-20%), conforme estimativas da Agência Internacional de Energia de 2020.
Mas as emissões de CO2 fornecem apenas uma visão parcial dos impactos da indústria sobre o meio ambiente. De fato, é necessário um conjunto mais amplo de medidas para avaliar a conta completa de como a atividade industrial afeta a natureza, incluindo as emissões de outros gases de efeito estufa além do CO2, geração de resíduos, uso da água, poluição das fontes de água e da terra, etc.
Neste sentido, a UNIDO advoga por uma ação concertada para definir as métricas mais relevantes deste impacto amplo e coletar e disseminar regularmente os dados afins.
O desempenho da indústria de transformação do Brasil comparativamente ao mundo
Assim, há mais de uma década a taxa de variação anual do MVA brasileiro acompanha as tendências mundiais em um ritmo sistematicamente mais lento (em dólares constantes de 2015). Em 2021, enquanto o PIB e o MVA, em termos reais, cresceram respectivamente 5,8% e 7,2% no mundo, no Brasil os aumentos foram de 4,6% e 4,8%, respectivamente.
Embora positiva, esta variação do MVA no Brasil não foi capaz de repor as perdas de uma queda média anual de -1,5% entre 2016 e 2020 e de -2,1% entre 2011 e 2015. Em contraste, o MVA mundial cresceu 2,3% e 3,6%, respectivamente, nestes dois períodos.
O MVA per capita no Brasil em 2021 foi de apenas US$ 875, enquanto no mundo foi de US$ 1.853 e nos países industrializados de renda média, de US$ 2.059. Enquanto o MVA per capita mundial e desse grupo de países cresce continuamente desde 2000 (exceto 2009), o MVA per capita do Brasil decresce desde 2013 e se encontrava em 2021 em patamar inferior a 2000.
A parcela da indústria de transformação no PIB brasileiro ficou em 10,2% a dólares constantes de 2015, bem aquém dos 16,9% da média mundial e dos 22,9% nos países do seu grupo de economias industrializadas de renda média. Já a parcela da indústria de transformação no emprego total foi de 11,8%, enquanto no mundo foi 13,6% e no seu grupo, 16,5%.
A parcela das indústrias de média e alta tecnologia no MVA total do Brasil foi de 33,7% em 2021, isto é, bem abaixo de sua participação no mundo, que chegou a 45,1%, e no seu grupo de países ao qual o Brasil pertence, que foi de 39,3%.
Na maior parte dos indicadores do ODS9 providos pela UNIDO, o desempenho do Brasil foi aquém da média mundial e dos países do seu grupo de economias industrializadas de renda média, além de terem se deteriorado em relação a 2015.
A exceção cabe apenas à intensidade de CO2 emitidos pela indústria de transformação, mas mesmo neste caso não conseguimos superar a performance do agregado do setor no mundo: em 2019 (último ano disponível) a média brasileira em kg de CO2 por dólar de valor adicionado na indústria de transformação (a preços de 2015) se igualou à média do mundo (0,43), embora tenha se saído melhor do que o conjunto de países industriais de renda média foi mais alta (0,63) a que pertence.
Tomando-se os índices de produção industrial trimestrais da UNIDO, com ajuste sazonal (2015=100), depreende-se que em 2021 a maior parte dos setores indústria de transformação brasileira cresceu, com destaque para máquinas e equipamentos (+24%). Em seguida, vieram veículos automotores, impressão e publicação e outros equipamentos de transporte – que, em sua maioria, tinham assinalado perdas expressivas em 2021. Por outro lado, alimentos farmacêuticos, produtos de tabaco, móveis foram os que apontaram as taxas negativas mais expressivas.
Em 2020, ano mais recente disponível para se calcular a distribuição do MVA brasileiro em setores, mais de 60% se concentrava nas indústrias de alimentos e bebidas (18,5%), seguida por coque e petróleo refinado (15,4%), produtos químicos (14,3%), veículos automotores (6,9%) e máquinas e equipamentos (6,9%).
Em termos de emprego, as divisões industriais mais empregadoras em 2019 eram: alimentos (25,2%), químicos (8,9%), vestuário (7,4%), máquinas e equipamentos (7,4%) e veículos automotores (6,3%). Desde 2010, as parcelas de alimento e bebidas e de produtos químicos nesses indicadores se ampliaram, enquanto a de veículos automotores e metais básicos retraíram.
Em dólares correntes, o salário médio anual dos empregados na indústria de transformação brasileira caiu de US$ 13.352 em 2010 para US$ 8.587 em 2020, generalizadamente entre os setores. Coque e petróleo refinado assinalou salário médio anual cerca de 6 vezes acima da média da indústria (US$ 52 mil), enquanto em vestuário, couro e produtos de madeira não chegaram a US$ 6 mil.
Entre 2010 e 2020, a parcela dos salários no valor adicionado total da indústria de transformação voltou ao patamar de 33,1%. Em 2020, a taxa de salários sobre o valor adicionado superou 50% em vestuário, couro, e outros equipamentos de transporte. Por sua vez, em coque e petróleo refinado foi de apenas 10,5%.
Conclui-se, portanto, que além da indústria de transformação brasileira estar minguando em relação ao PIB, na contratendência mundial e de seu grupo de países industrializados de renda média, a qualidade da indústria também tem se deteriorado, com uma participação cada vez menor dos setores de alta e média intensidade tecnológica.