Análise IEDI
Mais um ano de declínio
Se tem algo com que a indústria brasileira tem se habituado nos últimos anos é com a frustração de expectativas e no final de 2019 não foi diferente. O segundo semestre do ano não entregou o reforço do dinamismo industrial que se previa, com as perdas de novembro e dezembro anulando o crescimento obtido entre agosto e outubro.
Com a queda de -0,7% em dez/19 ante o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, o nível de produção da indústria regrediu para o mesmo patamar do mês de julho. Ou seja, mais um semestre e nenhuma contribuição para a recuperação do setor. Em comparação com o mesmo período de 2018, o desempenho da segunda metade de 2019 chegou a ser negativo, em -0,9%, com dez/19 recuando ainda mais (-1,2%) a despeito de um dia útil a mais do que dez/18.
Embora com forte contribuição do ramo extrativo, a inflexão do final do ano passado foi bastante generalizada, atingindo também a indústria de transformação. Em dezembro último, dos 26 ramos acompanhados pelo IBGE, 17 ficaram no vermelho na série com ajuste sazonal e 14 deles na comparação com dez/18.
Ou seja, os problemas estão longe de serem localizados e 2020 se inicia sem a mesma perspectiva que foi se formando nos últimos meses de que a indústria, enfim, daria início a uma recuperação mais consistente.
O desempenho do ano passado foi resultado da interação entre obstáculos de diferentes naturezas. O mercado doméstico contou com travas importantes, como o elevado desemprego. Já o mercado externo cresceu muito pouco em 2019 e fomos atingidos pela crise da economia argentina, deprimindo nossas exportações de manufaturados. A isso, somam-se os já muito conhecidos fatores estruturais da economia brasileira que de longa data vão retirando competitividade da nossa indústria em um mundo cada vez mais concorrencial e em progressiva modernização tecnológica.
Embora seu pior momento tenha sido a crise entre 2014 e 2016, o ano passado não foge em nada do padrão de desempenho que a indústria vem apresentando há muito tempo. Esta década a ser encerrada agora em 2020, por exemplo, vem se firmando como bastante adversa para o setor.
Entre 2011 e 2019, toda vez que a indústria cresceu, cresceu muito pouco. O melhor resultado foi o de 2017, ano de saída de uma das crises mais agudas da indústria, que ainda assim registrou apenas +2,5%. Em contrapartida, os anos no vermelho foram preponderantes, resultando em uma perda acumulada de -15% nestes nove anos.
Para 2019, as variações anuais a seguir mostram que metade dos macrossetores industriais não conseguiram crescer. O caso mais grave foi o de bens intermediários, que compreendem o núcleo duro do sistema industrial. Sua queda reflete a amplitude das dificuldades no ano passado. Intermediários de metalurgia e celulose foram os que mais puxaram para baixo esta parcela da indústria.
• Industria geral: +2,5% em 2017; +1,0% em 2018 e -1,1% em 2019;
• Bens de capital: 6,2%; 7,1%; -0,4%, respectivamente.
• Bens intermediários: 1,7%; 0,1%; -2,2%;
• Bens de consumo duráveis: 13,2%; 7,9%; 2,0%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: 0,9%; -0,3% e 0,9%, respectivamente.
Bens de capital, que chegaram a crescer +7,2% em 2018, recuaram para -0,4% em 2019. Em dez/19, caíram de forma ainda mais intensa: -5,9% ante dez/18 e -8,8% frente a nov/19, já com ajuste sazonal.
É um sinal de que ou o investimento está pior do que se imagina, ou a atuação do BNDES e outras fontes oficiais de financiamento do investimento estão fazendo falta, ou então que a demanda por bens de capital está sendo suprimida mais pela importação de máquina e equipamentos do que pela produção doméstica. Segundo o IPEA, o consumo aparente de máquinas e equipamentos importados cresceu a uma taxa duas vezes maior do que aquele de bens produzidos nacionalmente.
Bens de consumo, por sua vez, compreendem a parcela da indústria que conseguiu registrar aumento de produção em 2019, refletindo a recomposição do consumo das famílias, ensejada pela liberação dos recursos do FGTS, pela ampliação do crédito às pessoas físicas, mas também pela geração de empregos que tem ocorrido, a despeito de sua baixa qualidade. Vale notar também a contribuição positiva, sobretudo no final do ano, do aumento de exportações de alguns produtos, como carnes para o mercado chinês.
A Pesquisa Industrial Mensal do mês de dezembro de 2019, divulgada hoje pelo IBGE, mostrou que a produção industrial nacional registrou decréscimo de 0,7% frente ao mês anterior segundo dados livres de influência sazonal. Para o acumulado em do ano registrou-se variação negativa de 1,1% e em comparação a dezembro de 2018, aferiu-se decréscimo de 1,2%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, segundo dados sem influência sazonal, quatro dos cinco segmentos analisados apresentaram decréscimos: bens de capital (-8,8%), bens duráveis (-2,7%), bens de consumo (-1,4%) e bens semiduráveis e não duráveis (-1,4%). Por outro lado, o segmento de bens intermediários apresentou crescimento 0,1%.
No resultado observado na comparação com o mês de dezembro de 2018, três dos cinco seguimentos analisados apresentaram variações positivas: bens duráveis (1,6%), bens de consumo (1,3%) e bens semiduráveis e não duráveis (1,2%). Em sentido oposto, os demais seguimentos apresentaram variações negativas: bens de capital (-5,9%) e bens intermediários (-2,1%).
Para o índice acumulado no ano, registrou-se variação positiva em três dos cinco segmentos analisados: bens duráveis (2,0%), bens de consumo (1,1%) e bens semiduráveis e não duráveis (0,9%). De outro lado, o segmento de bens intermediários registrou queda de 2,2%.
Setores. Na comparação com dezembro de 2018, houve acréscimo no nível de produção em 12 dos 26 ramos pesquisados. Os maiores expansões estiveram nos seguintes segmentos: impressão e reprodução de gravações (53,1%), produtos diversos (16,1%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (12,3%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (10,8%), produtos têxteis (10,0%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (9,5%), produtos de fumo (5,4%), bebidas (5,2%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (3,8%), produtos de metal (2,6%), produtos de borracha e de material plástico (1,6%) e produtos alimentícios (0,8%).
De outro lado, os segmentos restantes apresentaram retrações, sendo os maiores em: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-17,3%), indústrias extrativas (-12,2%), metalurgia (-10,4%), couro, artigos de viagem e calçados (-8,6%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-8,1%), máquinas e equipamentos (-7,2%), produtos de madeira (-4,2%), outros equipamentos de transporte (-4,1%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (-3,5%) e produtos de minerais não-metálicos (-3,2%).
Por fim, na comparação do acumulado do ano de 2019 frente a igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou acréscimos em 10 dos 26 ramos analisados: produtos de metal (5,1%), fabricação de bebidas (4,0%), produtos diversos (3,4%), fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (2,1%), fabricação de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,7%), produtos alimentícios (1,6%), produtos de minerais não-metálicos (1,1%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (0,9%), máquinas e equipamentos (0,6%) e confecção de artigos de vestuário e acessórios (0,3%).
Por outro lado, os segmentos restantes apresentaram quedas, sendo os maiores em: indústrias extrativas (-9,7%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-9,1%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-9,0%), produtos de madeira (-5,5%), celulose, papel e produtos de papel (-3,9%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-3,7%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (-3,7%) e metalurgia (-2,9%) e impressão e reprodução de gravações (-2,2%).