Análise IEDI
Crescimento do PIB, mas retrocesso na indústria
O resultado do PIB brasileiro no 1º trim/23 surpreendeu positivamente vis-à-vis as projeções de muitos analistas de mercado, que esperavam algo mais próximo de +1,2%. Já descontados os efeitos sazonais, o IBGE registrou alta de +1,9% em relação com o último trimestre do ano passado. Apesar disso, o quadro é menos favorável do que parece à primeira vista.
Em primeiro lugar, porque o mercado interno não se saiu nada bem. O consumo das famílias seguiu perdendo força, de modo a ficar em uma situação de quase estagnação, e os investimentos não só ficaram no vermelho pela segunda vez consecutiva, como quase triplicaram a intensidade de sua perda.
Em segundo lugar, do lado da oferta, a indústria em seu agregado registrou seu segundo sinal negativo consecutivo. Na indústria de transformação, já são três trimestres seguidos de perdas na série com ajuste sazonal, trajetória esta que passou a ser apresentada também pela construção. O setor de serviços ainda resiste, graças a transportes e serviços financeiros, mas já não cresce como antes.
O bom desempenho neste início de ano deveu-se, então, a um dinamismo bastante concentrado na agropecuária, como mostram as variações com ajuste sazonal a seguir. E muito disso, graças à safra da soja.
• PIB total: +0,5% no 3º trim/22; -0,1% no 4º trim/22 e +1,9% no 1º trim/23;
• Agropecuária: -1,1%; -0,9% e +21,6%, respectivamente;
• Indústria total: +0,6%; -0,3% e -0,1%;
• Indústria de transformação: -0,4%; -1,5% e -0,6%;
• Serviços: +0,9%; +0,2% e +0,6%, respectivamente.
A alta do PIB da agropecuária foi de +21,6% em relação ao 4º trim/22, já descontados os efeitos sazonais. Embora este resultado tenha relações diretas com as exportações do país, já que somos grandes exportadores de soja, principal alavanca do setor neste início de 2023, não foi o suficiente para evitar contração dos embarques totais do país, que recuaram -0,4%.
Assim, se a contribuição da demanda externa foi positiva no 1º trim/23 foi devido a uma forte redução de nossas importações, que chegou a -7,1%, influenciadas pelo arrefecimento da demanda interna (do consumo e investimento) e também pela situação adversa na indústria.
O PIB da indústria de transformação se contraiu -0,6% frente ao 4º trim/22 e está 2,5% abaixo do patamar do 2º trim/22, período em que apresentou sua última variação positiva. Também é o único setor que ficou no vermelho em comparação com o mesmo período do ano anterior: -0,9%, ou seja, muito aquém do PIB total do país, que nesta comparação registrou +4,0%.
Assim, mais uma vez vemos que uma forte expansão da agropecuária não basta para dinamizar nossa economia interna. Como dito anteriormente, o consumo das famílias vem se reduzindo e agora no início do ano ficou praticamente estagnado: saiu de +1,9% no 2º trim/22, para +0,8% no 3º trim/22 e +0,4º no 4º trim/22 e então para apenas +0,2% no 1º trim/23. Faz falta ao país ter sua indústria em rota de crescimento.
O freio foi ainda mais intenso nos investimentos. A formação bruta de capital fixo saiu de uma alta de +3,5% no 2º trim/22 para uma queda de -3,4% no 1º trim/23 na série com ajuste sazonal. Frente ao 1º trim/22, também cresceu pouco: +0,8%. Em relação ao PIB, o investimento regrediu 14 anos: foi de 17,7% no 1º trim/23, isto é, abaixo dos níveis de igual período em 2022 e 2021, e voltou ao patamar do 1º trim/09 (17,8%).
Na ótica da demanda, o único componente que não perdeu dinamismo no 1º trim/23 foi o consumo do governo, mas que já não crescia muito. Registrou +0,3%, o mesmo resultado registrado no 4º trim/22.
Para completar o quadro setorial do PIB, cabe mencionar a evolução dos serviços. O PIB do setor variou +0,6% na passagem do 4º trim/22 para o 1º trim/23, descontados os efeitos sazonais. Isso demonstra alguma resiliência, mas com certo distanciamento das taxas de crescimento em torno de +1% verificadas entre o 3º trim/21 e o 3º trim/22.
Os componentes do setor mais vinculados ao mercado interno quase não saíram do lugar: +0,3% para o comércio e para atividades imobiliárias, ou ficaram no vermelho, como outras atividades de serviços (-0,5%). Os impulsos positivos vieram de transportes (+1,2%), estimulados pelo escoamento da safra, e também das atividades financeiras (+1,2%), que repetiram o ritmo de crescimento do 4º trim/22.
Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou R$2,557 trilhões a preços correntes no primeiro trimestre de 2023, apresentando variação positiva de 1,9% na comparação com o trimestre anterior, na série livre de influências sazonais.
Com relação ao primeiro trimestre de 2022, houve variação positiva de 4,0%. Na comparação do acumulado nos últimos quatro trimestres frente a igual período anterior, verificou-se acréscimo de 3,3%.
Ótica da oferta. Frente ao trimestre imediatamente anterior (quarto trimestre de 2022), a partir de dados dessazonalizados, houve aumento de 21,6% no setor agropecuário, além de aumento de 0,6% no setor de serviços e queda de 0,1% no setor da indústria.
Para os subsetores da indústria, na mesma comparação, as variações positivas foram nas indústrias extrativas, com 2,3%, e eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos com 1,7%. Construção (-0,8%) e indústrias de transformação (-0,6%) caíram.
Nos subsetores de serviços, ainda sobre o trimestre anterior e com ajuste sazonal, cinco subsetores apresentaram variação positivas: transporte, armazenagem e correio (1,2%), intermediação financeira e seguros (1,2%), administração, saúde e educação pública (0,5%), comércio (0,3%) e atividades imobiliárias (0,3%). Foram registradas quedas em informação e comunicação (-1,4%) e em outros serviços (-0,5%).
No comparativo com o mesmo trimestre do ano anterior (jan-fev-mar 2022), o setor agropecuário apresentou variação positiva de 18,8%, enquanto o setor da indústria apresentou avanço de 1,9% e no setor de serviços houve expansão de 2,9%.
Para os componentes do setor industrial, frente ao mesmo trimestre do ano anterior, houve variação positiva em três setores: indústrias extrativas, com 7,7%, eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (6,4%) e construção (1,5%). O setor de indústrias de transformação caiu 1,4%.
No setor de serviços, todos os segmentos apresentaram incrementos: informação e comunicação (6,8%), transporte, armazenagem e correio (5,1%), atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (4,6%), outras atividades de serviços (4,3%), atividades imobiliárias (2,8%), comércio (1,6%) e administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,4%).
Para a taxa acumulada nos últimos quatro trimestres frente ao mesmo período anterior todo os setores apresentaram expansão: agropecuário (6,0%), indústria (2,4%) e serviços (3,9%).
Considerando os componentes do setor industrial, todas as contribuições foram positivas: eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (9,4%), construção (5,3%), indústria da transformação (0,6%) e indústrias extrativas (0,5%).
O setor de serviços apresentou variação positiva em todos os segmentos analisados: outras atividades de serviços (9,1%), transporte, armazenagem e correio (7,5%), informação e comunicação (5,7%), atividades imobiliárias (2,8%), atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (1,8%), comércio (1,8%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,7%).
Ótica da demanda. Sob a ótica da demanda, frente ao trimestre imediatamente anterior (quarto trimestre de 2022), para dados com ajuste sazonal, duas categorias apresentaram expansão: consumo do governo (0,3%) e consumo das famílias (0,2%). As que decresceram foram: exportações de bens e serviços (-0,4%), formação bruta de capital fixo (-3,4%) e importação de bens e serviços (-7,1%).
Na comparação com o primeiro trimestre de 2022 (mesmo trimestre do ano anterior), houve acréscimo em todas as categorias: exportações de bens e serviços (7,0%), consumo das famílias (3,5%), importações de bens e serviços (2,2%), consumo do governo (1,2%) e formação bruta de capital fixo (0,8%).
Por fim, na comparação da taxa acumulada nos quatro últimos trimestres frente ao mesmo período anterior, todas as categorias apresentaram variação positiva: exportações de bens e serviços (5,2%), consumo das famílias (4,5%), importações de bens e serviços (4,2%), formação bruta de capital fixo (2,7%) e consumo do governo (0,9%).