Análise IEDI
Desemprego sob pressão
A taxa de desemprego, calculada pelo IBGE, atingiu patamares recordes em set-nov/20, de 14,1%, muito acima do segundo pior resultado para este período, registrado em 2017. Com os sinais de acomodação do crescimento econômico na virada do ano e o fim do auxílio emergencial, que leva as pessoas a buscarem uma vaga no mercado de trabalho, é de se esperar que a taxa de desemprego permanece pressionada neste início de 2021.
Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram que as pessoas sem trabalho somam 14 milhões de indivíduos, isto é, cerca de 2 milhões a mais de desocupados em relação a set-nov/19, o que corresponde a um avanço de +18,1%. Este ritmo é o dobro daquele de jun-ago/20: +9,8%, também na comparação interanual.
Também expressiva é a fração da força de trabalho subutilizada, em função do desemprego, mas também do número insuficiente de horas trabalhadas, do desalento, do medo da Covid-19 e de outras impossibilidades, que foram agravadas pela pandemia, com o fechamento de creches e escolas, a necessidade de cuidados de familiares enfermos etc. Ao todo, este contingente chegou a quase 1/3 da força de trabalho.
Enquanto o desemprego segue avançando, os sinais de retomada da ocupação são muito incipientes. Em set-nov/20, o crescimento de +4,8% em relação ao trimestre móvel imediatamente anterior está influenciado positivamente pela sazonalidade do final do ano e pela reabertura de algumas atividades, especialmente de serviços. Mesmo assim, a queda em relação a set-nov/19 foi intensa: -9,4%, o que corresponde a 8,8 milhões a menos de postos de trabalho.
Como mostram as variações a seguir, das 10 atividades econômicas identificadas pelo IBGE, 6 apresentaram forte declínio na ocupação em set-nov/20 frente ao mesmo período do ano anterior, registrando quedas de dois dígitos. As exceções couberam a atividades menos atingidas pela pandemia ou até mesmo favorecidas por ela, como a agricultura, os serviços de informação e comunicação e serviços de saúde, educação e administração pública.
• Ocupação total: -7,5% em mar-mai/20; -12,8% em jun-ago/20 e -9,4% em set-nov/20;
• Ocupação na indústria: -7,8%; -13,4% e -9,4%, respectivamente;
• Ocupação no comércio: -9,4%; -13,6% e -10,4%;
• Ocupação na construção: -15,6%; -19,0% e -14,5%;
• Ocupação em alojamento e alimentação: -19,5%; -31,4% e -26,7%, respectivamente.
A indústria, embora gravemente prejudicada pela crise da Covid-19, vem dando sinal de reação, como a alta de +4,4% em relação a jun-ago/20 sem ajuste sazonal e amenização da queda em comparação com o mesmo período do ano anterior, de -13,4% em jun-ago/20 para -9,4% em set-nov/20. São sinais ainda muito fracos, que para se tornarem mais claros será preciso que a recuperação da produção industrial não só tenha continuidade como ganhe maior consistência.
Com perdas tão generalizadas entre os setores, nem o emprego formal conseguiu escapar de grave crise. Apesar de, a princípio, estar mais protegido, devido aos programas de redução de jornada e salário com compensação pelo governo, o emprego com carteira assinada declina em alta velocidade, segundo o IBGE: -12% em jun-ago/20 e -10,3% em set-nov/20 ante os mesmos período do ano anterior.
Quanto ao contingente de ocupados sem carteira assinada, caiu -17,6% em relação a set-nov/19 (-2 milhões de pessoas) e continua liderando as perdas, tal como em trimestres anteriores. Já os conta própria, que representam os chamados “bicos”, registraram perda de -6,7% na mesma comparação (-1,5 milhão).
Juntos, sem carteira e conta própria somados ao trabalho doméstico respondem por cerca de 60% da queda da ocupação em set-nov/20, o equivalente a 5,3 milhões de ocupados a menos do que em igual período do ano anterior.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrou 14,1% no trimestre compreendido entre setembro e novembro de 2020. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, junho de 2020 a agosto de 2020, houve retração de 0,4 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve variação positiva de 2,9 p.p., quando registrou 11,2%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$2.517,00, apresentando variação negativa de 2,7% em relação ao trimestre imediatamente anterior (jun-jul-ago). Já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior houve incremento de 4,0%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 210,0 bilhões no trimestre que se encerrou em novembro, registrando expansão de 1,9% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação negativa de 5,9% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 223,3 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 84,6 milhões de pessoas, apresentando variação positiva de 4,8% em relação ao trimestre imediatamente anterior (jun-jul-ago), e aferiu-se retração de 9,4% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (94,4 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu crescimento de 1,7%, com 14,0 milhões de pessoas. Já para a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se expansão de 18,2%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 99,6 milhões de pessoas, representando crescimento de 4,3% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação negativa de 6,3% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (106,3 milhões de pessoas).
Com análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, dois agrupamentos apresentaram variações positivas: Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (0,4%) e Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (1,1%). Na mesma base de comparação, os demais agrupamentos apresentaram decréscimos: Alojamento e alimentação (-26,7%), Serviços domésticos (-24,2%), Outros serviços (-19,9%), Construção (-14,5%), Transporte, armazenagem e correios (-12,8%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-10,4%), Indústria geral (-9,4%) e Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (-2,9%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação frente ao mesmo trimestre do ano anterior, registrou-se acréscimo na categoria setor público (4,3%). Em sentido oposto, as categorias restantes apresentaram retrações: trabalho doméstico (-24,6%), trabalho privado sem carteira (-17,6%), empregador (-12,5%), trabalho privado com carteira (-10,3%), trabalhador por conta própria (-6,7%) e trabalho familiar auxiliar (-0,7%).