Carta IEDI
Indústria de Transformação: déficit menor, mas sem avanço exportador
Em 2023, a despeito da desaceleração global, decorrente do aumento das taxas de juros em muitas economias, e da redução de preços de commodities, o Brasil conseguiu o feito de registrar um superávit recorde de balança comercial no acumulado do primeiro semestre. Em valores correntes, o resultado total foi de US$ 45,1 bilhões, uma alta de +31,5% ante jan-jun/22.
Assim, o ano deve se encerrar com um superávit de US$ 72,3 bilhões, segundo as últimas expectativas coletadas pelo Boletim Focus do Banco Central, um patamar bem mais elevado do que as projeções indicavam no início do ano (US$ 56,6 bilhões). Se a estimativa vier a se efetivar, teremos um avanço de quase +20% em comparação ao ano passado.
Setorialmente, dois movimentos contribuíram para este desempenho na primeira metade de 2023.
Em primeiro lugar, os produtos primários, isto é, agropecuários, da pesca e minerais, tiveram um saldo positivo de balança também em patamar recorde: US$ 67,4 bilhões em jan-jun/23. Na sua origem, estão suas exportações, que atingiram US$ 79,3 bilhões, com um acréscimo em valores correntes de +2,1% frente a jan-jun/22 e de +75% frente ao pré-pandemia (jan-jun/19).
Em segundo lugar, está a redução do déficit da balança de produtos tipicamente oriundos da indústria de transformação, de US$ 27,6 bilhões em jan-jun/22 para US$ 22,3 bilhões em jan-jun/23, isto é, de -19,2%. Como discutido na Carta IEDI n. 1217, embora tenha havido declínio da quantidade de bens industriais exportados, o valor das vendas externas da indústria de transformação ficou estável, em US$ 86,4 bilhões.
Ou seja, a redução de déficit da balança do setor decorreu da queda de -4,7% de suas importações entre jan-jun/22 e jan-jun/23, para US$ 108,7 bilhões. Isso esteve associado à redução de preços de commodities, que tendem a influenciar os elos iniciais das cadeias produtivas, mas também à desaceleração da indústria brasileira, como mostrou a Carta IEDI n. 1218.
A Carta de hoje analisa o desempenho do comércio exterior da nossa indústria de transformação agrupando seus setores em diferentes faixas de intensidade tecnológica, sendo metodologia publicada pela OCDE.
Há quatro faixas para a indústria de transformação: alta, média-alta, média e média-baixa tecnologia. Esta última abrange também produtos da indústria extrativa e alguns bens oriundos de serviços. Na faixa de baixa intensidade estão produtos da agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, mas não encampa bens da indústria de transformação.
O comportamento da balança comercial da indústria de transformação no 1º sem/23, por sua vez, esteve sob duas influências determinantes: por um lado, a redução do déficit da indústria de média-alta tecnologia e, de outro lado, a resiliência do superávit da indústria de média-baixa.
A retração do déficit comercial da média-alta tecnologia foi de -16,9% ante jan-jun/22, isto é, quase 3,5 vezes o declínio do déficit da indústria de transformação como um todo. Muito disso deveu-se à queda de suas importações (-9,5%), que foi a mais intensa entre as faixas tecnológicas. Seu principal condicionante foram as compras externas do ramo químico (-25,2%), com ajuda da redução de preços do petróleo e de seus derivados.
Outro fator a influenciar a redução de déficit da média-alta foi a expansão de suas exportações, diferentemente do que ocorreu na indústria de transformação em seu agregado. A alta foi de +4,7% ante jan-jun/22, alavancada pelos embarques dos setores de veículos (+14,8%) e de máquinas e equipamentos (+17,0%).
O outro grupo de destaque foi o dos ramos de média-baixa intensidade tecnológica, parcela da indústria tradicionalmente superavitária e que acumula o maior saldo. Seu superávit variou apenas -0,2% em jan-jun/23 ante jan-jun/22, graças ao ramo de alimentos bebidas e fumo (+4,1%).
Neste caso, as exportações também ficaram no vermelho (-0,6%), sob influência de derivados de petróleo (-11,9%), madeira (-9,1%) e têxteis, vestuário e calçados (-13,1%), que mitigaram a alta de +5,8% de alimentos, bebidas e fumo. Já as importações da média-baixa recuaram -1,0% neste 1º sem/23, em grande medida devido a derivados de petróleo (-9,1%).
Quanto às outras faixas, vale destacar o expressivo aumento das exportações da alta tecnologia (+22,5% ante jan-jun/22), devido a todos os seus ramos, notadamente aeronaves (+32,5%), e o crescimento das importações da indústria de média intensidade tecnológica (+3,1%), em função de produtos de borracha e de material plástico (+10,1%).
Cabe ainda um comentário sobre a evolução mais recente, já que foi sobretudo o 2º trim/23 que deu o tom do desempenho desta primeira metade do ano. A tendência de desaceleração das exportações da indústria de transformação, que vinha desde o 2º trim/22, entrou em nova fase ao voltar a apresentar sinal negativo no 2º trim/23 (-5,0%), algo que não ocorria desde o final de 2020.
A deterioração do ímpeto exportador da indústria em abr-jun/23 foi influenciada por praticamente todos os grupos de intensidade tecnológica, sendo o maior recuo registrado pela média tecnologia (-10,3%). A exceção foi a indústria de alta intensidade tecnológica (+22,6%), devido sobretudo a aeronaves.
Pelo lado das importações, o 2º trim/23 também trouxe retração e neste caso bastante intensa: -11,4% ante o 2º trim/22. Duas das quatro faixas contribuíram para isso: a média-alta (-15,2%), devido à queda em químicos e desaceleração em veículos, e a média-baixa (-18,0%), devido ao declínio de derivados de petróleo e ao menor crescimento da importação de alimentos, bebidas e fumo.
Bens típicos da indústria de transformação e a balança comercial
O primeiro semestre de 2023 registrou superávit comercial de US$ 45,1 bilhões, o maior da série em dólares correntes para o acumulado até junho, mais de US$ 10 bilhões acima do logrado no mesmo período de 2022. As exportações aumentaram 1,0%, de US$ 164,1 bilhões para US$ 165,7 bilhões, o maior montante exportado para primeiro semestre em toda a série. As importações retrocederam 7,1%, para US$ 120,6 bilhões, em relação a janeiro-junho do ano passado.
Tal superávit foi obtido sobretudo pelo recordista resultado positivo de US$ 67,4 bilhões, dos demais produtos, mormente agropecuários, da pesca e minerais. Suas exportações atingiram US$ 79,3 bilhões, patamar também recorde em dólares correntes para acumulado até o sexto mês.
Os produtos tipicamente oriundos da indústria de transformação contribuíram para o melhor resultado frente a igual período de 2022, ao registrar redução em seu déficit, de US$ 27,6 bilhões para US$ 22,3 bilhões. As exportações ficaram estáveis, US$ 86,4 bilhões. As importações declinaram 24,4%, caindo para US$ 108,7 bilhões.
Em suma, o saldo dos bens típicos da indústria de transformação melhorou frente ao primeiro semestre do ano anterior, mas sem ampliar suas exportações em dólares correntes. O superávit dos demais bens em janeiro-junho aumentou quer devido à ampliação nas exportações, quer por conta de o país ter importado menos.
Tais resultados devem ser vistos em meio ao cenário de aumento nas taxas de juros nos países avançados para enfrentamento da inflação, enquanto a guerra na Ucrânia prossegue e a retomada chinesa tem se mostrado mais lenta que o esperado. No âmbito interno, o avanço no Congresso da reforma tributária e do arcabouço fiscal tem sinalizado positivamente para o ambiente de negócios, ainda que as taxas de juros internas permaneçam elevadas.
Atendo-se ao segundo trimestre do ano, o saldo positivo de US$ 29,4 bilhões superou tanto o do primeiro trimestre, quanto o de igual período de 2022, estabelecendo, aliás, o maior patamar para abril-junho da série. As exportações, contudo, declinaram 1,7% frente ao segundo trimestre do ano passado, ficando em US$ 89,8 bilhões. As importações retrocederam ainda mais, queda de 12,9%, parando em US$ 60,3 bilhões.
No segundo trimestre de 2023, o superávit também se deveu aos demais produtos (bens agropecuários e minerais em destaque): saldo de US$ 38,9 bilhões. As exportações desses produtos em relação a abril-junho de 2022 cresceram 1,8%, chegando a US$ 44,6 bilhões, enquanto as importações diminuíram 25,2%.
Quanto aos bens típicos da indústria de transformação, suas exportações caíram 5,0% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, ficando em US$ 45,2 bilhões. Suas importações declinaram 11,4%, parando em US$ 54,6 bilhões. Desse modo, o déficit diminuiu para US$ 9,4 bilhões, abaixo do observado em abril-junho do ano anterior, déficit de US$ 14,1 bilhões.
A balança por intensidade tecnológica
Conforme exposto em Carta anterior, a nova classificação por intensidade de pesquisa e desenvolvimento (P&D) ou tecnológica constante de publicação da OCDE passou a abranger todas as atividades econômicas, não só as da indústria de transformação do esforço anterior.
Ademais, no lugar de quatro faixas de intensidade (alta, média-alta, média-baixa e baixa), passaram a ser cinco segmentos: de alta intensidade, de média-alta, média, média-baixa e de baixa intensidade de P&D. No caso dos produtos da indústria de transformação, estes se fazem presentes nas quatro primeiras faixas, não havendo bens dessa atividade na de baixa intensidade.
Na faixa de alta intensidade, as atividades da indústria de transformação são as mesmas da classificação anterior. Acompanhando-as estão duas de serviços, P&D científico e publicação de software. A partir da divulgação na plataforma Comexstats dos dados de exportação e importação segundo a Classificação Industrial Internacional Uniforme, pode-se averiguar que não houve transações de produtos oriundos de tais serviços na balança comercial.
No segmento de média-alta, dois agrupamentos de bens foram acrescidos àqueles tipicamente fabricados por atividades dessa faixa: equipamento bélico pesado, armas e munições; e instrumentos e materiais de uso médico e odontológico e artigos óticos. Ademais os serviços de tecnologia de informação (TI) e prestação de serviços de informação passaram a compor o segmento de média-alta, embora não tenham itens transacionados na balança comercial.
Quanto ao segmento de média intensidade, guarda semelhança com a versão anterior da faixa de média-baixa intensidade, sendo que, o grupo dos produtos metálicos e da metalurgia foi dividido, ficando na faixa de média, apenas os da metalurgia. Também abarca os produtos diversos e a atividade de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos. Esta é a única faixa na qual todas as atividades são da indústria de transformação.
Já a faixa de média-baixa intensidade conta com boa parte dos ramos da indústria de transformação que, antes, eram considerados de baixa intensidade (a exceção ficou por conta dos bens diversos, que foi para a de média intensidade), com a adição dos produtos de metal e da fabricação de coque, derivados de petróleo refinado e demais combustíveis. O segmento de média-baixa conta ainda com os serviços profissionais, científicos e técnicos; telecomunicações; e edição (com ou sem impressão), e com a indústria extrativa (extração mineral).
A faixa de baixa intensidade tecnológica não abarca nenhuma atividade da indústria de transformação, embora encampe duas atividades industriais: construção; e a produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos. A agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura também compõe essa faixa, afora os serviços que não foram mencionados acima.
Com base em tanto, a balança comercial brasileira pode ser esmiuçada a partir da versão atualizada da taxonomia por intensidade tecnológica, tendo por base os esforços de P&D.
Tomando o acumulado do ano, a balança comercial de bens produzidos por atividades classificadas como de alta intensidade tecnológica, todas da indústria de transformação, experimentou déficit de US$ 20,6 bilhões em janeiro-junho, ligeiramente abaixo do recorde para primeiro semestre em dólares correntes registrado em 2022.
As exportações desses bens cresceram 22,5%, chegando a US$ 3,3 bilhões. Esse aumento foi disseminado entre suas atividades, complexo eletrônico, indústria farmacêutica e indústria aeronáutica, mas ainda sem voltar a patamares anteriores à pandemia. Daí todos os três ramos experimentarem déficit, mesmo com as importações ficando praticamente estável, 0,3%. O complexo eletrônico respondeu por quase 60% do déficit, saldo negativo de US$ 12,1 bilhões.
A faixa de média-alta intensidade encerrou o período com déficit de US$ 32,0 bilhões, aquém do nível recorde para primeiro semestre observado no ano passado. Apesar dessa redução, ainda se manteve como o maior déficit dentre as cinco faixas. Suas exportações aumentaram 4,7% no contraponto entre semestres iniciais de 2023 e de 2022, chegando a US$ 21,1 bilhões, superando, enfim, o que o país já havia exportado no mesmo acumulado de 2008, de 2011 e de 2012.
A expansão das exportações foi bem disseminada entre seus ramos. A exceção ficou por conta da indústria química, cujo declínio fez o ramo perder o posto de maior em exportação obtido no primeiro semestre de 2022. O maior ramo exportador, o de veículos automotores, reboques e carrocerias, ampliou suas vendas externas em quase 15%, enquanto o ramo de máquinas e equipamentos mecânicos e não especificados noutras atividades logrou a maior expansão exportadora dessa faixa.
As importações do segmento de média-alta recuaram 9,5%, por conta exclusivamente da redução em 25,2% das aquisições internas de produtos químicos, mas ainda assim respondendo por quase metade das importações dessa faixa. O maior incremento importador coube ao pouco representativo, mas superavitário ramo de equipamentos bélicos pesados, armas e munições. Os produtos químicos e as máquinas e equipamentos registraram os maiores déficits no semestre.
Quanto aos produtos tipicamente oriundos de atividades de média intensidade tecnológica, todas da indústria de transformação, seu intercâmbio registrou superávit de US$ 5,8 bilhões no primeiro semestre, aquém do saldo positivo do mesmo acumulado do ano passado. Suas exportações recuaram 7,5%, ficando em US$ 16,4 bilhões. As importações, por sua vez, aumentaram 3,1%.
Ironicamente, o superávit menor da média tecnologia decorreu menos de seus ramos deficitários e mais principalmente da retração no superávit dos produtos metalúrgicos, caindo para US$ 7,6 bilhões cujas exportações caíram 11,0%, para US$ 13,1 bilhões. Os produtos de minerais não-metálicos também registraram menor superávit com queda nas exportações. Dos ramos que experimentaram saldo negativo, destaque-se o aumento no déficit dos produtos de borracha e de material plásticos, saldo negativo de US$ 1,8 bilhão.
Quanto ao segmento dos bens típicos das atividades de média-baixa intensidade tecnológica, seu superávit alcançou US$ 50,9 bilhões em janeiro-junho de 2023, o segundo maior resultado para primeiro semestre da série em dólares correntes, perdendo apenas para o mesmo acumulado de 2021. Suas exportações, porém, declinaram 2,1%, ficando em US$ 80,8 bilhões, patamar recorde. As exportações de minérios declinaram 4,0% ficando em US$ 35,1 bilhões, apresentando superávit de US$ 26,4 bilhões. As exportações dos bens da indústria de transformação dessa faixa registraram variação negativa, -0,6%, ficando em US$ 45,6 bilhões e com superávit de US$ 24,5 bilhões.
O menor superávit decorreu principalmente da redução no resultado superavitário de produtos industriais madeireiros, papel, celulose e de impressão, bem como do déficit maior em produtos têxteis, de vestuário, de couro e calçados. Ambos os grupos de produtos tiveram queda nas exportações. Os produtos alimentícios industriais, bebidas e tabaco, com exportações e superávits recordes, amenizaram tais resultados e se mantiveram como o ramo de mais superavitário dentre aqueles da indústria de transformação.
Coque, produtos de petróleo refinado e biocombustíveis experimentaram o maior déficit dessa faixa, mas de magnitude menor do que a observada no mesmo acumulado de 2022, mesmo com exportações caindo.
Já a faixa de baixa intensidade, na qual se destacam os produtos agropecuários e pescados observou superávit recorde de US$ 40,7 bilhões, com aumento de 7,6% das exportações, chegando a US$ 43,5 bilhões. Esse incremento é um pouco maior o que o das vendas externas de gêneros agropecuários e da pesca e aquicultura, 6,8%, principal componente desse segmento em face da pouca expressão dos bens oriundos da produção e distribuição de eletricidade, gás e água e daqueles originados por serviços. Cumpre lembrar que esse segmento não inclui bens da indústria de transformação.
Passando para a comparação entre abril-junho de 2023 e período equivalente de 2022, no segundo trimestre de 2023, o déficit da faixa de alta intensidade diminuiu de US$ 10,3 bilhões para US$ 9,9 bilhões. As exportações cresceram 22,3%, chegando a US$ 1,9 bilhão. As exportações dos três ramos cresceram, sobressaindo as vendas externas de aeronaves, o principal em termos de exportações dessa faixa, avançando 30,4%. Os produtos eletrônicos lograram também aumento dois dígitos. As importações ficaram estáveis, com ampliações de dois dígitos dos ramos aeronáutico e farmacêutico contrabalançados pelo recuo nas aquisições internacionais de bens do complexo eletrônico.
O segmento de média-alta experimentou déficit de US$ 16,6 bilhões, quase US$ 5,0 bilhões a menos que no mesmo trimestre do ano passado e um pouco acima do observado em janeiro-março último. As exportações recuaram 2,3%, para US$ 10,9 bilhões, com queda exportadora nos ramos químico, de máquinas e material elétrico e de outros equipamentos de transporte, com destaque para recuo das vendas externas de produtos químicos, queda de 23,3%.
Por outro lado, as exportações de máquinas e equipamentos mecânicos e não classificadas noutras atividades cresceram bem, na casa dos dois dígitos, assim como o menos expressivo ramo de equipamentos bélicos, armas e munições. As importações de mercadorias dessa faixa também retrocederam, recuo de 15,2%, devendo-se tanto aos próprios produtos químicos.
Abril-junho de 2023 para a faixa de média intensidade foi superavitário, US$ 3,2 bilhões, expressivo, porém abaixo do logrado no mesmo trimestre de 2022. Suas exportações sofreram retração de 10,3%, ficando em US$ 8,4 bilhões, o que foi disseminado no setor destacando o menor montante exportado de produtos da metalurgia.
As importações de bens da indústria de transformação dessa faixa, a seu turno, cresceram 2,5%, devido aos aumentos de dois dígitos nas aquisições externas de produtos de borracha e de material plástico, de bens diversos e de produtos de minerais não-metálicos, com o recuo nas importações de produtos metalúrgicos contrabalançando. Os produtos da metalurgia, aliás, responderam em larga medida pelo superávit desse segmento, com saldo positivo de US$ 3,8 bilhões. Os produtos plásticos e de borracha registraram o maior déficit dessa faixa.
Quanto aos fluxos comerciais da faixa de média-baixa intensidade tecnológica no segundo trimestre de 2023, suas exportações, US$ 41,8 bilhões, declinaram 7,0% frente a abril-junho de 2022. As exportações de minérios diminuíram 8,5%, ficando em US$ 17,9 bilhões, enquanto as de produtos da indústria de transformação dessa faixa retrocederam 5,9%, para US$ 23,9 bilhões. Mesmo assim o superávit de todos os produtos do segmento de média-baixa intensidade foi de US$ 27,4 bilhões, ligeiramente acima do saldo do segundo trimestre do ano passado, mas aquém do patamar recorde para esse período, de 2021.
As importações dessa faixa diminuíram 19,4%, com as importações de minérios e de bens dos ramos da indústria de transformação dessa faixa também caindo dois dígitos. Cabe notar que a indústria de alimentos, bebidas e fumo, que costuma dita o comportamento dessa faixa, desta vez destoou: logrou maior superávit, com ampliação tanto em suas exportações, quanto em suas importações nessa base de comparação.
A faixa de baixa intensidade apresentou aumento no superávit no segundo trimestre, chegando a US$ 25,2 bilhões, devido ao de incremento de 10,2% nas exportações, atingindo US$ 26,4 bilhões e à retração de 34,3% em suas importações. Tal comportamento é ditado pelos gêneros agropecuários.
Bens da indústria de transformação de alta intensidade tecnológica
Como visto, em janeiro-junho de 2023, o déficit dos produtos da indústria de transformação de alta intensidade diminuiu frente ao mesmo acumulado de 2022, ficando em US$ 20,1 bilhões, ainda assim o segundo maior da série para primeiro semestre. A redução no déficit decorreu do aumento de 22,5% nas exportações em dólares correntes, chegando a US$ 3,3 bilhões, mas permanece bem aquém daquele de igual período de 2019. As importações ficaram praticamente estáveis, 0,3%.
Os produtos típicos da indústria aeronáutica registraram saldo negativo de US$ 2,6 bilhões, superando o déficit do mesmo acumulado de 2022, até então o maior déficit de toda a série para primeiro semestre. Suas vendas externas avançaram 32,5%, chegando a US$ 1,8 bilhão, enquanto as importações cresceram 13,7%.
As exportações de bens eletrônicos também cresceram dois dígitos, 14,3%, mas sobre montante pouco expressivo, enquanto suas importações caíram 9,0%, mas representando ainda mais da metade das importações dos produtos da presente faixa e propiciando déficit de US$ 12,1 bilhões, quase 60% do déficit do segmento de alta intensidade.
No caso dos produtos farmacêuticos, suas vendas externas aumentaram 9,7%, para US$ 714 milhões, enquanto as importações cresceram 13,8%, ampliando o déficit para US$ 6,0 bilhões.
Em abril-junho, o saldo dos bens das indústrias de alta intensidade ficou deficitário em US$ 9,9 bilhões, ligeiramente abaixo do déficit do mesmo trimestre de 2022. Suas exportações avançaram 22,6%, alcançando US$ 1,9 bilhão. As importações ficaram estáveis, em US$ 11,8 bilhões.
Os equipamentos aeronáuticos e aeroespaciais registraram déficit de US$ 1,2 bilhão em abril-junho. Suas exportações cresceram 30,4%, atingindo US$ 1,2 bilhão, constituindo três trimestres seguidos de aumento na comparação entre trimestre e igual período do ano anterior. As importações cresceram 16,2%, levando-as ao patamar de US$ 2,3 bilhões.
Os bens típicos do complexo eletrônico, como tem sido recorrente, concorreram sobremaneira para essa balança negativa dos produtos da indústria de alta intensidade tecnológica, déficit de US$ 6,0 bilhões. As exportações cresceram 17,6%, mas sobre uma base baixa, chegando assim a US$ 429 milhões, enquanto as importações foram de US$ 6,4 bilhões, mesmo registrando queda de 8,8%.
Os produtos farmacêuticos experimentaram saldo negativo de US$ 2,8 bilhões. Suas exportações aumentaram 8,7%, vendendo ao exterior US$ 386 milhões. As importações desses bens, a seu turno, cresceram 10,1%, atingindo US$ 3,2 bilhões.
Bens da indústria de transformação de média-alta intensidade tecnológica
O segmento de média-alta intensidade registrou saldo negativo de US$ 32,0 bilhões na primeira metade de 2023, o maior déficit dentre todas as faixas de intensidade e segundo o maior de toda a sua série para primeiro semestre, ficando atrás apenas do mesmo acumulado de 2022. Suas exportações cresceram 4,7%, alcançando US$ 21,1 bilhões em janeiro-junho. As importações declinaram 9,5%, caindo para US$ 53,0 bilhões.
Os produtos da indústria automobilística experimentaram saldo negativo de US$ 1,9 bilhão, déficit menor do que o observado no mesmo acumulado dos dois anos anteriores. Suas exportações aumentaram 14,8%, chegando a US$ 7,4 bilhões, enquanto as importações avançaram 9,6%. Os equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas etc.) observaram déficit de US$ 514 milhões, maior do que no primeiro semestre de 2022, mesmo aumento de 14,7% nas exportações, atingindo US$ 104 milhões, mas com importações também crescendo, 10,8%.
Os dois grupamentos ligados a bens de capital experimentaram déficits maiores do que os registrados no primeiro semestre de 2022, mesmo com crescimento nas exportações. O de equipamentos não especificados noutras atividades, M&E, teve déficit de US$ 6,4 bilhões, exportando 17,0% mais do que no primeiro semestre de 2022, alcançando US$ 5,5 bilhões. Suas importações cresceram 11,7% na mesma base comparativa. Quanto aos materiais e equipamentos elétricos, tiveram resultado negativo de US$ 3,9 bilhões, com exportações de US$ 1,7 bilhão, 3,8% maior do que o montante exportado em igual acumulado de 2022. As importações avançaram mais, 11,3%.
Quanto aos produtos químicos, experimentaram déficit de US$ 18,4 bilhões, representando 57,6% do déficit de toda a faixa de média-alta intensidade tecnológica. O Brasil exportou US$ 5,9 bilhões desses bens, queda de 13,5%, com as importações retrocedendo ainda mais (-25,2%), ficando em US$ 24,4 bilhões.
Os instrumentos e materiais médico-hospitalares e artigos óticos registraram déficit de US$ 901 milhões, com ampliação de 8,7% nas exportações, chegando a US$ 211 milhões. Suas importações caíram 4,7%.
Por fim, o saldo dos equipamentos bélicos, armas e munições registrou superávit de US$ 150 milhões, com aumento de 8,5% nas exportações, alcançando US$ 245 milhões. Suas importações foram as que mais cresceram dentro dessa faixa, 81,1%.
No segundo trimestre, o déficit desse segmento foi de US$ 16,6 bilhões, menor do que no mesmo período de 2022, mesmo com redução de 2,3% nas exportações, ficando em US$ 10,9 bilhões. Ou seja, o déficit menor decorreu da retração de 15,2% nas importações no contraponto entre segundos trimestres de 2023 e de 2022.
As exportações de produtos químicos (exclusive farmacêuticos) retrocederam 23,3%, caindo para US$ 2,9 bilhões. As importações declinaram ainda mais, queda de 33,8% pela comparação entre segundos trimestres, ficando em US$ 12,6 bilhões. Assim o déficit alcançou US$ 9,8 bilhões, bem menor do que em abril-junho de 2022, mas ainda respondendo por quase 60% do saldo negativo dessa faixa.
Os equipamentos de transporte fabricados por indústrias de média-alta intensidade tecnológica totalizaram déficit de US$ 1,2 bilhão em abril-junho de 2023. Os automóveis, reboques e carrocerias responderam por US$ 961 milhões deste montante. As exportações destes últimos foram de US$ 4,0 bilhões, incremento de 7,9% frente ao mesmo período de 2022. Suas importações cresceram 5,1%. Quanto ao grupo dos equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas, entre outros), suas exportações diminuíram 11,4%, enquanto as importações cresceram 4,3%, levando ao resultado negativo de US$ 247 milhões.
A balança comercial de máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados noutros segmentos e a de máquinas elétricas registraram déficits de US$ 3,2 bilhões e de US$ 2,1 bilhões, respectivamente, maiores que os déficits registrados no mesmo trimestre de 2022. As exportações de M&E subiram 12,3%, chegando a US$ 2,8 bilhões, enquanto as importações cresceram 13,0%. Já as exportações de aparelhos e materiais elétricos recuaram 0,9%, ficando em US$ 893 milhões, enquanto as aquisições externas aumentaram 20,8%.
Quanto aos I&M de uso médico e odontológico e artigos óticos, o país exportou US$ 114 milhões no segundo trimestre do ano, 5,1% a mais do que em igual período de 2022. Suas importações avançaram 11,6%, atingindo US$ 550 milhões. Com isso o déficit desses produtos, de US$ 467 milhões, superou o de abril-junho do ano passado.
Já o intercâmbio de equipamentos bélicos, armas e munições registrou superávit de US$ 93 milhões no segundo trimestre de 2023, com suas exportações crescendo 34,8%, alcançando US$ 136 milhões, enquanto suas importações avançaram em nível bem próximo, 31,6%.
Bens da indústria de transformação de média intensidade tecnológica
As vendas externas em dólares correntes de bens oriundos de indústrias de média intensidade tecnológica declinaram 7,5% no primeiro semestre, ficando em US$ 16,4 bilhões. As importações, por sua vez, avançaram 3,1%. Dessa forma, a balança desses produtos experimentou uma redução no superávit de US$ 5,8 bilhões.
As embarcações e demais produtos do setor naval-náutico registraram a maior alta na exportação, 1.537,4%, mas chegando a apenas US$ 456 milhões. Suas importações cresceram quase 100% no contraponto entre seis primeiros meses de 2023 e de 2022, atingindo US$ 241 milhões. Assim, esse ramo logrou superávit de US$ 215 milhões.
Os produtos da metalurgia apresentaram superávit de US$ 7,6 bilhões no primeiro semestre, o segundo maior da série em dólares correntes, ficando atrás somente do acumulado correspondente do ano passado. O Brasil exportou US$ 13,1 bilhões, uma redução de 11,0% em relação a janeiro-junho de 2022, o que levou à referida redução no saldo comercial.
As importações desses itens também retrocederam, queda de 3,6%. O outro ramo superavitário, o de produtos minerais não-metálicos obteve saldo de US$ 36 milhões, bem aquém do resultado logrado no mesmo semestre de 2022. Suas exportações declinaram 12,1%, para US$ 1,0 bilhão, sendo que as importações avançaram 3,2%.
Os dois grupos de bens restantes registraram resultado negativo no acumulado até junho. O déficit dos produtos de borracha e material plástico atingiu US$ 1,8 bilhão, déficit maior do que o observado no mesmo período de 2022. Para tanto concorreu a variação de -0,7% nas exportações, ficando em US$ 1,5 bilhão, enquanto as importações cresceram 10,1%. Já os bens diversos (exclusive I&M médicos e odontológicos e artigos óticos) tiveram déficit de US$ 299 milhões, com expansão de 2,0% nas exportações e de 14,4% nas importações.
Atendo-se ao segundo trimestre de 2023, as exportações de gêneros típicos da indústria de média intensidade tecnológica retrocederam 10,3% frente a igual período de 2022, caindo para US$ 8,4 bilhões. As importações, a seu turno, cresceram 2,5%. Dessa maneira, o superávit do segmento diminuiu US$ 1,1 bilhão frente ao segundo trimestre do ano passado, para US$ 3,2 bilhões em abril-junho último.
As embarcações e demais produtos da construção naval apresentaram a maior taxa de expansão nas exportações dentre os ramos da presente faixa, 2.299,0%, significando um montante exportado de US$ 403 milhões no trimestre em questão. Já as importações desses itens tiveram variação de -0,2%, ficando em US$ 61 milhões, configurando superávit de US$ 342 milhões.
Os superavitários produtos metalúrgicos lograram saldo de US$ 3,8 bilhões, um superávit US$ 1,1 bilhão menor do que no segundo trimestre de 2022. Suas exportações sofreram retração de 16,0%, para US$ 6,6 bilhões, ainda assim um montante expressivo. As importações diminuíram 4,7%. Os produtos de minerais não-metálicos registraram superávit de US$ 69 milhões, com exportações caindo 9,6%, para US$ 590 milhões, enquanto as importações cresceram 12,8%.
Passando para os dois outros conjuntos de bens, os produtos de borracha e de material plástico apresentaram resultado negativo de US$ 882 milhões, com queda de 4,9% nas vendas para o exterior, exportando, assim, US$ 760 milhões, e incremento de 10,1% nas importações. Quanto aos bens diversos, seu déficit de US$ 159 milhões foi acompanhado de retração de 5,3%, nas exportações, ficando em US$ 142 milhões, e expansão de 19,5% nas importações.
Bens da indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica
As exportações de mercadorias produzidas pela indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica apresentaram variação de -0,6% no primeiro semestre de 2023, ficando em US$ 45,6 bilhões. O saldo desses produtos registrou superávit de US$ 24,5 bilhões, quase igual ao do primeiro semestre do ano anterior, quando atingiu patamar recorde para janeiro-junho em dólares correntes.
A praticamente manutenção do superávit no semestre está ligada ao declínio também nas importações, queda de 1,0%, parando em US$ 21,1 bilhões. Seu ramo mais pujante, o de produtos industriais alimentícios, bebidas e tabaco, logrou expansão de 5,8% nas exportações, que alcançou US$ 29,7 bilhões, enquanto suas importações aumentaram 16,2%, mas sobre uma base menor, levando ao saldo recorde de US$ 25,2 bilhões para primeiro semestre.
Já o intercâmbio de bens industriais madeireiros e seus derivados, incluindo produtos de papel, celulose e impressos obteve superávit de US$ 6,7 bilhões, exportando US$ 7,5 bilhões, 9,1% a menos do que na primeira metade de 2022.
A balança de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, por sua vez, registrou resultado negativo de US$ 4,7 bilhões, um pouco abaixo do déficit registrado no mesmo semestre do ano passado, mas permanecendo como o mais deficitário ramo dessa faixa de intensidade tecnológica. Suas exportações recuaram 11,9%, ficando em US$ 5,8 bilhões, enquanto as importações caíram 9,1%, para US$ 10,4 bilhões.
O conjunto dos artigos têxteis, de vestuário, de couro e calçados registrou déficit de US$ 1,3 bilhão, o maior déficit em dólares correntes para primeiro semestre de toda a série. Suas exportações declinaram 13,1% pela mesma base comparativa, ficando em US$ 1,7 bilhão. As importações desses itens cresceram 11,3%. O déficit dos produtos metálicos teve ligeira redução, déficit de US$ 1,4 bilhão no primeiro semestre de 2023. Suas exportações diminuíram 9,3%, parando em US$ 898 milhões, enquanto as importações tiveram queda de 6,3%.
Especificamente no segundo trimestre de 2023, o país exportou 5,9% a menos dos bens tipicamente oriundos dos ramos da indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica, ficando em US$ 23,9 bilhões. O país importou US$ 10,0 bilhões desses produtos, redução de 18,0% em relação a abril-junho de 2022. Apesar dessa diferença nas taxas, como a base das importações era bem menor que a das vendas externas, o superávit atingiu US$ 13,9 bilhões no segundo trimestre, o maior da série.
O intercâmbio de alimentos da indústria, bebidas e tabaco teve saldo positivo de US$ 13,8 bilhões, ligeiramente acima do observado no mesmo trimestre de 2022. Esse saldo maior decorreu do aumento de 1,4% nas exportações, atingindo US$ 16,0 bilhões, enquanto suas importações cresceram 3,5%. Os produtos madeireiros, de papel e celulose também obtiveram superávit de US$ 3,3 bilhões, expressivo, porém aquém do obtido em abril-junho do ano passado. Suas exportações, de 3,7 bilhões, representaram queda de 18,8%, enquanto suas importações cresceram 4,7%.
As vendas para o exterior de derivados de produtos de petróleo e afins caíram em de modo parelho ao último ramo tratado: variação de -18,7%, ficando em US$ 2,9 bilhões no segundo trimestre do ano. Suas importações recuaram ainda mais, taxa de -34,9%. Com isso, o déficit, de US$ 2,9 bilhões, caiu quase que pela metade frente a abril-junho de 2022.
Passando para os dois outros agrupamentos de bens típicos da indústria de média-baixa intensidade, ambos registraram déficit. As vendas externas de produtos de metal, de US$ 473 milhões, declinaram 10,9%. Suas importações cresceram 4,1%, culminando no déficit de US$ 678 milhões, de magnitude maior do que no mesmo trimestre do ano anterior.
Quanto aos artigos das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados, seu déficit também aumentou frente a abril-junho de 2022, ficando em US$ 614 milhões. Suas exportações retrocederam 14,8%, para US$ 863 milhões, enquanto as importações cresceram 21,8%.