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                          Carta IEDI

                          Edição 908
                          Publicado em: 22/02/2019

                          Novos tempos no comércio mundial: o Brasil entre China e EUA

                          Sumário

                          Em um momento em que o Brasil deve passar por uma nova rodada de abertura comercial, na esperança de se integrar mais à economia mundial, os ventos internacionais parecem estar mudando de direção: medidas protecionistas estão se tornando cada vez mais frequentes e os fluxos de comércio já não crescem no mesmo ritmo de antigamente. 

                          Segundo levantamento da OMC, divulgado em novembro do ano passado, em seu “Overview of Developments in the International Trading Environment”, de outubro de 2017 até este mesmo mês de 2018, o número de novas medidas restritivas ao comércio internacional avançou 22% frente aos doze meses imediatamente anteriores, interrompendo uma fase de declínio que vinha acontecendo desde 2015. 

                          A abrangência dessas restrições atingiu US$ 588 bilhões de fluxo de comércio, uma cifra 6 vezes maior do que um ano antes, e se concentraram em produtos de maior valor agregado e intensidade tecnológica. Já as medidas de facilitação de comércio neste período abrangeram um montante bem menor, de apenas US$ 296 bilhões.

                          No centro deste processo encontram-se EUA e China, cujas ações protecionistas envolveram US$ 340 bilhões em comércio, segundo avaliação da Unctad, em seu “Key Statistics and Trends in Trade Policy 2018” de jan/19, o que representa mais da metade dos fluxos bilaterais entre estes países em 2017 (US$ 640 bilhões). 

                          As motivações para este comportamento, ao que parece, são multidimensionais e não devem ser desprezadas: EUA estão buscando proteger sua propriedade intelectual e procurando trazer de volta ao seu território elos industriais que ao longo das últimas décadas se deslocaram para o exterior. Também ambicionam assegurar sua liderança na indústria 4.0. As respostas de Pequim, por sua vez, sugerem a intenção da China em avançar no progresso industrial e tecnológico em direção a etapas mais sofisticadas da cadeia produtiva. 

                          Em suma, EUA e China parecem travar um duelo pelo domínio dos sistemas produtivo, comercial e tecnológico internacionais. Por essa razão, é possível que as investidas protecionistas que vimos recentemente não sejam passageiras, estabelecendo uma nova etapa à globalização produtiva e comercial, na qual as maiores oportunidades para os países emergentes, como o Brasil, poderão ter ficado para trás. 

                          Em parte, os efeitos dessa conjuntura internacional já podem ser sentidos. No curto prazo, os principais organismos multilaterais vêm repetidamente assinalando uma perda de dinamismo do comercio exterior. 

                          De fato, depois de crescer +5,3% em 2017, o comércio de bens e serviços deve ter desacelerado para 4% em 2018, segundo as estimativas do FMI, ou para +3,8% de acordo com as projeções do Banco Mundial. A OMC, por sua vez, avalia que o avanço do comércio de mercadorias não tenha passado de +3,9% em 2018 ante +4,7% em 2017. Para 2019, o viés é de continuidade deste movimento. O Banco Mundial espera resultado de +3,6% e a OMC de +3,7%. O FMI, por ora, projeta o mesmo crescimento de +4% em 2019.

                          Apesar disso, nem todos os países sairão perdendo. A Unctad avalia que a União Europeia será a maior beneficiada pelos conflitos comerciais entre EUA e China, seguida pelo México, Japão e Canadá. O Brasil aparece como o 8º país com maior potencial de ganho. Calcula-se que as exportações brasileiras podem ter uma alta de US$ 10,5 bilhões, o que representaria um aumento de 3,8% em relação ao valor total exportado em 2017.

                          Os ganhos brasileiros poderiam claramente ser mais substanciais e efetivos se não sofrêssemos de males crônicos que deterioram nossa competitividade, a exemplo de nossa baixa produtividade industrial, sistema tributário oneroso, complexo e gerador de insegurança jurídica, infraestrutura deficiente, limitações de fontes de financiamento de mercado, entre outros, para os quais o IEDI vem chamando atenção há muito tempo e propondo caminhos para sua superação, sintetizados no documento “Indústria e o Brasil do Futuro”.

                          Embora alguns países possam lucrar individualmente no curto prazo com o cabo de guerra entre Washington e Pequim, os efeitos sistêmicos e de médio/longo prazo são mais incertos e potencialmente negativos, alerta o documento da Unctad. 

                          Em um sistema produtivo caracterizado por cadeias globais, nas quais a produção e a montagem são fatiadas entre diversos países, a escalada protecionista pode contagiar cadeias inteiras, atingindo países e setores além dos alvos imediatos. 

                          Este é mais um aspecto que vem tornar mais complexas as relações comerciais internacionais, que devem sofrer profundas transformações devido à revolução tecnológica em processo no mundo, como o IEDI já enfatizou em outras oportunidades, a exemplo da Cartas IEDI n. 903 “Tecnologias Digitais e Comércio Internacional: Oportunidades e Desafios” e n. 904  “Desafios da Era Digital: sugestões da Unctad para políticas em países emergentes” e da Análise de 17/01/18 “Indústria 4.0 e o Futuro das Cadeias Globais de Valor”.

                          Tensões no comércio internacional em 2018

                          O cenário internacional em 2018 foi bastante agitado, marcado pela ampliação dos confrontos comerciais. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), em seu Overview of Developments in the International Trading Environment, divulgado em nov/18, entre outubro/2017 e outubro/2018, seus países membros estabeleceram 137 novas medidas restritivas – número 22% maior do que o apresentado nos 12 meses imediatamente anteriores. A ampliação interrompeu um ciclo de queda que vinha desde 2015. 

                          Ainda mais significativo foi o crescimento da abrangência das medidas de controle à importação: 644% em relação aos 12 meses anteriores, atingindo a cifra de US$ 588 bilhões. Já as ações em prol da facilitação do comércio elevaram sua cobertura de R$ 169 bilhões para US$ 296 bilhões, ficando, portanto, muito abaixo das medidas restritivas. Chama também a atenção que nos períodos out15/out16 e out16/out17, o volume de abrangência das facilitações ficou acima das restrições. Esta inversão tão expressiva evidencia de forma mais contundente a onda protecionista pela qual o mundo tem passado atualmente.

                          Do ponto de vista setorial, as ações restritivas concentraram-se em produtos de maior valor agregado e intensidade tecnológica como máquinas e equipamentos elétricos (20,5%), aparelhos mecânicos (14%) e veículos e partes automotivas (7,4%), e de importância energética, como combustíveis minerais e petróleo (8,7%).

                          Grande parte da escalada protecionista mundial em 2018 é fruto dos desentendimentos entre EUA e China e das sucessivas rodadas de retaliação tarifária protagonizadas por estes dois países. De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), em seu “Key Statistics and Trends in Trade Policy 2018”, as tarifas impostas entre eles envolveram US$ 340 bilhões em comércio, o que representam mais da metade de seu comércio bilateral em 2017 (US$ 640 bilhões). 

                          O maior volume (US$ 265 bilhões) sujeito a restrições se deu por imposição dos EUA, em razão do amplo déficit comercial que têm com os chineses. O montante representa cerca de 52% das importações advindas da China. Já as tarifas impostas pelo país asiático, embora em menor volume, dado o relevante superávit bilateral com os EUA, afetaram aproximadamente 77% das exportações norte-americanas para o país. 

                          Chama a atenção o fato de a maioria das tarifas terem sido direcionadas a produtos manufaturados. Dentre as impostas pelos EUA, 46% foram sobre bens intermediários, 31% bens de capital e 20% bens de consumo. Do lado asiático, 55% foram sobre bens intermediários e 18% sobre bens de capital. Tais dados indicam que os objetivos da guerra comercial travada pelas duas maiores economias do mundo vão além da simples busca por maior equilíbrio da conta comercial. 

                          As políticas comerciais parecem estar sendo usadas como parte da estratégia dos EUA de proteger sua propriedade intelectual, de trazer de volta a indústria nacional que ao longo das últimas décadas se deslocou especialmente para China e de buscar a liderança na indústria 4.0. As respostas retaliatórias de Pequim, por sua vez, estariam indicando intenção da China em aprofundar o desenvolvimento industrial e tecnológico e, com isso, saltar para etapas mais sofisticadas da cadeia produtiva e escapar da “armadilha da renda média”. Em suma, os dois países duelam pelo domínio dos sistemas produtivo, comercial e tecnológico internacionais.

                          Contudo, dada a relevância econômica destas potências e de suas posições das cadeias globais de valor, tais tensões comerciais adquirem escala global. Uma consequência direta do embate é a substituição de parte do comércio bilateral por produtos oriundos de terceiros países.

                          Os efeitos da guerra comercial sino-americana

                          Segundo estimativas da Unctad, a instituição por parte dos EUA da tarifa de 25% sobre US$ 200 bilhões de importações chinesas, programada para entrar em vigor em mar/19, poderá resultará no desvio de mais de 85% deste volume para outros países.  Uma pequena parte dos produtos deverá ainda ser fornecida pela China (10%) e apenas uma ínfima parcela será suprida domesticamente ou será definitivamente perdida (5%). 

                          Os efeitos das tarifas impostas pela China são similares: enorme substituição do fornecimento de bens por terceiros países (cerca de 90%) e mínima substituição por produção nacional (cerca de 4%). Estes dados relevam que, embora eficientes para afetar a balança comercial entre os dois países, as tarifas não devem surtir o efeito esperado de estimular a retomada da indústria e geração de empregos nos EUA. 

                          Deste modo, alguns países poderão ser favorecidos, ao menos no curto prazo, pelo desvio do comércio sino-americano. Os benefícios serão maiores nos setores de maquinarias, equipamentos de comunicação e produtos de madeira e móveis, por parte das tarifas impostas pelos EUA, e nos setores de produtos químicos, vegetais e automotivos, devido às tarifas chinesas. 

                          O grau de captura comercial dos países dependerá da competitividade de suas empresas e do poder de compra dos países compradores. Estima-se que a União Européia consiga abocanhar a maior parte dos ganhos, especialmente devido às tarifas impostas pelos EUA. As exportações da região podem crescer em até US$ 70 bilhões. México, Japão e Canadá aparecem logo em seguida, capturando entre US$ 20 e US$ 30 bilhões cada um. Embora os montantes sejam muito menores que o europeu, eles representam parcela significativa das exportações destes países, ao contrário da União Européia. Ironicamente, as medidas norte-americanas devem impulsionar as importações vindas do México.

                          O Brasil aparece como o 8º país com maior potencial de ganho. Calcula-se que as exportações brasileiras podem ter uma alta de US$ 10,5 bilhões, o que representaria um aumento de 3,8% em relação valor total exportado em 2017. Deste total, por volta de 75% é devido às tarifas impostas por Trump aos produtos chineses. Entretanto, estes ganhos podem ser diluídos caso os preços elevados de alguns produtos no mercado internacional contaminem outras cadeias nos quais são utilizados como insumo/bens intermediários e reduzam a competitividade das empresas brasileiras em outros setores.

                          Embora alguns países possam lucrar individualmente no curto prazo com o cabo de guerra entre Washington e Pequim, os efeitos sistêmicos e de médio/longo prazo são mais incertos e potencialmente negativos. Em um sistema produtivo caracterizado por cadeias globais, nas quais a produção e a montagem são fatiadas entre diversos países, a escalada protecionista pode contagiar cadeias inteiras, atingindo países e setores além dos alvos imediatos.

                          Segundo o estudo da Unctad, as cadeias regionais norte-americana e do leste asiático devem ser afetadas negativamente, sendo que esta última deverá sofrer mais. A agência ressalta que neste impasse comercial, o mais provável é que ocorra um movimento de relocalização das empresas industriais e de reorganização das cadeias no sentido de se afastarem dos EUA e China. As cadeias da Europa e do restante da Ásia potencialmente serão as mais beneficiadas. A magnitude destes movimentos dependerá principalmente da duração das tarifas, já que o processo de transferência da produção envolve elevados custos.

                          Contudo, a incerteza que paira em relação às medidas protecionistas anunciadas por Trump e Xi Jiping e seus impactos sobre preços e produção global também afetam negativamente os mercados financeiros e as decisões de investimento das empresas. Além disso, promove aumento da volatilidade das taxas de câmbio, reforçando os movimentos de incertezas e desequilíbrios econômicos. Também é importante lembrar que China e Estados Unidos ainda seguirão como grandes potências, com grande poder sobre os mercados e sobre as formações de preços, logo desacelerações econômicas destes países certamente terão impactos significativos e negativos sobre o dinamismo da economia mundial. Os países em desenvolvimento de renda baixa e mais dependentes do ambiente internacional serão os mais afetados, mas o Brasil certamente não saíra ileso deste cenário.

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