Análise IEDI
Na gangorra
Assim como para a indústria, ago/21 também foi um mês de perdas para o comércio varejista, segundo os dados do IBGE divulgados hoje. A variação frente a jul/21 foi de -3,1%, já descontados os efeitos sazonais, e de -2,5%, se também consideradas as vendas de veículos, autopeças e material de construção, isto é, no conceito ampliado do varejo.
E as semelhanças com a indústria não param por aí: taxas negativas também marcaram a maioria dos ramos do varejo (70% deles) e, com bases de comparação menos deprimidas, dada a recuperação na segunda metade de 2020, o desempenho interanual acusou recuo das vendas (-4,1% no conceito restrito e 0% no conceito ampliado).
Esta convergência de trajetórias pode não ser casual, já que o varejo é um importante canal de escoamento da produção industrial, e pode estar sinalizando para um enfraquecimento do nível de atividade neste início do segundo semestre.
Como mostram as variações com ajuste sazonal a seguir, as vendas reais do varejo estão em uma gangorra há meses, pelo menos desde final do ano passado. Esta oscilação entre altas e baixas freia a expansão do setor, mas é mais favorável do que a sequência de recuos que a indústria vem apresentando.
• Varejo restrito: +2,3% em mai/21; -1,1% em jun/21; +2,7% em jul/21 e -3,1% em ago/21;
• Varejo ampliado: +3,2%; -2,4%; +1,1% e -2,5%, respectivamente;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: +0,8%; -0,5%; 0% e -0,9%;
• Tecidos, vestuário e calçados: +9,3%; -2,4%; +2,0% e +1,1;
• Móveis e eletrodomésticos: +0,8%; +1,1%; -1,6% e -1,3%;
• Equip. de escritório, informática e comunicação: +2,9%; -4,2%; -0,1% e -4,7%;
• Veículos e autopeças: +1,2%; -0,2%; +0,3% e +0,7%;
• Material de construção: +3,0%; -3,9%; -2,4% e -1,3%, respectivamente.
No desempenho recente dos diferentes ramos do varejo auferido pela série com ajuste sazonal, que é mais sensível às mudanças de curto prazo, dois padrões se destaquem. Há quem oscile muito perto da estabilidade, isto é, em torno de zero, e há quem venha apresentando quedas seguidas, após um período de resultados erráticos.
O primeiro caso inclui segmentos de peso para o varejo como um todo, como supermercados, alimentos, bebidas e fumo, cujas vendas vêm sendo restringidas por aumentos de preço, além do quadro de elevado desemprego, e veículos e autopeças, cuja cadeia produtiva sofre com a escassez de insumos. O ramo de produtos farmacêuticos e de perfumaria também pertence a este primeiro grupo.
No segundo grupo, mais numeroso, estão metade dos dez ramos acompanhados pelo IBGE: material de construção, combustíveis e lubrificantes e equipamentos de escritório, informática e comunicação já acumulam três meses seguidos de queda, enquanto móveis e eletrodomésticos e livros, jornais e papelaria caíram nos últimos dois meses.
A exceção ficou por conta de tecidos, vestuário e calçados, em alta tanto em ago/21 (+1,1%) como jul/21 (+2,0%) na série com ajuste sazonal. Isso, porém, após fortes declínios, devido aos períodos de recrudescimento da pandemia e das medidas restritivas.
A partir dos dados de agosto de 2021 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional registrou retração de 3,1% frente ao mês imediatamente anterior (julho/2021), na série com ajuste sazonal. Em comparação com o mês de agosto de 2020, houve retração de 4,1%. Para o acumulado nos últimos doze meses e para o acumulado no ano (jan-ago), aferiu-se expansão de 5,0% e 5,1%, respectivamente.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou-se variação negativa de 2,5% em relação a julho de 2021, a partir de dados livres de influências sazonais. Com relação ao desempenho comparado ao mês de agosto de 2020 houve estabilidade. Para o acumulado nos últimos 12 meses e para o acumulado no ano (jan-ago), verificou-se aumento de 8,0% e 9,8%, respectivamente.
A partir de dados dessazonalizados, na comparação com o mês imediatamente anterior (julho/2021) dois dos oito setores analisados apresentaram expansão: tecidos, vestuário e calçados (1,1%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (0,2%). Por outro lado, os seis setores analisados restantes registraram variação negativa: outros artigos de uso pessoal e doméstico (-16,0%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-4,7%), combustíveis e lubrificantes (-2,4%), móveis e eletrodomésticos (-1,3%), livros, jornais, revistas e papelaria (-1,0%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,9%). Para o comércio varejista ampliado registrou-se retração de 2,5%, de maneira que o setor de veículos, motos, partes e peças registrou variação positiva de 0,7%, enquanto material de construção apresentou decréscimo de 1,3%.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior (agosto de 2020), registrou-se expansão em quatro das oito atividades analisadas: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (6,5%), de livros, jornais, revista e papelaria (-1,3%), tecidos, vestuário e calçados (1,0%) e combustíveis e lubrificantes (0,4%). Em sentido oposto, houve queda nos quatro setores restantes: móveis e eletrodomésticos (-19,8%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-9,1%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-4,7%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,7%). Para o comércio varejista ampliado, registrou-se estabilidade nessa base de comparação, de modo que o setor de veículos e motos, partes e peças apresentou expansão de 16,8% e o setor de material de construção declinou 7,1%.
Na análise do acumulado no ano (janeiro-agosto de 2021), aferiu-se expansão de 5,1% no comércio varejista, com crescimento em seis dos oito segmentos analisados: tecidos, vestuário e calçados (28,1%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (26,9%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (13,3%), combustíveis e lubrificantes (3,9%), móveis e eletrodomésticos (2,6%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (2,3%). Em sentido oposto, os outros dois segmentos apresentaram decréscimo: livros, jornais, revista e papelaria (-20,7%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-2,9%). Para o comércio varejista ampliado houve variação positiva de 9,8% no período, sendo que veículos e motos, motocicletas, partes e peças apresentou expansão de 24,5% e material de construção cresceu 12,8%.
Por fim, comparando agosto de 2021 com o mesmo mês do ano anterior (agosto/2020), três das 27 unidades federativas apresentaram crescimento no volume de vendas do comércio varejista, sendo as maiores: Mato Grosso do Sul (5,9%), Espírito Santo (5,3%) e Piauí (3,7%). Por sua vez, apresentaram decréscimos no volume de vendas do comércio varejista 24 unidades federativas, sendo as maiores: Amapá (-14,2%), Acre (-13,5%), paraíba (-13,2), Maranhão (13,0%), Distrito Federal (-12,1%), Amazonas (-11,2%) e Ceará (-11,8%).