Análise IEDI
A importância dos programas oficiais
Segundo o Banco Central, as concessões de crédito cresceram em 2020 como um todo +5,1% em relação a 2019, já descontada a inflação aferida de acordo com o IPCA. Isso se deveu aos programas emergenciais de crédito às empresas adotados pelo governo contra o efeito econômico da Covi-19, sobretudo, por meio de garantias públicas com o Pronampe e o PEAC.
Tanto é que os novos empréstimos às empresas, viabilizados por estes programas, acumularam avanço real de +10,7% em 2020, enquanto as concessões às famílias ficaram praticamente estagnadas, registrando apenas +0,3% ante 2019.
Em ambos os casos, o crédito oficial desempenhou importante papel dinamizador. Para as empresas, as operações livremente pactuadas entre as partes registraram aumento de +4,8% em jan-dez/20 e as do crédito oficial saltaram +106%. Para as famílias, o crédito oficial aumentou +21,4% sob influência positiva do financiamento habitacional, enquanto suas concessões livres encolheram -2,1%.
Isto é, foi graças aos programas emergenciais e aos mecanismos tradicionais de crédito direcionado que o dinamismo das novas contratações de crédito se manteve em 2020, levando o estoque geral das operações a quase R$ 4 trilhões ou o equivalente a 54,2% do PIB. Alta em relação a 2019 chegou a +15,3%.
A trajetória mais recente, contudo, sugere um quadro menos favorável em 2021, inclusive porque, com a virada do ano, os programas emergenciais foram interrompidos. Como mostram as variações frente ao mesmo período de 2019, as novas contratações de crédito pouco cresceram no 4º trim/20.
• Concessões reais de crédito total: +19,4% no 1º trim/20; -4,6% no 2º trim/20; +5,8% no 3º trim/20 e +1,9% no 4º trim/20.
• Concessões reais às empresas: +28,1%; +4,5%; +13,4% e +0,4%, respectivamente;
• Concessões reais às famílias: +11,8%; -12,4%; -0,6% e +3,3%, respectivamente.
O principal fator a influenciar negativamente as concessões no 4º trim/20 foi a queda das operações livres às empresas, que registraram -5,2% ante o 4º trim/19, depois do resultado negativo no 3º trim/20 (-2,4%) e da virtual estabilidade no 2º trim/20 (+0,6%). Este é um desempenho que aponta para 2021 possível restrição de crédito às empresas na ausência dos programas governamentais.
Os dados do Banco Central também mostram que no ano passado as empresas do setor de serviços, inclusive as do comércio, foram as que mais se beneficiaram com a expansão creditícia. Um resultado esperado, dado que este setor foi duramente atingido pela pandemia e pouco tem conseguido normalizar suas atividades.
O estoque do crédito às empresas de serviços aumentou +24,6% em 2020, isto é, acima do avanço de +21,6% do estoque do crédito corporativo total. A agropecuária, que já vinha obtendo um melhor acesso a financiamento nos anos anteriores, também registrou aumento do estoque de crédito superior ao total geral, de +23,4% frente a 2019.
A indústria, por sua vez, foi o setor com expansão mais modesta, de +17,8%, embora alguns de seus ramos tenham se saído melhor, como têxtil, vestuário, calçados e couro (+24,3%), embalagens (+26%), petróleo, gás e álcool (+29,7%) e química e farmacêutica (+46,1%).
Ainda assim, a alta do estoque de crédito à indústria em 2020 representou a interrupção de uma sequência de quatro anos consecutivos de declínio, em que seu valor encolheu ¼, passando de R$ 831 bilhões em dez/15 para R$ 605,7 bilhões em dez/19, para depois progredir para R$ 713,5 bilhões em dez/20.
Os dados de crédito apresentados hoje pelo Banco Central registraram que o saldo das operações alcançou R$4,0 trilhões em dezembro, apresentando variação positiva de 1,6% em relação ao mês imediatamente anterior. Por sua vez, o saldo de crédito a pessoas físicas alcançou variação positiva de 1,4% (R$2,2 trilhões) frente ao mês imediatamente anterior. A carteira de pessoas jurídicas apresentou variação positiva de 1,7% na mesma comparação, alcançando R$1,8 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior (dezembro de 2019), o saldo total de crédito obteve incremento de 15,5%.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$2,3 trilhões, acréscimo de 1,8% em relação ao mês anterior e expansão de 15,2% quando comparado com dezembro de 2019. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas ficou em R$1,2 trilhão, aferindo expansão de 1,5% em relação ao mês imediatamente anterior e crescimento de 10,4% quando comparado com o mês de dezembro de 2019. Para as operações junto a pessoas jurídicas, aferiu-se montante de R$1,1 trilhão, crescimento de 2,1% em relação ao mês anterior e variação positiva de 21,1% na comparação com o mesmo período de 2019.
O estoque de crédito com recursos direcionados registrou valor de R$1,7 trilhão em dezembro de 2020, em termos nominais, indicando expansão de 15,9% frente ao mesmo mês do ano anterior e variação positiva de 1,2% em relação ao mês imediatamente anterior. O saldo referente as pessoas físicas registrado foi de R$1,0 trilhão, incremento de 11,6% quando comparado ao mês de dezembro de 2019. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$688,6 bilhões, acréscimo de 23,0% na mesma base de comparação.
Para o mês de dezembro de 2020, foram concedidos R$398,4 bilhões em novas operações de crédito, variação negativa de 1,8% frente ao montante de R$405,5 bilhões observado em dezembro de 2019. Deste volume apresentado em dezembro de 2020, R$350,0 bilhões foram originados de recursos livres e R$48,4 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparado ao mesmo mês do ano anterior, variação negativa de 6,3% para recursos livres e incremento de 51,7% para recursos direcionados, respectivamente.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$133,1 bilhões), cartão de crédito (R$125,2 bilhões), crédito não rotativo (R$46,9 bilhões), crédito pessoal (R$30,2 bilhões) e cheque especial (R$25,7 bilhões). Quanto as pessoas jurídicas, as principais modalidades ficaram para desconto de duplicatas (R$55,8 bilhões), capital de giro (R$31,2 bilhões), cheque especial (R$13,2 bilhões), conta garantida (R$9,8 bilhões) e cartão de crédito (R$7,3 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$14,7 bilhões), crédito rural (R$10,4 bilhões), microcrédito (R$1,6 bilhão) e BNDES (R$1,4 bilhão). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades ficaram com BNDES (R$5,9 bilhões), crédito rural (R$3,6 bilhões) e financiamentos imobiliários (R$1,6 bilhão).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$1,0 bilhão, o que significa um acréscimo nominal de 24,9% frente a dezembro de 2019, e as maiores expansões foram observadas em demais serviços prestados às empresas (54,0%), comércio atacado - bens duráveis e não duráveis (44,8%), demais serviços prestados às famílias (40,3%), comércio varejo – bens não-duráveis (39,0%), outros serviços (35,9%), comércio geral – bens intermediários (31,8%), comércio (29,7%), transporte via terrestre (25,6%) e transporte (21,6%).
Para o setor da indústria, aferiu-se valor de R$723,1 bilhões, variação positiva de 18,0% frente ao mesmo mês do ano anterior. O setor agropecuário registrou crédito de R$33,2 bilhões, variação positiva de 23,6%, em termos nominais, quando comparado ao montante registrado no mês de dezembro de 2019.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional por controle de capital, verificou-se que as instituições financeiras públicas emprestaram R$1,807 trilhão, representando 45,0% do volume de crédito; as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$1,475 trilhão, representando 36,7%; e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$734,8 bilhões, representando por sua vez 18,3% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das operações contratadas em novembro alcançou 18,4% a.a., variação de 0,3 p.p. no mês e declínio de 4,2 p.p. em doze meses. O spread geral das taxas das concessões situou-se em 14,5 p.p., o que representou variações de 0,1 p.p. e de -3,3 p.p., nas mesmas bases de comparação.