Análise IEDI
Comércio sob efeito da inflação e dos juros
O segundo trimestre do ano começou com declínio das vendas reais do comércio varejista em seu conceito ampliado. Foi a primeira queda na série com ajuste sazonal desde nov/22: -1,6% na passagem de mar/23 para abr/23. Excluídas as vendas de automóveis, autopeças e material de construção, o resultado foi melhor, mas ainda assim nada animador: +0,1%, descontados os efeitos sazonais.
As perdas atingiram 70% dos ramos do setor, embora a de automóveis e autopeças tenha pesado mais. Isso porque o segmento representa cerca de 16% do varejo ampliado como um todo e porque seu resultado, de -5,9% ante mar/23, foi uma das quedas mais intensas.
Outros dois ramos também exerceram importante influência negativa: combustíveis e lubrificantes, com -1,9%, e outros artigos de uso pessoal e doméstico, com -1,4%. Somados a automóveis e autopeças, estes três ramos representam pouco mais de 1/4 do varejo total.
A queda mais aguda foi registrada por equipamentos de escritório, informática e comunicação, cujas vendas contraíram -7,2%, seguindo uma trajetória de bastante volatilidade, como mostram as variações com ajuste a seguir. Quem atenuou o recuo do setor como um todo foram as vendas de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, que após alguns resultados fracos registraram +3,2%, já descontados os efeitos sazonais.
• Varejo ampliado: +1,9% em fev/23; +3,7% em mar/23 e -1,6% em abr/23;
• Varejo restrito: 0%; +0,8% e +0,1%, respectivamente;
• Combustíveis e lubrificantes: -0,4%; -0,2% e -1,9%;
• Supermercado, alimentos, bebidas e fumo: -0,4%; 0% e +3,2%;
• Equipamentos de escritório, info. E comunicação: -9,7%; +6,3% e -7,2%;
• Automóveis e autopeças: +0,9%; +4,4% e -5,9%, respectivamente.
Em relação ao mesmo período de 2022, o comércio seguiu apresentando expansão, de +0,5% no seu conceito restrito e de +3,1% em seu conceito ampliado no mês de abr/23, mas não sem indicar alguma acomodação.
Os ramos compreendendo bens de consumo duráveis e semi duráveis, cujas vendas são mais influenciadas pelas condições de crédito às famílias, perderam dinamismo frente ao ano passado sob efeito da alta das taxas de juros. Este movimento, porém, foi contrabalanceado pela melhora dos ramos associados à alimentação, cujos preços se desaceleraram muito no período.
Em abr/23 ante abr/22, 58% dos ramos do varejo ficaram no vermelho, mas em comparação com o desempenho apresentado no 1º trim/23, a parcela de ramos a indicar deterioração chegou a 68% do total.
Reveses foram apresentados por ramos de bens duráveis, como em móveis e eletrodomésticos (+2,3% em jan-mar/23 e -2,4% em abr/23), equipamentos de escritório, informática e comunicação (+5,2% e -5,8%, respectivamente) e automóveis e autopeças (+5,1% e -1,9%).
Já intensificação da queda foi registrada sobretudo por semi duráveis, como tecidos, vestuário e calçados (-4,7% em jan-mar/23 e -11,0% em abr/23) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-10,5% e -18,0%, respectivamente) e também por material de construção (-3,3% e -7,6%).
Aceleraram o crescimento supermercado, alimentos, bebidas e fumo (+2,6% em jan-mar/23 e +3,1% em abr/23) e o “atacarejo” especializado em alimentos, bebidas e fumo (-0,7% e +14,5%, respectivamente). Elemento importante para isso, além da expansão do emprego, tem sido a desaceleração dos preços de produtos alimentícios.
O IPCA acumulado em jan-abr/23 registra +2,72% em seu agregado e +1,52% em alimentos. A inflação de alimentos correr abaixo do índice geral marca uma diferença importante com relação ao ano passado. Em jan-abr/22 o IPCA de alimentos acumulada alta de +7,04% enquanto o índice geral era de +4,29%, encerrando o ano passando em +11,63% e +5,78, respectivamente.
Segundo os dados de abril de 2023 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional registrou aumento de 0,1% frente ao mês imediatamente anterior (março/2023) na série com ajuste sazonal. Frente ao mês de abril de 2022, houve acréscimo de 0,5%. No acumulado nos últimos doze meses aferiu-se crescimento de 0,9%. No acumulado no ano registrou-se aumento de 1,9%.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças, de materiais de construção e atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo, registrou-se variação negativa de -1,6% em relação a março de 2023, a partir de dados livres de influências sazonais. Com relação ao desempenho comparado ao do mês de abril de 2022, houve variação de 3,1%. Para o acumulado nos últimos 12 meses verificou-se estabilidade e no acumulado no ano houve expansão de 3,3%.
A partir de dados dessazonalizados, considerando-se a comparação com o mês imediatamente anterior (março/2023), três dos oito setores analisados apresentaram expansão: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (3,2%), livros, jornais, revistas e papelaria (1,0%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,3%). Os cinco setores restantes caíram: equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-7,2%), tecidos, vestuário e calçados (-3,7%), combustíveis e lubrificantes (-1,9%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,4%) e móveis e eletrodomésticos (-0,5%). Para o comércio varejista ampliado, a atividade de veículos e motos, partes e peças caiu 5,9% e a de material de construção em 0,8%. O setor de atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo ainda não tem dados suficientes para o cálculo de ajuste sazonal.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior (abril de 2022), cresceram três dos oito segmentos: combustíveis e lubrificantes (8,7%), hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (3,1%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (3,0%). Em sentido oposto, houve queda nos cinco setores restantes: outros artigos de uso pessoal e doméstico (-18,0%), tecidos, vestuário e calçados (-11,0%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-5,8%), livros, jornais, revistas e papelaria (-5,7%) e móveis e eletrodomésticos (-2,4%). No comércio varejista ampliado, o setor de atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo registrou expansão de 14,5%, a categoria de material de construção caiu -7,6% e a de veículos e motos, partes e peças apresentou queda de -1,9%.
Na análise do acumulado no ano (janeiro-abril), os resultados mostram que cinco dos oito setores analisados cresceram: combustíveis e lubrificantes (17,0%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (2,7%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (2,5%), móveis e eletrodomésticos (1,1%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,4%). Por outro lado, os três setores restantes apresentaram recuo no período: outros artigos de uso pessoal e doméstico (-12,4%), tecidos, vestuário e calçados (-6,5%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-0,3%). No comércio varejista ampliado, o setor de veículos, motos, partes e peças cresceu 3,3% e o atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo 3,1%, enquanto a categoria de material de construção caiu -4,3%.
Por fim, comparando abril de 2023 com o mesmo mês do ano anterior (abril/2022), 17 das 27 unidades federativas apresentaram crescimento no volume de vendas do comércio varejista, sendo os maiores: Tocantins (12,2%), Roraima (10,7%), Alagoas (8,7%), Paraíba (6,5%) e Amapá (6,5%). Por sua vez, as UFs com as maiores quedas foram: Rio Grande do Norte (-7,1%), Rio Grande do Sul (-2,4%), Goiás (-2,3%), Rondônia (-2,2%) e Espírito Santo (-1,8%).