Análise IEDI
Crescimento concentrado nos serviços
Alavancado pela reativação do setor de serviços, em função do avanço da cobertura vacinal contra a Covid-19, o PIB do país cresceu +1,0% no 1º trim/22, já descontados os efeitos sazonais. Ficou acima do desempenho dos trimestres anteriores, mas a alta se mostrou muito concentrada, já que o PIB da indústria ficou estagnado (+0,1%) e o da agropecuária encolheu (-0,9%) na comparação com o último trimestre do ano passado.
Ou seja, embora o crescimento da economia tenha melhorado do ponto de vista de sua intensidade, deixou a desejar em termos de sua composição.
Do lado da oferta, a agropecuária foi prejudicada pelas condições climáticas na passagem de ano e, em seguida, pelo impacto da guerra na Ucrânia no custo de muitos de seus insumos. Na indústria, a boa notícia coube à indústria de transformação, que cresceu +1,4% ante o 4º trim/21, mas isso veio após quatro resultados negativos consecutivos, cuja magnitude ainda supera em muito a alta deste início de ano: está 5,7% abaixo do patamar do final de 2020.
• PIB total: +0,1% no 3º trim/21; +0,7% no 4º trim/21 e +1,0% no 1º trim/22, com ajuste;
• Agropecuária: -2,0%; -2,1% e -3,4%, respectivamente;
• Indústria total: -0,2%; -1,2% e +0,1%;
• Serviços: +1,4%; +0,6% e +1,0%, respectivamente.
Nos serviços, comércio (+1,6%) e atividades imobiliárias (+0,7%) voltaram ao azul, ajudando a expansão de +1,0% do setor como um todo na série com ajuste sazonal. Além disso, transportes (+2,1%) e outras atividades de serviços (+2,2%) conservaram o dinamismo superior que vinham apresentando.
Do lado da demanda, por sua vez, o consumo das famílias mostrou resiliência a despeito da aceleração da inflação e registrou +0,7% ante o trimestre anterior, com ajuste sazonal, o mesmo ritmo do 4º trim/21. A melhora no mercado de trabalho, a retomada do consumo de serviços pelas famílias de maior poder aquisitivo e ações específicas, como o Auxílio Brasil, contribuíram para isso.
Não é certo, porém, que esta evolução do consumo das famílias tenha continuidade, já que a inflação continua elevada e a alta da taxa de juros (Selic) pelo Banco Central ainda não foi repassada integralmente aos juros dos empréstimos. São fatores que tendem a reduzir o poder de compra da população.
Outro destaque positivo do lado da demanda foi o setor externo, dado que as exportações (+5,0%) cresceram e as importações (-4,6%) caíram neste início de ano. O destaque negativo, por sua vez, ficou a cargo do investimento, que recuou -3,5%, sob influência da menor produção de bens de capital pela indústria, entre outros fatores.
Diante do aumento do nível de juros do país, são necessárias expectativas mais favoráveis em relação ao futuro para destravar o investimento, algo pode ser adiado à espera da definição de pleito eleitoral.
Em comparação com o quadro de um ano atrás, do lado da oferta, dois dos três grandes setores da economia ficaram no vermelho, reforçando a concentração do crescimento apontada pelos dados mais de curto prazo. A exceção, ficou justamente por conta dos serviços (+3,7%).
A agropecuária registrou -8%, sua terceira taxa negativa seguida, enquanto a indústria total caiu -1,5%, pela segunda vez consecutiva. Neste último setor, foi a indústria de transformação que pior se saiu: -4,7%, depois de ter recuado -6,9% no 4º trim/21 e -0,7% no 3º trim/21.
Como o IEDI vem afirmando a partir dos dados da produção física da indústria, qualquer sinal favorável neste início de 2022 ainda é muito incipiente e não reverte o fato de o setor estar em uma situação inferior ao do início do ano passado. Como vimos nos dados mensais do IBGE e como sugere, em parte, o resultado do investimento no PIB, nem mesmo o ramo de bens de capital, que vinha crescendo até pouco tempo atrás, escapou do retrocesso.
Do lado da demanda, o consumo das famílias e o consumo do governo foram os componentes em expansão: +2,2% e +3,3% em relação ao 1º trim/21, respectivamente, tal como o setor externo (+8,1% das exportações e -11% das importações). Já o investimento encolheu -7,2%.
Segundo dados divulgados hoje pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou valor de R$2,249 trilhões a preços correntes no primeiro trimestre de 2022, apresentando variação positiva de 1,0% na comparação com o trimestre anterior, na série livre de influências sazonais.
Com relação ao primeiro trimestre de 2021, houve variação positiva de 1,7%. No que se refere à oscilação do acumulado nos últimos quatro trimestres frente a igual período do ano anterior, houve acréscimo de 4,7%.
Ótica da oferta. Frente ao trimestre imediatamente anterior (4º trimestre de 2021), a partir de dados dessazonalizados, houve retração de -0,9% no setor agropecuário, aumento de 1,0% no setor de serviços e variação de 0,1% no setor da indústria.
Para os subsetores da indústria, na mesma base de comparação, as variações positivas foram nos setores de: Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (6,6%), Indústrias de Transformação (1,4%) e Construção (0,8%). Por sua vez, as indústrias extrativas variaram -3,4%.
Nos subsetores de serviços, ainda sobre o trimestre anterior e com ajuste sazonal, cinco dos sete analisados setores apresentaram variação positiva: Outros serviços (2,2%), Transporte, armazenagem e correio (2,1%), Comércio (1,6%), Atividades imobiliárias (0,7%) e Administração, saúde e educação pública (0,6%). Por sua vez, os dois setores restantes apresentaram declínio: Informação e comunicação (-5,3%) e Intermediação financeira e seguros (-0,7%).
No comparativo com o mesmo trimestre do ano anterior (jan-fev-mar/2021), o setor agropecuário apresentou variação negativa de -8,0%, o setor da indústria apresentou retração de -1,5% e o setor de serviços registrou crescimento de 3,7%.
Para os componentes do setor industrial, frente ao mesmo trimestre do ano anterior, houve variação positiva na Construção (9,0%) e na Produção e distribuição de eletricidade, gás e água (7,3%). Por outro lado, as Indústrias de transformação e as Indústrias extrativas apresentaram retração de -4,7% e -2,4%, respectivamente.
No setor de serviços os segmentos que apresentaram incrementos foram: Outras atividades de serviços (12,6%), Transporte, armazenagem e correio (9,4%), Informação e comunicação (5,5%), Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (2,9%) e Atividades Imobiliárias (0,3%). Em sentido oposto, os segmentos de Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (-1,6%) e Comércio (-1,5%) apresentaram variação negativa.
Para a taxa acumulada nos últimos quatro trimestres (em relação ao mesmo período do ano anterior), o setor agropecuário apresentou retração de 4,8%, enquanto registrou-se expansão no setor de serviços (5,8%) e no setor da indústria (3,3%).
Considerando os componentes do setor industrial, todas as contribuições foram positivas nessa base de comparação: Construção (11,3%), Indústrias Extrativas (3,2%), Indústria da Transformação (2,0%) e Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (1,3%).
O setor de serviços apresentou variação positiva em seis dos sete segmentos analisados: Transporte, armazenagem e correio (13,7%), Outras atividades de serviços (12,9%), Informação e comunicação (12,3%), Comércio (4,0%), Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (3,3%) e Atividades imobiliárias (1,3%). A retração foi observada nas Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (-0,9%).
Ótica da demanda. Sob a ótica da demanda, frente ao trimestre imediatamente anterior (4º trimestre de 2021), para dados com ajuste sazonal, três das cinco categorias analisadas apresentaram expansão: exportações de bens e serviços (5,0%), consumo das famílias (0,7%) e consumo do governo (0,1%). As categorias com queda foram as de importações de bens e serviços (-4,6%) e de formação bruta de capital fixo (-3,5%).
Na comparação com o primeiro trimestre de 2021, houve acréscimo em três das cinco categorias: exportações de bens e serviços (8,1%), consumo do governo (3,3%) e consumo das famílias (2,2%). As categorias que retrocederam nessa base de comparação foram as de importações de bens e serviços (-11,0%) e de formação bruta de capital fixo (-7,2%).
Por fim, na comparação da taxa acumulada nos quatro últimos trimestres (em relação ao mesmo período do ano anterior), as cinco categorias analisadas apresentaram variação positiva: formação bruta de capital fixo (10,1%), exportações de bens e serviços apresentou (7,4%), importações de bens e serviços (7,0%), consumo das famílias (4,6%) e consumo do governo (3,8%).