Carta IEDI
Panorama das Empresas Exportadoras Brasileiras
Recentemente, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços divulgou o interessante estudo “Perfil das Firmas Exportadoras Brasileiras: um Panorama”, que o IEDI retoma nesta Carta. O tema é de grande importância, dada a necessidade de o Brasil se integrar mais e melhor no comércio mundial.
Elaborado a partir, sobretudo, dos dados da Secex/Mdic e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego, para o período 2010-2020, o estudo apresenta um perfil abrangente das empresas brasileiras de todos os setores que exportam.
Detalha aspectos como a proporção das empresas exportadoras, onde elas estão localizadas, quais os mercados de destino preferidos. Igualmente, o estudo examina como se dá a dinâmica de entrada e permanência dessas empresas no comércio internacional e como se diferenciam das demais empresas que não exportam.
Em 2020, havia no Brasil pouco mais de 2,8 milhões empresas ativas em todos os setores de atividade econômica. Para este mesmo ano, os registros da Secex computavam um total de tão somente 24.931 empresas exportadoras, sendo que 2/3 destas era da indústria de transformação.
Estes números significam que cerca de 0,88% do total das empresas ativas exportam. É uma fração muito pequena, com certeza, mas importante notar que houve uma evolução favorável na última década, já que em 2010 a porcentagem era de 0,78%.
Do ponto de vista comparativo, o pequeno número de empresas exportadoras não é um mal só brasileiro, mas também latino-americano. Dados da Cepal para o ano de 2015 mostram que a fração de exportadores era de 0,43% na Colômbia, 0,74% no Chile e até mesmo no México, mais integrado à economia dos EUA, não passava de 0,75%. Para o Brasil, a Cepal encontrou um valor de 0,68% neste ano.
Em economias desenvolvidas, cujas empresas ensejaram a globalização produtiva e costumam se posicionar como líderes de cadeias globais, este percentual é bastante superior, segundo a OCDE: 10,7% na Alemanha, 8,4% na Holanda, 7% nos Estados Unidos, 5,2% na Itália e 3,5% na França, por exemplo.
Dentre os fatores com o potencial de restringir a expansão do número de empresas que exportam no Brasil, o estudo do Mdic ressalta custos de acesso a mercados, como tarifas, fretes, despesas de compliance e de marketing, e a necessidade de patamares mínimos de produtividade e de escala de produção. Embora não haja consenso sobre a relação causal, empresas mais produtivas tendem a ser mais integradas no comércio mundial.
Além destes aspectos os autores também enfatizam: o tamanho do mercado doméstico, que mitiga a atratividade dos mercados externos para as empresas; os custos elevados dos trâmites do processo de exportação – não obstante os esforços recentes de melhoria, como é o caso da criação do Portal Único –, e as barreiras tarifárias impostas pelos países parceiros aos produtos brasileiros.
Em consonância com as predições do modelo gravitacional utilizado pelos autores do trabalho, as empresas exportadoras brasileiras tendem a priorizar destinos geograficamente mais próximos ao Brasil, que possuam economias de tamanhos relevantes e que não imponham tarifas restritivas às mercadorias brasileiras.
Assim, em 2020, a América Latina se destacou como a região preferida pelas exportadoras brasileiras para o envio de seus produtos (61% do total das empresas). Ademais, no mesmo ano, 41% das exportadoras do Brasil enviaram seus produtos a países membros do Mercosul. Porém, outros destinos têm se revelado atrativos para as exportadoras do Brasil.
Empresas que exportam para Estados Unidos, China ou países da União Europeia já representam 60,3% do total, isto é, uma fração muito próxima daquelas empresas que atendem mercados latino-americanos.
De 2010 a 2020, o número de empresas exportando exclusivamente para países não-signatários de acordos comerciais com o Brasil aumentou +55% contra uma expansão de +29% das que exportaram exclusivamente para destinos com os quais o país mantém acordos. Economias sem acordos com o Brasil responderam conjuntamente pela compra de 85% do total exportado pelo país em 2020.
Ou seja, os dados do estudo indicam que as empresas exportadoras não esperaram o firmamento de acordos para diversificarem os mercados atendidos, mas pode-se assumir que este esforço teria sido muito mais difundido e teria maior impacto sobre nossas exportações se mais acordos comerciais tivessem sido negociados e concluídos pelo Brasil nos últimos anos.
Cabe aqui lembrar, aproveitando as informações do Mdic, porque exportar importa. Em geral, os argumentos em defesa da maior abertura comercial e de maior presença do Brasil na economia mundial enfatizam os efeitos positivos sobre a produtividade e competitividade derivados do acesso a tecnologias e insumos por meio da importação. Embora pertinente, isso é só um lado da história.
Como já discutido em outras ocasiões, como nas Cartas IEDI n. 1157 “Integrar-se mais e melhor” e n. 1173 “Produtividade: o desafio brasileiro”, por exemplo, exportar expõe as empresas a outros ambientes concorrenciais, ensejando aprendizados que tendem a alavancar suas competências e sua produtividade. Por isso, exportar também é estratégico para o desenvolvimento do país.
O estudo do Mdic mostra que, em média, as empresas exportadoras pagam salários maiores, contratam mais e usam uma proporção maior de trabalhadores com ensino superior em relação às empresas não-exportadoras. Esses resultados se mantêm mesmo quando se comparam empresas que atuam no mesmo setor de atividade e possuem tamanho semelhante. Em outros termos, exportar gera empregos de qualidade no país.
Além disso, os autores também defendem que exportar para países de alta renda potencializa estes efeitos, já que as empresas tendem a ser ainda mais produtivas e, com isso, podem oferecer melhores salários que as demais. É o que pode ter ocorrido entre 2010 e 2020 quando aumentou a participação de parceiros não-signatários de acordos com o país.
Nossas exportações, além de concentradas em poucas empresas, estas também estão concentradas em poucas regiões. Em 2020, 42,8% das exportadoras estavam localizadas no estado de São Paulo e 11,1% no Rio Grande do Sul. Ou seja, a maioria dos exportadores estão em apenas dois estados.
Paraná (9,3%), Santa Catarina (9,1%) e Minas Gerais (7,5%) também apresentavam participações relevantes. Com isso, as regiões Sudeste e Sul responderam por cerca de 87% das empresas exportadoras brasileiras em 2020, enquanto Norte, Nordeste e Centro Oeste acolheram os 13% restantes.
Outro exercício interessante: os autores combinaram informações da RAIS com os dados de exportação da Secex e dados cadastrais da Receita Federal para determinar as chances de uma empresa se tornar exportadora de acordo com o tempo decorrido após o início das suas atividades e a chance de sobrevivência no mercado externo.
Os resultados das estimativas evidenciam que a maior parte das empresas brasileiras nunca se torna exportadora.
No agregado de todas as empresas ativas existentes no Brasil, a chance de uma nova empresa exportar logo no ano de início das suas atividades é de apenas 0,03%, e essa probabilidade aumenta paulatinamente ao longo do tempo, mas a chance de exportar após a primeira década de atividade chega a apenas 1,04%.
Em contrapartida, vencidos os obstáculos iniciais da inserção no mercado internacional, que não são poucos, as empresas brasileiras apresentam cerca de 65% de chance de se manter no mercado externo após seu primeiro ano como exportadora. Esta probabilidade, contudo, cai expressivamente ao longo do tempo, chegando a 29,3% após uma década.
As chances de exportar logo no primeiro ano de operação são muito baixas independentemente do setor, segundo o estudo. Porém, ao longo de uma década, as indústrias extrativa e de transformação se destacam dentre as atividades econômicas e possuem chances mais significativas do que a média geral, de 7,88% e 3,98%, respectivamente.
Ademais, a probabilidade de exportar é diretamente proporcional ao tamanho da empresa. Aquelas com 250 ou mais empregados possuem uma chance de 5% de exportar logo no seu primeiro ano ante 0,03% para a média total. Essa chance se eleva para 22% na primeira década de atividade ante 1,04% na média. De maneira geral, quanto maior a empresa, também são maiores as chances de sobrevivência no mercado exportador.
Em síntese, poucas empresas brasileiras exportam, em geral as de maior porte e do setor industrial, localizam-se em poucas regiões do país e atendem destinos mais próximos, embora estes tenham se diversificado para além da América Latina. Mas há outra característica: a maior parte das empresas exporta de maneira irregular.
Segundo o estudo, os períodos de exportação consecutiva e ininterrupta possuem uma duração mediana de 3 anos. Este intervalo de tempo relativamente curto está, todavia, em linha com as evidências internacionais, que mostram que o período mediano de exportação é de 4 anos para países desenvolvidos, 3 anos para países em desenvolvimento e de apenas 1 ano para os países menos desenvolvidos.
No corte por setor de atividade econômica, as empresas exportadoras dos setores de agropecuária, indústrias extrativa e de transformação apresentam períodos de exportação superiores ao da mediana geral: 6 anos para os dois primeiros e 4 anos para o último setor. Aquelas classificadas em “outros setores”, em geral empresas de serviços, comércio e construção, é que puxam a média para baixo.
Também neste aspecto, as empresas de maior porte saem na frente. Aquelas com mais de 250 funcionários apresentam períodos de exportação ininterrupta mais extensos, com mediana de 7 anos, isto é, mais do que o dobro do agregado das empresas.
Introdução
A Carta IEDI de hoje traz um resumo do estudo “Perfil das Firmas Exportadoras Brasileiras: um Panorama”, divulgado em junho de 2023 pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, com o objetivo de contribuir para o entendimento de como funciona a dinâmica da exportação e das principais dificuldades enfrentadas no processo de exportar.
Esse estudo apresenta um perfil abrangente das empresas exportadoras brasileiras, detalhando qual a proporção das empresas que exportam, onde elas estão localizadas, quais os mercados de destino preferidos, como se dá a dinâmica de entrada e permanência delas no comércio internacional e como essas empresas se diferenciam das demais empresas que não exportam.
Elaborado a partir, sobretudo, dos dados da Secex/MDIC e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego, que cobrem o período 2010-2020, o estudo também se apoiou em dados de referências internacionais, como os da Cepal e da OCDE, e da literatura sobre comércio exterior.
Visão geral das empresas exportadoras brasileiras
De acordo com o estudo, pelos dados da RAIS, em 2020, havia no Brasil um total de 2.828.823 empresas ativas em todos os setores de atividade econômica, excluídas as de natureza jurídica de Administração Pública, Entidades sem fins lucrativos e Organizações internacionais. Para este mesmo ano, os registros da Secex computavam um total de 24.931 empresas exportadoras de mercadorias, o que corresponde a cerca de 0,88% do total das empresas ativas (ante 0,78% em 2010).
Entre 2010 e 2020, o número de empresas brasileiras exportadores registrou crescimento, como mostra o gráfico a seguir, e a participação desse grupo no total de empresas ativas, embora permaneça baixo, também subiu.
Em termos comparativos, o baixo percentual de empresas exportadoras verificado para o Brasil não destoa do observado para outros países da América Latina. Dados da Cepal para o ano de 2015 mostram que o percentual de empresas exportadoras variou de 0,18% (Paraguai) a 1,05% (Uruguai).
Segundo os autores, os dados da OCDE para os países da União Europeia e para os Estados Unidos corroboram a evidência de que a maioria das empresas não exportam, atuando somente no mercado interno. Contudo, as proporções são maiores do que as observadas na América Latina.
Em 2020, por exemplo, 10,7% das empresas da Alemanha e 8,4% das empresas da Holanda exportaram. Nesse mesmo ano, os percentuais de exportadoras na Itália, na França e na Grécia eram respectivamente de 5,2%, 3,5% e 2,4%, enquanto nos Estados Unidos, as exportadoras representavam 7% do total de empresas em 2015.
No que se refere à proporção do número de funcionários das empresas exportadoras em relação à força de trabalho total das empresas brasileiros, o gráfico a seguir mostra que ocorreu uma ligeira queda de 15,2% em 2010 para cerca de 14,9% em 2020.
Segundo os autores, essa proporção de pessoas empregadas em empresas que exportam no Brasil é também similar à média observada em alguns países da América Latina: 14,6% para Argentina, Chile, México, Peru e Uruguai entre os anos de 2016 e 2018.
Obstáculos à exportação
O estudo destaca que, de acordo com a literatura econômica, os percentuais de empresas que exportam são baixos principalmente em razão dos custos relacionados ao acesso a mercados internacionais. Esses custos são tanto de natureza variável, como tarifas e frete, quanto fixa, como os relacionados a compliance e marketing.
De modo geral, do universo de empresas operando em um país e/ou região, apenas um grupo pequeno, que apresente níveis mínimos de produtividade e de escala de produção, é capaz de alcançar viabilidade financeira para arcar com os custos extras associados à exportação de seus bens e serviços.
Estudos recentes elaborados a partir de dados desagregados ao nível das empresas e com diferentes amostras de países têm apresentado evidências de que as empresas que exportam são, de fato, as maiores e mais produtivas.
No caso do Brasil, os autores ressaltam três fatores adicionais específicos contribuem para limitar a ampliação do número de empresas exportadoras.
O primeiro fator está relacionado ao tamanho do mercado doméstico. Devido ao amplo mercado interno, as empresas brasileiras se beneficiam menos da exploração de mercados internacionais do que aquelas localizadas em países de economias menores. Embora não haja uma relação linear entre tamanho e abertura comercial, a literatura traz evidências de que países com mercados internos limitados são, em geral, mais abertos ao comércio internacional.
O segundo fator são os custos associados aos tramites de exportação, não obstante a criação do Portal Único que permitiu a redução dos tempos médios para o desembaraço e inspeções aduaneiras (Conformidade de fronteira), que passou de 61 horas para 49 horas entre 2015-2020, e para a obtenção da documentação necessária às etapas de desembaraço, transporte e inspeção (conformidade de documentação), que caiu de 30 horas para 12 horas no mesmo período.
No Brasil, esses custos ainda são elevados em comparação com outros países, como a maior parte do Mercosul e dos países do Nafta e União Europeia (UE). Dados do Banco Mundial apresentados nos gráficos abaixo indicam que esses custos eram de US$ 862 para a conformidade de fronteira e de US$ 226 para conformidade documental, em 2020.
O terceiro fator específico que dificulta o crescimento do número de empresas exportadoras no Brasil diz respeito às elevadas tarifas médias de importação aplicadas por parceiros comerciais relevantes para as exportações brasileiras.
Citando dados de uma pesquisa realizada pela CNI, os autores destacam que, em 2018, a tarifa média aplicada ao Brasil (4,6%) era superior tanto à que recaía sobre os demais países da América Latina considerados — Colômbia (1,2%), Chile (1,2%), Peru (1,1%) e México (0,4%) — quanto aquela incidente sobre os outros países dos BRICS — China (3,7%), África do Sul (2,4%) e Rússia (2,0%).
Destino das exportações brasileiras
Segundo o estudo, 61% das empresas exportadoras do país (15.195 do total de 24.931 empresas) comercializaram seus produtos com países da América Latina em 2020: 10.208 empresas enviaram suas mercadorias a países pertencentes ao Mercosul enquanto 10.490 empresas exportaram para parceiros da região que estão fora do bloco econômico.
O gráfico abaixo mostra que cerca de 30% das empresas exportadoras brasileiras destinaram seus produtos para Estados Unidos, União Europeia ou Ásia em 2020. Consideradas em conjunto, o percentual de empresas que exportaram para ao menos uma dessas três regiões foi de 60,3%, sendo, portanto, muito próximo ao daquelas que exportaram para a América Latina.
No gráfico abaixo, que desagrega as exportadoras brasileiras de acordo com os destinos de suas exportações em cada ano do período entre 2010 e 2020, observa-se que em 2020, o número de empresas exportando apenas para regiões sem acordos comerciais com o Brasil ultrapassou aquele das que exportam para destinos que mantêm acordos com o país.
Segundo o estudo, o número de exportadoras que destinaram seus produtos apenas a países sem acordos com o Brasil cresceu 55% no período 2010-2020, contra 29% das que exportaram exclusivamente para destinos com os quais o país mantém este tipo de acordos.
Durante os últimos anos da série (de 2018 a 2020), o crescimento no número de empresas exportando exclusivamente para países não-signatários deste tipo de acordos foi de 34%, um percentual quase sete vezes maior do que aquele referente ao grupo das que exportam apenas para os signatários de tais instrumentos.
O Mercosul ainda é o principal mercado explorado pelas empresas exportadoras brasileiras. Todavia, se observa um crescimento recente de empresas que exportam para países não-signatários de acordos com o Brasil. Este movimento tem sido liderado principalmente pelos Estados Unidos, pela China e por países da União Europeia (UE).
De acordo com os autores, o número de empresas que exportavam para os EUA passou de 6.699 em 2018 para 8.089 em 2020, um aumento de 1.390 empresas, ou 21%. Para o mesmo período, foram registradas 1.079 adições líquidas na quantidade de empresas que exportavam para a UE. Em termos percentuais, destaca-se também o aumento da relevância da China, que em 2020 recebeu exportações de 2.930 empresas do Brasil, um número 24% maior que aquele de 2018.
Essa tendência tem gerado aparentemente, de acordo com o estudo, impactos positivos sobre os salários e sobre a distribuição regional das empresas exportadoras brasileiras, na medida em que as empresas que exportam para fora do Mercosul tendem a ofertar maiores salários e a se localizarem em regiões de menor concentração de exportadores, como é o caso das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Segundo o estudo, desde 2011, as empresas que exportam exclusivamente para destinos não-membros de acordos com o Brasil pagam salários em média superiores àqueles ofertados por empresas cujas exportações se concentram apenas nos mercados contemplados por estes acordos. A diferença entre os salários ofertados pelas empresas destes dois grupos era de cerca de 9% no último ano da série.
Em 2020, por exemplo, o salário médio ofertado por empresas que exportaram exclusivamente para os Estados Unidos e para UE foram, respectivamente, 25% e 23% maiores do que aqueles de empresas que direcionaram suas mercadorias apenas para o Mercosul.
Esses achados são corroborados pelas evidências apresentadas por diversos estudos de que a atividade exportadora é capaz de elevar a produtividade e gerar ganhos ao capital humano destas empresas (i.e., sobre os conhecimentos e habilidades de seus funcionários), sendo a magnitude destes impactos tipicamente diferente entre empresas que exportam para destinos de alta e baixa rendas.
Efeitos positivo das exportações sobre a produtividade são gerados, principalmente, por processos de aprendizado decorrentes do contato entre as exportadoras e seus compradores e competidores estrangeiros. Esses efeitos são muito maiores nas empresas que exportam para destinos de alta renda, tais como os países da América do Norte e do Oeste e Sul da Europa.
Para identificar os fatores que influenciam a escolha dos destinos das exportações, os autores do estudo utilizaram o modelo gravitacional de comércio internacional. Esse modelo tenta explicar o comportamento estatístico dos fluxos comerciais a partir da premissa de que o valor transacionado entre dois países possui relação direta com o tamanho de suas economias e relação inversa com a distância que os separa.
Versões mais estruturais do modelo, como a adotada no estudo, consideram não apenas os gastos relativos ao transporte de bens e serviços entre origem e destino, mas também, quaisquer custos associados às transações entre estes países, inclusive os tarifários.
Segundo os autores, a distribuição estatística do número de exportadoras brasileiras entre os vários destinos comerciais está, de fato, correlacionada com as variáveis do modelo gravitacional. Como pode ser observado nas figuras a seguir, o número de empresas exportando para cada destino diminui tanto com a distância física destas economias em relação ao Brasil quanto com as tarifas médias aplicadas por estas regiões aos produtos. Já as economias com PIBs maiores atraem, efetivamente, uma maior quantidade de exportadoras.
De acordo com os autores, apesar da escassez de estudos que correlacionem as tarifas aplicadas pelos países importadores com o número de empresas exportando para esses destinos, a relação negativa observada no caso brasileiro provavelmente pode ser generalizada para outras economias, uma vez que está em consonância com o modelo gravitacional.
Entretanto, os efeitos negativos da imposição de barreiras comerciais são potencialmente menos danosos em economias que conseguem estabelecer acordos comerciais com os principais consumidores de seus produtos.
Boa parte dos países desenvolvidos é contemplada por preferências tarifárias ofertadas pelos seus parceiros comerciais mais relevantes. Por exemplo, em termos dos valores comercializados, 74% das exportações da Alemanha em 2020 destinaram-se a outros países da UE ou a economias signatárias de acordos com o bloco europeu, o que ajudou manter a tarifa média imposta ao país (ponderada pelo valor exportado) abaixo de 1% naquele ano.
Alguns países em desenvolvimento têm, igualmente, conseguido diminuir os impactos negativos de barreiras comerciais por meio de acordos comerciais com parceiros relevantes. Esses são os casos, segundo o estudo, do Chile e do México, que destinaram, em 2018, respectivamente, 95% e 98% das exportações a economias contempladas por esses instrumentos. Como resultado, as tarifas médias aplicadas a estes países ficaram, respectivamente, em 1,2% e 0,4% naquele ano.
O Brasil, por sua vez, ainda está sujeito a alíquotas desprovidas de preferências tarifárias por alguns de seus parceiros comerciais mais relevantes. Economias que não figuram em acordos comerciais com o país estão, como já mencionado, entre os maiores importadores dos produtos brasileiros e responderam conjuntamente pela compra de 85% do total exportado pelo Brasil em 2020.
Os autores ressaltam que a busca por acordos comerciais com novos mercados surge como uma alternativa promissora para equiparar as condições de competição entre as exportadoras brasileiras e aquelas de outras economias. Esses acordos geralmente incluem, também, cláusulas voltadas a endereçar aspectos não-tarifários, como medidas para mitigação de barreiras técnicas ao comércio, para padronização de requisitos sanitários e fitossanitários e para cooperação regulatória entre as partes envolvidas.
O governo brasileiro tem realizado esforços para formalizar acordos comerciais com novos mercados. Segundo o estudo, cinco novos acordos comerciais entraram em vigor entre 2010 e 2020 no Brasil, dos quais quatro por meio do Mercosul.
Além disso, ao final de 2022, o Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) reconhecia a existência de mais 20 acordos em diferentes fases de negociação. Esses acordos têm o potencial de incentivar a ampliação do número de empresas exportadoras no país.
Diferenças regionais entre as empresas exportadoras
O estudo da Secex também procurou identificar a distribuição regional das empresas exportadoras e suas diferenças. Cabe ressaltar que como a metodologia utilizada pelos autores na contabilização regional das empresas é distinta daquela empregada no restante do estudo, o número de empresas exportadoras (26.441) difere do anteriormente mencionado para o ano de 2020 (24.931).
Como mostra o gráfico abaixo, das 26.441 empresas que exportaram no ano de 2020 no Brasil, 11.325 (42,8%) estavam concentradas no estado de São Paulo. Na sequência, vinha o Rio Grande do Sul (11,1%).
Paraná (9,3%), Santa Catarina (9,1%) e Minas Gerais (7,5%) também apresentavam participações relevantes. Ou seja, as regiões Sudeste e Sul respondiam por cerca de 87% das exportadoras brasileira em 2020. Consequentemente, apenas 13% das exportadoras estavam localizadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste.
Os autores destacam que o percentual de empresas que destinaram suas produções para o Mercosul foi quase 2,5 vezes maior nas regiões Sul e Sudeste do que aquele nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Esta relação se manteve aproximadamente constante entre os anos de 2010 e 2020.
Além de a proximidade física favorecer exportações do Sul e do Sudeste para os países do Mercosul, os tipos de produtos exportados pelas empresas destas regiões tendem a se mostrar mais alinhados àqueles demandados pelos países que compõem o bloco, embora exista um certo grau de superposição entre os produtos industriais exportados, como máquinas e aplicações mecânicas, artigos de plástico, madeira e máquinas elétricas, pelas exportadoras do Sul e do Sudeste e pelas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste .
Ainda com relação às exportadoras estabelecidas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o estudo assinala que estas empresas possuíam um número médio de empregados cerca de 30% maior do que aquelas localizadas nas regiões Sul e Sudeste em 2020.
Esse diferencial pode ser atribuído principalmente às empresas do setor industrial, que naquele ano possuíam, em média, 60% mais funcionários nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do que no Sul e Sudeste.
Na avaliação dos autores, as exportadoras das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste estão sujeitas a custos de exportação maiores do que aqueles incidentes sobre as empresas das regiões Sul e Sudeste, sobretudo aqueles associados à disponibilidade de infraestruturas de transporte e logística.
Além disso, por estarem localizadas em áreas de concentrações industriais relativamente mais baixas, as empresas exportadoras das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste se beneficiam pouco dos processos de compartilhamento de informação, fornecedores e mercados, bem como de geração, acúmulo e compartilhamento de conhecimento, que são extremamente relevantes para compensar custos adicionais associados à exploração dos mercados internacionais.
Desse modo, para se manterem competitivas em relação às exportadoras das demais regiões Brasil, essas exportadoras do Norte, Nordeste e Centro-Oeste buscam, provavelmente, ganhos extras de produtividade mediante o aumento de suas escalas de produção.
Dinâmica de entrada no mercado internacional e sobrevivência das empresas exportadoras
O estudo investigou igualmente como as empresas iniciam suas atividades de exportação e qual é a probabilidade de uma empresa se manter como exportadora ao longo dos anos. Com esse propósito, utilizou-se o método estatístico de Kaplan-Meier, o qual permite calcular uma função de distribuição no tempo até a ocorrência de um determinado evento, para determinar as chances de uma empresa se tornar exportadora de acordo com o tempo decorrido após o início das suas atividades e a chance de sobrevivência no mercado exportador.
Os autores combinaram informações da RAIS Vínculos com os dados de exportação da Secex e dados cadastrais da Receita Federal. A amostra incluiu respondentes da RAIS Vínculos entre 2010 e 2020, e que tenham sido fundadas a partir de 2010. Com essa base de dados foi possível identificar quais empresas exportaram ou não e, respectivamente, o tempo dispendido desde o ano de fundação da empresa até o ano da primeira exportação ou o último ano de registro na RAIS Vínculos no caso daquelas empresas que não exportaram no período analisado.
Foram calculadas probabilidades médias para todas as empresas da amostra, e também probabilidades para grupos específicos de empresas. As empresas foram divididas em grupos de acordo com o seu setor de atividade econômica e com o seu tamanho, dado pelo número de empregados.
Entrada na atividade exportadora. Os resultados encontrados mostram que a maior parte das empresas brasileiras nunca se torna exportadora. No agregado de todas as empresas, a chance de uma nova empresa exportar logo no ano de início das suas atividades é de apenas 0,03%, e essa probabilidade aumenta paulatinamente ao longo do tempo, mas a chance de exportar na primeira década de atividade chega a apenas 1,04%.
No gráfico a seguir, observa-se que, no corte por setor de atividades, as chances de exportar logo no primeiro ano de operação são muito baixas independentemente do setor. Contudo, as empresas da indústria extrativa apresentam uma probabilidade (0,34%) um pouco maior do que as empresas dos outros setores, embora sejam pouco numerosas (0,11% do total de empresas ante 8,9% das empresas da indústria de transformação e 1,67% do setor agropecuário).
Porém, ao longo de uma década, as empresas das indústrias extrativa e de transformação apresentam chances mais significativas de exportar do que a média geral: 7,88% e 3,98%, respectivamente. Em contraste, as empresas dos demais setores, inclusive do setor agropecuário, não alcançam a probabilidade de 1% de exportar mesmo após dez anos de atividade.
Na análise por tamanho da empresa, de acordo com o número médio de empregados, a principal conclusão é de que a probabilidade de exportar é diretamente proporcional ao tamanho da empresa no início de suas atividades. As empresas com 250 ou mais empregados possuem uma chance de 5,08% de exportar logo no seu primeiro ano, e essa chance se eleva para 21,78% na primeira década de atividade.
Todos os demais grupos apresentam menos de 1,00% de chance de exportar no primeiro ano, mas as empresas com 50 a 249 empregados têm uma probabilidade acumulada de 7,84% na primeira década, contra uma probabilidade acumulada de 2,46% das empresas com 10 a 49 empregados e 0,97% das empresas com 0 a 9 empregados.
Taxa de sobrevivência das exportadoras brasileiras. Segundo os autores, o padrão de exportação das empresas é, em geral, bastante irregular. Uma vez que uma empresa começou a exportar, não significa que irá exportar regularmente todos os anos.
Ao invés disso, a maior parte das empresas irá alternar entre períodos de exportação, definido como uma série de anos consecutivos nos quais se observou atividade exportadora por uma determinada empresa, e períodos de não exportação.
Os resultados dos cálculos de probabilidade de as empresas continuarem exportando sem interrupção revelam que as empresas brasileiras têm aproximadamente 65% de chance de sobreviver no mercado externo após o primeiro ano de exportação. Porém, conforme a duração do período exportador aumenta, as chances de sobreviver no mercado externo diminuem.
De acordo com o estudo, as chances de a empresa sobreviver por dois anos são de 53,2%. Como a probabilidade de sobrevivência vai diminuindo paulatinamente ao longo do tempo, a chance de o período de exportação durar pelo menos 11 anos se reduz a 29,3%.
Os resultados por setor de atividade econômica mostram que a probabilidade de sobreviver ao primeiro ano de exportação é maior para as empresas da indústria extrativa e da agropecuária, com 77,3% e 76,8% respectivamente. A indústria de transformação apresenta probabilidade um pouco menor, de 70,9%.
Contudo, as curvas desses três setores se aproximam ao longo do tempo: a probabilidade de sobreviver por 11 anos é de 41,0%, 38,0% e 36,3% para as empresas exportadoras da agropecuária, da indústria extrativa e da indústria de transformação, respectivamente.
Os autores destacam que, no corte por tamanho de empresas, a diferença observada entre os grupos é maior do que na desagregação por setor de atividade econômica: as empresas com 250 ou mais empregados apresentam 82,1% de chance de sobrevivência no primeiro ano e 58,2% de chance de sobreviver por 11 anos. Em contraste, as empresas com menos de 10 empregados possuem chances de sobrevivência no mercado externo menores do que a média geral, indo de 58,1% de chance de sobreviver ao primeiro ano a 16,3% de chance de sobreviver por 11 anos.
Os períodos de exportação das empresas brasileiras possuem, em geral, uma duração mediana de 3 anos, um tempo relativamente curto, o que comprova, segundo o estudo, a noção de que a maior parte das empresas exporta de maneira irregular e inconsistente.
Entretanto, como mostra a Tabela abaixo, as empresas dos setores agropecuária (6 anos) e das indústrias extrativa (6 anos) e de transformação (4 anos) apresentam valores acima da mediana geral.
O estudo ressalta que poucas empresas exportam de forma contínua e incessante. Essa é uma característica não apenas das empresas exportadoras brasileiras, mas das empresas de todo o mundo.
De modo geral, quanto maior o grau de desenvolvimento de um país, maiores são os períodos de exportação consecutiva e ininterrupta, mas mesmo para os países desenvolvidos esses períodos não duram mais do que alguns poucos anos.
O resultado encontrado para o Brasil está, portanto, em linha com as evidências internacionais que mostram que o período mediano de exportação é de 4 anos para países desenvolvidos, 3 anos para países em desenvolvimento e de apenas 1 ano para os países menos desenvolvidos.
Características distintivas das empresas exportadoras
Como já mencionado, o estudo da Secex também procurou contrastar as características das empresas exportadoras brasileiras com aquelas de empresas que vendem exclusivamente para o mercado doméstico.
Com esse propósito, a partir de uma base de dados composta pelas empresas que responderam a RAIS Vínculos no período entre 2010 e 2020, bem como as informações de exportação, comparou-se o número médio de trabalhadores, os salários médios e níveis educacionais dos funcionários destes dois grupos de empresas.
Os autores constataram que as empresas exportadoras, em média, pagam salários maiores, contratam mais e usam uma proporção maior de trabalhadores com ensino superior completo do que empresas não-exportadoras. Já a idade média dos trabalhadores é bastante próxima entre as duas categorias de empresas.
Porém, como pode ser observado no gráfico abaixo, a despeito de as empresas exportadoras registrarem números mais favoráveis ao longo do período 2010-2020, foram as empresas não-exportadoras que apresentaram uma evolução proporcionalmente mais favorável ao longo da década.
As não-exportadoras aumentaram mais, proporcionalmente, os salários pagos e o uso de mão de obra qualificada, e reduziram menos o número de empregados, comparativamente às exportadoras. Todavia, mesmo assim, a diferença na remuneração média aumentou em termos absolutos.
Segundo os autores, o exame dos dois grupos desagregados em termos dos setores de atividade revelou, em 2020, claramente uma grande distinção na composição dos dois grupos. Quase dois terços das empresas exportadoras são da indústria de transformação, 31,7% se referem a outros setores, 2% ao setor agropecuário e 1,4% à indústria extrativa.
Em contraste, no grupo das empresas não-exportadoras, 86,6% das empresas pertencem ao conjunto de outros setores, e somente 10,1% são empresas do setor da indústria de transformação. Entre o grupo de empresas não-exportadoras, a representatividade das empresas dos setores da indústria extrativa e da agropecuária também é baixa: 0,2% e 3,1%, respectivamente.
As diferenças observadas entre exportadoras e não-exportadoras são igualmente marcantes no corte por tamanho da empresa. Embora pequenas empresas sejam, de modo geral, mais numerosas do que as grandes empresas, se observa uma distribuição razoavelmente equitativa dentro do grupo das exportadoras, que vai de 14,8% de empresas com 250 ou mais empregados a 30,0% de empresas com 10 a 49 empregados.
Em contraposição, no grupo das não-exportadoras, a vasta maioria (84,5%) das empresas são pequenas, com menos de 10 empregados. Apenas uma ínfima minoria de 0,4% das empresas possui 250 ou mais empregados.
Para refinar a análise e investigar se as diferenças entre empresas exportadoras e não-exportadoras ainda persistem quando se controla as características das empresas, os autores restringiram a comparação a grupos de empresas que sejam mais semelhantes entre si. Ou seja, utilizando novamente as classificações das empresas por setor de atividade econômica e tamanho, as empresas foram classificadas em seus respectivos grupos e, posteriormente, foram comparadas as características dentro de cada grupo. As empresas também foram classificadas em setor de atividade e porte de acordo com as suas características em 2020.
Quando a classificação das empresas é feita por setor de atividade econômica, os resultados encontrados mostram que, em 2020, as empresas exportadoras pagaram salários maiores e usaram uma maior proporção de trabalhadores com ensino superior mesmo controlando pelo tamanho da empresa e setor de atividade. Essas conclusões se mantêm em todos os setores de atividade, sem exceção.
Entretanto, o estudo ressalta que existem algumas diferenças importantes entre os setores. Em termos de remuneração média, as empresas exportadoras da indústria extrativa pagaram o maior salário médio, de R$ 6.440. Todavia, o maior diferencial de remuneração média foi verificado para empresas exportadoras de Outras Setores vis-à-vis às empresas não exportadoras. Já o menor diferencial foi verificado no setor de agropecuária.
Em número médio de empregados, as exportadoras da agropecuária e da indústria extrativa empregaram, em média, 449 e 462 pessoas, respectivamente, o que representam números cerca de 30 vezes maiores do que as não-exportadoras em ambos os setores.
Já em relação à participação de trabalhadores com ensino superior, a maior proporção absoluta foi registrada pelas exportadoras do grupo de outros setores, em 29,3%, enquanto a maior diferença em pontos percentuais entre exportadoras e não-exportadoras foi registrada na indústria extrativa (24,7% contra 8,4%, uma diferença de 16,3p.p.).
O gráfico abaixo mostra os resultados da classificação das empresas por tamanho, usando o critério do número de empregados. É possível observar que, a despeito das exportadoras pagarem salários maiores e empregarem uma parcela maior de funcionários qualificados do que as não-exportadoras, as diferenças entre os grupos exportadoras e não-exportadoras diminuem conforme o tamanho da empresa aumenta. Na avaliação dos autores, empresas maiores tendem a ter características mais próximas, e o status de exportação tem impacto menor.
No que se refere à proporção de trabalhadores com ensino superior, há diferença entre exportadoras e não-exportadoras. Para as empresas com menos de 10 empregados, a diferença observada entre exportadoras e não-exportadoras é de 12,7 p.p., contra uma diferença de 2,1 p.p. para as empresas com 250 ou mais empregados.
Em relação à idade média dos trabalhadores observa-se grande similitude entre empresas exportadoras e não-exportadoras. Em geral, as empresas exportadoras registraram uma idade média ligeiramente maior, exceto no caso das empresas com 250 ou mais empregados, que apresentaram uma idade média um pouco menor.
Combinando as classificações por setor de atividade e tamanho da empresa, os autores constataram, mais uma vez, que as empresas exportadoras, em média, pagaram salários maiores e empregaram uma maior proporção de mão de obra qualificada do que as não-exportadoras, independentemente do setor de atividade e do tamanho da empresa.
A principal conclusão extraída desses resultados é de que as empresas exportadoras mantêm vantagem mesmo quando comparamos empresas que atuam no mesmo setor de atividade e possuem um tamanho semelhante.
Oportunidades para maior integração
O estudo da Secex revela que a exportação é uma atividade pouco comum entre as empresas brasileiras. Em 2020, por exemplo, menos de 1% das empresas ativas do país exportaram seus produtos para mercados externos. De acordo com os autores, as participações superiores observadas em economias desenvolvidas, como os Estados Unido e os países da UE, sugerem que há oportunidades para expandir esses índices no Brasil.
Algumas ações governamentais têm gerado avanços, como é o caso do Portal Único, que reduziu os tempos necessários para a realização dos processos de exportação. No entanto, o estudo destaca que ainda há muito espaço para reduzir custos associados a esses trâmites, que em geral são mais altos no Brasil do que em outras economias em desenvolvimento.
Iniciativas relacionadas à promoção comercial e ao desenvolvimento de uma cultura exportadora têm igualmente se mostrado eficazes e aparecem como alternativas possíveis de incentivo à exportação.
Outra oportunidade para incentivar a expansão das empresas brasileiras em mercados externos ressaltada pelos autores é o fortalecimento das relações do Brasil com economias ainda não contempladas por acordos comerciais formais com o país, seja diretamente ou por meio do Mercosul.
Embora tenha ocorrido aumento no número de empresas que exportam para esses países com os quais ainda não há acordo comercial, existem evidências de que as tarifas incidentes sobre os produtos brasileiros ainda são um fator de inibição da exploração destes mercados por mais empresas.
Os autores consideram que uma maior integração do Brasil com essas economias pode trazer impactos positivos para o mercado de trabalho brasileiro, uma vez que as empresas que exportam para esses países tendem a pagar salários mais altos e a se estabelecerem em áreas com menor presença de exportadores, como são os casos das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Apesar das dificuldades enfrentadas pelas empresas brasileiras para acessar mercados estrangeiros, o estudo ressalta que as chances de as empresas sobreviverem no mercado exportador aumentam consideravelmente, mesmo a despeito do padrão irregular observado nas exportações. Segundo os autores, esse fato é encorajador para o desenvolvimento de políticas públicas que visem encorajar a inserção internacional das empresas brasileiras.
Muitos estudos empíricos na literatura econômica apontam vantagens que as empresas exportadoras possuem sobre as não-exportadoras, como o pagamento de salários mais altos aos seus funcionários e uma maior utilização de mão de obra qualificada, mesmo quando se controla as características das empresas e dos trabalhadores. Os resultados encontrados pelo estudo da Secex, de que as empresas exportadoras pagam mais, contratam mais e empregam uma proporção maior de trabalhadores com alta qualificação, estão em linha com essas conclusões.